quarta-feira, 18 de maio de 2011

DROPS – HISTÓRIAS REALMENTE ACONTECIDAS (53)

DIA INTERNACIONAL DOS MUSEUS E UMA UNIÃO DE PESSOAS LIGADAS AOS DE BAURU
Hoje, 18/05 é o Dia Internacional dos Museus. Museu é algo a ser cuidado com o maior carinho e atenção. Olhado por muitos como mero depósito de objetos inservíveis, velhos e a ocuparem espaços, mas para os que entendem a história como uma sucessão de acontecimentos, um desencadeando outros, num encaixe de ocorrências com muito sentido, o preservar isso num espaço específico é entender o hoje, com os olhos voltados lá para trás. Faço isso constantemente como professor e pesquisador de História. Nada acontece por acaso. Quem entra num museu pensando nisso, percebe nitidamente como essas coisas de processam ao longo da história da humanidade.

No Brasil, o IBRAM – Instituto Brasileiro de Museus, órgão ligado ao Ministério da Cultura promove todo ano uma semana inteira para discussão do tema, com agendamentos variados Brasil afora. Já escrevi sobre isso aqui na segunda e hoje repercuto um pouco do que vi naquele encontro, algo além de uma mera apresentação ao público de todas nossas instituições ligadas ao tema. Temos muitas e cada representante fez uso do microfone para mostrar um pouco do que já foi feito e dos planos futuros. Olhando em volta, principalmente para nossa região, algo de grandioso está sendo proposto, com muitos projetos em andamento. Temos dois museus municipais em funcionamento, o Ferroviário Regional e o Histórico Municipal (em fase de mutação e realocação – sua definitiva), um em implantação, o MISB - Museu da Imagem e do Som, além de um Centro de Memórias Ferroviárias, lotado num anexo ao Ferroviário. Temos a chegada da Casa Ponce Paz, onde o evento de segunda ocorreu, com interação entre arte e preservação. Duas ótimas expectativas de recuperação, a das estações Noroeste, Paulista e Tibiriçá e num outro local, o barracão junto do largo onde ocorre a Feira do Rolo, um Memorial da Indústria, assumindo responsabilidade de recuperação de todo o entorno do local, inclusive o próprio largo, em algo que a cidade toda deverá acompanhar e depois desfrutar. Muita coisa ainda no campo das possibilidades, mas muito já encaminhado, como o tão esperado realinhamento do projeto Ferrovia para Todos. Uma bela apresentação, que deve merecer uma cobrança e fiscalização na sua execução, pois prazos devem existir para que tudo isso funcione de fato, ou seja, uma real integração de todos, intercalados umbilicalmente.

A apresentação de segunda não versou somente sobre a coisa pública municipal. A UNESP apresentou seus projetos. O Museu da Ciência deve mesmo ter seu espaço dentro da estação central da extinta Noroeste. Algo um tanto desconhecido, um Museu dentro do Lauro de Souza Lima, concentrando informações preciosas sobre a lepra no Brasil. O Centro de Memórias da USC, levando o nome do memorialista Gabriel Ruiz Pellegrina, não vivendo um bom momento dentro das transformações daquela universidade, clama por um empurrão bauruense, sensibilizando seus mantenedores. E não podemos nos esquecer de um projeto em andamento, um vigoroso Museu do Trem dentro das hoje abandonadas oficinas da NOB. E o CODEPAC - Conselho de Defesa Patrimônio olhando isso tudo com seriedade e abnegação. Somando tudo isso Bauru vivencia algo inédito e grandioso, uma reprodução de locais com espaços dedicados a museus, que só consigo visualizar algo similar em grandes centros. Isso é bom? Sim, desde que todos tenham e realizem algo de proveitoso, estejam em pleno funcionamento e atendendo expectativas. Não basta ter essa quantidade quando a qualidade deixa a desejar. A reunião de todos, um observando a ação do outro deve servir para a união maior de interesses. Do contrário, com o isolamento, continuaremos produzindo cultura, arte para um número restrito de pessoas. Torço e acredito nas pessoas envolvidas nesses projetos.

