Primeiro leio pela imprensa que, devido aos últimos acontecimentos cogita-se a real possibilidade da instalação de uma cerca envolvendo todo o local do denominado vão livre do Masp, região onde ocorrem frequentes encontros populares e manifestação de todo tipo, coração da capital paulistana, em plena avenida Paulista. Depois de circular pelas mais variadas cidades e notar que as igrejas já adotaram esse procedimento em quase todas, quando não fechando suas portas em certas horas do dia, crescem os condomínios fechados e até nas mais diminutas cidades, nada mais nos assusta. Sinal dos tempos? Como isso poderia ser revertido ou daqui para a frente tudo deve mesmo piorar? A questão deve ser discutida e compreendida sob vários aspectos. Um deles é o que acaba de acontecer em Córdoba, cidade argentina, quando a polícia em greve fica afastada das ruas por alguns dias e na sequência um onda generalizada de saques nos mais variados pontos comerciais da cidade. A transformação da pessoa pacata e sensata do dia a dia no ser “lobo voraz”, pronto para tudo.
Não vim aqui para ficar discutindo teorias e como chegamos a estados como esses citados. Quero só colocar o fato mais recente ocorrido em Bauru e de igual teor ao que acontece mundo afora. Os condomínios bauruenses estão por aí, uma mais seguro que o outro, as igrejas quase todas lacradas durante os dias, lojas mais chiques espalhando seguranças por todos os cantos, etc e etc. No meio disso tudo ocorrem na semana passada dois afogamentos na lagoa da Quinta da Bela Olinda, lá pelos lados do Mary Dota. Uma menina morre afogada e outra é salva. Dizem que com essa, já seriam mais de setenta as mortes. Daí a primeira providência aventada como solução do problema é a instalação de uma CERCA (provavelmente de arame farpado) isolando tudo de todos. Simples assim: para resolver nada como uma boa cerca (e elétrica de preferência). “As pessoas ignoram os avisos de Perigo lá existentes”, dizem alguns. “Falta lazer e diante do calor, a lagoa é uma das oportunidades existentes, custo zero”, demonstram outros. E o por que da cerca e não uma repaginada no lugar, com ampliação das áreas de lazer? A Quinta, como sabemos foi criada para ser mais um condomínio fechado. Com o tempo, não tendo vingado a contento, sua cerca foi sendo retirada e as casas existentes no lugar integradas às demais do local. Até hoje se percebe uma nítida diferença entre umas e outras, num problema ainda não muito bem resolvido. A lagoa pertencia ao condomínio e ficou para uso de todos, da cidade e da comunidade. E lá ficou, abandonada e expondo suas águas convidativas para um mergulho nos dias mais quentes.
Eu penso assim: Já temos muitas cercas e limitações urbanas em nossas vidas e com a concretização dessa, mais um absurdo urbano dos nossos tempos. Antes de resolver o problema em definitivo, cria-se mais um paliativo e a fuga do problema. Isso me faz lembrar a história do marido que pegou sua mulher transando com o amante no sofá da sala. Das duas uma, ou colocava fim no relacionamento e tudo de novo daí para a frente ou faz o mais simples, troca o sofá e sem a presença dele é como se nada tivesse ocorrido. Estamos diante de algo muito parecido.
5 comentários:
Henrique, é mais uma fotografia da segregação espacial e urbana,que é quando as classes sociais ficam concentradas em determinadas regiões ou bairros de uma cidade. Essa segregação ocorre em locais onde há uma grande diferença de renda entre os grupos, uns possuem todas as condições de moradia e serviços, e outros não possuem nada parecido.
Há críticas a muitos governos devido a segregação, uma vez que os próprios geralmente priorizam os investimentos e melhorias em áreas onde concentra-se a população com maior renda, aumentando assim a segregação, e ignorando as partes mais pobres da cidade. Os condomínios fechados são um grande exemplo de segregação urbana, uma vez que as pessoas buscam por segurança e tranquilidade, fazendo com que elas vão para determinadas áreas da cidade, e construindo muros para proteger as áreas perigosas, aumentando ainda mais a segregação.
Roque Ferreira
cercar a lagoa ajuda a cercear também a inteligência humana. há placas no local informando do perigo (inclusive há uma relatando o número de mortes) e é sabido, mesmo entre os mais carentes, o perigo de tal local. não há como se dizer que os usuários da lagoa desconhecem o perigo daquelas águas.
pois bem, expostos os perigos, fica a critério de cada indivíduo a decisão de nadar ali. cada um decide seu destino, é o livre arbítrio humano. creio que aqui se aplica os conceitos do darwinismo: os mais aptos sobrevivem para que a humanidade como um todo evolua. que os estúpidos que decidem entrar naquelas águas morram ali mesmo, simples assim.
construir uma cerca física ali é ridículo. deve-se prestar para o caso, a cerca do bom senso, a cerca da inteligência, a cerca do julgamento de cada um. não podemos deixar o poder público decidir por nós, raciocinar por nós. além disso, uma cerca ali de nada adiantaria, se ela não fosse botada abaixo com certeza seria transpassada facilmente pelos ousados nadadores (pra não dizer mais uma vez: estúpidos).
Henrique, se faz muito necessário e sempre, entrar no mérito de estado para expor o porque isso acontece, senão assim como as cercas caímos sempre no paliativo. No mais achei interessante e pertinente esse comentário acima, seria bacana a pessoa se identificar por comentário muito bem reflexivo.
Camarada Insurgente Marcos Paulo
caro Marcos
Sobre o texto do Anônimo. Em princípio achei ser seu, mas depois percebi que não era bem sua linha. Gostei de todos os comentários, dentro da minha linha de pensamento.
Se ele puder se identificar seria melhor;
Henrique - direto do mafuá
Eu não acredito que esse local poderá ser um ponto de lazer em bauru ,e nem um atrativo de turismo
pois tem muitas prioridades em Bauru
portanto gostaria muito de ver essa lagoa vazia ,sem nem uma gota de água ,assim as placas de advertência de " não entre na lagoa " seriam observadas pelos ignorantes e até um ponto de crítica pois eles iriam dizer "não entre na lagoa ,mas cadê a lagoa "
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