domingo, 22 de dezembro de 2013

FRASES DE UM LIVRO LIDO (75)


DOMINGO RELENDO ‘O NOME DE DEUS’, DO INESQUECÍVEL FAUSTO WOLFF
Eu nunca me cansarei de escrever de FAUSTO WOLFF, o carcamano escritor/jornalista gaúcho/carioca que nos deixou em 2008. Tento até hoje escrever como ele e não consigo. Aqui o que já escrevi dele: http://mafuadohpa.blogspot.com.br/search?q=fausto+wolff. Na insistência, releio seus escritos e aprimorar a escrita, que me sai falha, desconexa. Peguei um dos seus muitos livrinhos que tenho aqui no mafuá, o “O nome de Deus – 10 histórias” (editora Bertrand Brasil RJ, 1999, 210 páginas), bem propício para esses festejos natalinos e de passagem de ano, quando em muitos aflora uma exacerbada religiosidade e reproduzo algumas frases grifadas por mim:
- “...por dinheiro faria literalmente tudo. E por este tudo, não entenda o leitor tudo de bom e sim tudo de ruim”. 
- “O poder exige muitas coisas. Para andar pelas suas cercanias, entretanto, duas qualidades são fundamentais: mediocridade e subserviência”.
- “prepotente com os humildes e humílimo com os poderosos. É fácil deduzir que de posse de tais credenciais, embora de origem modesta, acabaria sendo um vencedor”.
- “Mas esses canalhas não eram comunistas? Não eram contra o regime? Como, agora, enriqueceram e viraram neoliberais?”.
- “Numa sociedade onde o salário mínimo não é suficiente para alimentar um cão por mês, numa sociedade em que os pobres são tratados como animais e vivem em casas de cachorro, numa sociedade em que o homem é educado para a violência e estratificado na miséria, é espantosos que exista uma gente tão gentil, cortês, educada como a gente carioca”.
- “Até para mim é difícil crer nisso, mas já houve um tempo em que acreditei na viabilidade do ser humano. Acreditei, por exemplo, que se dessem ao sujeito as possibilidades mínimas para ser feliz, ele o seria e não permitiria que seu medo interferisse na felicidade dos seus circunstantes”.

- “...acreditava que a televisão servisse para alguma outra coisa além de fazer dinheiro para poucos e imbecilizar muitos. (...) Hoje vivemos num mundo prestes a se suicidar, em que a informação transformou-se em cultura; um mundo em que os homens acham que a arte pode ser parida sem dor. Não vejo mais televisão, não leio jornais e uso o computador como máquina de escrever”.
- “É no bar que me vêm as melhores ideias para contos e romances que não escrevo nunca, pois como estou sempre de porre, no dia seguinte não lembro coisa alguma”.
- “Nunca me considerei um filhodaputa. Não sou desses sujeitos que, numa briga, são capazes de dar um chute na cabeça de um cara caído no chão. Também não sou desses que quando um mendigo vem pedir dinheiro para uma cachaça manda ele trabalhar. Sei que quem mendiga ou não encontra trabalho já se animalizou, e aí não há nada a fazer. Não sou puxa-saco, ladrão ou delator”.
- “...falta de dinheiro é que nem lepra. As pessoas notam logo quando um cara está duro e se afastam temendo uma mordida”.
- “Claro que um dia, o pessoal da classe média para cima vai todo nascer, se alimentar, estudar, namorar, fuder, casar, ter filhos, trabalhar e ser cremado dentro de gigantescos shoppings centers. Do lado de fora, só os zumbis. Mas por enquanto ainda existem lugares onde nem a televisão nem os computadores fizeram vítimas, pois ainda não atacaram”.
- “O medo é um troço nojento, uma dessas lacraias brancas, sem olhos, que vivem debaixo da terra e se alimentam de ovos dos insetos menores”.
- “Como poderia imaginar que a maior parte da esquerda iria para a direita, que a imprensa, uma vez livre, se auto-amordaçaria e se tornaria sócia do poder? Que a juventude seria alienada e a cultura morta?”.
- “Se Deus não existe, o que é bastante provável, nada muda. Se existe, não há de querer se vingar num pecador medíocre como eu”.
- “Dizia sempre que o médico que quer enriquecer deveria ser banqueiro, político ou bicheiro”.
- “Nunca o homem teve tantas informações e nunca esteve tão confuso. As pessoas querem ser especiais, querem que a vida delas tenha um sentido. Como não conseguem mais acreditar em gnomos, fadas, búzios, astrólogos, para fugirem da angústia e se sentirem únicas. Mas só através do conhecimento é que podemos nos descobrir; saber para o que servimos e que diabo estamos fazendo neste mundo”.
- “O mundo é uma surpresa que dói. Depois, com o tempo, só dói”.
- “Desse orfanato muitas sairão prostitutas. Nem todas. Muitas morrerão antes”.
- “O homem é quem faz do mundo o que bem entende e aparentemente está tentando destruí-lo. Digamos que Deus nos deu um belíssimo jogo. Como não temos paciência, talento e amor para decifrar suas regras, crianças irritadas que somos, preferimos destruí-lo. O nome do jogo é verdade. Para decifrar a verdade, o homem criou a realidade e acabou por se perder nos seus labirintos”.
- “Se o homem nasce perfeito, como acreditamos, o culpado pela própria deterioração física e moral só pode ser o próprio homem”.
- “Ganham dinheiro em nome de Deus sem a licença de Deus. Botaram ele de sócio do grande mercado, mas não pediram licença. Ele não assinou embaixo”.
-“Nas repartições públicas, as filas eram insuportáveis, os guardas de trânsito o achacavam continuamente, os remédios não faziam o efeito que diziam fazer, as notícias na televisão eram mentirosas, seu cafezinho, invariavelmente, era servido frio, e até o seu banco que ele amava e que juravam não seria privatizado, o foi. Há quem diga que foi essa privatização que detonou a psicose”.

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