Estive no último sábado, 26/10, no SESC Bauru e lá reencontrei velho amigo, o fotógrafo CRISTIANO ZANARDI. Meu velho conhecido, de uma boa experiência jornalística na cidade, a com o diário impresso Bom Dia. Ele foi um dos fotógrafos do jornal e nessa função, desbravou o interior - e o exterior também - desta insólita Bauru. Registros memoráveis o imortalizaram como um dos expoentes no ofício. A partir dali o vi deslanchar mais e mais na carreira.
O Bom Dia se foi e Cristiano Zanardi ficou. Por um bom tempo deu aulas de Fotografia, sua especialidade, disciplina dominada pela sua excelência e prática, na unidade local da UNIP e outras escolas e universidades. Seguiu assim até a chegada da pandemia e a partir daí, todas as revoravoltas já conhecidas. Ficou cada dia mais difícil viver do ofício fotográfico, ainda mais quando as aulas rarearam e todos, com um celular nas mãos, se acham hoje fotógrafos.
Zanardi passou a frequentar eventos variados e fazer o que a maioria dos profissionais faz para ir se safando em bicudos tempos: ia aos eventos, onde existissem, desde shows, jogos de futebol, apresentações variadas, espetáculos idem e tudo o mais que lhe aparecida pela frente. Fotografava tudo e tentava vender suas fotos. Verdadeiro trabalho de formiguinha, incessante, cansativo, muitos obstáculos e lentos resultados.
Abro aqui um parenteses para tentar demonstrar a quantas andam os atuais empregos nestes tempos, enfim, o que aqui me trás. O tal do aplicativo veio mesmo para ficar. Com o UBER foi assim, engolindo os táxis e também na forma como o trabalho era até então tocado, com carteira assinada e leis trabalhistas de proteção ao trabalhador. Depois vieram outras formas do exercício do tal do aplicativo, como o AIRBNB, simplificando o procedimentos dos aluguéis para imóveis em pequenas temporadas, tirando ganho certo de muitos hotéis. Depois, com algo além, outros aplicativos e com estes, preços mais convidativos para compras por este intermédio.
Olho para os lados e vejo empregos cada vez mais precarizados, tudo fazendo parte dessa tal de necessária modernização, engolindo como um tsunami tudo o que até então estava consolidado. A grande novidade destes tempos é que a maioria dos negócios hoje são fechados através destes aplicativos. Enxergo detrás de tudo, um grande capitalista, monopolizando tudo, cobrando um percetual e tendo lucros alvissareiros. Um só dominando todo o mercado. No Mercado Livre vejo isso bem latente. Eu mesmo, preciso comprar pneus novos para o carro, procurei na cidade e os acho por R$ 1 mil reais cada. Através do Mercado livre, o mesmo pneu por R$ 600 reais e ninguém na cidade consegue cobrir este preço. Ou seja, o Mercado Livre, nada mais é do que um grande aplicativo. E, no segmento da fotografia não podia ser mesmo diferente.
Zanardi se dobrou, entrou na onda e não se arrepende. Desde que, descobriu os tais aplicativos no seu segmento, se juntou a estes e viu sua renda alavancar. Continua indo a variados eventos, tira as fotos e deixa seu cartão com todos interessados, como pais de garotos em escolinhas de futebol. Estes entram no aplicativo e lá, direcionados para seu nome, encontram as fotos com tarja de marca d''água, só removível após o pagamento. Escolha feita, pagamento efetuado, é descontado o percetual do aplicativo e o restante cai em sua conta e na do cliente a foto sem a marca d'água. Explicava que, quando num evento com milhares de fotos, o cliente ao ingressar para procurar as suas fotos, não precisa vasciulhar todas, mas é logo direcionado para vê-las através de reconhecimento facial.
Ou seja, quando conseguiria fazer isso sózinho? O aplicativo facilitou seu negócio e vê isso se espalhando por todos os segmentos. Segundo ele e também a minha percepção, ninguém vai escapar disso. Este o emprego como conseguido hoje. Pergunto se ele recolhe ainda junto ao INSS e me diz, que só o faz, por ter MEI, obrigação de uma ampresa onde atua através de contrato. A grande maioria acaba abolindo e daí, diante de tudo o que ouvi, me vejo diante de algo incontornável. Como escaparemos disso? Na verdade já estamos dentro deste sistema e sem muitas chances de escapar. Ele nos envolve, muitos tentáculos e como existem boas perspectivas de ir tocando a vida assim e poucas dentro do antigo sistema, creio que, como resposta, dou a que me deu um taxista em Buenos Aires, viagem feita em julho deste ano, quando lhe perguntei, vendo ser taxista e atendendo pelo UBER. "No Brasil, ainda um conflito e aqui, como resolveram?", perguntei. E ele: "Meu caro, não tem como enfrentar um gigante desses. Continuo com o táxi e com o aplicativo do UBER, os dois juntos e agora permitidos. Quem não pode com o poderoso, acaba ser aliando ao seu sistema".
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A intenção era exatamente essa mesma, a de escrevinhar algo diferente do destino da matéria publicada. Ou seja, uma manchete pode te levar, dependendo da tua imaginação, para caminhos nunca dantes navegado. Tudo poderia - e até deveria - ter desfechos diferentes.
Despretensioso, e ao mesmo tempo, saboroso, diria mesmo, instigante. Quando leio as histórias do Scliar, todas sacadas de crônicas publicadas nos seus tempos de Folha de São Paulo, 54 no total, recheadas de muito bom humor, picardia necessária, boa destinação para tanta coisa publicada de forma controversa, conteúdo dúbio, pouco atrativo. Daí, ele viaja na maionese e torna tudo mais palatável.
De cada texto, meus recortes aqui que o digam, sempre se pode extrair outros conteúdos, além da mente viajar, sem o uso de alucinógenos, galgando descaminhos fantásticos. Faço isso constantemente e neste livro, o fiz guiado pelo guia (deundância) escrito por este mestre da escrita. Enfim, podemos produzir textos extremamente reveladores da condição humana, pelo menos quem os reescreve. Foi uma delícia...
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