terça-feira, 26 de novembro de 2013

CARTAS (114)


SOBRE O “DIGNIDADE SAQUEADA”
Texto desse HPA na Tribuna do Leitor do Jornal da Cidade – Bauru SP, edição de hoje, 26.11.2013. Ele sai publicado após a leitura ontem, 25.11.2013, no caderno Segunda-Feira do mesmo jornal, a crônica semanal do jornalista João Jabbour, com o título de ‘Dignidade Saqueada’ (http://www.segundafeira.com.br/flip/Edicoes/00218%3D25-11-2013/03.PDF). Não leia o meu sem antes ler o do Jabbour. O meu começa no parágrafo abaixo: 

João Jabbour tem várias responsabilidades e missões dentro do JC. Uma delas, diria ser a mais nobre, além até da de ser o Gerente de Produtos Editoriais, é a de acolher e ver como possam ser publicadas as cartas dos leitores, temas variados, proposituras com diversas abordagens. Tenta direcionar tudo com uma limitação de toques e dificilmente rejeita temas. Percebo que não permite que as discussões se prolonguem ad eternum, enfadonhas e briguinhas pessoais. No mais, o pau come, pois tudo hoje na imprensa deve mesmo ser regido por um lema explicitado certa vez por Vicente Matheus, um filósofo que foi presidente do Corinthians Paulista: “Quem entra na chuva é para se queimar”. Escreveu e publicou, daí por diante, tudo pode vir na sequência, desde elogios, concordâncias, discordâncias, admoestações e até algo mais ácido. Tudo dentro da mais absoluta normalidade.

De uns tempos para cá, esse sempre atento jornalista (iria escrever vetusto, mas achei que ele poderia ficar magoado) deu de escrever crônicas na página principal do jornal Segunda-Feira. Confesso residir ali, pelo menos para mim, a parte mais saborosa daquele suplemento. Tem inovado, buscado algo, que vejo como uma espécie de continuidade do que os leitores fazem na Tribuna do Leitor. Ontem, 25/11, publicou sua crônica semanal e fiquei com vontade de apunhalá-lo pelas costas, e por um simples motivo. Jabbour resumiu no seu texto o que estava escrevinhando (‘roubou’ minha pauta), mais ou menos com a mesma abordagem, pouca coisa diferente. Ele foi na mosca e soube retratar algo, tanto de nossas pequenas cidades, como do mundo atual num todo, o deliberado saque ocorrido em todo e qualquer acidente com cargas espalhadas pelas rodovias, culminando com esse na vizinha Espírito Santo do Turvo, quando o derrame de dinheiro pela rua foi rapidamente recolhido por populares. A tocaia que havia lhe preparado será desmontada se ele estiver predisposto a publicar mais essa minha missiva no JC. Então vamos a ela.

A vertente pela qual enxergo a questão foge da dele num só ponto. O que vemos nesses momentos, raras oportunidades onde o homem comum pode se apropriar de um algo mais é bem o tipo de consciência estabelecida pela sociedade onde vivemos. No mundo do capital, onde uns poucos podem ter tudo e a maioria, mesmo vendo tudo diante dos seus olhos, tudo sendo lhe oferecido, mas pouco podendo consumir, fica endoidecida diante de tanta oferta. A consciência meramente consumista do mundo moderno (sic) leva tudo e todos para um só caminho: o dinheiro. Os livros de autoajuda, o pregado pelos religiosos indica que a salvação é feita pelo ter, o possuir. A felicidade lhe sorri quando com dinheiro no bolso. Todas as demonstrações convergem para isso. Tudo é consumismo, a maioria dos pedidos aos deuses do além hoje são por algo envolvendo grana. O bem-estar está mais do que associado a ter, ter e ter. De vez em quando me pergunto: por que não pedimos por sexo? Isso mesmo.

Ao invés de grana poderíamos pedir por eliminarmos a ejaculação precoce, pelo orgasmo em conjunto, pelo fim da frigidez humana, saúde e bonança sexual, etc. Não, pedimos sempre pela condição material, buscando o ter mais e mais. Ninguém se contenta em ter uma TV com meros dez canais, sendo necessário uma de cem, mesmo que a maioria nunca sequer sejam vistos. Tudo é condicionado. Esse período do ano é ótimo para compreendermos isso. O comércio aberto até as 22 horas é uma verdadeira loucura, todos malucos por comprar. Essa a mentalidade.

A saída eu só enxergo numa caminho: conter essas ideias. Parar de discutir banalidades, de dar importância desmedida para o dinheiro e mais para o ser humano. Até hoje vejo gente dizendo não entender como os médicos cubanos podem trabalhar por tão pouco, enquanto os daqui brigam sempre por mais e mais e tudo fazem por isso. Não existe caso de corrupção que não seja pelo dinheiro e para o dinheiro. Quando um vereador diz em alto e bom som que “médico não trabalha por mixaria”, ele vive nessa sintonia. Todos os golpes são com a finalidade de amealhar mais e mais. Num mundo onde o ser humano pudesse ser mais valorizado, isso iria se dissipando naturalmente. Léo Jaime cantarola algo singular no refrão de uma de suas letras, “o problema é o regime/ que não dá satisfação”. Não o alimentar, mas o político. É quase um insulto você querer viver hoje sem dar importância ao dinheiro.

O correr atrás do seu, do que é do outro, junto com o outro, disputando o mesmo espaço que o outro, gera loucuras na cabeça das pessoas. Por causa disso tudo, noto que o correto mesmo e o mais acertado é ser politicamente incorreto. Precisamos desendinheirar nossas vidas e Jabbour pegou o espírito da coisa. Que isso possa contaminar a todos (as), pois daí depende a salvação do homo sapiens. Ou não é nada disso? 

3 comentários:

Anônimo disse...

Ótimo texto Hernrique para o Jornal da Cidade de hoje. Vou escrever outro em cima, sobre dinheiro e poder.

Abraços, GUTO GUEDES.Leiam todos, no caderno Brasil de hoje!

Anônimo disse...

Henrique

Você sonha acordado.

Com todo o incentivo que recebemos no dia a dia para tudo ter dinheiro no meio, lá vem você com essa idéia amalucada para desendinheiramos o mundo. O paraíso seria aqui se isso acontecesse, mas com todo esse consumismo embutido goela abaixo de todos, a cegueira já é mais do que do domínio público.
Essa geração e algumas seguintes já estão perdidas.

Andrè Ramos

Anônimo disse...

Henrique

Você sonha acordado.

Com todo o incentivo que recebemos no dia a dia para tudo ter dinheiro no meio, lá vem você com essa idéia amalucada para desendinheiramos o mundo. O paraíso seria aqui se isso acontecesse, mas com todo esse consumismo embutido goela abaixo de todos, a cegueira já é mais do que do domínio público.
Essa geração e algumas seguintes já estão perdidas.

Andrè Ramos