DOIS ADENDOS:
1)
Uma homenagem mais do que justa e necessária faço ao memorialista, Vivaldo Pitta, que passa por problemas de saúde, mas foi um abnegado na criação do Museu de Avaí e teve sua vida, após a aposentadoria, quase toda voltada para recuperação e resgate de peças, que sem sua intervenção estariam definitivamente perdidas. Fez tudo sem pensar em remunerações e lucros. Fez por acreditar e entender ser o resgate histórico algo importante dentro do processo de vida de um povo. O museu criado por ele perdura e se outras iniciativas existissem na região, muita coisa poderia ser resgatada e preservada.
2) Algo precisa ser feito e de forma imediata em cima do acervo do também memorialista Luciano Dias Pires (criador do Bauru Ilustrado, idealizado e escrito até hoje por ele), ainda depositado em local inapropriado, num sítio de sua propriedade. Acionei o Ministério Público ano passado sobre o assunto e ouço que o Jornal da Cidade estaria disposto a comprar o mesmo e criar um espaço para abrigar todo aquele material, motivo de doações de toda cidade, que ele agora quer negociar. Sendo uma nova Fundação, mais um espaço futuro e a ser integrado nos demais existentes. Discutir esse tema de forma séria, rápida e sem medo de ferir sentimentos é mais do que necessário. Retardar mais pode significar perdas irreparáveis e irrecuperáveis.
OBS.: Todas as fotos foram tiradas por mim, de forma amadoristica, como pode ser conferido, retratando a abertura do evento citado, em 16/05 e tendo como encerramento uma teatralização de algo de nossa história, inclusive com a presença (não seria revelação?) de um dos verdadeiros fantasmas da Casa Ponce Paz.

5 comentários:

Anônimo disse...

Olá Henrique.
Bom retorno. "Ocê" estava desaparecido. É bom vê-lo na ativa.
Segue o meu pronunciamento na abertura da Semana dos Museus.
Abraços.
Fabio Pallotta


PREZADAS AUTORIDADES PRESENTES,
PREZADO SECRETÁRIO MUNICIPAL DA CULTURA – ÉLSON REIS,
PREZADA DIRETORA DO DEPARTAMENTO DE PROTEÇÃO AO
PATRIMÔNIO CULTURAL DE BAURU – NELI VIOTTO,
PREZADOS ALUNOS.
CRIADO EM 24 DE AGOSTO DE 1992, ATRAVÉS DA LEI 3486/92
E REGULAMENTADO PELO DECRETO 9250/2002, SOB INFLUÊNCIA DA
CONSTITUIÇÃO DE 1988, A CONSTITUIÇÃO CIDADÃ, O CONSELHO DE
DEFESA DO PATRIMÔNIO CULTURAL DE BAURU – CODEPAC É A
RESPOSTA DO LOCAL, DO REGIONAL ÀS INFLUÊNCIAS DA
GLOBALIZAÇÃO DA ECONOMIA QUE TANTAS DISCUSSÕES TÊM
CAUSADO PELO MUNDO AFORA SOBRE SEUS EFEITOS – SE
MALÉFICOS OU BENÉFICOS PARA O SER HUMANO CONTEMPORÂNEO.
COMO TODAS AS ATIVIDADES DO HOMEM NÃO SE PODE
DIZER QUAIS DAS FORÇAS SERÃO AS VENCEDORAS OU SE HAVERÁ
VENCEDORES NESSE EMBATE QUE ACONTECE ENTRE NÓS, NESSE
MOMENTO.
O QUE PODEMOS PERCEBER É QUE NUNCA ESTIVEMOS TÃO
PERTO UNS DOS OUTROS E TÃO DISTANTES AO MESMO TEMPO.
EXISTEM AQUELES QUE COMEMORAM TANTA TECNOLOGIA E
TANTA PROXIMIDADE, MAS COMO PASCAL, QUE OBSERVAVA O
ESPAÇO INFINITO DO COSMOS E FICAVA PERPLEXO, A NOVIDADE
CHEGA ATÉ NÓS ATRAVÉS DO MEDO DE PERDERMOS A REFERÊNCIA
DO LOCAL, DO PORTO SEGURO, DAS LEMBRANÇAS E DA MEMÓRIA
QUE ACREDITAMOS SEREM ETERNAS, MAS NÃO SÃO.
NESSE SENTIDO O CODEPAC TRAVA UMA LUTA CONTRA A
DESTRUIÇÃO CRIATIVA DO CAPITAL QUE QUER TRANSFORMAR TODAS
AS COISAS EM VALOR ECONÕMICO.
ACREDITAMOS QUE DEVEMOS PRESERVAR AS PRODUÇÕES
HUMANAS PARA AS GERAÇÕES FUTURAS E ASSIM PERMITIR UM
OLHAR SOBRE O PASSADO E CONSTRUIR O FUTURO.
MANTEMOS A CONVICÇÃO DE QUE O SABER DEVE SER
PRESERVADO ATRAVÉS DO QUE FOI CONSTRUÍDO E NÃO TEMOS A

Anônimo disse...

