UM LUGAR POR AÍ (45)

SAUDADES DO CÍRCULO DO LIVRO E DOS COMERCIANTES DA QUADRA NOVE DA PRIMEIRO DE AGOSTO

Um pouco de Sessão Saudosismo. Hoje fui na agência dos Correios lá do centro e enquanto esperava chegar minha vez, olhando para aquelas dependências, num dos seus cantos, lá no fundo, um depósito, com prateleiras e dali me bateu uma saudade de quando recebia em casa os avisos para ir nos Correios buscar os livros que havia adquirido via reembolso postal do CÍRCULO DO LIVRO. O pedido era feito mensalmente e quando vinha a fatura, ia-se até a agência central, essa mesmo esquina da Virgilio com a Bandeirantes e nos mesmos guichês, iguaizinhos aos de hoje, lembro-me bem, o funcionário ia lá no fundo, procurava dentre os muitos pacotes numa daquelas prateleiras, no mesmo quartinho feito uma divisória e o entregava, mediante o pagamento feito ali no ato. Na maioria das vezes eu rasgava a embalagem ali mesmo, tal a ansiedade pelo livro. Tenho muitos livros até hoje editados pelo CÍRCULO DO LIVRO. Gostava muito, tudo era muito organizado, uma revista mensal chegava pelo Correios e lá escolhíamos o pedido, devolvíamos também via Correios e em duas semanas no máximo chegava o aviso para ir fazer a retirada. Capa dura e ótimos títulos, muitos por temas, uma variedade. Era a junção de todas as editoras numa só, edições primorosas. Olhando minhas estantes muitos ainda são do Círculo. Quando vi hoje um funcionário ir buscar uma encomenda para uma pessoa nas mesmas prateleiras de pelo menos uns trinta anos atrás, tudo voltou à minha cabeça tão rapidamente, fiquei revivendo aquilo tudo meio que no mundo da lua, que minha senha foi chamada por três vezes e quase perco a vez de ser atendido.

O saudosismo quando está para nos pegar, sai de baixo, parece que vem de uma só vez. Sai dos Correios e fui estacionar o carro ali na quadra nove da rua Primeiro de Agosto, local onde acredito o mais velho comerciante seja o Cyborg e sua Academia. Pois parei o carro ali quase em frente dele e enquanto procurava um agente para me vender um talãozinho de estacionamento da Zona Azul, fiquei a pensar do sumiço de muitas lojas naquela quadra. Tinha ali a Padaria Cidinha, que funcionava 24h, em frente um pequeno armazém, um casal generoso que atendia principalmente os velhinhos que moram nos prédios ali perto, a loja de cosméticos também resiste. O Jorge Cunha teve ali durante um bom tempo seu escritório, subindo uma escada numa arejada casa onde o vento entrava por todos os lados. Do outro lado da rua, debaixo da academia do Cyborg,dois pontos fechados, primeiro uma papelaria de um sujeito muito boa praça, gostava de bater papo com ele, tinha uma variedade grande, mas cansou de ficar só com a rebarbas e quando foi fechar me disse que ia montar uma distribuidora e viajar vendendo. Sumiu e não o vi mais. Do lado dele o Genildo, um velho conhecido dos tempos que estudei no Madureira, lá no Vista Alegre. Era dela a locadora Vídeo Cidade, que por um bom tempo foi a coqueluche do pedaço, tinha de tudo, variedade e todos os lançamentos. Definhou e fechou as portas. Lembro de algo que me disse certa vez: “Eu estou fechando não aguento mais, mas tenho pena das pessoas, pois não terão mais onde assistir um filme antigo, um clássico por exemplo como Táxi Driver. Como farão para assistir? Ou irão recorrer à grandes locadoras, as que sobreviverem ou a saída será comprar originais caríssimos. Sinto por eles”. E fechou as portas e foi fazer outras coisas na vida. Queria reencontrá-lo só para conversarmos sobre o que havia me dito. Muitas outras locadoras fecharam depois dele, a mais recente foi a Vídeo Imagem lá da Duque, tudo por causa dessa geração que não compra mais nada, baixa tudo da internet. E assim uma nova geração de comerciantes ocupa o lugar, mas eu não conheço mais ninguém, ou melhor, só o mestre Cyborg ali comandando o quarteirão.

COISAS DE UMA SEXTA TREZE – Acordo atrasado e chateado continuo pela injustiça que presenciei ontem na TV. Assisti ao The Voice para rever Dom Paulinho Lima, estradeiro velho de guerra e quando o vi entrar em palco, negro retinto, boca faltando alguns dentes e cantando a BR 3 do Toni Tornado com um jeito que só quem possui muita estrada e uma voz diferenciada poderia fazer, já o vi sendo aclamado pelos votos dos que estavam em casa e depois pelo próprio Lulu Santos. Aconteceu tudo ao contrário e o cara mais ajustado foi defenestrado ao vivo e a cores. Senti um certo mal estar no público, mas a Globo sabe esconder isso muito bem e o fez descaradamente. O fato é que o desdentado foi sacado do programa numa forma tão vil, confirmando tudo o que também ocorre no descrédito atual de seu jornalismo nacional. Foi um papelão. Reverencio essa sexta com Dom Paulinho, que para mim, ouvinte de música desde tenra idade, colecionador de LPs, CDs e o caralho a quatro, como o que de melhor vi e ouvi no palco daquele programa. Não consigo entender o que ocorreu sem sugestionar uma sacanagem interna para o descarte, mas que existiram “forças ocultas”, disso não existe a menor dúvida. Será que não pegaria bem (sic) um negão sem dentes ganhando a premiação máxima? Não quero acreditar nisso, mas fico com a máxima, do “sem querer querendo”. Não colou Lulu dizer em alto e bom som que Paulinho entrou esquecendo parte da letra. Vou vasculhar o que existe de Dom Paulinho pelo youtube a passo parte do dia trabalhando aqui no mafuá e ouvindo esse grande personagem do Lado B do mundo musical brasileiro. Sua saída, pela forma como ocorreu, prova ser ele um original Lado B desse país. Fui tentar rever agora pelo youtube sua apresentação de ontem e em todas cortaram o som dele cantando (outra sacanagem) e só consegui ver num gravado de frente de uma TV. Dá para curtir algo mais: http://www.youtube.com/watch?v=FHRwmM_O5NA Logo mais outras postagens vão mostrá-lo em todos os ângulos e a possibilidade de constatar sua brilhante apresentação e a nada brilhante eliminação. Isso não são coisas de um jogo, são aquelas coisas que ninguém entende, mas todos mais ou menos sabemos como acontece.