quinta-feira, 31 de outubro de 2024


JOSÉ GENOÍNO PASSOU RAPIDAMENTE POR BAURU E FUI VÊ-LO, OUVIR O QUE TEM PRA NOS DIZER
JOSÉ GENOÍNO é um dos raros políticos autênticos, pelos quais ainda coloco a mão no fogo. O danado não se desviou de seus princípios e continua como dantes, honesto e perseguindo seu ideal, o de que um outro mundo ainda nos é possível. Esteve em Bauru à convite do curso de Jornalismo da Unesp Bauru. Numa quarta, 30/10, 9h da manhã, sala cheia, ele foi convidado a falar sobre os efeitos do Golpe de 64 e de todos os demais sob os costados dos brasileiros, enfim, "Cicatrizes do Golpe sob o olhar de um sobrevivente". Estiveram na universidade bauruense sob coordenação dos professores Tarcila Lima e Jefferson Goulart. Por quase uma hora falou e para surpresa geral, principalmente junto aos estudantes presentes, estes se mantiveram longe dos celulares e atentos. Ou seja, existe como prender a atenção destes e poucos ainda conseguem fazê-lo. Vi Genoíno conseguindo e de tudo o que ouvi e anotei, repasso algo, além de um áudio com a parte final de sua fala:

"A memória interfere no presente. Não posso desvincular o golpe de 64 com o ocorrido no 8 de janeiro. O Brasil possui encruzilhadas históricas, começando em 30, sendo quase sempre resolvidas de forma autoritária. Uma saída autoritária sufocada pela história da invisibilidade. Toda vez que tentaram uma ruptura democrática, o golpe se impôs, sempre pela força. A dominação política sempre foi violenta. Ou a esquerda se domesticava ou era eliminada, esse o dilema. Daí a importância da memória, ela é subversiva.Nela, o passado estará sempre presente.

Um país que busca resgatar sua identidade precisa estarsempre atento. Na minha geração, a juventude viveu intensamente o processo revolucionário. Tínhamos três opções, nenhuma outra. Era ir para casa e aguardar ser preso, ir para o exílio ou resistir e lutar. O movimento onde estive inserido, primeiro clandestinamente e depois anistiado, esse meu caminho, meu destino é o de lutar por uma sociedade libertária. Caminhei no fio da navalha, junto de minha geração. Chegamos ao poder com Lula, fizemos muito, porém nos esquecemos de conquistar a cabeça das pessoas. Pagamos o preço.

Com a classe dominante brasileira não tem papo, ela nos rejeita, nos conhece e não quer que façamos nada pelo povo. O capitalismo não foi feito para salvar o povo, mas o capital, os bancos, os especuladores. O processo histórico é crucial para vermos como caminhamos. O PT é uma experiência histórica de 40 anos e daí, a pergunta, por que o PT é rejeitado? Simplesmente por defender os de baixo. Aqui as mudanças são para que nada mude. O Governo Lula vive um dilema, numa luta contra o credo neoliberal. Hoje, a classe trabalhadora fundadora do PT não existe mais. O futuro está interditado, era lindo, mas hoje é uma sombra escura. A História é o instrumento para a luta pela transformação, essa que luto e lutaremos uma vida inteira".

Eis a gravação, feita por mim, do final dessa fala: https://www.facebook.com/100000600555767/videos/487036704385950/

Após a fala, começam as perguntas. Não as anotei, mas sim, as respostas dadas por ele. Os assuntos e temas variam, se alternam, nada prejudicando o entendimento: "Toda vez que a esquerda namorou com a toga, batina ou farda, não se deu bem. Eu acato, aceito, confirmo algumas decisões dos de toga, mas sei muito bem o que fizeram contra Lula. (...) Não está tudo bem com o PT. Para enfrentar esse porão se faz necessário uma luta de reconcientização, renovar as experiências de raize se unir. Onde o PT enfrentou o poder constituído ele foi para o 2º Turno e onde se omitiu, perdeu feio. Há uma potência ainda não explorada, temos que trabalhar melhor o mundo. Meu papel hoje é vijar o país inteiro, sou um militante. (...) O sistema quer que pensemos como ele, sempre pelo consentimento. E precisamos do contrário, do enfrentamento. A mídia corporativa é dominada pelo sistema corporativo. A religião deeve ser a lei da consciência, não a do dinheiro, da dominação. Estamos vivendo um risco muito grande. Estamos pisando num solo quente. Temos que enfrentar e não recuar, se omitir ou se aliar com quem sabemos é contra o Brasil livre.

Nosso sistema eleitoral é oligárquico, controla o poder, a mente das pessoas. O Lula devia dar mais importância ao BRICs do que o G20. Se você não tem sua região controlada, sem conteciosos, um problema. Integração é passo importante. O mundo caminha para um conflito em escala mundial, com emergência climática, fome, pandemia e guerras. Ou a esquerda luta e combate ou morre junto, pois o sistema está podre. A esquerda não pode ficar quieta. Querer ganhar votos cedendo é um erro. Eles todos sabem quem somos e de nada adiantará pegar leve. A esquerda tem que ser protagonista, porque temos história e essa nos autoriza a lutar de cabeça erguida. 

Lula tem que dar certo. Se ele der errado, sai de baixo. Não temos, não existe outro caminho. Não proponho reformas, luto por marcar posição e enfrentar. (...) Educação e direitos essenciais não podem ser submetidos ao lucro. Você só conserta o que ocorre na Educação se dialogar com quem nela se encontra. A extrema-direita veio para ficar, ela é encubada na crise do neoliberalismo. A esquerda não pode se afastar dos deserdados da terra e do emprego. Para ganhar a nova classe trabalhadora precisa elaborar novo discurso, fazer fóruns permanentes em comum. O neoliberalismo só aprofunda a crise e as cidades são o pqalco da tragédia social. Impossível governar uma cidade só com prefeito e vereadores. Ganhar a sujetividade das pessoas, a esquerda precisa caminhar junto das pessoas, fazer um discuso com nova nomenclatura.(...) A felicidade individual não muda nada, pois é a negação de qualquer perspectiva. O outro é que é fundamental. Os jovens são educados cada vez mais para competir entre si. O PT abriu mão da formação política, criar um ambiente saudável para que as ideias floresçam. Destronando a política, criminalizando a sociedade, isso faz o cidadão se afastar cada vez mais da política. Quando o cidadão nega, ele se abstém de tudo. 

Defendo a política enquanto autonomia do sujeito. Fazer política é a maneira de viver na sociedade. O mesmo que se abstém hoje da política, pode muito bem, amanhã apoiar um golpe. A não política leva as pessoas a acreditar numa enganação. Votar, participar e sugerir, eis o que devemos fazer. A formação política deve ser algo bem amplo, com experiências programadas. Hoje somos assaltados pela informação e não pelo conhecimento. Tento em cada oportunidade, trazer otimismo para as pessoas. E a universidade deve sempre, ir além da sala de aula". 

Anotei tudo o que consegui e aqui, só agora, um dia depois, consigo sentar e decupar, passar aqui no formato de publicação, passando adiante algo que, acredito, possa interessar a muita gente. De Genoíno, algo mais. Ele na chegada foi abordado pelo Amantini, na TV Preve com solicitação de entrevista. Pergunta para o jornalista em qual ógão trabalha, se era algum hegemônico. Com a resposta de ser imprensa regional, amplo espaço para o outro lado das questões, dá a entrevista. Todos os sensatos deveriam agir assim, não mais falar com quem mente nos apunhala a todo instante. 

Encerro com um "lutar é preciso".

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