* 17º artigo deste mafuento HPA para edição semanal do jornal DEBATE, de Santa Cruz do Rio Pardo, circulando a partir de hoje.
Para minha surpresa, nada disso, só salamaleques, convescotes, troca de gentilezas e acarinhamento fraterno entre os presentes. Quando vi que a prefeita, a novíssima (sic) Suéllen Rosim estava presente, achei que seria perfeitamente compreensível ela abordar os membros do Conselho, pois estão juntos há muito tempo e referendaram nas administrações passadas, tudo o que lhe foi apresentado de balanços e contas, como se nada estivesse acontecendo. Que nada, ninguém cobrou nada, nem dela para os conselheiros, nem os conselheiros disseram nada a merecer registro. Enfim, deve ter sido um encontro dos mais aprazíveis, com salgadinho e refrigerante para desviar o tédio, encher linguiça e cumprir o que reza a legislação, essa que prega a necessidade de regularmente se reunirem para avaliar e assinarem o "tudo bem".
Nem parece estarem todos diante de algo dantesco, maquiavélico, escabroso e de repercussões ainda não totalmente conhecidas para os cofres municipais. A alcaide não se interessou em perguntar nada e todos saíram de lá, pelo que deu para perceber, mais amiguinhos que nunca, coesos e ninguém soltando da mão de ninguém. Confesso já ter participado ao longo dos meus 60 anos de algumas comissões, assembleias, conselhos e em todos o pau comia, pois na existência de opiniões conflitantes, nada melhor do que, se aproveitando do encontro de todos na mesma mesa para tirar tudo a limpo, buscar explicações e convencimento pelas ações. Ou seja, o mais normal deste mundo é isso ocorrer.
Quando tudo transcorre sem sal e açúcar, creio eu, não seja bom sinal. Mal a cidade digeriu os R$ 55 milhões desviados e agora os cofres municipais à volta com não sei quantos bilhões de ação praticamente perdida, sem recurso possível e quando reunidos, nem uma palavrinha a respeito. Guardarei essa Ata como sinal de que, nos bastidores da dita cidade "Sem Limites", como me diziam, tudo se resolve sempre da melhor forma possível. Terminada a leitura, estou até mais calmo, pois se nada foi dito ou levantado na reunião, sinal de que tudo está sob controle e disso me lembro de frase do imbatível centrovante do Botafogo, aquele que resolvia tudo, Túlio Maravilha, quando diante de algo desairoso no próximo jogo afirmava cheio de confiança: "Pode deixar comigo". Ele ia lá e resolvia, já os conselheiros da Cohab, nem sei se são bons de bola.
A BANCA DO SEU ORLANDO JÁ NÃO EXISTE MAIS E UM JOVEM DO RAMO FOI LÁ FAZER AS DESPEDIDAS DE PRAXE, GUSTAVO MANGILI - O VELHO E O NOVO, HISTÓRIAS DE ONTEM E HOJEOficialmente a banca fechou em definitivo após 42 anos funcionando no mesmo lugar, na rua Primeiro de Agosto, quase esquina com a Rio Branco. Gerações de gente comprando revistas e jornais por ali passaram. São tantas as histórias. Por uma banca como essa circulam não só papel, mas história viva e contada pela boca de quem por ali passava. Outro dia seu Orlando me contava das lembranças que tinha de alguns clientes. Lembro de uma, a do professor Mauro Toledo, diretor da ITE por muito tempo e todo domingo, logo pela manhã ia até a banca e levava uma batelada de jornais e revistas, todas as semanais, os jornalões e também outras, pagando tudo sempre em espécie. Seu Mauro era fechadão, mas Orlando dizia que conversavam muito e ele sempre perguntando se tinha alguma novidade, alguma publicação nova que ele não conhecia.
Contei a história dias atrás num comentário, quando o amigo Arthur Monteiro, revisteiro desde sempre, lembrando ser seu Orlando um inveterado bolsonarista. Sim, tive que concordar e lhe dizer que nos últimos tempos, coisas de uns dez anos, converso menos com ele, exatamente por causa disso, mas o respeito pelo que representa ali encravado no centro velho da cidade. E contei algo ouvido dele. Ele era antipetista de carteirinha, abominava tudo o que fosse esquerda, mas me confessou que nas duas últimas eleições havia votado pra vereador em Roque Ferreira, o único, segundo ele, em que podia confiar como político. Achei tão emblemático isso e logo depois contei pro Roque, que vez ou outra passava lá também, não tanto para comprar jornais, mas para prosear e manter acesa a chama.
