POR CORRESPONDÊNCIAUma das formas mais antigas de comunicação, a quase hoje abolida, por cartas, volta à tona nesta noite de sábado, 15/10, com o lançamento de um livro da escritora das coisas da periferia da cidade Amanda Helena e o inusitado defensor público Alandeson de Jesus Vidal, o POESIAS RECICLÁVEIS. Explico. Antigamente, personalidades variadas trocavam correspondência entre si e cada carta demorava um certo tempo para chegar ao seu destino, daí, depois de lida, retornava com a resposta. Isso quando juntadas motivou livros e mais livros, alguns antológicos, imperdíveis, com temas sérios e também, muita generalização, o que também propicia a amplitude da conversa e até o maior interesse por quem está predisposto a essa leitura.
Tenho muitos destes livros aqui e vez ou outra, me vejo com vontade de iniciar uma coluna pelos canais atuais, com troca de conteúdo com alguém com vontade de escrevinhar abobrinhas e juntando escritos, pensamentos, façamos fluir ideias. De minha parte, confesso, tudo ficou no campo das ideias. Já na de Amanda e no do Alandeson Vidal, algo proposto por ele vingou e hoje está vindo à tona com o lançamento do livro. Que bela ideia. Pelo que sei, ambos trocam conversações faz tempo e ele, pela riqueza do material conseguido, propõe a Amanda que tudo se transforme num livro.
E agora tudo se materializa, quando banca o projeto e dessa forma se pode ver a que ponto chegaram as trocas de cartas entre ambos. Antes, tudo muito lento, dependendo dos Correios e Telégráfos e hoje, tudo muito rápido, feito instantaneamente pelo modal celular e internet. Perdeu-se o efeito de até meses para a resposta, mas tudo continua muito válido. Amanda já me adianta algo do que escreve e em certo momento diz ter sido provocada para escrever de algo e o faz, mas depois, divaga e segue por outras vertentes e assuntos, o que deixa tudo mais instigante e provocante.
Eu ainda não li sequer uma linha do livro - e o farei logo mais à noite -, mas já sinto estar diante de algo, pelo qual, devo começar e não querer mais parar. A prosa deve ser boa e não ter se findado com a publicação do livro. Este POESIAS RECICLÁVEIS chega numa boa hora, onde as conversações estão um tanto estressadas e truncadas, sendo assim, sinal de que precisamos retomar algo perdido. Gosto disso, de divagações em torno de algo salutar, palatável e sei, vindo de Amanda, tudo é possível, já do Alanderson, quero me surpreender, pois ainda não o conheço, mas afirmo, a expectativa é grande, pois só por ter se juntado com a escritora das quebradas bauruenses, sei estar associado a alguém pulsante e cheia de gás.
O livro promete e desta forma, convido tudo, todas e todas para um bate papo hoje, sábado, 26/10, 19h, lá no que sobrou (sic)do Centro Cultural, junto ao Teatro Municipal de Bauru, enfim, escrever e ver algo seu publicado é sempre muito nobre. E depois, ouço que Amanda lerá algo com sua pulsante verve, dessas coisas para estremecer e abalar estruturas e também dará voz para duas mães de jovens assassinados em Bauru. Juntando tudo, noite imperdível.
o depois
AMANDA E ALANDESON UNIDOS NUM LIVRO E NUM EVENTO DENUNCIANDO A VIOLÊNCIA E A GUERRA URBANA EM CURSO EM BAURU
Acabo de voltar de um evento muito marcante para Bauru, no momento vivido, não só pela cidade, mas algo consistente dentro da violência urbana em curso. Um livro a retratar algo disso, duas pessoas pulsantes e entrelaçando sua vivência, em algo escrito para chocar e nos fazer refletir. Cada qual escreve ao seu modo e maneira, porém esgrimando contra isso tudo que enxergam acontecendo do lado de fora de suas janelas. Resolvem escrever um livro juntos e o fazem de uma forma divinal, cada qual escreve algo e envia ao outro, este lê e responde. A pegada é forte, envolvente e certeira, pois quando reunidos os textos, uma só certeza, eles estão aí exatamente para colocar o dedo na ferida, nos fazer pensar e desta forma, dizer a que vieram e onde estão situados no contexto da vida.
E o livro aconteceu, vingou e hoje uma festa no hall de entrada do Centro Cultural, andar de baixo do ainda fechado Teatro Municipal de Bauru. Eu fui convidado, lá estive e como sempre, fotografei tudo e todos. Os registros aqui compaertilhados mostram isso, as pessoas ali reunidas, numa noite de sábado após uma baita de uma chuva e todos, saindo assim mesmo de suaqs casas, pois tinham em mente participar, não só do lançamento do tal livro deles, mas também ouví-los, tomar conhecimento do que tinham a dizer. Implícito em tudo, embutido no convite, quem os conhece, sabia de antemão que, estariam também num ato político e isso foi o que aconteceu.
