EM BRUZUNDANGAS TUDO É POSSÍVEL, EM BAURU NÃO, POIS AQUI NÃO É TERRITÓRIO DE FICÇÃO*
* Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.
“A política não é uma grande cogitação de guiar os nossos destinos; porém, uma vulgar especulação de cargos e propinas” (trecho de Os Bruzundangas).
Bruzundangas é um país hipotético descrito por um brasileiro e que possui todos os problemas do Brasil. Lá ocorre o nepotismo desenfreado, há privilégios e favorecimentos aos políticos, a saúde e a educação são tratadas em segundo plano, num conjunto de mazelas que, publicadas após a morte do escritor Lima Barreto, em 1923, mantém uma terrível atualidade. Tal qual sua obra-prima O triste fim de Policarpo Quaresma (1911), este livro enquadra-se naquilo que Lima Barreto qualificou de "literatura militante", cuja missão era "fazer comunicar umas almas com as outras (...) reforçando deste modo a solidariedade humana, tornando os homens mais capazes para a conquista do planeta e se entenderem melhor, no único intuito de sua felicidade". Tudo com o estilo e o humor que o colocam entre os gigantes da nossa literatura. Até o mordaz bloco burlesco, farsesco e algumas vezes carnavalesco, o Bauru Sem Tomate é MiXto já se utilizou de Bruzundangas para, num momento, desdizer das mazelas bauruenses. Foi no ano de 2018, com o enredo "Na cidade dos Bruzundangas: De bordel a quartel, em cada esquina um coronel".
Neste momento, nada melhor do que, reviver novamente, enfim, a farsa continua ululando pela aí. A eleição em si, em todos os seus sentidos, reflete muito bem a desorientação em que se encontra o eleitorado brasileiro, decaindo de votar conscientemente, para fazê-lo de acordo com as conveniências, acordos, conchavos e benesses prometidas ou até mesmo, recebidas. Escrever de Bruzundangas é adentrar o campo da ficção, sempre esbarrando na mais perversa e insana realidade. Pois bem, tento, ao meu modo e jeito retomar o elo nunca perdido de Lima Barreto e neste momento, assim como ele, faço uso desse país hipotético, tão longe e tão perto de nós, pobres mortais.
Nele, um parlamentar de voz esganiçada, soube se aproveitar do momento e diante da proximidade dos holofotes, bradou em alto e bom som contra o mandatário de plantão. Ficou conhecido pela sua eloquente verborragia, porém, o que o povo não sabia, ou não lhe foi permitido perceber é que, este que, se dizia seu inimigo público nº1, nos momentos de decisão, quando se fazia necessário votar, deixar registrado o voto, daí ele votava junto aos interesses do ocupante do poder. E o mandatário, que de bobo não tinha nada, mesmo violento, permitia que o vassalo parlamentar bradasse quanto quisesse, não lhe impingindo nenhuma correção (sic), desde que, na hora de votar, estivesse ao seu lado. Era tudo feito de comum acordo, evidentemente, sem que a turba tivesse conhecimento. Os holofotes eram sacados do palco em momentos cruciais das votações, assim não tinham o mesmo estardalhaço dos pronunciamentos. Daí, poucos ficavam sabendo do que de fato estava em curso. Uma enganação geral.
Antes disso, outro mandatário, este já em outro campo de atuação no momento, foi eleito para governar a cidade por quase dez anos e por uma necessidade, acabou deixando este mesmo parlamentar em seu lugar, num mero final de semana. Foi chamado de volta às pressas, pois como medida primeira o tal havia já se beneficiado de medidas desviatórias de recursos. Desde então, nos restante período de governo, não tirou sequer mais um dia de férias, pois alertado por todos ao seu lado, se o fizesse o tal parlamentar poderia aprontar algo pior do que o que fez num só dia com o poder da caneta em suas mãos.
Teve mais com o mesmo parlamentar. Ele, pelo visto é fonte de muitas e muitas histórias. Várias delas são contadas nos corredores do poder. Dizem que, este mesmo mandatário, não tendo como se esquivar, o convoca, a contragosto, para ser o responsável pelo projeto de casas populares da localidade, tudo com verba advinda de entidades superiores. O dinheiro chegava e sob a administração do parlamentar, parte era desviada, subtraída e ia diretamente para os bolsos e contas deste. Um verdadeiro esquema de arrecadação foi montado, tudo na mais plena surdina, algo que o próprio mandatário só ouvia falar, nunca provar sua ilicitude. Infinidade de detalhes caíram na boca do povo, como quando um material tecnológico foi entregue, supostamente recebido, papelada assinada, porém nunca chegou ao seu destino. Funcionário foi até afastado e depois, como sabia demais, ficou sob as asas do parlamentar ad eternum. Um sabia muita coisa do outro, e o outro de um, laços indissolúveis.
