sábado, 16 de novembro de 2013

BAURU POR AÍ (93)


ZANELLO E O CASO DO VELHINHO PERDIDO ENTRE BROTAS E FOZ DO IGUAÇU
Eu, como já informado ontem CAI NA ESTRADA, foragido por antecipação das garras justiceiras joaquinianas, afinal ninguém sabe ao certo o que poderá acontecer aos eternos descontentes de plantão, categoria na qual me incluo. Algo me aconteceu momentos antes da partida e aqui as relato. ZANELLO é um fotógrafo free-lance em Bauru, atua junto da periferia da cidade, potencial de sua clientela. Tira fotos em eventos, festividades variadas e tudo o mais que pintar pela frente. Assim vai formando o ajuntamento que no final do mês lhe dará o provimento para sua sobrevivência. Gosta por de mais da conta de moda de viola, já tendo atuado em alguns programas de rádio, todos voltados para o segmento sertanejo raiz. Toda quarta na parte da tarde, toca e canta graciosamente na famosa novena na paróquia do Santuário Nossa Senhora Aparecida, um que ferve a região e lota todo o seu entorno. Zanello gosta de se doar para os demais, um ser sensível, que trabalha com e junto com os menos desprovidos. Não sabe nem cobrar direito e o faz quase gratuitamente quando percebe que a situação do contratante está mais periclitante que a sua.

Nos encontramos na cidade essa semana e queria que fosse conhecer umas famílias, descobertas por ele ao acaso, enganadas por um suposto empregador, que as trouxe para Bauru na esperança de emprego e hoje estão abandonadas na rua, vivendo de esmolas, enquanto que o dito empregador não está nem aí. Não deu tempo de irmos conhecer a situação desses, o feriado chegou e eu escapuli. O que deu tempo foi dele me contar uma historinha, dentre tantas ocorrendo com ele pelos seus dias afora. Essa ele me conta e no fim, vejo seus olhos marejados, cheios de sentidas lágrimas, próprias de quem respeita o seu semelhante e mesmo estando com uma situação não lá muito boa, encontra um jeitinho de ajudar o seu semelhante e de dividir o pouco que possui com gente em pior situação que a sua. É de gente assim que me aproximo cada vez mais.

Ali na praça Washington Luiz, a do Santuário coisa de um ano e pouco atrás se deparou com um senhor, lá pelos 75 anos, sozinho e lhe abordando em busca de alguma coisa para comer. Lembrou-se do seu pai e parou para ouvir a história do velhinho. Disse-lhe que estava vindo de Brotas, onde morava um dos filhos e estava à caminho de Foz de Iguaçu, onde queria muito visitar um outro, cujo neto era recém nascido e ainda não o conhecia. Sua mente só conseguia pensar no novo neto e no caminho viu-se sem dinheiro, com fome,perdido, sem eira nem beira. Zanello arrumou um canto para ele junto da igreja, forrou tudo com papelão, revestiu do lado e foi comprar algo para ele comer. Nisso foi matutando sobre a história de Brotas e quando voltou, quase noite, perguntou sobre o tal filho em Foz e nem o endereço tinha, disse saber chegar quando na rodoviária da cidade. Pensava em como resolver a situação.

Na manhã seguinte levou-lhe o café da manhã e conseguiu mais, o telefone de Brotas. Ligou e do outro lado, para sua surpresa um filho desesperado já dando o pai como perdido. Ele havia sumido sem deixar rastros e quando ouve a história sobre Foz, vem buscar o pai de imediato. Larga o trabalho e dispara no caminho para Bauru. Zanello vai até o PoupaTempo e consegue junto de uma assistente social, um local seguro para o homem ficar até a chegada do filho. Fez tudo isso, mas não pode esperar o reencontro, o trabalho o fazia ir para outros cantos. Quem lhe conta como isso ocorreu foi um segurança do lugar, que lhe diz que o pai quando viu o filho, leva um susto e diz que não era ele que queria naquele momento e sim, ver o outro. Por fim, promessas de que daria um jeito de levá-lo para lá e voltaram juntos para Brotas. Zanello me conta isso tudo meio que em lágrimas, dizendo que em certos momentos pensa em desistir de tudo, das durezas dessa vida, mas sempre essas histórias se renovam em sua mente e acaba buscando forças para continuar navegando e navegando. Trocamos um forte abraço na calçada defronte minha casa e ele sai em desabalada carreira para atender um chamado da esposa. Sua moto se afasta dali e fico matutando que a maioria dos meus sinceros amigos são todos um pouco como o Zanello. São pessoas especialíssimas para mim e para mundo, mesmo que não saibam direito disso.

2 comentários:

Anônimo disse...

Grande Zanelo (acho que é com um "l" só)

Ouvia ele todos os domingos nos comentários do programa do Germanito na Bandeirantes AM.

Ele, se não sabem, foi um dos violeiros bauruenses que já se apresentou na Virada Cultural de Bauru.

Tem muita história para contar, não só de suas andanças com a viola debaixo do braço, mas também com a máquina fotográfica pendurada no pescoço.

Eis aí um bom motivo para um escrito caprichado, o dos fotógrafos iguais a ele, vivendo dos pequenos serviços, pingados aqui e ali.

Daria uma bela história.

Ele merece e não pode desistir nunca.

André Ramos

Mafuá do HPA disse...

caro André
A sua resposta ao meu escrito me deu uma grande idéia, repassada para Ana Bia, minha cara metade. perguntei a ela se Zanelloo não daria um belo exemplo de vida aos seus alunos de fotografia, levando a eles sua experiência de como aprendeu quase sózinho a manusear as máquinas fotográficas e de onde consegue ainda tirar o seu sustento com pequenos serviços contratados aqui e ali na periferia da cidade. Como é o dia a dia de uma pessoa como ele, que se vira para ir cavando pequenos serviços e de pouco em pouco ir revelando fotos aqui e ali e formatando seu sustento. Ela achou boa a idéia e o convidou para dar uma aula aos seus alunos e isso já deve acontecer amanhã, terça em dois horários, pela manhã e à noite. é o Zanello, o fotógrafo da periferia de Bauru ocupando um espaço que ainda não conhecia, o da universidade. Depois conto mais disso. E tudo nasceu de tua resposta, caro André.

henrique - direto do mafuá