domingo, 12 de agosto de 2012

FRASES DE UM LIVRO LIDO (61)
UM LIVRO SOBRE ALGUÉM DIFERENCIADO, CAIO FERNANDO ABREU, QUE ADORO
Um dos escritores que desde que o descobri caiu no meu gosto foi o gaúcho CAIO FERNANDO ABREU. Dele poderia escrever laudas e laudas e depois, da imensa tristeza quando de sua partida, pois estava privado dos seus instigantes escritos. Descobri por acaso num sebo no centro de Curitiba (paguei meros R$ 5 reais) um livro de memórias (ou seria um romance?), o “Caio Fernando Abreu – Inventário de um escritor irremediável” (editora Seoman – www.seoman.com.br, 2008, 192 págs), de uma jovem jornalista mineira, a Jeanne Callegari (www.jeannecallegari.com.br).

Vamos direto as frases que fui grifando no meu exemplar:
- “Viver é não só suportar, mas sobretudo lutar contra o que se é”.

- “O Caio inclassificável, que se recusava a fazer parte de movimentos, filosofias e seitas, mas que passeava e pairava por todas elas”.
- “...desde pequeno, tinha traços ambíguos, não gostava de futebol, preferia desenhar, escrever. A sociedade santiaguense da época não estava preparada. (...) Era a época dos comentários maldosos, velados”.
- “Incapaz de se condicionar a algum rótulo, ele seria não um, mas muitos:  o Caio tímido da infância e da adolescência, o Caio enfrentativo e ousado da juventude, o Caio mais sereno e maduro do fim da vida. Para cada pessoa que o conheceu, um Caio diferente, às vezes oposto ao que outros se recordam”.
- “Caio e João Gilberto Noll (...) como não tinham dinheiro para comprá-los, aproveitavam para roubá-los na Feira do Livro de Porto Alegre”.
- “Anos mais tarde, Caio diria que toda sua literatura seria fruto do choque, do contraste entre a vida interiorana em Santiago do Boqueirão e a vertigem causada pela velocidade da capital paulista (...) Ele costumava dizer sobre o choque que foi trabalhar como jornalista em São Paulo: Me estupraram até o último hímen”.
- “Ele fez parte da turma que achava que festa e subversão podiam estar ligadas, e que a revolução era individual, de comportamento”.
- “Queria tanto que alguém me amasse por alguma coisa que eu escrevi”, Hilda Hilst.
- “Assustou-se, no entanto, com o que chamaria de vampirização das pessoas: todo mundo só querendo saber de falar e falar, de fazer comentários espertos, de mostrar um equilíbrio que não possuíam”.
- “Caio sempre achava um jeito de colocar defeito no lugar onde estava. Sentia-se estrangeiro onde quer que fosse, sem possibilidade de cura”.
- “Era aquela velha história: quem não fosse conhecido não seria publicado, mas como se tornar conhecido se não aceitavam publicá-los?”.
- “Tenho muita pena de você. Você nunca vai me enlouquecer”.
- “...a morte de Ana Cristina Cesar foi um marco, também, do fim da década de 70. Como se Ana não aceitasse, ou não pudesse aceitar a mudança, ela se matou, congelando sua imagem nos doces anos em que se podia pensar em mudar o mundo. Porque era mais ou menos isso: mudar ou morrer”. “Com que direito, Deus, com que direito ela fez isso? Logo ela, que tinha uma arma para sobreviver – a literatura -, coisa que pouca gente tem”, Caio.
- “Quando não há jeito, o melhor é rir, ele pensava. Era adepto da cultura das abobrinhas, que é simplesmente falar bobagem”.
- “Caio chegou a dizer, certa vez, que devia ser insuportável para a Academia, e também para a crítica, lidar com um escritor que confessava que o trabalho do Cazuza e da Rita Lee foram influências muito maiores que Graciliano Ramos”.
- “Caio estava sempre repetindo. Ele adorava essa frase. Como era bom poder tocar um instrumento, pensava, como era bom poder escrever, ter essa arma para lutar contra as aguras do mundo”.
- “Não quero fãs, quero amantes” e “Quando duas ou mais pessoas estiverem reunidas em nome de Deus, eu estarei no meio delas. Mas sempre com um decote bem profundo”, Caio.
- “...literatura gay – para Caio, por exemplo, isso não existia. Graciliano Ramos não era chamado de escritor Hetero; porque ele deveria ser chamado de escritor gay?”.
- “...todos nós somos seres humanos, erramos, nos equivocamos, coisa e tal. Mas eu estou me sentindo extremamente constrangido de estar na posição de render homenagens ao tipo de ideologia que eu profundamente desprezo”, Caio do Roda Viva.
- “Segura o turbante, meu bem, e sente o ritmo”, Vicente Pereira, amigo de Caio, pouco antes de morrer de Aids, numa animadora frase.
- “Diz que faz parte de uma geração muito colonizada, que cresceu assistindo ao cinema americano, e que portanto sempre acredita que vai haver um beijo da Doris Day com Rock Hudson no final, e todos serão felizes para sempre”.
- “...a AIDS era uma doença cheia de estigmas, que talha o ser humano no que ele tem de mais delicado, que é a sexualidade. E por isso ara preciso desmistificar, não se envergonhar. Falar da doença era a melhor forma de combatê-la, e principalmente de combater os preconceitos ligados a ela, os clichês associados aos soropositivos. Por isso, ele dava entrevistas; mesmo sabendo que o interesse maior não era sua obra, e sim na doença, ele falava”.
MINHA CONCLUSÃO FINAL: PROCUREM LER TUDO O QUE ENCONTRAREM PELA FRENTE DE CAIO FERNANDO ABREU.

2 comentários:

Anônimo disse...

"Henrique - Imprescindível. que essa sua paz te acompanhe sempre!"
George Vidal

Helena Aquino disse...

Maravilhoso Caio Fernando Abreu ...sou uma apaixonada pelos seus escritos... a internet está cheia de seus pensamentos, em facebook , orkut ... as suas palavras encantam , marcam de geração em geração ... permite-nos sentir algo diferente, claro ...é singular .
Hoje procuro ler tudo o que encontro dele e passar adiante , como um estilo de vida mesmo... é sereno e elétrico ao mesmo tempo, amado e odiado, mas nunca esquecido.
Uma pena que não conseguiu esperar os remédios que retardam a morte pela Aids , mas nos deixou um legado forte, autêntico e real aos nossos dias...
Indico e recomendo a obra desse grande escritor.

Helena Aquino