ALFINETADA (101)*
* Continuação da rebublicação dos meus antigos textos d'O Alfinete, semanário de Pirajuí. A cada mês três deles, na sequência que foram publicados por lá. Algumas correções foram feitas, mas mantida a essência e de tudo uma constatação, tem coisas que não escreveria hoje da forma como o fiz doze anos atrás.
O CUIDADO NO TRATO COM A TERRA (13) – publicado na edição n° 77, de 19/08/2000
Terminei de ler o último livro de Leonardo Boff, “Saber Cuidar: Ética do Humano – Compaixão pela Terra”, da editora Vozes/RJ e como fiquei impressionado pelo descaso que, nós humanos, continuamos praticando com o nossa habitat, compartilho com os leitores desse semanário, um pouco do que li. Nas 200 páginas do livro, Boff nos faz entender que não sabemos cuidar da Terra e que a ausência de um cuidado é o principal motivo do desleixo. “Cuidar é mais do que um ato, é uma atitude”, apregoa o autor. Ele deixa claro que a Terra não está à nossa frente como algo distinto de nós mesmos. Temos a Terra dentro de nós. Somos a Terra e precisamos ter um cuidado especial para com ela. É urgente esse cuidado, uma sinergia para com a vida, para com a sociedade e para com o destino das pessoas, especialmente da grande maioria empobrecida e condenada da Terra. O texto faz pensar e muito, pois é nítido o sofrimento do homem, sendo necessário esse repensar, voltado para um cuidado maior. E esse cuidado somente surge quando a existência de alguém tem importância para mim. A partir daí, passo a me dedicar a ele, disposto a participar de seu destino, de suas buscas, de seu sofrimento e de seus sucessos, enfim, de sua vida. Cuidar das coisas implica ter intimidade, senti-las dentro, acolher, respeitar, dar sossego. Cuidar é entrar em sintonia, é afinar-se. É o sentimento que nos une às coisas e nos envolve com as pessoas. Passamos por um momento em eu é mais do que importante desenvolver uma atitude atenta de escuta, um sentimento profundo de identificação com a natureza, com suas mudanças e estabilidades. O ser humano precisa sentir-se natureza. Num certo momento Boff desabafa: “quanto mais uma pessoa sofre com a degradação do meio ambiente, se indigna com o sofrimento dos animais e se revolta com a destruição da mancha verde da terra, mais desenvolve novas atitudes de compaixão, de enternecimento, de proteção da natureza e uma espiritualidade cósmica”. A leitura termina com a certeza de que o cuidado não é uma meta a ser atingida somente no final da caminhada. Deve ser um princípio a nos acompanhar em cada passo, em cada momento de nossas vidas. Sem o exercício constante do cuidado, não conseguiremos inaugurar um novo paradigma de convivência. Vamos tentar?
* Continuação da rebublicação dos meus antigos textos d'O Alfinete, semanário de Pirajuí. A cada mês três deles, na sequência que foram publicados por lá. Algumas correções foram feitas, mas mantida a essência e de tudo uma constatação, tem coisas que não escreveria hoje da forma como o fiz doze anos atrás.
O CUIDADO NO TRATO COM A TERRA (13) – publicado na edição n° 77, de 19/08/2000
Terminei de ler o último livro de Leonardo Boff, “Saber Cuidar: Ética do Humano – Compaixão pela Terra”, da editora Vozes/RJ e como fiquei impressionado pelo descaso que, nós humanos, continuamos praticando com o nossa habitat, compartilho com os leitores desse semanário, um pouco do que li. Nas 200 páginas do livro, Boff nos faz entender que não sabemos cuidar da Terra e que a ausência de um cuidado é o principal motivo do desleixo. “Cuidar é mais do que um ato, é uma atitude”, apregoa o autor. Ele deixa claro que a Terra não está à nossa frente como algo distinto de nós mesmos. Temos a Terra dentro de nós. Somos a Terra e precisamos ter um cuidado especial para com ela. É urgente esse cuidado, uma sinergia para com a vida, para com a sociedade e para com o destino das pessoas, especialmente da grande maioria empobrecida e condenada da Terra. O texto faz pensar e muito, pois é nítido o sofrimento do homem, sendo necessário esse repensar, voltado para um cuidado maior. E esse cuidado somente surge quando a existência de alguém tem importância para mim. A partir daí, passo a me dedicar a ele, disposto a participar de seu destino, de suas buscas, de seu sofrimento e de seus sucessos, enfim, de sua vida. Cuidar das coisas implica ter intimidade, senti-las dentro, acolher, respeitar, dar sossego. Cuidar é entrar em sintonia, é afinar-se. É o sentimento que nos une às coisas e nos envolve com as pessoas. Passamos por um momento em eu é mais do que importante desenvolver uma atitude atenta de escuta, um sentimento profundo de identificação com a natureza, com suas mudanças e estabilidades. O ser humano precisa sentir-se natureza. Num certo momento Boff desabafa: “quanto mais uma pessoa sofre com a degradação do meio ambiente, se indigna com o sofrimento dos animais e se revolta com a destruição da mancha verde da terra, mais desenvolve novas atitudes de compaixão, de enternecimento, de proteção da natureza e uma espiritualidade cósmica”. A leitura termina com a certeza de que o cuidado não é uma meta a ser atingida somente no final da caminhada. Deve ser um princípio a nos acompanhar em cada passo, em cada momento de nossas vidas. Sem o exercício constante do cuidado, não conseguiremos inaugurar um novo paradigma de convivência. Vamos tentar?
