BAQUETA DE NINO ATRAVESSA GERAÇÕES
Imaginem a alegria e contentamento de um baterista, fora do circuito musical desde o começo dos anos 70, folheando a revista “Modern Drummer”, especializada em bateria, justamente em sua histórica edição de nº 100, quando numa ampla matéria traçando a “A História da Bateria no Brasil” e lá, vê seu nome citado como referência e por um mestre nesse quesito. A pergunta repetida para os grandes da baqueta nacional foi: “Quais suas referências de bateristas brasileiros de sua geração e de gerações anteriores?”. Um dos ilustres entrevistados foi Rubinho, do Zimbo Trio e dentre outros, a lembrança de NINO. Parece pouco, mas vindo de quem veio e só por
A nova geração o desconhece, mas todos (todos mesmo) os que tocaram na noite carioca e paulista durante essas duas décadas possuem boas e inesquecíveis lembranças de Nino, um agitado baterista, que vindo do interior paulista, aprendeu o essencial na profissão, a batida carioca levada na época e dela não mais se separou. Fez história, chegando a tocar, além da companhia de muitos brasileiros de renome, o fez numa
Nessa mudança para o Rio de Janeiro, ainda muito jovem, deslancha e como bom observador de um dos recantos mais lúdicos da Cidade Maravilhosa, a Praça Onze, aprendeu o ofício de sua vida. “Ali a música acontecia de fato e de direito. Hoje não é nem sombra do que já foi um dia. O samba nasceu e teve sua mais rica história ali, nas disputas entre sambistas, originando as escolas de samba. Nunca mais me dissociei da batida carioca, vivi um pouco daquilo. Ela é um diferencial e poucos conseguem bate-la como aprendi a fazer. A molecada de hoje bate bem, mas não tem esse molejo e magia. Só entende disso quem viveu o que eu vivi”. E se põe a tocar o instrumento num amplo salão nos fundos de sua casa, num luxuoso
A lembrança de Rubinho não é única. Dia desses quem passa por Bauru é outro grande da bateria, Wilson das Neves e quando questionado sobre Nino, devolve a pergunta: “Cadê ele? Temos muitas histórias juntos. Se quer saber pergunte a ele, pois é muito melhor contador de histórias que eu”. No final do ano passado, Jair Rodrigues faz um show no SESC de Bauru e num certo momento dá
Nino nunca foi um sujeito de poucas palavras. Sua história é contada pelas fotos nas paredes de seu estúdio. Cada uma
merece dele um longo relato (veja vídeo dele citando cada nome) e o mesmo se dá com cada disco, quase todos LPs. Modéstia não é com ele, mas sem pedantismo e arrogância. Ele sabe ser possuidor de qualidades inigualáveis, a tal da batida diferenciada e isso algo facilmente comprovado, bastando estar com baquetas nas mãos. Sua história vai longe. Já teve música defendida por
Elza Soares num daqueles Festivais da Canção da Record e já enveredou por outros caminhos, tentando ser cantor, chegando a fazer muito sucesso fora do país. Gravou em 1966 um LP pela RGE/Fermata, com o título “Feito para Dançar”.
No auge do sucesso, começo dos anos 70, uma sucessão de fatos desagradáveis o obrigou a se refugiar no interior paulista. Um turrão, desses que não leva desaforo para casa e isso o envolveu em algumas brigas. Perseguido pelaHoje, vive rodeado de livros e alunos, comandando um famoso Curso de Redação e não abrindo mão do que mais gosta de fazer na vida, tocar bateria, muito em casa e fora dela, quando convidado. “Aos 74 anos, vida ganha, sento lá no fundo, um lugar só meu e estudo bateria pelo menos umas quatro horas por dia. Outro tanto ministro aulas para a juventude, numa sala que construí junto de minha casa e ainda encontro tempo para a família, a leitura, meus escritos e algo que não consigo ficar sem, o de toda semana praticar capoeira com colegas da cidade. E não imaginem a minha tristeza, sendo do PT e observar o caminho enveredado por um segmento do partido. Avô antifascista, inimigo de Mussolini, pai comunista de carteirinha, sempre fui da esquerda, do seu lado consciente e lúcido. Faço o que gosto e ao lado de gente que gosto”, diz.
Não tem mágoas do hiato na então carreira em ascensão, pois conquistou tudo na formatação e consolidação de outra. Aos poucos sua fama vai sendo reconquistada. Na cidade, dois amigos e também fãs são o presidente e vice do clube Aristocrata. José Luiz Rodrigues Borges, o presidente Bambu, 55 anos repete algo salutar do amigo: “Cansei de ir a sua casa 9h da noite e só sair 9h da manhã do dia seguinte. Quando se
empolga não existe quem o segure”. Seu vice, Benedito Alves de Souza, o Bene, 62 anos, adora relembrar histórias, principalmente uma marcante do carnaval na cidade: “Ele trouxe a paradinha para cá. A bateria não parava no apito, mas num sinal de sua baqueta levantada e aí ele adentrava sozinho o asfalto. Ganhamos dez”. De tudo, algo a destacar, ele nunca conseguiu abandonar definitivamente a música e, consequentemente, a bateria.
