O POETA QUE NÃO CONSEGUE PUBLICAR e OUTRO QUE SÓ O FEZ APÓS A PARTIDA
O poeta que não consegue publicar é meu amigo, morador lá dos altos do jardim Bela Vista, o servidor aposentado da antiga e extinta CESP, caipira que leu Nietzsche, LÁZARO CARNEIRO. O gajo já possui livro publicado, mas é desses a acordar no meio da noite e com um tema na cabeça, perde o sono enquanto não passar tudo para o papel. Tem gavetas e gavetas cheias de manuscritos, todos mais do que publicáveis. Ano passado foi agraciado com a possibilidade de ter nova obra impressa, quando participou de um concurso na Secretaria Municipal de Cultura de Bauru. Foi um dos cinco escolhidos, mas um dos desclassificados, se achando injustiçado, impetrou junto ao Ministério Público uma denúncia de que por ter infinidade de livros já lançados não poderia ficar de fora. Melou a coisa e de forma indevida. Enquanto não retirar o pedido ou tudo não for devidamente esclarecido, os livrinhos não saem e nós, os prováveis leitores estaremos privados de uma saborosa leitura caipira. Como tira gosto, Lázaro acordou um domingo desses inspirado e me envia três de uma só batelada. Eis para deleite dos que gostam de prosa e verso. Com o título de APORRINHAÇÕES POÉTICAS cá estão as inquietações do poeta: 1) “Deus está morto e adorado/ Remoendo e triturando adoradores/ Eu professo minha fé a cada manhã/ Quando recebo minha bíblia diária/ E contrito abro na pagina do evangelho/ Meus olhos vermelhos e esbugalhados/ Serve meu cérebro enlouquecido/ Que recolhe cada linha da boa nova/ Deus está em baixa?, me prostro resignado, ele sabe o que faz./ Deus está em alta?, me reconforto na poltrona , amém./ Pelas catedrais passam multidões desarrumadas/ E sem rumo recebem a cumplicidade e são abençoadas/ Suas almas e corpos servem esse deus/ Que é anunciado do oriente ao ocidente/ Em placas reflexivas e em gás néon intermitente/ Está onipresente, onisciente, onipotente e horripilante/ Onde há deus não há liberdade/ E a humanidade já recebe a extrema unção”. 2) “Soneto do 1/2 cidadão - É o bafo do dragão na asa do anjo/ É o ladrão, a latrina e o latrocínio/ A desdita que desgraça o destino/ E armadilha ,arcabouço e mau arranjo/ Todo o senado é Demóstenes e desmando/ Nesta republica onde nada nos pertence/ Democracia que o povo Síssifo vai rolando/ Somos palhaços adjetivo e não circense/ A repressão chega primeiro que o socorro/ A humilhação é onipresente e nacional/ Sou cidadão de meia cidadania/ Perco a esperança, mas levanto e me recorro/ Na tv, no futebol, no carnaval/ Na presa da serpente matando um leão por dia“ e o 3) “São maravalhas de sentimento , deserto de paixão/ É como mata cerrada caricias envergonhadas/ Retalho de solidão/ Preciso, quero e não sou alegre como um palhaço/ Sou cemitério de ideologia onde tudo principia/ Dormência dor e inchaço/ A humildade de um escravo, a discrição de um monge/ Tenho a vastidão das savanas, navalha que vento abana/ Paisagem vista de longe./ Sou peixe que voa nas águas entre marés e tufão/ Sou a dor e a própria cura, sou astro na noite escura/ observado do chão”. O movimento agora é para que o “impossibilitador” da publicação desses versos em cartilha já escrutinada e aprovada, reconheça seus erros, retire o impropério de se achar o rei da cocada e permita que outros cinco tenham suas obras publicadas. Dentre eles, esse Lázaro.
