AMIGOS DO PEITO (86)

MAIS UM SLAM (É HOJE) E A POESIA DO FILHO HA

Eu bem que já tentei fazer poesia, mas fracassei em todas as tentativas. Desisti. Sou péssimo de rimas, elas não se encaixam, Prefiro continuar tentando acertar nas escrevinhações que faço (como é difícil esse nosso português, essa minha conclusão) e aqui publico. Sou criticado pelos constantes erros, mas insisto. Na maioria das vezes culpo a correria, as atribulações do dia a dia (nunca minha eterna deficiência). Depois com calma, na releitura vou corrigindo aqui e ali. Algumas vezes nem corrijo nada e tudo permanece errado mesmo. No frigir dos ovos sei que todos entendem o meu recado e isso se não me basta, me conforta. O português continuará sendo para mim a tal da “pedra no caminho”, dita lá atrás pelo Drummond. Cada um com as suas, eu carrego essa e muitas outras que não conto nem sob tortura.

Tudo isso para dizer que hoje tem mais uma edição do Festival de Poesia, o SLAM, coisa trazida para Bauru pelo casal Brandão (esses sim poetas de quatro costados e letrinhas certinhas, cheias de boa rima). Será sua 6º edição e tudo começa lá no BRAZUKA BAR, a partir das 20h. As inscrições são feitas no local e minutos antes da contenda ter início. Cada poeta tem um minuto para declamar, ler, interpretar ou fazer uma performance da sua poesia. Passou disso não é interrompido, mas deixa de concorrer. Com um cronômetro na mão, alguém fica regulando tudo. É gostoso demais. Tiveram edições com mais de 30 participantes e cada coisa do arco da velha acaba saindo disso tudo. Já vi gente vindo de longe para competir, por exemplo, Dois Córregos, Lençóis Paulista, etc. O evento em outras edições concorreu com chuva, dia de passeata nas ruas, jogo de basquete na Panela e de futebol na TV, mas hoje ninguém tem desculpa nenhuma e a presença deve ser de boa para ótima. Além da competição, enquanto os jurados escolhem os vencedores (sempre livros como troféus), o microfone é aberto e daí começa outra parte do negócio também muito bom e contagiante. A pessoa vai lá e dá o seu recado, lê a poesia de alguém, anuncia algo de bom, fala de lançamentos literários e faz seu strip tease diante de todos e todas. O melhor disso tudo, sem sombras de dúvidas foi o dia em que Esso Maciel, trajando sua tradicional onça, rugiu para todos os presentes. Sai mordido naquele dia, bem na bochecha. Levei três pontos, mas como sou viciado, volto todas as vezes em busca de mais emoção. Ele é que tem faltado (volta Esso, volta...). Tenho outro motivo, vou lá para ficar vendo e ouvindo a REGINA RAMOS comandar o espetáculo... Ela é DEZ!

Pois bem, hoje para mim algo inédito, meu filho, HA, 19 anos, nunca pode estar presente nas anteriores edições, pois estudando em Araraquara acaba não podendo comparecer. Hoje não terá desculpas, já está de férias e como aperitivo o instigarei a participar. Tenho dele aqui uma poesia e como todo pai coruja, a apresento em primeira mão para vocês. Não critiquem abertamente o garoto, pois ele se faz de tímido. Leiam o vejam o que já está aprontando a cria desse amalucado HPA:

Envergo a máscara de brilho esmaltado
Dissimulando meu peito despedaçado 
Enquanto vago por ruelas abissais
Recolhendo os meus estilhaços, e nada mais

Meu intento é, caco à caco
Preencher o diáfano buraco
Que cinge o meu pomo de solidão
Acrescendo à minha sofreguidão

E do vórtice da atribulação
Emergem os arroubos de um ódio infindo
Que me atiça o monstruoso instinto
De arrancar da carne o meu coração

Idealizando a lâmina que cesse a pulsação
E no limite agudo verta a podridão
A minorar o opróbrio da minha aflição
Revolvendo-me à inocência da criação
18.02.2013

PS final do HPA: Continuarei queimando meus neurônios tentando montar algo de rima fácil e mequetréfica para apresentar aos diletos presentes nesta noite. Me aguardem...