sexta-feira, 4 de novembro de 2011

AMIGOS DO PEITO (60)

A SAGA PARA TENTAR REPRESENTAR DIGNAMENTE O POETA BRANDÃO NO RIO
Na última sexta, 28/10, no Rio de Janeiro num dos salões da Academia Brasileira de Letras, uma homenagem a um bauruense (ele é de Dois Córregos, mas vive por aqui desde os tempos da Lalai na Batista), o professor e poeta JOSÉ CARLOS MENDES BRANDÃO. O motivo é salutar. Brandão concorreu no “Concurso Internacional de Literatura”, promovido anualmente pela UBE - União Brasileira de Escritores na categoria POESIA, Prêmio Jorge de Lima e conquistou o segundo lugar com o livro ainda inédito “LIVRO DOS BICHOS”. A premiação é só a honraria de receber um diploma, ao vivo e a cores num dos auditórios mais charmosos da ex-Capital Federal, o do teatro Raimundo Magalhães Jr, na avenida presidente Wilson 203, centro do Rio.

A premiação abrange várias categorias, como de Crônicas, Romance, Poesia, Teatro, Contos, Literatura Infantil e Ensaios. O “Livro dos Bichos” compõe-se de 46 poemas, todos sobre bichos - o gato, o cavalo, o elefante, a tartaruga, etc. Reproduzo duas inéditas poesias do nosso poeta para sentirem a grandiosidade de sua veia criativa: “O UIRAPURU - O uirapuru é pássaro esquisito,/ por exilar-se no seu próprio canto./ O seu vôo com as árvores confunde-se,/ o canto é o que fica do que passa./ Esse pássaro, como o conhecemos,/ a sua imagem rara, quase mítica,/ nasce do canto e perde-se no canto/ e é memória do canto nunca findo./ O uirapuru disfarça-se de flor,/ com pétalas douradas e uma estrela/ no cinzento das costas, um sol lírico,/ em sua concha cria a luz da dor./ O uirapuru se inclina para o rio:/ é a pérola oculta na paisagem/ e embala o silêncio da prata d’água,/ fechando e abrindo o dia com seu canto” e “O MACACO - A morte das estrelas fez nascer/ o meu corpo, as montanhas, os oceanos./ A explosão das estrelas espalhou/ as entranhas no espaço sideral/ e criou o sistema solar e este/ macaco que questiona a sua origem./ Sou um resto de estrela com consciência./ O cosmo nasce da explosão do tempo./ Serei a conseqüência inevitável/ de uma lei natural? Um acidente?/ Sou ou não necessário ao universo?/ Posso apenas medir? Existe um plano?/ Somos feitos do cosmo e estamos nele./ A ciência busca Deus, concreto, físico./ Antes do tempo, Deus guarda a existência/ e de mim mesmo sou um ancestral”.

Agora o fato hilário que me fez escrevinhar isso tudo. Como estaria no Rio e Brandão comunicado em cima da hora não poderia viajar, pediu para que, se pudesse, o representasse. Fiz o que pude, dei meus pulos, corri e lá estava na hora aprazada. Olhei para os lados e me vi num mundo estranho, pois de camiseta de gola, calça esportiva, sacolas nas mãos e tênis no pé, tudo diante de uma platéia toda de terno, social e perfumada, além da presença de alguns imortais. Pensei até em tentar emprestar um paletó de um fotógrafo, mas inibido, não levei a idéia adiante. Declinei de subir ao palco e não trouxe o diploma do Brandão, que o conseguirá via Correios. Se o fizesse seria o motivo dos fuxicos no salão e isso também muito me aprazariam, mas não dizia respeito só a mim e sim, a Brandão, um resoluto e impoluto senhor, que teria assim manchada sua ilibada ficha de poeta sem máculas. Curti como pude aquela pompa toda e depois voltei à normalidade da vida, não sem antes presenciar exposições lá realizadas, casa de Machado de Assis, um dos romancistas que mais gosto.

Quando comunico via e-mail o fato ao poeta, elegante como sempre soube ser, na exatidão do termo, me envia como resposta: “Henrique, estava deixando para lhe agradecer pessoalmente, mas vou viajar - perto, Termas de Ibirá, mas não o verei nos próximos dias. Muito obrigado por pelo menos tentar me representar na ABL - e me desculpe, uma sessão solene é sempre uma forma de querer justificar o evento com "pompa e circunstância". Não é para a nossa simplicidade. Quer dizer, até podemos imitar os pavões, mas, como costuma acontecer e aconteceu no seu caso, há compromissos pessoais que seriam comprometidos. Então, agradeço-lhe mais uma vez. Um abraço amigo. Brandão”.
OBS.: Somente as três últimas fotos, tiradas por mim, são do evento no Rio, as demais ilustram o escrito, como a do próprio poeta, clicada no dia do lançamento do último livro do também poeta nativo, Luis Vitor Martinello, no Automóvel Clube.

2 comentários:

Anônimo disse...

"Henrique, espero voce dia 12 de novembro ou 19 de novembro, 21 horas, na CC Celina Neves, dois grandes textos: Ä Raiz do Grito" e "Fica Comigo doce como a chuva"...

Me ajude a divulgar, por favor! ( rua gerson frança 6-66) obrigado, grande amigo!"

abração no Brandão

Paulo Neves

Anônimo disse...

Caro Henrique - grato pelo texto do poeta Brandão. Uma das vantagens de envelhecer e esta de conhecer e lembrar dos amigos, como outro dia falou do Arcôncio. Hoje fala do Brandão, aliás, Professor Brandão com o qual tive a honra e o prazer de trabalhar no velho e sempre lembrado "MORAES PACHECO". Era muito querido dos alunos. A escola deveria tê-lo homenageado de forma condigna. Modesto,cumpriu sua missão de educador. Fico feliz em saber que ele continua produzindo e já abiscoitou vários prêmios e honrarias. Um abraço - Isaias Daibem