Em Bruzundangas algo assim é natural, porém, nada é comprovado, mesmo todos sabendo e botando a mão no fogo como verdade absoluta. Tudo segue e com poucas possibilidades de tudo vir à tona. Uns dizem saber de algo mais, tanto que, num dia lá dentro do parlamento, um outro parlamentar sendo acuado pelo nosso personagem, levantou a voz e ameaçou contar algo. Não contou, pois conversaram a tempo do estrago não se concretizar. Ou seja, neste território fictício, tudo pode acontecer, menos um delatar o outro ou o fio da meada ser puxado, pois segundo contam, naquele reino, se algo acontecer a um, muitos outros cairão juntos. São anos de entrelaçamento. Em Bruzundanga tudo é possível. Por lá, existe a crença de que, nada será desvendado e tudo continuará a ocorrer sem que, nenhum padeça de punição. Um ou outro é usado como boi de piranha, até para saciar a sede de justiça existente naquele reino. Com os mais graúdos, a esbórnia nunca tem fim. E renovada a cada nova eleição, chegando outros com a mesma ou até mais voracidade. Haja cofres!
“Convém notar que, quando digo que a ânsia geral é viver fora do país, excetuo os ativos, aqueles que sugam dos ministérios subvenções, propinas, percentagens e obtêm concessões, privilégios, etc. Estes demoram-se pouco fora dele e, seja governo o partido radical, seja governo o partido conservador, esteja o erário cheio, esteja ele vazio, sabem sempre obter fartos e abundantes recursos monetários de um modo que só eles têm o segredo. Estes senhores gostam muito da Bruzundanga e são ferozes patriotas.” (outro trecho de Os bruzundangas).
Bruzundangas é um país hipotético descrito por um brasileiro e que possui todos os problemas do Brasil. Lá ocorre o nepotismo desenfreado, há privilégios e favorecimentos aos políticos, a saúde e a educação são tratadas em segundo plano, num conjunto de mazelas que, publicadas após a morte do escritor Lima Barreto, em 1923, mantém uma terrível atualidade. Tal qual sua obra-prima O triste fim de Policarpo Quaresma (1911), este livro enquadra-se naquilo que Lima Barreto qualificou de "literatura militante", cuja missão era "fazer comunicar umas almas com as outras (...) reforçando deste modo a solidariedade humana, tornando os homens mais capazes para a conquista do planeta e se entenderem melhor, no único intuito de sua felicidade". Tudo com o estilo e o humor que o colocam entre os gigantes da nossa literatura. Até o mordaz bloco burlesco, farsesco e algumas vezes carnavalesco, o Bauru Sem Tomate é MiXto já se utilizou de Bruzundangas para, num momento, desdizer das mazelas bauruenses. Foi no ano de 2018, com o enredo "Na cidade dos Bruzundangas: De bordel a quartel, em cada esquina um coronel".
Neste momento, nada melhor do que, reviver novamente, enfim, a farsa continua ululando pela aí. A eleição em si, em todos os seus sentidos, reflete muito bem a desorientação em que se encontra o eleitorado brasileiro, decaindo de votar conscientemente, para fazê-lo de acordo com as conveniências, acordos, conchavos e benesses prometidas ou até mesmo, recebidas. Escrever de Bruzundangas é adentrar o campo da ficção, sempre esbarrando na mais perversa e insana realidade. Pois bem, tento, ao meu modo e jeito retomar o elo nunca perdido de Lima Barreto e neste momento, assim como ele, faço uso desse país hipotético, tão longe e tão perto de nós, pobres mortais.
Nele, um parlamentar de voz esganiçada, soube se aproveitar do momento e diante da proximidade dos holofotes, bradou em alto e bom som contra o mandatário de plantão. Ficou conhecido pela sua eloquente verborragia, porém, o que o povo não sabia, ou não lhe foi permitido perceber é que, este que, se dizia seu inimigo público nº1, nos momentos de decisão, quando se fazia necessário votar, deixar registrado o voto, daí ele votava junto aos interesses do ocupante do poder. E o mandatário, que de bobo não tinha nada, mesmo violento, permitia que o vassalo parlamentar bradasse quanto quisesse, não lhe impingindo nenhuma correção (sic), desde que, na hora de votar, estivesse ao seu lado. Era tudo feito de comum acordo, evidentemente, sem que a turba tivesse conhecimento. Os holofotes eram sacados do palco em momentos cruciais das votações, assim não tinham o mesmo estardalhaço dos pronunciamentos. Daí, poucos ficavam sabendo do que de fato estava em curso. Uma enganação geral.
