sexta-feira, 5 de maio de 2017

FRASE (155)


MUJICA ME FAZ PENSAR DOS VÍCIOS DA MEIA IDADE - DECLARO OS MEUS

Hoje pela manhã o ex-presidente do Uruguai, JOSÉ MUJICA, que está em São Paulo, primeiro para um Encontro com Leitores da revista Carta Capital e depois, agora à tarde, para Encontro do PT, respondendo uma pergunta sobre a liberação da maconha no seu período como mandatário do país vizinho, entre outras coisas, embutido no meio da resposta, algo assim: “Não que eu goste, sabe, depois de certa idade nossos vícios são outros”.

Um sujeito muito bem humorado, desses poucos sabendo exatamente o que quer e daqueles que, deve ser um encanto quando numa conversa informal. Desfere tiradas de entornar o caldo. Só por essa, dentre outras tantas, me fez parar, primeiro para uma boa risada, depois para refletir sobre o que viria a ser esses tais vícios adquiridos já com certa idade. Ponho-me a pensar sobre isso. Maconha, quem nunca provou que levante a mão? Vejo poucos ainda sem coragem para assumir ter provado, curtido, consumido e pelo visto, nenhum dentre todos os que levantaram a mão estão perdidos pela aí, desorientados e sem rumo. Ou seja, não é a tal erva a causadora da descompostura humana. Eu, como a imensa maioria dos seres deste mundo, já provei. Não me encantei. Prefiro drogas outras. Não fumo, mas bebo. Uma cervejinha e só, nem vinho tomo, muito menos destilados. Fico na cevada e, confesso meio que envergonhado, ainda tomo coca cola. Maldito vício por refrigerantes. Hoje mesmo no almoço fora de casa, tasquei uma para dentro e rosnei, ou seja, dei aquele arroto ao final. Como me dizem, se desentope pia, deve ter um efeito devastador dentro do ser humano, muito maior do que o provocado pela cerveja.

Vício mesmo tenho por acumular papéis aqui pelos lados do mafuá. Revistas, publicações pelas quais morro de amores. Não só as leio como junto, guardo e mesmo sabendo que, na maioria das vezes, nunca mais as folhearei, elas continuam por aqui, ocupando espaço, empilhadas e bem guardadas, servindo também de moradia para cupins e seus afilhados. Só de vê-las, sentir o cheiro e manusear a qualquer instante, dá uma sensação de, um dia ainda voltar a viajar por suas páginas. Na sala, duas estantes estão forradas de livros (o que sobraram de trinta anos juntando e se desfazendo) e, confesso, a maioria não os li (os mais velhos perdi ao longo do tempo). Muitos comprei com esse intuito, ainda adiados, mas nunca abandonados. Continuam por aqui, numa interminável fila. Só de vê-los, saber estarem próximos de mim, bate um alento. Quando sem nada para fazer, deito no sofá, escolho um, entro em uma página qualquer de uma conhecido autor e o deslumbre. Puro vício. Daí até começo a ler, depois paro, começo outro, prazer inenarrável e interminável. Coleciono LPs e CDs, a maioria de MPB. Tenho aos borbotões e passo intermináveis horas escolhendo o que ouvir. Hoje mesmo, com a morte do Almir Guineto, ele rola aqui na minha vitrolinha.

Que outros, hem? A feira dominical pode ser considerado um deles. E o faço motivado por algo incontrolável, a movimentar pernas e braços na direção de amigos. Sei que os encontrarei para o bate papo. Ter amigos fiéis, desses pelos quais ainda posso me abrir, contar coisas secretas, desfrutar de conselhos, pedir algo quando no aperto e também fazer o contrário é louvável. Estar com eles, seja no bloco do Tomate, nas festas no mafuá e afins, nas viagens junto de Ana Bia, nas escapulidas noturnicas pelos bares da vida, tudo isso não tem preço e ocorrem na imensa maioria das vezes para rever pessoas. Perambulo pela aí com minha maquineta fotográfica debaixo do braço e a registrar tudo, cenas desta cidade, suas pessoas, mais as do Lado B e assim falo e escrevo disso tudo. Escrever também é um belo vício, uma necessidade vinda lá do fundo, arrebatadora. Nem sempre o faço com algo aproveitável, mas existe dentro de mim a necessidade de despejar isso para fora. Daí, ando sempre munido de um caderninho, onde anoto meus temas, pois assim como surgem, para esquecer é um pulo. E rabisco meus livros todos, tornando-os imprestáveis para os demais, pois grifo com caneta marca texto, um por um. Os em branco são os não lidos.

Enfim, como poderia muito bem ouvir do Mujica, o que me motivou a escrever isso tudo são “coisas de velho”. Poderia também fazer algumas citações de minhas perversões sexuais, mas elas não considero vícios e sim, transgressões, algo que todo ser humano normal deve ter, manter, praticar, exercitar e colocar, sempre que possível em execução. Viver na carolice, tô fora!

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