domingo, 6 de novembro de 2011

CENA BAURUENSE (89)

UMA CONFRARIA DE ESQUERDA NA FEIRA DO ROLO
Nos meus tempos de juventude os graúdos da cidade todos se reuniam no Fran’s Café da Batista, Calçadão quase esquina com Rio Branco e dali tramavam e confabulavam sobre a cidade. Passava diariamente por ali, mas nunca tive coragem suficiente para me aproximar, talvez por medo do contágio. Os amigos mais chegados sempre me alertaram que os mais conservadores da cidade estavam sempre por ali e assim sendo, passava sempre quase sem olhar e ao ouvir as risadas vindas dos participantes, sempre tinha a impressão de que eram dirigidas a mim. Claro que não, pois não passava de um moleque tentando entender esse mundo cheio de divisões, entraves, preferências e preferidos (eu sempre fui um preterido). Entendia que os que lá estavam representavam o poder estabelecido, a grana circulante na cidade. E como via a cidade sempre mal cuidada, minha conclusão é que estavam ali somente para decidir sobre os seus assuntos pessoais e a cidade, essa sempre em segundo plano. O festim continua.

Hoje vejo dois outros lugares com a mesma conotação, o Serpentário do Bauru Tênis Clube e o Café do Lira no 21 Center, redutos do conservadorismo exacerbado na cidade. Imaginem o que foi discutido nessa semana nesses lugares sobre o Lula ser tratado pelo SUS? Corto volta. Meu reduto é outro, minha conversa é outra, meus assuntos e interesses são outros. Como diz o refrão de uma música por aí (péssima, por sinal), “cada um no seu quadrado”. Pois dessa forma, alguns “esquerdopátas” (como eles gostam tratar os que olham para as questões sociais) já estão se reunindo todo domingo num novo espaço, com cheiro de povo e tendo ele ao lado, ou melhor, junto deles. Existe na tradicional Feira do Rolo uma banca onde a cultura rola e flana maravilhosamente, é na Banca do Carioca, bem defronte o prédio da Associação dos Aposentados de Bauru. Ali, todo domingo já está ocorrendo uma reunião, ainda insipiente de gente interessada em discutir Bauru de forma diferente, com uma visão menos entreguista e também os assuntos nacionais fora do foco de que tudo tem que ter obrigatoriamente um pensamento único e preconcebido.

Por enquanto o encontro é natural e um já sabendo que o outro vai estar por lá, acaba dando uma passada e encontram outros e mais outros. Eu sou freqüentador assíduo, o Aldo Wellicham idem, o Manoel Rubira, o Duílio Duka, o Cesar Colacino, o Bordini e tantos outros, como o jornalista Benedito Requena, o imenso farmacêutico Chiquinho (também poeta), a professora Enis Orti e outros cujos nomes esqueci nesse momento. Alguns passam só para espiar, como o Carlos Ladeira, semanas atrás, mas ao ser abordado disse: “Isso aqui não é lugar para mim, to só de passagem”. Pudera, quase saiu como candidato a prefeito pelo PSDB e dessa forma estaria no reduto errado, mas freqüenta a feira, o espaço mais democrático de Bauru. A idéia é institucionalizar o lugar, criar um estatuto, promover temas de discussão, gerar polêmica e cutucar os cutucáveis da cidade. Assunto é o que não falta.

Nesse domingo, um novo encontro (mesmo com esse nublado tempo aí fora), ainda marcado no “chega quem quer e a hora que quiser”, mas tudo sendo alinhavado para ter inauguração com barraca e tudo, cadeiras para os mais idosos e vinho patrocinado pelo Carioca, o da banca que a tudo observa e pelo visto aprova, pois domingo passado quando a turma observou uma jovem estudante da Unesp comprando ali um dos livros do Hobsbawm, mestre em História da maioria dos ali presentes, todos foram ao seu encontro e puxaram conversa. Do outro lado um outro estudante, Diogo, filmando a feira para o seu TCC lá na Unesp, tendo como tema a Feira do Rolo e juntando-se ao grupo, já está mais do que familiarizado com o ambiente e já é assíduo. Todos saem dali tentando rir das atrocidades e insanidades que alguns insistem em fazer como se fosse a coisa mais normal do mundo. Já falam até em escolher um patrono para o encontro, que tanto pode ser o BORDINI, como o ARCONCIO (na dúvida escolheremos os dois). A missão é sempre convidar mais pessoas, ampliar o espaço, sem perder o foco. A Confraria será um recarregador de baterias para muita gente. Saia de sua casa hoje, 06/11 e comprove pessoalmente. Prove dessa iguaria...
OBS.: Hoje o reduto da Banca do Carioca estará sofrendo concorrência desleal, pois no mesmo horário, 10h, lá no distante Jardim Botânico, no projeto "Um canto no Botânico", um show no meio de nossa reserva de cerrado, com nada menos que AUDREN VICTORIO e o seu AWE TRIO. Que faremos? Onde estaremos?

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