MORTADELA: UMA PAIXÃO NACIONAL (14) – publicado na edição nº 78, de 26/08/2000
O brasileiro adora comer mortadela, mas odeia que os outros fiquem sabendo dessa sua preferência. Escondido, no conforto dos seus lares, todos a degustam, comendo-a de todas as formas, seja pura, com pão ou de outras formas. Quando perguntado sobre o assunto, ele nega, foge e não confirma seu gosto por alimento tão sem refinamento. “Imagine eu gostar de mortadela”. Não adianta despistar, ela é uma das preferências nacionais. E além de tudo, tem um precinho dos mais convidativos. Muitos a renegam, porque gordurosa, podendo elevar os índices de colesterol, mas mesmo assim, de vez em quando, é inevitável o apelo daquele inconfundível cheirinho. Isso mesmo, o cheirinho é peculiar. Bastou tocar nela para impregnar. Comendo então é a certeza do cheiro lhe acompanhar pelo resto do dia. Todos à sua volta vão saber que devorou uma mortadela naquele dia. Mas, como não é mesmo fácil resistir, mesmo com aquele complexo de culpa, enfrentamos garbosamente todas as consequências. A esposa é sempre a primeira a evitar uma aproximação, enquanto persistir o cheiro, só que ela também come escondida. Falou-se muito de que era feita de carne de cavalo, mas nem isso impediu sua popularização. Comprada meio às escondidas, no meio das compras do mês, fatia-se quando a padaria está meio vazia, comida meio reservadamente, mas ninguém fica sem ela. E como a danada é gostosa. Dizem que em excesso é indigesta, mas tudo em excesso nessa vida é indigesto. Quero, nesse momento, externar minha declaração de amor à tão injustiçada iguaria. Uma rejeitada, que intimamente todos adoram, tanto ter sido merecedora dessas linhas. Por falar nisso esse escrito me dá uma vontade danada de come-la e como não a tenho no momento em casa, sou obrigado a parar a escrita e sair à procura de uma padaria, em busca de tão cheiroso tesouro. Continuo escrevendo depois...
O brasileiro adora comer mortadela, mas odeia que os outros fiquem sabendo dessa sua preferência. Escondido, no conforto dos seus lares, todos a degustam, comendo-a de todas as formas, seja pura, com pão ou de outras formas. Quando perguntado sobre o assunto, ele nega, foge e não confirma seu gosto por alimento tão sem refinamento. “Imagine eu gostar de mortadela”. Não adianta despistar, ela é uma das preferências nacionais. E além de tudo, tem um precinho dos mais convidativos. Muitos a renegam, porque gordurosa, podendo elevar os índices de colesterol, mas mesmo assim, de vez em quando, é inevitável o apelo daquele inconfundível cheirinho. Isso mesmo, o cheirinho é peculiar. Bastou tocar nela para impregnar. Comendo então é a certeza do cheiro lhe acompanhar pelo resto do dia. Todos à sua volta vão saber que devorou uma mortadela naquele dia. Mas, como não é mesmo fácil resistir, mesmo com aquele complexo de culpa, enfrentamos garbosamente todas as consequências. A esposa é sempre a primeira a evitar uma aproximação, enquanto persistir o cheiro, só que ela também come escondida. Falou-se muito de que era feita de carne de cavalo, mas nem isso impediu sua popularização. Comprada meio às escondidas, no meio das compras do mês, fatia-se quando a padaria está meio vazia, comida meio reservadamente, mas ninguém fica sem ela. E como a danada é gostosa. Dizem que em excesso é indigesta, mas tudo em excesso nessa vida é indigesto. Quero, nesse momento, externar minha declaração de amor à tão injustiçada iguaria. Uma rejeitada, que intimamente todos adoram, tanto ter sido merecedora dessas linhas. Por falar nisso esse escrito me dá uma vontade danada de come-la e como não a tenho no momento em casa, sou obrigado a parar a escrita e sair à procura de uma padaria, em busca de tão cheiroso tesouro. Continuo escrevendo depois...