O escritor que só conseguiu publicar seu livro após partir é o também muito meu amigo (e continuará sendo mesmo estando em outro plano). Amanhã, 22/08, 20h na Casa Ponce Paz (cruzamento das ruas Antonio Alves e Ezequiel Ramos) acontece o lançamento do livro “ENERGIA: ALTERNATIVAS - CONCEITOS DE CONSERVAÇÃO DE ENERGIA SUSTENTÁVEL”, obra póstuma escrita por DÉCIO BASSAN. Muito já escrevi dele aqui, tanto do autor, como da obra e da forma como foi escrita. Agora chegou o grande dia. Tudo ficou pronto e o sonho do Décio está sendo realizado, mas ele não conseguiu chegar vivo até aqui. Suas forças se findaram com a entrega dos originais para a esposa e o filho. Ele foi um bravo, até o último instante. “O livro foi escrito para o filho Bruno Bassan Miranda e expõe de forma muito didática a necessidade de cuidar do meio ambiente adotando formas de obtenção e conservação de energia, desde atitudes cotidianas individuais à políticas governamentais globais. A publicação do livro era seu sonho e é resultado do esforço dos amigos e da família, com apoio da Secretaria Municipal de Cultura. O livro será autografado pelo filho. Apesar da tristeza por sua morte no dia 26 de julho de 2012, o lançamento é uma celebração à vida e uma homenagem a ele, que foi um homem de bem, grande intelectual, muito querido em Bauru e por onde passou”, esse o texto de divulgação numa página aberta só para falar do livro no facebook. Vamos todos surpreender a Rose Barrenha e seu filho Bruno, lotando o espaço e proporcionando uma grande noite para todos os que estiveram envolvidos nesse lançamento. Do Décio poderia reproduzir aqui alguns trechos do seu livro, mas não o faço, pois o interessante mesmo é irmos lá, comprarmos, revermos pessoas queridas e depois, todos juntos pararmos para o papo, principalmente sobre o grande tema que ele escrevinhou de forma profética. Eu vou estar lá e você? Esse, assim como Lázaro são possuidores de gavetas e gavetas cheias de escritos, apontamentos e algumas obras prontas. Muita coisa brava de ser encarada continua sendo lançada a cada dia e com grande pompa. Outros para desengavetarem e conseguirem a publicação precisam de um empenho desconcertante, roteiro de "sangue, suor e lágrimas".
O poeta que não consegue publicar é meu amigo, morador lá dos altos do jardim Bela Vista, o servidor aposentado da antiga e extinta CESP, caipira que leu Nietzsche, LÁZARO CARNEIRO. O gajo já possui livro publicado, mas é desses a acordar no meio da noite e com um tema na cabeça, perde o sono enquanto não passar tudo para o papel. Tem gavetas e gavetas cheias de manuscritos, todos mais do que publicáveis. Ano passado foi agraciado com a possibilidade de ter nova obra impressa, quando participou de um concurso na Secretaria Municipal de Cultura de Bauru. Foi um dos cinco escolhidos, mas um dos desclassificados, se achando injustiçado, impetrou junto ao Ministério Público uma denúncia de que por ter infinidade de livros já lançados não poderia ficar de fora. Melou a coisa e de forma indevida. Enquanto não retirar o pedido ou tudo não for devidamente esclarecido, os livrinhos não saem e nós, os prováveis leitores estaremos privados de uma saborosa leitura caipira. Como tira gosto, Lázaro acordou um domingo desses inspirado e me envia três de uma só batelada. Eis para deleite dos que gostam de prosa e verso. Com o título de APORRINHAÇÕES POÉTICAS cá estão as inquietações do poeta: 1) “Deus está morto e adorado/ Remoendo e triturando adoradores/ Eu professo minha fé a cada manhã/ Quando recebo minha bíblia diária/ E contrito abro na pagina do evangelho/ Meus olhos vermelhos e esbugalhados/ Serve meu cérebro enlouquecido/ Que recolhe cada linha da boa nova/ Deus está em baixa?, me prostro resignado, ele sabe o que faz./ Deus está em alta?, me reconforto na poltrona , amém./ Pelas catedrais passam multidões desarrumadas/ E sem rumo recebem a cumplicidade e são abençoadas/ Suas almas e corpos servem esse deus/ Que é anunciado do oriente ao ocidente/ Em placas reflexivas e em gás néon intermitente/ Está onipresente, onisciente, onipotente e horripilante/ Onde há deus não há liberdade/ E a humanidade já recebe a extrema unção”. 2) “Soneto do 1/2 cidadão - É o bafo do dragão na asa do anjo/ É o ladrão, a latrina e o latrocínio/ A desdita que desgraça o destino/ E armadilha ,arcabouço e mau arranjo/ Todo o senado é Demóstenes e desmando/ Nesta republica onde nada nos pertence/ Democracia que o povo Síssifo vai rolando/ Somos palhaços adjetivo e não circense/ A repressão chega primeiro que o socorro/ A humilhação é onipresente e nacional/ Sou cidadão de meia cidadania/ Perco a esperança, mas levanto e me recorro/ Na tv, no futebol, no carnaval/ Na presa da serpente matando um leão por dia“ e o 3) “São maravalhas de sentimento , deserto de paixão/ É como mata cerrada caricias envergonhadas/ Retalho de solidão/ Preciso, quero e não sou alegre como um palhaço/ Sou cemitério de ideologia onde tudo principia/ Dormência dor e inchaço/ A humildade de um escravo, a discrição de um monge/ Tenho a vastidão das savanas, navalha que vento abana/ Paisagem vista de longe./ Sou peixe que voa nas águas entre marés e tufão/ Sou a dor e a própria cura, sou astro na noite escura/ observado do chão”. O movimento agora é para que o “impossibilitador” da publicação desses versos em cartilha já escrutinada e aprovada, reconheça seus erros, retire o impropério de se achar o rei da cocada e permita que outros cinco tenham suas obras publicadas. Dentre eles, esse Lázaro.
