quinta-feira, 30 de maio de 2013

DOCUMENTOS DO FUNDO DO BAÚ (51)

O QUASE TOMBAMENTO, QUE ACABOU SE TRANSFORMANDO NUM DESTOMBAMENTO - O "BTC" ESTÁ VULNERÁVEL À DEMOLIÇÃO
Por oito anos fui conselheiro do CODEPAC, por quatro o presidi e nesse momento, após a nova composição do Conselho tomar posse semana passada, numa renovação em seus quadros, estou fora de sua composição. Alguns valorosos conselheiros lá continuam, outros chegaram e esse período de cinco meses sem atividade nenhuma (acéfalo de janeiro a maio 2013) foram catastróficas para o prosseguimento de suas atividades, haja visto que ocorreu no período uma degradação imensa no trato dos imóveis tombados, em relação à sua preservação e mesmo ocorrendo inúmeros obras sem prévia autorização e anuência do Conselho. São inúmeros os casos e o mais gritante, é o que tomo conhecimento dias atrás, quando um processo iniciado já teria tido decisão tomada pelo prefeito, pela interrupção de tramitação, ou seja, ele decide pelo não tombamento do imóvel do BTC, antes mesmo que o Conselho houvesse tomado essa iniciativa. é dele o poder de veto, mas nunca ocorreu antes do Conselho opinar se a edificação deve ou não ser tombada. O que publico abaixo é um texto de denúncia, em tom amistoso, sem nenhuma agressividade, mas contundente. Primeiro reproduzo o mesmo e depois, na sequência acompanhando o desenrolar dos acontecimentos, gostaria de discutir melhor esse e outros procedimentos de tombamento em Bauru. As fotos aqui reproduzidas foram tiradas por mim, numa vistoria ocorrida quando foi iniciado o processo, em 08/07/2010. Naquela oportunidades os novos proprietários do prédio onde antes foi o BTC, haviam se comprometido a manter intactos fachadas e algumas partes internas da edificação. O tempo passou, o poder público não fez força nenhuma para que o tombamento prosseguisse e a notícia atual é que, lamentavelmente, o último resquício de um clube social de grande porte em Bauru está desguarnecido e desprotegido, podendo ser literalmente tombado, ou seja, demolido ao bel prazer dos proprietários. Como isso se deu, como foi o desenrolar dos bastidores disso tudo, nem eu, nem a maioria dos conselheirtos saberemos responder. O fato é que o Poder Público Municipal precisa se manifestar sobre o assunto e a carta, em forma de lamento, explícita bem o que tratei acima:

Olá Presidente e demais Conselheiros, amigos e demais colegas anexados nessa lista.

Fui informado, se é que vocês já não sabem, que o pedido de tombamento do Bauru Tênis Clube foi anulado pelo Prefeito Municipal, se não me engano por ter excedido o prazo legal para o tombamento. Quero ver se amanhã ou segunda  tenho acesso ao teor da manifestação do prefeito e do jurídico que analisou o caso e foi favorável ao cancelamento. Já podíamos imaginar que alguma coisa iria acontecer nesse sentido ao tomarmos posse para a atual Triênio do Conselho quando fomos informados que, sobre o BTC, as análises jurídicas sobre o tombamento não eram das melhores.

Como sabemos esse tombamento era uma "crônica de uma morte anunciada" e eu ainda argumentava com alguns conhecidos, não amigos, conhecidos, que o BTC poderia ser tombado e eles riam da minha ingenuidade dizendo que eu era mais realista que o rei. Parece que tinham razão. Bauru vai ficar sem nenhuma das sedes das mais importantes práticas sociais do século XX que era praticar atos de sociabilidade em clubes. Agora o BTC pode ser descaracterizado e demolido sem culpa. Mas quero lembrar a todos que, provavelmente, o parecer pela anulação do pedido de tombamento não entrou no mérito da construção anexa ter sido iniciada e quase que concluída sem autorização da Prefeitura Municipal e sem fiscalização, o que, a meu ver é algo absurdo, pois o pedido de tombamento era público e notório e tanto os arquitetos que fizeram o primeiro contato conosco como o arquiteto que assinou a obra nova não poderiam alegar desconhecimento de tal fato. Além do que o Conselho fez uma vistoria e informou a Prefeitura Municipal das irregularidades e pediu providências, inclusive ao Ministério Público Estadual.

