sexta-feira, 10 de agosto de 2012

OS QUE SOBRARAM e OS QUE FAZEM FALTA (37)
MUNIZ SODRÉ E ALGO SOBRE ESSE DUPLO OFÍCIO DE SER E FAZER NO JORNALISMO E NA LITERATURA
Na última quarta, 08/08, 20h, ocorre a abertura do CELACOM (http://www2.faac.unesp.br/celacom/), o XVI Colóquio Internacional da Escola Latino-Americana de Comunicação, evento bancado e patrocinado pela FAAC UNESP Bauru. Lá no site uma explanação do que foi e continua ocorrendo no evento, sendo recomendado também ver as novidades num blog, com o perfil dos participantes (http://www2.faac.unesp.br/wordpress/celacom/). Confesso ter ido exclusivamente para assistir logo após a sessão de abertura, a conferência inaugural, com o tema “Literatura e Comunicação na América Latina”, proferida por nada menos que MUNIZ SODRÉ, um comunicador dispensando apresentações e rapapés. Um mestre na acepção da palavra. Reverencio esses, onde busco frequentemente inspiração para atuações variadas. Dessa feita tinha um privilégio a mais, ele e sua esposa Raquel Paiva (doutora em Comunicação e professora da UFRJ), são amigos pessoais de Ana Bia (cariocas por adoção, menos Ana, essa da gema), minha companheira de todas as horas, tendo vivenciado experiências profissionais juntos. Além de ouvi-lo, tive o prazer da convivência com os dois, em algo que relato aqui da forma como pude compreender o escutado, pois fico um tanto retraído diante dos meus ídolos e na maioria das vezes, me escapa o principal, me ater atentamente ao que dizem. Viajo nesses momentos e talvez me tenha escapado algo mais contundente, mas de minhas anotações, extraídas da fala desse que considero um “Dos que Sobraram” nesse país, eis o que consegui salvar. Da abertura do evento, não quero registar a presença de nenhuma autoridade, mas a do seu apresentador, o jornalista e radialista da rádio Unesp FM, Wellington Leite, que possuidor de qualidades marcantes, sabe ocupar seu espaço e acaba se saindo muito bem quando chamado. Ponto positivo.