Eu nem sabia que usaria a palavra. Sou chamado ao microfone e de improviso falo do que acho de um livro assim, uma troca de correspondência e falei algo mais dos dois autores, algo com pessoas ali presentes. Do Alandeson, conversei antes com o Cláudio, camelô na Feira do Rolo, uma pessoa que gosto muito e pergunto por qual motivo estava ali. Ele me diz ser amigo do Alandeson há vinte anos e de Feira de Santana, se reencontrando em Bauru, cada qual seguindo por um caminho e desembocando aqui. Quer maravilha melhor que essa? Quer baita reencontro. E depois, falando de Amanda, digo da presença de dona Maria Aparecida, mãe do Luizinho, assassinado semana passada em Bauru e relembro quando estivemos juntos em sua casa. Tento falar de como precisamos se aperoximar mais da periferia, entender de fato o que ser passa por lá e se estes são mais frágeis, nos unirmos mais, para impedir a continuação do que anda acontecendo no quesito violência urbana.
A fala de ambas eu gravei. Leram trechos do que está publicado e cada qual com uma interpretação bem própria. Belo demais ouvilos e mais que isso, estar presente num ato muito mais que simbólico, pois este livro representa um ato de coragem mútua. Essa coragem que tanto precisamos, quando unidos, podemos enfrentar tudo o mais com maior facilidade. Esse POESIA RECICLÁVEL, conta a história de uma cadeira, encontrada numa rua de Bauru e levada por Amanda para sua casa, onde a reciclou e dela faz uso. O nome foi escolhido por causa desse recolhimento e de como se deu, pelas mãos da Amanda o seu retorno para uma vida útil.
Tudo o que foi ali visto na nboite só foi possibilitado por causa de uma outra pessoa, Rose Barrenha que, convidada, trouxe um pouco de sua Casa da Frida para o local. Sim, ela transportou sua casa para lá e mesmo com a chuva caindo, chegou a tempo, deixando tudo pronto para que, todos os presentes, pudessem ter uma noite especial, sentido como as coisas acontecem lá no seu dia a dia. Ela fez um estandarte representando as mães, cujos filhos estão sendo assassinados na periferia, pelas mãos de policiais. E, Regina Ramos, a apresentadora, foi lendo poesias e convidando as pessoas para falarem e muitos estiveram ali na frente de todos, deixando belos recados. Todos contundentes e marcantes, mas nada igual ao Brunão, alguém hoje sofrendo muito quando vê a violência urbana, expressada por ele na forma como estão ocorrendo esses assassinatos na periferia da cidade . Ele pressentia isso lá atrás e, corajosamente, falou disso, algo também dito pelos dois autores do livro e também escrito com todas as letras no texto do que estão publicando.
Foi uma noite e tanto, um lançamento de um livro como o deles dois não poderia ser um mero evento. Tinha que ser exatamente algo como tudo foi possibilitado e por fim, conseguiram seu intento, o de botar a boca no trombone. Foi uma noite onde isso aconteceu e todos os presentes tiveram a oportunidade de presenciar algo único, diferente e com a cara de quem escreve em defesa destes seres humanos vivenciando a vida do outro lado, o dentro de nossas periferias. Saio de lá fortalecido para continuar na lida e luta, pois se eles conseguiram reunir algo tão valioso num livro e com o lançamento da obra, propuseram essa reflexão coletiva, eu tenho que também sair da posição cômoda onde me encontro e fazer o mesmo. O recado dado foi este, não nos aquietarmos. O livro tem essa pegada, a cadeira reciclada tem essa pegada e muitos dos convidados fazem já há bastante tempo algo bem parecido do que os dois conseguiram construir em conjunto. Agora, vou ler o livro e só devo parar quando devorá-lo por inteiro, pois ele e tudo o que vi acontecer no entorno de seu lançamento, me fizeram sair do estado de letargia.