Hoje, Bauru não conta com nenhuma sede original de Clubes que existiram e ainda existem na cidade e provavelmente o BTC será a próxima vítima. É lógico que se pensarmos na importância dessas sedes,  devemos lembrar que o clube do maior atleta do século XX, Pele, o Bauru Atlético Clube/BAC  também, não existe mais e não foi salvo por falta de um projeto alternativo, falta de interesse do Rei do Futebol, falta de envolvimento da sociedade, e a premência de um projeto econômico que geraria como gera e gerou impostos, empregos o que acabou prevalecendo dentro do Conselho ao apreciar um possível pedido de tombamento do BAC. Será que o BTC não pode ser objeto de um projeto do Conselho que possa salvar o que agora está totalmente vulnerável? A profissionalização do Conselho não passa por termos uma equipe de projetos e cobrar da Prefeitura fiscalização e cumprimento da lei? 

É certo que muitos comemorarão o acontecido, pois para eles o BTC era um "Clube de Burguês" mas um Clube que além da sua arquitetura modernista foi o centro de sociabilidades de todos os tipos como no esporte ao receber os esportistas vitoriosos e homenageá-los (no judô, basquete feminino e masculino, natação, polo aquático e o mais importante tênis de campo que deu nome ao Clube),  ter um parque aquático que reunia natação e polo aquático;
no teatro ao receber peças teatrais do mais alto renome - quem não se lembra de Zoo Story com Marcos Nanini e Lição de Anatomia com Marília Pera? - e as mais simples também (não devemos esquecer que até a inauguração do Teatro Municipal Bauru não tinha Teatro e tudo acontecia nos salões do BTC); na música onde o Rock And Roll mais pesado conviveu com shows antológicos como o show do Secos e Molhados na estreia de Nei MatoGrosso no cenário musical nacional; no cinema comercial e de arte que exibia filmes de qualidade aos associados e seus filhos no cinema que existia na sua sede agora relegada.

Enfim o cancelamento do tombamento do BTC prova mais uma vez como é difícil a tarefa da preservação do Patrimônio Cultural de uma cidade e na nossa Bauru não seria diferente. A Secretaria da Cultura poderia pensar através do atual Secretário Elson, amigo de longa data, a criação de um grupo de funcionários de projetos para dar destinos adequados a bens tombados ou pelo menos propor projetos e apontar caminhos para os proprietários particulares de bens tombados. Peço aos conselheiros que reflitam sobre o acontecido e aqueçam seus corações e mentes para podermos, se possível, pensarmos  em algo para dar um destino mais digno a um espaço histórico, arquitetônico tão importante. Lembro também que o Conselho irá se deparar com problemas enormes como reformas e alterações que estão sendo feitas em obras tombadas onde os donos dos imóveis simplesmente ignoram, como aconteceu no BTC, o Poder Público e o Conselho. Posso citar as alterações que estão sendo feitas nas Casas da Sorocabana na Avenida Pedro de Toledo e a alteração feita na Aliança Francesa na Araújo Leite onde alterações na lateral e no telhado foram realizadas sem a Consulta do Conselho e de forma inadequada.

Era isso que eu tinha a relatar aos Conselheiros, e outros amigos e colegas que leem essa manifestação. 
OBS.: Omito o nome do missivista por não possuir sua autorização de publicação e para que não ocorram problemas com sua pessoa. Achando necessário, considerem como meu o texto acima e estamos ditos. HPA

10 comentários:

Anônimo disse...

Henrique

Tenho curiosidade em ver como estariam as instalações daquela grande nave que era o salão principal do clube BTC?

Será que alteraram muito?

Será que me deixariam dar uma espiada lá dentro ou terei que perguntar para um daqueles tantos trabalhadores de telemarketing que vejo lá todos os dias?


Não acho que teriam a insensibilidade de destruir algo tão significativo para a história de Bauru só porque ali poderiam ganhar dinheiro com outro tipo de construção. Isso não me passa pela cabeça. Isso não me é compreensível. É para você, caro Henrique?

Eu nunca fui sócia do BTC e fui lá poucas vezes, mas diante do argumento que li no seu texto, de que é o último clube de porte de Bauru demolido, o prefeito teria que dar um jeito de mantê-lo e não de já ir favorecendo os empresários.

Vejam só: Paulista I e II, Country, Luso, BAC, Piscina Recreio... Será que me esqueço de algum. Resistindo mesmo, aberto só o Fortaleza lá na vila Falcão, que na verdade já veio depois da demolição do outro Fortaleza na quadra de baixo que tinha uma fachada para os lados da ITE linda, dessas antigas.