Antes disso, outro mandatário, este já em outro campo de atuação no momento, foi eleito para governar a cidade por quase dez anos e por uma necessidade, acabou deixando este mesmo parlamentar em seu lugar, num mero final de semana. Foi chamado de volta às pressas, pois como medida primeira o tal havia já se beneficiado de medidas desviatórias de recursos. Desde então, nos restante período de governo, não tirou sequer mais um dia de férias, pois alertado por todos ao seu lado, se o fizesse o tal parlamentar poderia aprontar algo pior do que o que fez num só dia com o poder da caneta em suas mãos.
Teve mais com o mesmo parlamentar. Ele, pelo visto é fonte de muitas e muitas histórias. Várias delas são contadas nos corredores do poder. Dizem que, este mesmo mandatário, não tendo como se esquivar, o convoca, a contragosto, para ser o responsável pelo projeto de casas populares da localidade, tudo com verba advinda de entidades superiores. O dinheiro chegava e sob a administração do parlamentar, parte era desviada, subtraída e ia diretamente para os bolsos e contas deste. Um verdadeiro esquema de arrecadação foi montado, tudo na mais plena surdina, algo que o próprio mandatário só ouvia falar, nunca provar sua ilicitude. Infinidade de detalhes caíram na boca do povo, como quando um material tecnológico foi entregue, supostamente recebido, papelada assinada, porém nunca chegou ao seu destino. Funcionário foi até afastado e depois, como sabia demais, ficou sob as asas do parlamentar ad eternum. Um sabia muita coisa do outro, e o outro de um, laços indissolúveis.
Em Bruzundangas algo assim é natural, porém, nada é comprovado, mesmo todos sabendo e botando a mão no fogo como verdade absoluta. Tudo segue e com poucas possibilidades de tudo vir à tona. Uns dizem saber de algo mais, tanto que, num dia lá dentro do parlamento, um outro parlamentar sendo acuado pelo nosso personagem, levantou a voz e ameaçou contar algo. Não contou, pois conversaram a tempo do estrago não se concretizar. Ou seja, neste território fictício, tudo pode acontecer, menos um delatar o outro ou o fio da meada ser puxado, pois segundo contam, naquele reino, se algo acontecer a um, muitos outros cairão juntos. São anos de entrelaçamento. Em Bruzundanga tudo é possível. Por lá, existe a crença de que, nada será desvendado e tudo continuará a ocorrer sem que, nenhum padeça de punição. Um ou outro é usado como boi de piranha, até para saciar a sede de justiça existente naquele reino. Com os mais graúdos, a esbórnia nunca tem fim. E renovada a cada nova eleição, chegando outros com a mesma ou até mais voracidade. Haja cofres!
“Convém notar que, quando digo que a ânsia geral é viver fora do país, excetuo os ativos, aqueles que sugam dos ministérios subvenções, propinas, percentagens e obtêm concessões, privilégios, etc. Estes demoram-se pouco fora dele e, seja governo o partido radical, seja governo o partido conservador, esteja o erário cheio, esteja ele vazio, sabem sempre obter fartos e abundantes recursos monetários de um modo que só eles têm o segredo. Estes senhores gostam muito da Bruzundanga e são ferozes patriotas.” (outro trecho de Os bruzundangas).
«A mim o que me salvou foram os livros que li. Mas principalmente da solidão. Por exemplo, acontece muita coisa nas digressões, quando acontece algo a um avião e ficamos todos deitados em um aeroporto, que os músicos ficam desesperados, não sabem o que fazer. Mas eu, se eu tiver um bom livro, estou feliz! Os livros me acompanham, me ajudam a pensar, a viver um monte de vidas diferentes da minha. Em vez de ficar como um animal enjaulado olhando para um avião que vai partir em seis horas, eu posso estar na Roma antiga vivendo a vida de outros. Penso que esse é o único conselho que me atrevi a dar na vida: se você tem um livro, você nunca estará sozinho».
SABINA CANTA, LÊ E ESCREVE DE UM JEITO COMO ESTE HPA GOSTARIA DE FAZÊ-LO. |
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