domingo, 19 de maio de 2013

O QUE FAZER EM BAURU E NAS REDONDEZAS (30)

ELUCUBRAÇÕES DOMINICAIS – TUDO PODE VIRAR TEMA DE UM BELO TEXTO
Na parede de um bar lá no alto do jardim Bela Vista, quase ao lado do Parque União, perto de uma unidade do UPA – Unidade de Pronto Atendimento, algo escrito com spray chama a atenção: “Volta Paula”. Assim sem mais nem menos. Uma inscrição perdida e dando uma conotação de que a Paula mora por perto e o abandonado a queria lendo a inscrição todo santo dia. Está lá há meses e toda vez que passo por ali, me dá sempre uma vontade de fotografar a cena e como curiosidade mata, dá também vontade de saber mais da história que não me diz respeito. Fui publicar a foto no facebook e uma moradora da Independência me soltou essa: “Aqui colocaram assim no muro de um vizinho meu: ‘Você é chifrudo’. Imagina a cara do cara ao ler a mensagem, né!”. Esse tipo de inscrição faz com que divaguemos sobre como fazemos de tudo e mais um pouco para resolvermos as pequenas e as grandes questões de nossas vidas.

Na ida para a feira hoje, dou de cara com um sapato de mulher, um par isolado, sozinho, perdido na calçada, diante de uma igreja evangélica, onde anos atrás foi uma famosa distribuidora de bebidas, rua Antonio Alves, quadra debaixo da linha do trem. Cada peça dessas possui uma história bem própria: ou terá sido perdido num final de noite, lixo retirado de algum saco pelas redondezas, peça que iria ser vendida numa barraca na feira do Rolo ou até mesmo indumentária de alguma senhora de fino trato que iria adentrar o santo espaço (sic) e achou melhor fazê-lo sem ele. O fato é que ali está, perdido do outro para sempre, pois não vejo como poderão ser juntados novamente. Está ali, demonstrando ter sido já bem utilizado e hoje, virou peça “descartada do meu folhetim”. Quem já não perdeu um pé de sapato na vida que levante a mão? 

Na entrada da Feira do Rolo, bem ali no cruzamento das ruas Julio Prestes com a Gustavo Maciel, uma bandeira é hasteada garbosamente todo domingo oficializando algo sui generis no local. A bandeira por si só diz tudo, é a do Paraguai. Não me perguntem quem a hasteou ali, quem a plantou ali todo domingo ou dos motivos dela ser fixada no mesmo lugar. O fato em si demonstra como o pessoal da irreverente feira tratam a si próprios. Uma peça de humor, picardia e brincalhona. Adoro esse tipo de procedimento, essa maledicência, essa picardia, proveniente de gente mais simples, sempre pronta a brincar de sua própria situação. O Paraguai, como todos sabemos muito bem é aqui mesmo e ali, com toda certeza, deve ser a Embaixada da vizinha república.


Nas dependências do lugar reservado ao estacionamento da Feira Estação Arte, hoje em festa com encerramento da Semana dos Museus e passeio de Maria Fumaça uma moto com o tanque vermelho chama a atenção não só pela cor e seu estado de conservação, mas por ter adesivada ali naquele local um símbolo de muita resistência e luta: a foice e o martelo. Num mundo onde ser comunista é sinal para lhe virarem a cara e de espantos mil quando alguém confessa ser ateu, a moto desfilando pela cidade com a contínua exposição do comunismo é algo valoroso, de alguém que não tem medo de ser feliz e de expor o que vai pela cabeça de seu proprietário. É como um cartão de visitas, pois fico a imaginar os que se aproximam para lhe dar um aperto de mão de consentimento e os que fogem disso, com medo dos eternos comedores de criancinhas.

Na quadra de paralelepípedos da Feira do Rolo, fico a observar um senhor recolhendo latinhas variadas. Não o faz como a maioria, puxando ou carregando um saco cheio delas. Inovou e chama a atenção. Com um carrinho desses de mão, próprio para feiras, anda de um lado a outro e vai juntando ali suas latinhas. Não tem que carregar peso algum, só puxar. Vi alguns que o vendo se aproximar vão até ele e depositam as latinhas vazias (muitos bebem por ali, numa manhã quente de domingo) no local apropriado. Uma cena e tanto, tantas vezes repetida pelas ruas da cidade, feita de diferentes formas e essa só mais uma delas. A tristeza da cena, como não poderia deixar de ser é pela idade do seu protagonista, um senhor que já deve ter passado dos 60 anos e não deveria estar nessa situação. Mas está.

4 comentários:

Anônimo disse...

PARABÉNS CAMPEAO PELAS DELICIOSAS OBSERVAÇÕES.

SOMENTE UM GRANDE HISTORIADOR FILÓSOFO, OU SERIA. UM DILIGENTE FILÓSOFO HISTORIADOR PARA NOS RELATAR TÃO BEM TAIS OBSERVAÇÕES.

NÃO SE ESQUEÇA QUE:
SE OUÇO, ESQUEÇO;
SE VEJO, LEMBRO
SE FAÇO E ESCREVO PARA OS MEUS LEITORES, SEREI , ETERNIZADO.

AGUARDO, ANSIOSAMENTE, A PUBLICAÇÃO DE SUAS MEMÓRIAS EM UM LIVRO.

VALEU CAMPEÃO.

DO AMIGO FELIZ ( 27ª VEZ CAMPEÃO PAULISTA ) E TRISTE ( LIBERTADORES )

PROFESSOR TOKA

UM CORINTHIANO FELIZ

AH! AGUARDO, ANSIOSAMENTE, SUA RESPOSTA ( A QUAL ,ULTIMAMENTE, NAO TEM ACONTECIDO !!!!!!!)
PROF. TOKA

Anônimo disse...

Muito bom...

adorei este novo olhar!!!

MLC

Anônimo disse...

Henrique

Belos temas e todos passando despercebidos pela maioria das pessoas.

Como é bom notar como voce vai notando esses pequenos detalhes da vida e descrevendo-os com um a importância que para muitos seria algo desprezível.

A tal da bandeira do Paraguai ali naquele local é para um tratado de sociologia. Um sapato perdido e achado na madrugada revela muito e nada ao mesmo tempo. Um catador de latas inovando no seu negócio. Uma frase escrita na parede, lançada como um pedido de socorro. E a moto com a foice e o martelo, que voce acertadamente diz ser uma espécie de cartão de visitas do proprietário, gerando elogios de uns e críticas de outros.

O seu título também é bom demais, pois é isso mesmo, pois tudo pode gerar um bom texto, bastando uma observação como a feita por ti.

Voce nos brinda com essas pequenas pérolas. Parabéns e não pare nunca.

Aurora

Anônimo disse...

Sei não,mas acho que conheço a moto e seu dono,será????

Márcia Zamariolli