SABEM O QUE VEM A SER ISTO? É UM ESTANDARTE CONFECCIONADO PELA ROSE BARRENHA, NA CASA DA FRIDA E HOMENAGEANDO AS MÃES, CUJOS FILHOS FORAM BARBARAMENTE ASSASSINADAS PELO BAEP DA POLÍCIA MILITAR BAURUENSE
Neste aqui, o jornalista Wilson Coutinho, amigo do Ubaldo escreve dele, mas não o faz como numa biografia e sim, vai juntando trechos de seus livros e de outros com dizeres próximos ao que o baiano escreveu, para depois intercalar com alguma escrita. Ficou algo que, sentava pra ler e não acreditava, parava tudo e lia novamente. Orgasmo total. Ubaldo por si só é uó do brogodó. Desde sua Itaparica, onde reinava de chinelos nos dedos e nos tempos quando podia beber em botequins, para o dia em que, para fazer os filhos estudar num grande centro, caiu de boca no Leblon e ganhou a Cidade Maravilhosa, essa aos seu pés. Tenho quase tudo dele, mas não li tudo. Vou lendo na medida do possível. Com o livro, relembro quando ele, numa atitude inesperada para a maioria dos pobres mortais, se diz contra tudo o que representava o príncipe FHC. Sua carta, em forma de crônica é histórica, sendo recusada sua publicação pelo Estadão, que na semana seguinte, não só a publica como pede desculpas para o autor. Hoje, quando vejo o que acontece em Bauru com as mortes que o BAEP promove na periferia da cidade, relembro do seu livro mais famoso, Sargento Getúlio, este um homem bronco, cumprindo violentas ordens sem pestanejar. Daria um belo texto, quem sabe. Enfim, chego ao fim do livro e triste fico, pois a escrita do Coutinho é de um sabor indescritível, tal como a tal carne seca propagada pelo Ubaldo. Ultimamento me delicio é com livros assim, onde junto o prazer da leitura com algo mais, um sabor a mais, ou seja, escolho a dedos. e assim sigo, tendo mais uns três para tentar finalizar ainda neste mês. Se existe horas vagas em minha vida, tenham certeza, antes passava fornicando por aí, hoje as passo, a maior parte do tempo lendo.
e mais um livro lido
JÁ É O TERCEIRO NO MÊS, AGORA UM DELEITE, ALGO SOBRE JOÃO UBALDO RIBEIRO
Essa coleção, a "Perfis do Rio", editada pela carioca Relume Dumará é mais que um deleite, diria mesmo, uma afronta, pois nos propicioualgo único. Não existe amante da boa escrita e, principalmente quem ama o Rio de Janeiro - pelo menos o antigo Rio -, que não tenha alguns e deles não se separe por nada neste mundo. Tenho uma meia dúzia e sigo procurando o restante pelos sebos da vida. Dias atrás encontrei este e paguei o preço na hora, a bagatela de meros R$ 10 reais. Em todos, a editora convidou gente famosa para escrevinhar de algum carioca - ou como no caso do Ubaldo, um que chegou e se imortalizou por ali - e os resultados são jóias raras. Penso um dia tentar fazer algo assim aqui em Bauru.
Essa coleção, a "Perfis do Rio", editada pela carioca Relume Dumará é mais que um deleite, diria mesmo, uma afronta, pois nos propicioualgo único. Não existe amante da boa escrita e, principalmente quem ama o Rio de Janeiro - pelo menos o antigo Rio -, que não tenha alguns e deles não se separe por nada neste mundo. Tenho uma meia dúzia e sigo procurando o restante pelos sebos da vida. Dias atrás encontrei este e paguei o preço na hora, a bagatela de meros R$ 10 reais. Em todos, a editora convidou gente famosa para escrevinhar de algum carioca - ou como no caso do Ubaldo, um que chegou e se imortalizou por ali - e os resultados são jóias raras. Penso um dia tentar fazer algo assim aqui em Bauru.
Neste aqui, o jornalista Wilson Coutinho, amigo do Ubaldo escreve dele, mas não o faz como numa biografia e sim, vai juntando trechos de seus livros e de outros com dizeres próximos ao que o baiano escreveu, para depois intercalar com alguma escrita. Ficou algo que, sentava pra ler e não acreditava, parava tudo e lia novamente. Orgasmo total. Ubaldo por si só é uó do brogodó. Desde sua Itaparica, onde reinava de chinelos nos dedos e nos tempos quando podia beber em botequins, para o dia em que, para fazer os filhos estudar num grande centro, caiu de boca no Leblon e ganhou a Cidade Maravilhosa, essa aos seu pés. Tenho quase tudo dele, mas não li tudo. Vou lendo na medida do possível. Com o livro, relembro quando ele, numa atitude inesperada para a maioria dos pobres mortais, se diz contra tudo o que representava o príncipe FHC. Sua carta, em forma de crônica é histórica, sendo recusada sua publicação pelo Estadão, que na semana seguinte, não só a publica como pede desculpas para o autor. Hoje, quando vejo o que acontece em Bauru com as mortes que o BAEP promove na periferia da cidade, relembro do seu livro mais famoso, Sargento Getúlio, este um homem bronco, cumprindo violentas ordens sem pestanejar. Daria um belo texto, quem sabe. Enfim, chego ao fim do livro e triste fico, pois a escrita do Coutinho é de um sabor indescritível, tal como a tal carne seca propagada pelo Ubaldo. Ultimamento me delicio é com livros assim, onde junto o prazer da leitura com algo mais, um sabor a mais, ou seja, escolho a dedos. e assim sigo, tendo mais uns três para tentar finalizar ainda neste mês. Se existe horas vagas em minha vida, tenham certeza, antes passava fornicando por aí, hoje as passo, a maior parte do tempo lendo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário