sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

ALGO DA INTERNET (79)


ACORDEI NO MEIO DA NOITE E REVI O ARRABALDE DO CARLÃO
Acordo hoje, 20/12 e ao abrir o facebook, meu amigo Neto Amaral postou lá de forma lacônica: “virei zumbi...”. Ontem à noite, fui numa festa e comi um pouco demais, deitei de barriga cheia e foi inevitável acordar no meio da noite, por volta das 2h da manhã. A TV estava ligada no Canal Brasil e começando um filme brasileiro dos velhos, de 1986, do diretor Carlos Reichenbach, o “Anjos do Arrabalde – As Professoras”. Deitado, olhos grudados na tela fui até o fim e confesso, revi ali um belo retrato de como se davam algumas relações profissionais e pessoais no meio dos anos 80, periferia paulistana, quando o país tentava iniciar novo ciclo no período pós ditadura militar. Havia assistido a esse filme muito tempo atrás e foi ótimo revê-lo, com os olhos de hoje e olhando para trás. É muito mais fácil analisar e entender o passado tendo passado algum tempo. Coisa de verdadeiro zumbi.

No release do filme do Cineclick lá está: “Drama realista sobre três professoras e uma manicure que tentam sobreviver dignamente em confronto com o hostil ambiente de um bairro periférico de São Paulo. Carmo (Irene Stefânia) abandonou o ensino por pressão do marido machista, o ex-policial e atual advogado Henrique (Ênio Gonçalves). Dália (Betty Faria), eficiente e dedicada na profissão, sustenta um irmão problemático, Afonso (Ricardo Blat). Apesar do estranho relacionamento afetivo com o rico editor Carmona (Emílio di Biasi), ela é mal vista na escola por suas preferências sexuais pouco ortodoxas. Rosa (Clarisse Abujamra) é uma mulher solitária. Severa e rude com os alunos, mantêm uma relação extraconjugal com o inspetor de ensino Soares (José de Abreu). Aninha (Vanessa Alves) é a manicure pobre, amasiada com o operário João (Cilas Gregório), cuja tragédia pessoal irá transformar estas vidas tão comuns em manchetes de jornais sensacionalistas”. Vencedor do Festival de Gramado de 1987 nas categorias Melhor Filme, Melhor Atriz (Betty Faria) e Melhor Atriz Coadjuvante (Vanessa Alves). Leiam também:http://www.contracampo.com.br/01-10/anjosdoarrabalde.html 

Algumas conclusões e constatações: A relação do paulistano ou mesmo do interiorano com a praia, no caso a Praia Grande é algo surreal. A promíscua relação que certos advogados possuíam com os homens da lei, no caso com delegados é a constatação de que uns sempre foram mais iguais que outros. E como esses delegados agiam, acima do bem e do mal, tudo podendo, com benesses claras e até intimidatórias é algo, que em alguns cantos, resiste ao tempo e persiste até hoje. Como naquela época já era um tanto difícil o relacionamento (em todos os níveis) do educador numa escola encravada na periferia de um grande centro, a violência já se insinuando de forma bem latente. Ali uma amostragem de como seriam consolidados nas décadas seguintes o poder do tráfico como de domínio nessas regiões. Algo marcante, como em alguns segmentos, o magistério, por exemplo, um reduto de gente pensando e agindo de forma liberta, mais ousada que as demais, atraindo até hoje o olhar preconceituoso e reprovador. A submissão da direção de escolas, sejam municipais ou estaduais, a alguns chefetes que, transferem para o fim do mundo seus desafetos em demonstrações irracionais de poder. O país ainda dominado pelo machismo, impondo à fêmea a sua condição, pouco importando-se com a dela. Enfim, um belo retrato de um período pouco estudado e analisado da história recente do país. Passaram-se somente 27 anos, muita coisa mudou, mas muita continua como dantes. Progredimos, estacionamos no tempo ou regredimos? O que a perda de sono não provoca. 

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