Na maior parte do tempo Muniz explanou sobre a convivência da prática do jornalismo como sendo um gênero literário e vice-versa. Dá início citando um dos pioneiros por aqui, João do Rio e outro expoente de tempos não tão remotos, João Antonio, com a citação de um grande exemplo mundial, Gabriel Garcia Marquez. “Além da literatura, só o jornalismo poderia satisfazer a esses. O melhor são textos nem muito curtos, nem muitos espichados, frase de Drummond. Clarice Lispector ensinava para que modifiquemos frases essencialmente ricas. Na mesma linha, sugiro para que não se escreva bem demais, além de toque para que todo texto literário possua notas sujas. (...) Com Garcia Marques, a valorização da função de repórter, um tendo que aprender com o outro. O realismo objetivo é a busca dos efeitos de real, corrente das narrativas de não ficção. A narrativa provocante busca detalhes. O estilo norte-americano é relator de ações, narra como se estivesse no centro dos acontecimentos. Hemingway cria a narrativa de parágrafos. (...) Um texto curto às vezes é mais forte do que toda a teoria. Tudo o que você tem a fazer é escrever pelo menos uma frase verdadeira. Usar esses recursos literários no jornalismo ainda não é literatura. A escrita literária e escrita jornalística de Hemingway é um marco. Já a escrita literária como fator de ascensão social é algo que veio com Truman Capote. (...) A imprensa costuma dar nomes, veja o caso do Comando Vermelho, nome criado pela imprensa, não pelos do grupo. Cria-se o fantasma. Não devemos acreditar e levar ao pé da letra o que se passa nesses livros autobiográficos. A ficção literária enriquece o pensamento, pode iluminar o real histórico e transformar a realidade. Jorge Amado baianiza a Bahia e o baiano acredita e até incorpora isso. O Globo fez uma reforma gráfica recente, ficou mais bonito, mas seu conteúdo continua o mesmo, sem reforma. Cada um inventa ao seu modo e jeito. Confundimos o real com o imaginário na mídia. (...) A matemática e a lógica nos empurra para que acreditemos que sua teoria é verdadeira. Os grandes criadores literários são cheios de ficção. O equilíbrio do mercado é ficcional. Para entender e compreender a realidade veja o quanto temos que mentir, fugir da realidade. (...) A ficção hoje é uma forma de conhecer o real e essa fala é poderosa. Ela pode ser muito mais interessante do que qualquer coisa que alguém tenha dito, depende de como é produzida. (...) Vivemos momentos de nomadismo entre a ficção e o jornalismo, sem saber ao certo até onde vai a comunicação e até onde vai o jornalismo. O caminho é ler muito, literatura, discutir literatura nos cursos. Todos os grandes da escrita inventaram muito, intuíam muito. Veja sempre o espaço e veja junto o tempo, procurando contextualizar tudo antes de chegar a alguma conclusão”, essas algumas das provocações do professor Muniz Sodré, ou seja, como discutir tudo isso num continente de iletrados.
Como é bom ser provado, instigado, adorável isso.  Acredito que assim a reação ocorre mais rapidamente. Ele tem um discurso que contamina. Entendi que literatura não é jornalismo, mas há frequentes aproximações. E depois, fomos todos para o coquetel no saguão do evento. De lá, eu e Ana sequestramos Muniz e Raquel e passamos um tempinho curtindo essas duas maravilhosas pessoas só para nós. O ensinamento da noite será a execução daqui para frente de um bocadinho do que o vi expor. Foi uma noite de aprendizados mil. Aguardem-me com a prática disso tudo.
OBS FINAL: Estar com Muniz Sodré é a alegria de constatar in locu que ainda existem alguns “QUE SOBRARAM” nesse cruel mundo. Por outro lado, a cada dia partem alguns e esses engrossam o caldo dos “QUE FAZEM FALTA”. Cito cinco. Três universais, o maestro Severino Araújo, da Orquestra Tabajara, que nos fazia dançar mesmo sem o saber (meu caso), Celso Blues Boy, que me introduziu no mundo do abrasileirado blues e Magro, um integrante do MPB 4, o grupo vocal que mais tenho discos e cujas letras cantarolo sozinho pelas ruas, como um desses seres que vejo falando pelas ruas consigo mesmos. Daqui de Bauru, gente de nossa aldeia, perdemos nessa semana o Tigrão, buzineiro do Noroeste, que nos encantava com seu barulhento arsenal nos campos de bola e com seu Carmelo, mestre do violão, que aos 96 ainda tentava ensinar acordes para os interessados em aprender tão delicada e magistral arte.

5 comentários:

Anônimo disse...

PQP. Para isso ninguém me convida. Fiquei sabendo que o Muniz esteve aqui em Bauru só agora e lendo o seu blog. Não vi isso em lugar nenhum, jornal nenhum, nota nenhuma. Nada. Agora para ir hoje no Michel Teló lá na Expo já recebi três convites e tive que mandar todos para a PQP. V}e se publica bem antes do evento acontecer, pois tem coisa que não sai no jornal, não falam na rádio e muito menos vejo na Tv.

Alvarenga

audren disse...

Obrigada por tê-lo levado ao Templo, fiquei muito honrada com o comentário. Bjs pra vc e Bia!

audren disse...

Obrigada por tê-lo levado ao Templo, fiquei muito honrada com o comentário. Bjs pra vc e Bia!

Mafuá do HPA disse...

uerida Audren:

O comentário dele para nós numa mesa do Templo Bar, enquanto te ouviamos foi essa: "A voz dela é muito parecida com a da Rosa Passos. Me faz lembrar dela".

Eu, que sempre te admirei, também fiquei honrado quando ouvi Muniz dizendo isso, eis o motivo de ter feito chegar até ti o comentário num bilhete.

E por fim, algo a juntar isso tudo: ROSA PASSOS estará no SESC na próxima quinta, 16/08, 20h30, entrada gratuita. Pode juntar o que marcou presença na Expo esse ano que não dá para se comparar com a Rosa. Vamos?

Henrique - direto do mafuá

Anônimo disse...

Querida Bia E Henrique, como deliciamos lendo o post do blog! Que maravilha ! Que generosidade! Gostamos demais de rever vc e conhecer melhor o Henrique! Muniz manda bjs! Obrigada, Raquel