BANHEIRO LIMPO É RARIDADE (15) – publicado na edição nº 79, de 02/09/2000
Quem trabalha como vendedor padece desse mal. Vendedor não tem parada, corre-corre de um lugar para outro, de cidade em cidade. Aquela aflição para tornar o dia rentável, faz com que não se tenha muito tempo para nada. O almoço é feito às pressas, quase sempre num self-service, vapt-vupt. Dia todo tomado, muitos clientes a serem visitados e as horas correndo. Essa é a rotina, mas além disso tudo, podem surgir mais algumas coisinhas, para desalento e aumento do stress diário. Uma dessas aflições, que pode acontecer com qualquer um é aquela necessidade incontrolável de ir ao banheiro quando estamos longe de casa. Posso afirmar que quando ela surge, a aflição vem junto, pois a grande maioria dos banheiros públicos é de uma falta de higiene de fazer gosto. Quando somos obrigados a encarar banheiros de botequins, de praças públicas e de alguns estabelecimentos comerciais, passamos a dar importância enorme para assuntinho tão simples. Tem banheiro por aí que só de passar por perto, começa o mal estar. Imagine lá dentro e de porta fechada. Entra-se por não haver outra saída. Nesses lugares, fazemos de tudo para tentar melhorar o ambiente, antes da consumação da sentada. O momento requisita um relaxamento, que o local não propicia. Chato mesmo é quando, mesmo com todos os cuidados tomados, um respingo do vaso acaba por molhar o incauto. Não nos esquecemos tão fácil de cenas como essas. Quem é que já não ficou apertado no meio da rua? Quando possível, volta-se correndo para a santa casinha, mas nem sempre isso é possível. Eu mesmo, já passei por situações aflitivas. Sou um crítico voraz dos shoppings centers da vida, mas numa hora dessas, rezo para encontrar um pela frente, pois lá terei certeza de encontrar um banheiro limpo. O que mais queremos nesses momentos é ter paz e tranquilidade. Esse assunto tão edificante, me faz lançar aqui pelo O ALFINETE, uma campanha pela reforma dos banheiros públicos e a conscientização dos comerciantes, entendendo que um banheiro limpo é algo de primeira necessidade. Restaurante com banheiro sujo, faz imaginarmos como será a cozinha do mesmo. Cuidando desses detalhes, o comerciante certamente será criterioso nos demais. É ou não um bom assunto a ser discutido?
Quem trabalha como vendedor padece desse mal. Vendedor não tem parada, corre-corre de um lugar para outro, de cidade em cidade. Aquela aflição para tornar o dia rentável, faz com que não se tenha muito tempo para nada. O almoço é feito às pressas, quase sempre num self-service, vapt-vupt. Dia todo tomado, muitos clientes a serem visitados e as horas correndo. Essa é a rotina, mas além disso tudo, podem surgir mais algumas coisinhas, para desalento e aumento do stress diário. Uma dessas aflições, que pode acontecer com qualquer um é aquela necessidade incontrolável de ir ao banheiro quando estamos longe de casa. Posso afirmar que quando ela surge, a aflição vem junto, pois a grande maioria dos banheiros públicos é de uma falta de higiene de fazer gosto. Quando somos obrigados a encarar banheiros de botequins, de praças públicas e de alguns estabelecimentos comerciais, passamos a dar importância enorme para assuntinho tão simples. Tem banheiro por aí que só de passar por perto, começa o mal estar. Imagine lá dentro e de porta fechada. Entra-se por não haver outra saída. Nesses lugares, fazemos de tudo para tentar melhorar o ambiente, antes da consumação da sentada. O momento requisita um relaxamento, que o local não propicia. Chato mesmo é quando, mesmo com todos os cuidados tomados, um respingo do vaso acaba por molhar o incauto. Não nos esquecemos tão fácil de cenas como essas. Quem é que já não ficou apertado no meio da rua? Quando possível, volta-se correndo para a santa casinha, mas nem sempre isso é possível. Eu mesmo, já passei por situações aflitivas. Sou um crítico voraz dos shoppings centers da vida, mas numa hora dessas, rezo para encontrar um pela frente, pois lá terei certeza de encontrar um banheiro limpo. O que mais queremos nesses momentos é ter paz e tranquilidade. Esse assunto tão edificante, me faz lançar aqui pelo O ALFINETE, uma campanha pela reforma dos banheiros públicos e a conscientização dos comerciantes, entendendo que um banheiro limpo é algo de primeira necessidade. Restaurante com banheiro sujo, faz imaginarmos como será a cozinha do mesmo. Cuidando desses detalhes, o comerciante certamente será criterioso nos demais. É ou não um bom assunto a ser discutido?