HOJE FOI O AMIGO GEORGE VIDAL E AMANHÃ, QUEM SABE, ENTÃO DEIXA EU ACELERAR E APROVEITAR CADA SEGUNDOA semana se inicia com a triste notícia: faleceu GEORGE VIDAL, o músico, o maestro. George tocava tudo o que conheço de instrumento musical. Certa feita, quando ainda o estava conhecendo, ele casado com a filha de minha madrinha, eu trabalhando em Curitiba e aporto num show de uma inusitada banda, tendo como partícipes nada menos que Paulo Caruso e Luis Fernando Veríssimo. Lá no teatro famoso, eis dois bauruenses, George e sua irmã, Voluse, vocal de mão cheia. Que noite, dessas que não me sai da lembrança. Depois foram tantas outras. Sou do tempo de sua escola de música, a Clave de Sol ser aqui na Henrique Savi e por ser perto de onde passava sempre em frente, vez ou outra nos encontravámos. George era do time dos poucos que dizem me ler. Sempre que nos cruzavámos, altos papos e em todos, algo sobre sua especialidade, a boa música. Creio que, o lugar onde mais o vi tocar foi no Templo Bar, do amigo Fernando e vez ou outra com algum cantante, pois era amigo de todos e tocou também com quase todos. George possuia um jeito só seu de puxar conversa e por ali ir ficando, enroscados em papos mil.
Notícias como essa me enchem de dupla tristeza. Primeiro pela tristeza em si, que é a perda de alguém querido, alguém por quem se nutre coisa boa, depois por algo que, a cada dia me acabrunha mais e mais, a proximidade do que acabou de acontecer com ele estar cada vez mais próximo de mim - temos os mesmos 64 anos. Dias atrás foi o Zé, um que um dia cuidou dos livros da biblioteca municipal e, dizem, se foi por uma complicação de saúde, que quando aliada com tristeza interior, acaba sempre nos levando mais rapidamente do que devia. Na verdade, ambos estão muito próximos de minha idade e isso só está a demonstrar que, devo acelerar o que ando aprontando, talvez aprontando mais, com mais contundência, pois em breve não poderei mais aprontar e daí, só lembranças.
Isso de partir, de fazer a tal da travessia, de não mais estar presente é algo que, durante um bom tempo da vida passa muito pouco pela cabeça da gente, mas quando o tempo vai passando e não só as dores vão aumentando, mas também, muitos dos que conviveram contigo partem, a tristeza se acentua. Semanas atrás foi com meu amigo, destes que ia pelos trilhos até a Escolinha da Rede, anos 70, o Daniel Carbone, que há tempos estava morando lá pelos lado de São Bernardo do Campo e toda vez que por aqui passava, me procurava e eu a ele, quando pedia pouso lá na terra do automóvel e do presidente Lula. Daniel e o Zé se foram com problemas na engrenagem, algo engripado, não mais funcionando nem com renovação de lubrificagem. Me vejo assim, com as peças não se ajustando mais na carcaça e sem conseguir novas para reposição, vou me adequando com o bom e velho truque do remendo, a famosa gambiarra.
Isso mesmo, vou ao médico atualmente e ele só me propõe remendo. Na última vez, consultei um de confiança, sobre um probleminha de forno, uma tal de incontinência urinária. Esperava um santo remedinho, que me estancasse o problema, mas que nada, sabe o que o danado me sugeriu, entre risos? "Meu caro, vou te dar uma dica, quando for sair, procure sair com calça escura, pois com as claras, fica sempre marcado e todo mundo fica sabendo que urinou nas calças", me disse. É isso, fui em busca de solução e ele me receitou um paliativo. Ou seja, solução mesmo, nunca mais. Já estou me conformando com isso. Reclamar mesmo, o que me acabrunha é isso de ter que fechar a boca, pois a tentação é grande e a diabetes, como me dizem, age silenciosamente.
Eu, vejo amigos e amigas partindo, muitos da minha idade e acabrunhado, resoluto, não me entrego, mas confesso, ando um tanto combalido, preocupado. Olho para minha estante e cada vez mais livros para serem lidos e eu com uma gana incrível, querendo bater meus recordes mês, ou seja, tirar o atraso. Alguns projetos ainda não realizados e muitos, por sorte, encaminhados e no prelo, com uma gana cada dia mais inexplicável para correr e terminá-los o quanto antes. Ando assim, correndo contra o tempo. A rua, cada vez mais, me inebria e dela, se deixar, não quero mais sair, pois não sei até quando terei o privilégio de nela gastar sola de minhas alpargatas. Não reclamo de nada, mas me exponho mais, pois querendo fazer mais, a gente se desgasta, como nessa última eleição, onde me doei por inteiro, suei muito a camisa, pois além de acreditar no que fiz, vi também ali, talvez uma última chance de eleger alguém realmente compromissado com uma séria luta, a qual estive envolvido uma vida inteira.
Aldir Blanc me diz num de seus sambas, "envelheci, mas continuo em exposição, a ex-mulher me chama de sardinha de balcão...", ou seja, continuo por aí nas paradas de sucesso, aprontando das minhas, cavando brechas, possibilidades e tentando ainda, mesmo com forças reduzidas, ser, fazer e acontecer. A vida para mim é essa e ploft, acabou, não existe outra possibilidade, outra chance, daí tento aproveitá-la ao máximo e como ainda tenho um gás, gasto a exaustão. A vida é assim mesmo, hoje foi o querido George quem me fez dar um breque em tudo, sentar a bunda na cadeira e escrevinhar isso tudo, de uma só sentada, sem muita reflexão, despejando no papel, o que minha mente pede para ganhar vida própria. Hoje, o George e todos os queridos amigos, tristes e amanhã outro dia, daí deixa eu rosetar até não mais poder, pois não saberei até quando isso me será possível.
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