5 comentários:
meu caro e dileto amigo Henrique,isso me deixa muito feliz,suas palavras,a publicação no blog em fim seu carinho e sua amizade.obrigado por tudo e um grande abraço.
lazaro carneiro
Quem é esse que melou a publicação dos livros?
Tem gente que vê pelo em ovo e tem gente que se estiver de fora, tudo o mais não vale nada. Basta de gente arrogante e orgulhosa.
Que é ele?
Aurora
Henricão,
Não sei se vc postou propositalmente, mas essa foto que está junto ao texto publicado, a do senhor barbudo vendendo revista é histórica, antológica. É de um daqueles vendedores de jornais e livros nas ruas de Paris no século passado, cem anos atrás. Daquele tempo até hoje resistem nas ruas parisienses as bancas de livros usados, os bouquinesses. Esses vendedores fizeram história com seus jornais pelas ruas, gritando as manchetes. Na internet tem fotos lindas de todos eles. Vc que gosta muito de escrever de livros poderia fazer uma relação entre o que faziam, como faziam e o que é feito hoje. Pesquise e veja as semelhanças. Na foto escolhida, uma bela relação com dois, um que não consegue e o outro que conseguiu, mas não vai poder estar presente no lançamento.
Rosana
Gente
Lázaro se declarando meu amigo, ganhei o dia.
Aurora, essa charada é fácil de ser matada, ou seja, decifrada. Cruze informações por aí e descobrirá facilmente o nome da fera. Meio inconsequente, seus motivos, não?
Por fim, Rosana, que me chama de Henricão. A foto é realmente linda e a tinha salvo há um tempão. É isso mesmo, esses dois da escrevinhação, os novos vendedores de livros, aos gritos, de porta em porta, com galhardia e esmero, muito se parecem com o velho vendedor de jornais parisiense. Mudou pouca coisa, não?
Henrique - direto do mafuá
Eu conheci o DÉCIO BASSAN não faz tanto tempo assim. Não tenho muitas lembranças do Alternativa Bar e nem era na época amigo dele e da Rose Barrenha. A Rose eu vim a conhecer nos meus tempos de Prefeitura, ficamos amigos de cara, mútua empatia. Ela já não morava com o Décio, mas quando esse adoeceu, abriu mão de tudo e foi cuidar da saúde da pessoa com quem teve todos seus filhos e sempre nutriu algo muito mais intenso do que uma simples amizade. Voltaram a viver juntos e eu o vi algumas vezes. Numa dessas, na casa da Rose lá no Geizel, ele preparou um chucrute e um joelho de porco desses de lamber os beiços. Fiquei a ouvi-lo atentamente e vi que suas idéias batiam em muito com as minhas. Passei a admirar aquele senhor careca, altivo e de fala mansa, pausada, mas resoluto, direto e reto. Acredito que também tenha batido uma empatia ali entre duas pessoas vividas e ganhei um novo amigo. Depois nos vimos também numa festança que fizemos no Amadeus Bar, ele já doente, mas firme, fazendo força para não aparentar e nem deixar ninguém constrangido. Falou bastante naquele dia de suas experiências energéticas e foi a primeira vez que ouvi algo de um provável livro sobre as escrevinhações e o que pensava desse negócio de Energia e Fontes Alternativas. Fui em Marília algumas vezes e numa o revi na sua antiga morada,lá para cima da antiga rodoviária. Novos papos e a partir daí conversamos por telefone. Rose parou com sua vida e foi de uma dedicação exclusiva para com o Décio. Nisso ganhei um chapéu dele, e circulo muito com ele por aí. Fui com ele para a Espanha e mais recentemente para a Argentina. A última vez que vi oDécio foi lá em Marília no apartamento da Sampaio Vidal. Ele se mostrou forte, conversou, me mostrou coisas no computador, trocamos ideias sobre o livro e num certo momento pediu para deitar. Daí em diante foi um leão até terminar o livro. Terminou e se foi. O que dizer de alguém que conheci dessa forma e hoje repito em todos os lugares ser meu amigo do peito. Fizemos um grande esforço coletivo e o livro saiu, vingou e o resultado hoje está aqui. O esforço maior foi o dele, ao rever tudo o que havia escrito e formatar no que podíamos fazer. Depois veio nosso trabalho coletivo e foram tantos que nem cito ninguém, para que não cometa o erro do esquecimento com muitos, o que certamente ocorreria. Hoje, Rose está aqui e Bruno idem, também a Bruna e todos vocês. Ele deve estar contente com tudo isso e de uma coisa eu me surpreendi ontem ao ver o livro, ele ficou bonito para cacete. Superou as expectativas. Vamos saboreá-lo e tirar proveito dos sábios ensinamentos do Décio.
Esse escrito acima eu iria ler na festa do lançamento do livro, mas não houve espaço para tanto. Publico aqui.
Henrique - direto do mafuá
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