Ele queria permanecer aberto mais tempo. Tenho toda a lembrança bem aqui comigo de quando o centro da cidade começou a ficar mais perigoso e ele ainda insistindo em manter suas portas abertas até mais tarde, sábados e domingos até escurecer. Foi até quando deu. Foi abordado e achacado algumas vezes. Alguns pediam algo e não aceitavam recusa. Ele cansou. Restringiu o horário, mesmo querendo ficar mais tempo ali. Ele também tentou introduzir o filho no negócio, ele até permaneceu algum tempo ali atrás do balcão, mas desistiu logo, pois não tinham o dom para esse tipo de comércio. E o casal Pavan foi se revezando como podiam até o fim. Quando ele saia, ela ficava e assim tocaram a coisa até no último dia. Tem um sítio, seu sonho de consumo, mas nos últimos tempos só ia lá no domingo à tarde, quando conseguia também no sábado.
Quem apareceu por lá essa semana dentre todas as despedidas que lhe fizeram foi outro do mesmo ramo, o jovem Gustavo Mangili, que começou muito cedo nesse negócio de banca, levado pelo pai, Cláudio, hoje com duas na cidade, uma junto do Confiança Nações e outra, de alumínio defronte o Confiança Falcão. Gustavo eu vi crescer atrás do balcão e hoje, as bancas deles continuam a todo vapor pelo simples motivo de terem inovado e introduzido tudo o mais junto. Hoje, o da Nações se transformou numa reconhecida Tabacaria. Gustavo conhece a saga de seu Orlando e sabe o quanto é dura a vida de jornaleiro. Ali na das Nações ele abre às 9h da manhã e vai até lá pelas 21h, quase ininterrupto e sem dia de folga. Sua esposa colombiana fica na banca da vila Falcão e o pai, Cláudio, dá a cobertura e cobre os buracos. Quando tudo aperta, até a mãe entra na dança e também a esposa do Cláudio. A família samba unida na frente de um negócio incessante, cansativo e que, segundo Gustavo, ele já se acostumou.
Pois bem, ele apareceu lá para se despedir do seu Orlando e esposa. Conta da tristeza de ver tudo sendo desmontado, pois ali foi vivenciada uma intensa vida, mais ou menos igual a que seu pai escolheu e ele toca o barco adiante. Conversaram e seu Orlando contou a ele que queria continuar aberto, pois não encontrando ninguém para passar o ponto, tinha pela frente uma dura negociação, a do dono do imóvel querendo reajustar o valor. Seu aluguel era compatível com o tempo ali trabalhado, mas na negociação dos últimos tempos, o reajuste ficaria salgado demais. Mesmo cansado, só desistiu por causa do valor alto para renovação do contrato de aluguel. o contrato venceu e dia dez de junho foi o prazo acordado para baixar as portas. Não existem tantos como esses dois hoje pela Bauru, que tempos atrás teve mais de quarenta bancas e hoje, se perdurarem umas dez é muito. A de seu Orlando é a penúltima só vendendo revistas e jornais. Com ele fora do riscado, resta a da Ilda, lá junto do Aeroclube e todas as demais já misturaram tudo para sobreviver. Queria também escrever sobre isso das pessoas estarem lendo muito menos jornais e revistas, o modal estar em declínio, com publicações fechando, outras tantas em dificuldades, mas isso é outra história e acho que até já contei isso por aqui. Conto novamente qualquer dia destes. Por hoje, pedi para o Gustavo me enviar as fotos dele lá se despedindo do seu Orlando, o mais velho em atividade no ramo. Amanhã cedo, domingo, como será que ele, mais do que acostumado a acordar todo dia lá pelas 6h da manhã para abrir a banca vai se ver despertando e não tendo mais a obrigação de ir lá levantar a porta de metal. Vida nova para ele e a esposa após 42 anos praticamente sem férias.
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