Esse prédio é único mesmo.

Vamos fazer um movimento e ir lá dar um abraço nele de sensibilização para os empresários. Que acha?

Mesmo fora de Bauru, estarei dando todo meu apoio nessa e outras campanhas para não descaracterizarmos cada vez mais Bauru.

Aos empresários nada. NADA.
À preservação tudo. TUDO

AURORA

Anônimo disse...

Henrique
Povo sem memoria é um povo triste, o poder aquisitivo tem prevalecido, infelizmente...
José Eduardo Ávila

Anônimo disse...

Infelizmente Bauru continua sofrendo com a falta de preservação de suas memórias e sua história. Ficaremos apenas com as lembranças, que se apagarão com o decorrer do tempo. Como bauruense fico muito triste com esta notícia. Concordo com o desenvolvimento da cidade, masde forma ordenada e preservando seu patrimônio histórico, cultural e ambiental.
Tiago Coelho

Anônimo disse...

Realmente Bauru está ficando sem memória... os prédios que contam a sua história foram deixados de lado ...... Prefeito Rodrigo Agostinho.... ñ queira ser lembrado como o "demolidor" e sim com o "idealizador" ...queira ser o homem que fez acontecer, ñ o que destruiu ..... pense nisso .
Helena Aquino

Anônimo disse...

Com certeza Helena, pois toda ação gera uma reação, e um povo sem memoria torna-se fragilizado, temos marcos históricos esquecidos na cidade a exemplo do monumento a revolução constitucionalista de 1932 ou mmdc, esta esquecido ao lado do velório municipal na av rodrigues alves e muitos outros....

Lutei pela manutenção da chaminé a antiga fabrica de bebidas antarctica, foram varias manifestações na imprensa e o grupo que construiu o novo shopping resolveram preservar aquele importante marco histórico, mais diga-se de passagem foi iniciativa privada.....



José Eduardo Avila

Henrique disse...

amigos novos e antigos:

Recebi autorização do autor do texto para divulgar sua autoria, incluindo ser a opinião de um conselheiro que é estudioso do Tema Patrimônio e História Local e não a posição oficial do CODEPAC. É do professor universitário FÁBIO PARIDE PALLOTTA. Como já reiterei, comungo do mesmo pensamento. Esclarecimentos sem muita pegação de pé, mas querendo saber dos motivos da posição tomada.

Henrique - direto do mafuá

Anônimo disse...

FUI DO CODEPAC--------> CONCORDO E LEMBRO AS PALAVRAS DO MEU EXAMINADOR NO CONCURSO DE HISTÓRIA, PROF. DR. SÉRGIO BUARQUE DE HOLLANDA:
POVO SEM MEMÓRIA É POVO SEM HISTÓRIA...

MURICY DOMINGUES

Anônimo disse...

A venda foi uma pechincha.
Ricardo Buzalaf

Eid de Paula Ferreira Junior disse...

tenho interesse em preservar a história de minha cidade. Estou à disposição para qualquer iniciativa que seja no sentido de buscar o registro dos bens e da memória. O B.A.C (baquinho)foi lamentável o que aconteceu. Lá iniciou o maior craque do mundo, Pelé. Lá teve renovados nomes do esporte nacional, e a rivalidade esportiva com o Noroeste. Lá terminou o jogo inacabado com o São Paulo FC, após o incêncio do campo de madeiras do Noroeste, etc... Faz parte da lembrança. Hoje tem um Supermercado, vendendo cebolas, laranjas... O BAC foi uma dos maiores bens: culturais e esportivo, e agora?

Eid de Paula Ferreira Junior disse...

tenho interesse em preservar a história de minha cidade. Estou à disposição para qualquer iniciativa que seja no sentido de buscar o registro dos bens e da memória. O B.A.C (baquinho)foi lamentável o que aconteceu. Lá iniciou o maior craque do mundo, Pelé. Lá teve renovados nomes do esporte nacional, e a rivalidade esportiva com o Noroeste. Lá terminou o jogo inacabado com o São Paulo FC, após o incêncio do campo de madeiras do Noroeste, etc... Faz parte da lembrança. Hoje tem um Supermercado, vendendo cebolas, laranjas... O BAC foi uma dos maiores bens: culturais e esportivo, e agora?