UMA FRASE (114)

O SEXO EM BAURU NÃO ACABOU (UFA!), APENAS MUDOU DE ENDEREÇO E O “EU SEI VIVER NO PUTEIRO”

Depois de tantas estapafúrdias intervenções desse Conselho dos Pastores de Bauru, uns que não se contentam em apenas “aconselhar”, querendo também alterar ao seu modo e jeito o modus operandis da até então pacata Bauru, levei um baita de um susto ontem. Quase cai das pernas ao descer a rua Gustavo Maciel e ver que o majestoso CINE VILA RICA, o mais antigo reduto sexual bauruense em funcionamento havia lacrado suas portas. Ali funcionava até dias atrás o renomado CINE ATENAS, um point de veneração ao sexo, seja ela da forma como o cliente goste, sendo o onanismo (também popular cinco contra um) a mais usual. Nem saberia quantificar a quantidade de esperma ali desprezada, merecendo por certo até uma Moção de Aplauso dos nossos edis. Uma parede foi ali levantada e já estava prevendo uma turba vagando pelas ruas e colocando em risco tudo à sua volta. O Vila Rica tem história, primeiro por ser o último dos moicanos dos cinemas de rua de Bauru e depois, o mais longevo, somando-se seu tempo como reprodutor da sétima arte, depois como reprodutor de contumazes ejaculadores. Se não foi ainda tombado pela Patrimônio Histórico, sei da história de muitos que ali tombaram e se vergaram diante de suas preferências sexuais, merecendo ter sua história perpetuada ad eternum. Afinal, sexo é poder, tanto que isso não sai da pauta do vigilante Conselho citado acima.

 
O susto foi dissipado ao ler uma placa ali fixada: “Mudamos – Rua Araújo leite 8-20 – fone ___”. Fui correndo ver se as novas portas já estavam devidamente abertas e ao constatar que sim, um alivio geral. Agora, o Cine Atenas funciona há apenas três quadras de distância do antigo endereço, tendo como vizinhos duas lojas de acessórios, uma de veículos e outra de motos. Tudo como dantes no quartel de Abrantes. Ufa! Restabelecida à normalidade no quesito sexual em Bauru, prevejo que o citado Conselho pode querer entrar com uma emenda (eles não se emendam) clamando aos céus contra o funcionamento do comércio sexual encravado bem no meio de um reduto de trabalhadores do ramo automotivo, gente tão casta e pura, dessa forma oriento para que iniciem desde já um forte “trabalho” no sentido contrário. Para tudo existe público e sempre ávido por saciar seus mais secretos desejos, distúrbios, vontades e anomalias. Portanto, prefiro ver mais essa porta em pleno funcionamento, assim como as tantas igrejas, que abrem e fecham ao bel prazer, sempre em busca de ávido público. Tudo faz parte desse imenso espetáculo denominado Vida Terrestre.

Ainda sobre o mesmo tema, reproduzo aqui frase escutada de um renomado professor, mestre em uma universidade privada local, que diante de todos os percalços do seu dia, as agruras nos enfrentamento de uma direção insensível e colegas fazendo de tudo para continuarem pertencendo ao time de excelência da instituição, disse-me em alto e bom som: “EU SEI VIVER NO PUTEIRO”. Lapidar frase, com uma conotação muito além da sexual. Vejo todos hoje dentro dessas imensas corporações, desse intrincado jogo acadêmico do sobe e desce, o que é feito para galgar postos nos mais diferentes níveis, nas mais diferentes empresas, como a sapiência de como sobreviver dentro de um puteiro. Que me desculpem às verdadeiras putas, pois essas, com toda a certeza vivem num mundo talvez menos competitivo do que o presenciado hoje por todos os lados. O que era puteiro antes, nos meus tempos de Casa das Pedras e Mansão, lá pelos lados do Redentor, hoje é o fétido ambiente de trabalho, onde a competição leva às pessoas a atos desesperados, ordinários, sujos, impróprios, inadequados, sórdidos, mesquinhos, tacanhos, tudo para continuar sendo o que é e tentar ser um bocadinho mais na escala social vigente. Esse saber viver no puteiro é conhecer as regras desse jogo e ir jogando, primeiro não aceitando, depois familiarizando-se, até tudo virar rotina e aquilo que era visto como inconcebível de ser feito, já é feito por ele também e com a maior naturalidade. Por tudo isso e mesmo que o Conselho dos Pastores pregue o contrário, continuo preferindo frequentar o “Atenas”, hoje na rua Araújo do que entrar para o “Olimpo” e saber viver no puteiro dos graduados, pomposos e envernizados “sabe tudo” dos tempos atuais.