2
ILUSÃO OU FANATISMO DA PRESERVAÇÃO TOTAL DE TODOS OS BENS
CRIADOS EM NOSSA CIDADE, MAS QUEREMOS E DEVEMOS PARTILHAR
AS NOSSAS PREOCUPAÇÕES COM A SOCIEDADE CIVIL PARA QUE ELA
COMPREENDA A IMPORTÂNCIA DA PRESERVAÇÃO DO LOCAL E SE
MANTENHA ATENTA, VIGILANTE PARA PRESERVAR O MÁXIMO QUE
CONSEGUIRMOS DE UMA CIDADE TÃO IMPORTANTE E BELA COMO A
NOSSA.
É NESSE SENTIDO QUE SAUDAMOS OS MUSEUS PÚBLICOS E
OS PARTICULARES NO INTUITO DE ALERTAR PARA A SUA
IMPORTÂNCIA NO CUIDADO COM A MEMÓRIA COLETIVA, LOCAIS QUE
JÁ FORAM TÚMULOS E HOJE SÃO CASAS DOS CIDADÃOS, MUITO MAIS
DO QUE CASAS DAS MUSAS.
GOSTARÍAMOS QUE CADA VEZ MAIS AS PESSOAS POSSAM
COMPARTILHAR DA LUTA DO CODEPAC PELA MEMÓRIA DE BAURU E
DOS MUSEUS, PARTICULARES OU NÃO PARA OS TRANSFORMAR EM
LIÇÕES SOBRE A VIDA DE TODOS OS QUE VIVERAM NESSA CIDADE,
LOCAL VIVO DA NOSSA CURTA EXISTÊNCIA TERRENA NO BELO
PLANETA AZUL.
CONCLAMAMOS A TODOS, PRINCIPALMENTE AQUELES QUE
TÊM O PODER EM SUAS MÃOS A ENTENDEREM A VIDA HUMANA COMO
FRÁGIL EFÊMERA E BELA E A JUNTAREM-SE A NÓS NESSE ESFORÇO
DE PRESERVAÇÃO DA NOSSA CIDADE E DA SUA MEMÓRIA.
GRATO PELA ATENÇÃO E PELO CONVITE.

Anônimo disse...

HENRIQUE,
parabéns pelos textos.
O Núcleo de Documentaçào e Pesquisa Histórica de Bauru e Região, "Prof. Gabriel Ruiz Pelegrina é criação e um velho sonho meu, cujo nome, também escolhi.
Meu diploma de doutorado e demais documentos estão alí arquivados, bem como a minha beca de doutoramento.
Um dia conto a História de como salvamos o Aeroclube de Bauru da sanha de corretores...com a ajuda do Gabriel.
Mais uma vez parabéns.
Abraços.
MURICY

Anônimo disse...

Oi Henrique, brigado pela atenção.
Gostaria na próxima edição que sai no dia 31/05 fazer uma homenagem ao meu pai, inserindo fotos dele, da família, dos amigos e quem sabe até depoimentos dos amigos mais próximos.
Tô sempre na correria pq meu jornal é quinzenal e fico louco pra fazer tudo ao mesmo tempo.
Mas gostaria de poder contar com sua ajuda nesta empreitada.
Valeu, brigado e abraços.

William Pitta - Jornal dos Condomínios

Anônimo disse...

meu caro e estimado Henrique

Essas questões de patrimônio voce adora discutir, mas não se esqueça nunca de que foi aqui nessa cidade que voce mesmo ouviu da boca de um dono de um rico e importante imóvel que ele adora ver museus e ver tudo preservado na Europa, mas que aqui e justamente no imóvel dele não vê validade, nem significado.


Esse o pensamento da elite bauruense e brasileira.

Preservar o que nesse país com um pensamento desses...

Pense sempre nisso

Daniel Carbone