O CRISTO E O RIO PELA LENTE DE UM JOVEM INTERIORANO
Uma viagem, a primeira de um jovem bauruense, 20 anos, Gustavo Mangili para a Cidade Maravilhosa, suas motivações, o que almeja conhecer e observações registradas dessa busca pelo até então só visto pela TV e em fotos. O imaginário carioca extrapola e invade o inconsciente de uma infinidade de pessoas mundo afora, de uma forma ou de outra e esse ainda quase menino acalentando por mais de uma década a realização do sonho de por os pés no Rio de Janeiro, conseguindo concretizá-lo nessa semana, numa viagem de carro, feita por ele ao volante, 760 km percorridos quase de um só
Gustavo é filho de Cláudio da Silva, dono de uma conhecida banca de revistas na Avenida Duque de Caxias, centro de Bauru, concluiu o 2º Grau na EE Christino Cabral e daí por diante caiu de boca no trabalho, hoje sendo entregador de pizzas, com ganho de R$ 40 reais dia, além de cultuar o gosto por manter um Opala ano 89 (“está inteirinho, não o chame de velho”, me diz), um Gol turbinado e de gostar por demais dos embalos do rap paulista. Típico jovem do interior paulista, sem grandes arroubos de leituras, mas muito de prática e vivência das ruas, mantém firmes posições, como a de detestar uma música que insiste em tocar no rádio do carro durante a viagem: “Como é ruim essa coisa horrorosa que é o sertanojo. Repetem
Na estrada, Gustavo demonstra ansiedade e tenta apressar a chegada, só parando quando se depara com algum local conhecido, fazendo questão de parar, tirar fotos, como a exigência de uma obrigatória na via Dutra, defronte o Santuário de Aparecida do Norte. No acostamento da movimentada pista, me faz subir num pequeno morro, para que o coloque todo dentro do espaço de uma foto, tendo a igreja ao fundo. “Como foram construir um edifício bem na frente e impedir a visão dos que buscam ver a igreja aqui da pista”, me diz. Seguimos em frente e dali até o Rio, nenhuma
Em cada novo morro visualizado, a repetição da mesma pergunta. Na entrada pela Linha Vermelha, o Galeão diante dos olhos e a lembrança de um grupo de Rap, o DBS e a Quadrilha, música ao seu estilo musical e a lembrança de um
No ônibus o encontro com um senhor de aproximadamente 60 anos e o espanto desse lhe dizendo: “Acredite, mas nunca fui no Cristo. Fui uma única vez no Pão de Açúcar, mas nunca tive tempo de pensar em subir lá. Olho muito para ele, mas aqui de baixo”. Numa
Na fila de espera para entrar no trenzinho, outra observação: “O que tem menos aqui são brasileiros. Não entendo nada do que dizem aqui”. Depois de muitas fotos pelo celular e com sua máquina de bolso, mais uma: “Espera aí, Henrique, agora deu sinal no celular, vou ligar pro meu pai”. Não demorou nada e olhando para os tipos ao seu lado disse: “Todo mundo lá trabalhando e nós aqui, da hora isso”. Tirou fotos e mais fotos, de tudo quanto é jeito e modo, em pé, a tradicional com os braços abertos e ficou longos momentos parado na mureta, ora olhando para os lados da Lagoa Rodrigo de
Foram mais de duas horas e uma tristeza ao deixarmos o lugar, uma nova indicação na calçada e um menino nos leva 100 metros adiante, restaurante ao lado do terminal Cosme Velho, prato feito por meros R$ 9,90. “O preço é barato, a comida é boa, mas eles ganham demais na Coca. Um refrigerante de garrafa a R$ 3,50 e eu com essa sede. Espertos, demoram em trazer a comida e peço mais uma, já tiraram a diferença da comida”, ressalta. Ao terminar o almoço, vendo que o ônibus 422, que nos levaria de volta estava de saída, assobia para o
Gustavo é tranqüilo, olha para todos os lados. Olhar para trás pela janela, continua tirando fotos e mais fotos do Cristo. Faria isso na noite, passeando nas praias (fez questão de uma foto diante do Copacabana Palace em Copacabana) e em todos os lugares seguintes: Sambódromo, edifício Balança Mais não Cai, Saara, Arcos da Lapa, Flamengo, Botafogo, Pão de Açúcar, Leme, Lagoa Rodrigo de Freitas, túnel Rebouças e é claro o Maracanã. Trouxe lembranças, como chaveiros, camisetas, jornais e fotos, muitas fotos e na despedida, saindo de carro via Linha Vermelha, madrugada do dia seguinte, cidade ainda às escuras, uma última olhada para o Cristo, lá do alto a observar tudo e uma afirmação: “Eu volto, viu!”.
OBS.: Gustavo esteve essa semana comigo no Rio de Janeiro. Fomos e voltamos de Saveiro, ida vazia e volta lotada, 850 livros, 500 kls, acervo do meu sogro José Pereira de Andrade, mudando de endereço e leitores.
5 comentários:
"gostei da camisa rss"
Leandro Gonçalez
Henrique
Adorei a parte onde ele diz que odeia música sertanojo e que não entende como só tocam essa merda hoje nas rádios brasileiras. um cara simples com a cara do interiorzão e com menos preconceitos que muitos mais estudados. Percebo isso claramente, os mais simples não possuem, os que ralam no dia a dia, são poucos preconceituosos.
Valeu!!!!
Valéria
Henrique
Relendo esse seu texto me recordo de uma viagem que fizemos juntos ao Rio, acho que quando tínhamos uns 17 anos, numa daquelas excursões e nos hospedamos lá na Casa do Estudante, em Botafogo, ao lado de um hospital e saíamos a perambular pelas ruas de madrugada. Lembra disso?
Olhávamos para o Pão de Açúcar ali em frente e o cristo á nossas costas com o mesmo encantamento desse meninão aí de Bauru. Quem me diz que não tínhamos a mesma cabeça dele hoje?
Li revendo tudo aquilo na minha cabeça. Vai ser muito interessante se puder colocar no papel algumas daquelas histórias.
Daniel Carbone
HENRIQUE,
frequento o Rio desde 1943, com os meus pais.
Hoje, tenho um filho oficial/dentista da Marinha, a quem visito regularmente...e em outubro, um neto carioca.
O Rio teve melhores dias...meus pais iam assistir os shows do Cassino da Urca, com Carmen Miranda, Grande Otelo, Oscarito e muitos outros.
Hoje a praga é a droga, pois os bicheiros (contravenção) foram excluídos da vida carioca e abriram lugar aos traficantes...
É uma cidade maravilhosa que estão destruindo...
Abs.
Muricy Domingues
Viajei @!
Gustavo Mangilli
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