terça-feira, 15 de outubro de 2024

O QUE FAZER EM BAURU E NAS REDONDEZAS (177)


ESTOU, MAS MESMO ASSIM, AINDA COM FORÇAS PARA PROSSEGUIR

"SER REJEITADO TEM MAIS VANTAGENS DO QUE PARECE"
Isso mesmo, esse negócio de ser certinho, andar todo cheiroso e pimpão, seguindo regras e ditando normas não é comigo. Eu, na qualidade de empedernico esquerdista, já devia ter me acostumado. Ser rejeitado, num país onde a maioria gosta de compartilhar ideias conservadoras é algo pra andar meio que na contramão uma vida inteira. E convenhamos, ser de direita é uma nhaca e ser de esquerda, algo inebriante, como receber o vento na fuça a todo instante. Uma renovação constante, mesmo que isso traga alguns dissabores. Nenhum incontornável, pelo menos por enquanto. Na Argentina de Milei já caçam esquerdistas, aqui ainda tudo não passa de um plano, não colocado em prática.

"O mundo em que vivemos é possível graças a esse desacordo, estamos imersos numa sociedade governada pelo poder econômico, pelo sucesso e assim por diante. O plano social é uma espécie de suicídio consensual e foge-se para tentar encontrar algo verdadeiro. Você pode chamar isso de Deus, amor, experiência direta ou aventura espiritual.", li isso hoje numa entrevista do cineasta argentino Luis Ortega, para a revista virtual El Planeta Urbano, do jornal que ainda consigo ler, o também argentino Página 12.

Sim, ser do contra serve para fugir disso. E, confesso, não existe nada mais inebriante na vida do que não andar junto da manada. Aqui mesmo, neste Brasil dos tempos atuais, seguir com a turba é de uma parvice sem fim. Como abomino os parvos, tento ao menos continuar andando com os que consigo ter afinidades. Tenho tido muitas decepções, pois mesmo no raio de ação onde milito e apronto das minhas, tem uma turba hoje, se fingindo de rejeitado, de esquerdista e fazendo o jogo duplo. Estes mais abomináveis que os declaradamente do outro lado. Quando detecto um destes, não exista quem me faça se aproximar ou mesmo tentar ser palatável.

Perder faz parte do grande negócio que é o viver dentro do capitalismo. Tem quem, para ganhar algumas, se aproprie de técnicas e meios disponíveis pelos do outro lado. Nessa eleição, algunas destes se tornaram vitoriosos e nem pensar em me posicionar ou defendê-los em algum instante. Meu negócio e continuar seguindo pelos descaminhos da rejeição, o que me move e toca minha vida. Vencer a qualquer custo não é coisa que me faria feliz.

"Olha, ser rejeitado tem mais vantagens do que parece. Que o mundo te expulsa te força a fazer o que você tem que fazer. Se eles o aceitam, você fica mais aberto à confusão, a entrar em uma dinâmica estranha, precisa ter cuidado para não interpretar mal o sucesso ou o fracasso. Na verdade, receber tantos “nãos” é mais estimulante", diz Ortega e eu concordo. A vida é cheia de nãos e de derrotas. Elas são boas para não nos deixar levar pelas bobagens de chegar em algo a qualquer custo. Quero chegar fazendo a coisa como faço, sempre de forma deficiente, errada, sendo considerado fraco, inoperante, problemático, porém sem me vergar ou ter que me submeter a certas exigências.

Nesse período eleitoral fui até chamado de "leviano" e por quem não esperava, pois pessoa de muita convivência e proximidade. Vivendo e aprendendo. Eu erro, mas quem assim me denomina, também precisa se olhar no espelho, pois sei não, será que tudo anda tão bem encaminhado para ser supra-sumo. Gosto muito de como consigo tocar minha vida. Ela não é perfeita, aliás, cheia de muita deficiência e percalços. Pelo pouco tempo que me resta de vida pela frente, creio ser melhor continuar sendo rejeitado, criticado, porém, altivo, ciente de onde estou, com quem estou e seguindo numa trilha que, sei não é perfeita, mas pelo menos, não se dá junto de quem me alavanca para outros caminhos. Eu quero mais é continuar sendo isso mesmo que sempre fui. Sou muito feliz assim, sendo do contra e rindo de quem vence e não me convence. Isso, por si só me satisfaz.

ESPAIRECER MESMO NÃO É FICANDO EM CASA E SIM, IR COM AMIGOS VER DE PERTO O ESPETÁCULO ROMENO DO CIRCO STANKOWICH
O Stankowich é um circo muito bem organizado, tudo redondinho e com um aspecto mais que bom. Uma apresentação impecável e para qualquer bom observador, pela fisionomia da maioria de seus artistas, ali está constituída uma família, trabalhando unida e coesa. Conheço a fama deste circo, mas nada sabia de sua procedência. Na minha santa ignorância acreditava ser de origem russa, mas perguntando para um deles, os com a mesma cara, este me disse do tempo na estrada, de seus antepassados e da origem da família, da Romênia. Ele mesmo, quem interpelei, é brasileiro, nascido e criado aqui, na estrada, com incontável quilometragem rodada. Todo bom circo é assim, seus membros fazem de tudo. Logo na entrada vejo uma senhora, toda maquiada, sardenta, numa cor lembrando minha mãe, atendendo e depois a vejo no palco, dançando de maiô ou mesmo servindo de partner para outros artistas. O moço que me indicou como ser atendido no bar, era o mesmo que num dos primeiros números fez um lindo malabares. Todos por ali batem escanteio e correm para fazer gol. Uma sincronia maravilhosa, que o circo permite e passa de geração pra geração. Ali, pelo que vejo, não existe um número grande de artistas, mas o suficiente para uma bela apresentação. Uma família atuando inteira no palco e junto deles, alguns artistas, num staff de responsa, pois em circo, não é suficiente o artista ir lá no picadeiro e apresentar seu número. Tudo faz parte de uma engrenagem, que funciona como um reloginho, com todos sabendo onde devem estar e para dar certo, cada qual cumpre algo dentro do grande roteiro. Essa família merece uma bela reportagem, contando algo de quando tudo começou e a trajetória até chegar aos nossos dias.

Observei demais o papel do palhaço, o artista que mais trabalhou e esteve no palco. Ele não é de origem romena, mas atua como membro permanente e participe da composição organizacional, num todo do circo. Fez a junção entre o palco e o público, trouxe populares para o palco, com uma boa presença do que seja isso, essa ligação, sem ser chata e grosseira. E depois o vejo, na maior simplicidade vendendo guloseimas e objetos coloridos patra crianças. As moças dançando no palco e logo depois, vendendo as fotos tiradas com os presentes nas arquibancadas. E o espetáculo, sem nenhuma voz de apresentação, só um número atrás do outro, foi algo inebriante. Gostei demais e saio de lá com a alma lavada. O circo serve e muito para recarregar energias perdidas, ainda mais quando o espetáculo corresponde e até supera suas expectativas. E o melhor de tudo foi ter instigado um número grande de amigos para ir comigo e todos satisfeitos, sorridentes. Ganhei até uma pipoca de um dos responsáveis pelo circo, quando ele soube de minha movimentação para levar pessoas, enfim, é tão bom ir em bando nestes lugares.

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