Por onde ando, junto histórias. Nem todas conto, mas as registro. Podem perceber, ando com um caderninho sempre às mãos. É meu registrador, nele constam os detalhes de tudo o que vou vendo e não consigo registrar naquele momento. Sem ele não sou nada, pois a mente já não ajuda muito e ao deixar de registrar, em instantes se perderia o fio da meada. Isso mesmo, eu necessito para contar algo vivenciado de algo, de uma mera lembrança para tudo voltar à mente. Daí, a anotação sempre é vital, importância crucial e o caderninho, sempre à mão, esse elo entre o que ouvi ou vi e o que, um dia posso querer escrevinhar.
Atentem para fase de Ferreira Gullar |
Escrevo isso e uso essas três fotos tiradas a meu pedido, pelo amigo jornalista Ricardo Santana, num retorno, dentro da saudosa campanha eleitoral deste ano, quando voltávamos de Tibiriçá, finalzinho de domingo e a pedido da Dulce Baté, dávamos carona para uma senhora que lá estava, com dores no pé, andando mal e com dificuldades de pegar o próximo coletivo. Ela esteve o tempo todo lá junto aos Baté, havíamos a cumprimentado, mas não sabíamos de sua história. No carro, na volta para Bauru, eu, Ricardo Santana, Wellington Jorge Braga De Oliveira e a tal senhora, uma funcionária pública aposentada da área da Saúde, tendo trabalhado uma vida inteira na capital paulista e hoje morando só no Redentor.
Para quebrar o gelo na viagem e mudar de assunto, enfim, falávamos a todo instante só do tema eleição, eis uma oportunidade de algo diferente. E daí, ela nos contou sua história. Fazia muito tempo não voltava para Tibiriçá e a convite da Dulce, lá foi, pois um jornalista a entrevistaria sobre sua avó, merecedora de matéria no Jornal da Cidade anos atrás. A história, desde o princípio me chamou muito a atenção, uma senhora, na época, com 112 anos, origem escrava e com uma passagem pelo mundo a envolver tantas gerações. Contou detalhes da história da avó e os seus, o de uma senhora morando só no Redentor e fechando as portas de sua casa muito cedo, todos os dias, só reabrindo na manhã seguinte. Um filho fica no seu encalço, sempre por perto e naquele dia, nos pede para só irmos depois dela abrir o portão e se postar do lado de dentro. Assim o fazemos.
E assim nasce mais uma história, dessas ainda aqui guardadas, a de dona Marlene - ainda não sei sei seu sobrenome -, cuja avó faleceu aos 117 anos e merecedora que ligue, vá lá e também, como um dia fez o JC, naquele dia uma equipe fazendo um documentário e, provavelmente eu, ajude ela a passar seu tempo, recontando sua história e a repassando adiante. Eu adoro fazer isso e se pudesse, faria algo assim o dia inteiro. Não a recontatei, pois o tempo urge do lado de cá e envolvido em projetos regionais, circulando por aí mais que notícia ruim, mas espero, muito em breve, ter tempo para dissecar essa e outras histórias, todas anotadas no meu caderninho, como nome e fone de contato. Isso move minha vida e ganho nada com isso, ou seja, ganho muito, pois isso preenche um vácuo dentro de mim, algo que, mesmo fazendo sem muita técnica e esmero, deixo com isso registros de algo, que sei ser de tamanha importância para desvendar algo mais das histórias populares, todas acontecendo e a todo instante, bem ao nosso lado.
outra vertente
QUE DELÍCIA FINALIZAR UM LIVRO, AINDA MAIS SENDO ESTE DE CHICO BUARQUEMeu filho me pediu pouco mais de um mês atrás, o que me poderia dar de presente. Disse a ele: "Um livro. Que tal o último do Chico?". Pois o danado, na sua última vinda para Bauru me traz o "Bambino a Roma", uma obra mesclando realidade e ficção, verve de Chico Buarque, editado lindamente pela Cia das Letras. Com este recomeço minha saga de ler vários livros ao mês, interrompido em setembro, quando por dedicação na campanha política, abdiquei desta saborosa iguaria. Retomo com todo prazer, como a de quem mergulha sem limites, diante de um prato fumegante e com cheiro incontornável. Comecei ainda na campanha e como ia o consumindo em drops, aos poucos, recomecei e nesta semana o devorei.
A história é "bonitinha" (lembro de Nélson Rodrigues, "bonitinha, porém ordinária"), me seduz. Um menino, no caso o próprio Chico revê os quase três anos vividos em Roma, quando lá morou com sua família, acompanhando seu pai, dando aulas numa universidade romana. Minha memória não consegue voltar tanto assim no tempo, no caso dele, uns 70 anos, pois ele já completou 80. Escolheu mesclar ficção e realidade. decisão acertada. Os dias próximos do retorno da família ao Brasil são descritos de forma inebriante.
Certa feita comprei um caderno e como gosto muito de escrever à mão, fui tentando relembrar algo, colocar no papel. Tudo o que vinha à mente, passava logo para o papel, com medo der que sumisse. Registrei algo valioso, mas abandonei o intento. Com o livro de Chico, penso em retomar. O caderno ainda está por aqui. não o perdi com as águas do meu antigo Mafuá, felizmente. Neste momento, tenho aqui diante de mim uns quatro livros começados e espero, sinceramente, terminá-los todos ainda em outubro, recomeçando a saga de ler o que gosto. Daqui por diante, nada mais de teses e questiúnculas onde o cérebro ferva. Amenidades, pois já me bastam o esquentamento provocado pelas decepções das ruas.
Viva Chico e o reencontro com a leitura OBRIGATÓRIA de livros e mais livros.
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