Escrever quando perdemos não me dói. Dói mais pela imensa perda coletiva, tudo tomando um formato de difícil volta e com poucas chances, no momento, de reversão. Creio que, a dor se dá mais quando constato ter pouco tempo pela frente, para os tais enfrentamentos, ou seja, tanta coisa a ser feita e eu, minha situação, talvez não vislumbre o algo novo enquanto viver. A gente vive de esperanças e como todos, tenho as minhas. Luto por elas, ando com quem pensa e age mais ou menos conforme essa linha de pensamento e ação. Formamos um grupo e este, em algumas oportunidades vence, supera obstáculos, noutros não. Isso é da vida e sobre isso, sem problemas, me conformo.
Estive envolvido numa campanha pra vereador, onde realmente sempre acreditei, uma real possibilidade de mudança, de fazer e agir politicamente de forma diferente. Não deu. Fizemos o que nos foi possível, porém não chegamos lá. Melhor, nem chegamos perto. Decepção. Isso desanima? Em alguns momentos sim, noutros não. Este só mais um obstáculo. Olho para minha volta e as dificuldades daqui são também a de muitos outros lugares, lutas com similaridades e mesmas dificuldades. Continuarei, isso é da vida. Não quero neste momento criar mais problemas do que já os tenho, daí me contenho em espezinhar quem de fato, deveria fazê-lo. O sangue ainda está quente. Talvez mais para a frente, consiga fazer uma análise detalhada, com maior aprofundamento de tudo o que ocorreu, quem possibilitou isso tudo, quem participou da trama, que jogou para ela ser vitoriosa, por detrás dos panos ou mesmo, a descoberto, tudo exposto. Hoje, ainda não.
A vida continua. Algumas mágoas serão difíceis de esquecer e digerir. Quando pipocam vindo de um declarado adversário, não doem tanto, mas quando surgem vindo do denominado "fogo amigo", este parece doer mais. Estes momentos de conflito, de finalização de campanhas, ânimos acirrados, alguns se exaltam mais que os outros e não sei se falam mais que o devido, ou mesmo, se declaram de uma forma definitiva. De tudo o que ouvi, vi, presenciei, o que mais me doeu foi ter sido chamado, ao meu entendimento, de forma totalmente despropositada de "leviano" e logo a seguir, pela mesma pessoa ser mandado tomar naquele lugar. Nunca agiria assim com essa pessoa, mas ela o fez comigo. Talvez pensasse isso de mim desde sempre, algo incontido neste momento. Perder faz parte do jogo, perder feio ou bonito, tudo é possível, porém, quando o chumbo vem de quem não se espera, isso sim cala fundo. No mais, a luta continua, talvez muito mais difícil, porém, nada é novidade. Talvez, daqui alguns dias, escreva algo mais sobre o que ocorreu nestes dias. Agora, ainda não.
Nos reunimos com o grupo de militantes, antes da apuração dos votos, uma real vanguarda neste momento na esquerda local e comemoramos a belezura de como fizemos, construímos e realizamos essa campanha. No mais, tudo será o que sempre fizemos, luta e continuidade de uma vida com estes envolvimentos todos.
"Você pensa que nunca vai esquecer, e esquece. Você pensa que essa dor nunca vai passar, e passa. Você pensa que tudo é eterno, mas não é", Clarice Lispector.
Em 1920 nasceu no Uruguai, Mario Orlando Hardy Hamlet Brenno Benedetti Farrugiaa, mais conhecido como Mario Benedetti, jornalista e escritor pertencente à “Geração 45”. A ele devemos jóias como esta:
Não desista.
Não desista, você ainda está a tempo.
alcançar e começar de novo,
aceitar suas sombras, enterrar seus medos,
libertar o lastro, retomar o voo.
Não desista que a vida é isso,
continuar a viagem,
correr atrás dos seus sonhos,
destravar o tempo,
correr os escombros e desentupir o céu.
Não desista, por favor, não se entregue.
embora o frio queime,
mesmo que o medo morda,
mesmo que o sol se ponha e o vento se cale,
Ainda há fogo na tua alma.
Ainda há vida nos teus sonhos.
Porque a vida é sua e sua também o desejo.
Porque o amaste e porque te amo.
Porque o vinho e o amor existem, é verdade.
porque não há feridas que o tempo não cure,
abrir as portas, tirar as fechaduras,
abandonar as muralhas que te protegeram.
Viver a vida e aceitar o desafio,
recuperar o riso, ensaiar o canto,
baixar a guarda e estender as mãos.
abrir as asas e tentar de novo,
celebrar a vida e retomar os céus,
Não desista, por favor, não se entregue.
embora o frio queime,
mesmo que o medo morda,
mesmo que o sol se ponha e o vento se cale,
Ainda há fogo na tua alma.
Ainda há vida nos teus sonhos.
porque cada dia é um começo,
porque esta é a hora e a melhor hora,
Porque não estás sozinha?
Porque eu te amo.
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