Não vive só de lembranças, mas não se omite de relembrar histórias e mais histórias. Vai além disso ao colocar um disco para rodar, sempre com o som
em alta potência, senta e acompanha tudo como se lá estivesse, tocando junto dos músicos. O escolhido é um Hermeto Paschoal barbarizando na difícil “Misturada”, de Geraldo Vandré e Airto Moreira. Ao final, resoluto diz: “Sabe quem ainda toca assim? Poucos. Sabe quem hoje em dia me acompanha nesse tom e batida? Ninguém. Aproveite, pois isso que está vendo aqui vai morrer com o Nino”, diz. Obrigado a interromper a conversa por causa das aulas de redação, inclusive com alunos de outras cidades e na sequência outras numa faculdade na Barra Bonita, tem tudo meio que cronometrado. No pouco tempo livre finaliza a formatação de um curso de conhecimentos gerais (cinema, música, teatro e literatura) para os professores da rede pública
estadual, convidado pela Delegacia de Ensino de Jaú. Isso o obriga a ler pouco, pois o tempo anda cada vez mais curto para o seu lado.
Esse ocupado senhor, robusto e falante, faz o que gosta, sendo dessas pessoas sem muito tempo para pensar em coisas ruins. Tudo está muito bem distribuído em sua vida e sempre acaba encontrando um novo espaço, quando toma conhecimento deNão vive só de lembranças, mas não se omite de relembrar histórias e mais histórias. Vai além disso ao colocar um disco para rodar, sempre com o som
Obs.: Irei publicando dia após dia algumas gravações feitas com ele em seu estúdio, hoje uma preliminar. Esse texto foi escrito inicialmente a pedido de alguns de seus amigos jauenses e será também publicado no jornal “Gente” daquela cidade. Clicando a seguir alguns dos textos desse blog onde já havia escrito algo tendo como tema o Nino: http://mafuadohpa.blogspot.com.br/search?q=NINO
6 comentários:
Parabens Henrique!! Seu trabalho em destacar nossos heróis e artistas é muito precioso!! Gostei muito desta matéria sobre o Nino. É um justo reconhecimento ao trabalho e talento de um artista excelente.
Grande abraço a todos!!
PARABÉNS, O NINO FOI MEU ALUNO. PERGUNTE A ELE COMO CONSEGUIMOS A ISENÇÃO DE IMPOSTO DE RENDA...ABS...
MURICY DOMINGUES
amigo Henrique, parabéns pela produção do artigo, ficou excelente! Parabéns também para esta fera da música brasileira, o nosso Nino. grande abraço.
jornalista ademir elias
Henrique
Sou daqui de Jaú.
Vejo sempre o sr Nino com o pessoal da capoeira. Ele é um senhor muito simpático e alegre. O conhecia dessa atividade e nada sabia do seu passado. Fiquei muito contente de saber mais dessa pessoa aqui da cidade, que conhece gente do mundo todo.
Conheço também todo o pessoal do Clube Aristocrata e lá muitos cursos, bailes, festas. Talvez o único clube de Jaú que consegue sobreviver bem hoje e tudo por terem diversificado suas atividades. Tá sempre chei ode gente.
Gostei também do vídeo do sr Nino cantando.
Paulo e Luísa S. Prado
Muito legal Henrique!! Eu já tinha visto no seu blog!!
Esse Nino é uma figurassa, ele tem mais histórias que o Monteiro Lobato e o Walt Disney juntos!! Rsrs.....
Abrax.
Luiz Manaia (Ralinho).
Meus caros e caras:
Cometi uma homérica gafe no texto e quem me puxa a orelha é o próprio NINO. Ao citar o reduto onde aprendeu a batida famosa das baquetas, local a juntar a nata dos sambistas, o faço como Praça QUINZE e na verdade, o nome correto é Praça ONZE. Ambas no centro do Rio (conheço ambas) e o erro foi só numérico, mas uma num canto, a Onze no cais do porto, local onde desenvobcavam sambistas vindos dos morros ao seu redor e a outra, praça Quinze, famoso porto de embarque das barcas para Niterói. Lapso corrigido, mas para quem já leu o texto, a explicação devida acerta tudo.
Minhas desculpas pelo equivoco.
henrique - direto do mafuá
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