quarta-feira, 31 de maio de 2017

FRASES DE UM LIVRO LIDO (115)


COMO ENTENDER O “POVO BRASILEIRO”: LIVRO DE DARCY RIBEIRO REFLETE O ONTEM, O HOJE E O AMANHÃ - EU QUERO DEMAIS CONSEGUIR ENTENDER ESSE MEU PAÍS...

Comecem por aqui: https://www.youtube.com/watch?v=wfCpd4ibH3c

Darcy Ribeiro foi um dos que passou uma vida inteira tentando decifrar e entender algo desse emaranhado, embaralhado, conturbado e quase indecifrável povo brasileiro. De seus escritos algo grandioso para entender no que desembocamos nos dias de hoje. Eu, com muito menos capacidade, tento ler e entender só um bocadinho, até para ver como devo agir no hoje e no amanhã. Se devo insistir ou se devo desistir de vez e ir plantar batatas pela aí. Juntei meia dúzia de frases, algumas do começo de um livro mais do que instigante, desses que deve estar na cabeceira de todos querendo entender dos meandros desse nosso país, o “O Povo Brasileiro” (Cia de Bolso, 11ª reimpressão, 2012, 341 páginas, lançado em 1995). Na contracapa uma pergunta mais do que instigante: “Por que o Brasil ainda não deu certo?” e depois essa outra, muito triste, “por mais de uma vez, a classe dominante nos vencia”. Com trinta anos de estudo, Darcy tenta responder, mas na verdade se vivo fosse, talvez repensasse muita coisa. Sintam a força das frases escritas com profundo conhecimento de causa:

- “...um novo gênero humano diferente de quantos existam”.
- “Povo novo, ainda, porque é um novo modelo de estruturação societária, que inaugura uma forma singular de organização socioeconômica, fundada num tipo renovado de escravismo e numa servidão continuada ao mercado mundial. Novo, inclusive pela inverossímil alegria e espantosa vontade de felicidade, num povo tão sacrificado, que alenta e comove todos os brasileiros”.
- “O que tenham os brasileiros de singular em relação aos portugueses decorre das qualidades diferenciadoras oriundas de suas matrizes indígenas e africanas; da proporção particular em que elas se congregaram no Brasil; das condições ambientais que enfrentaram aqui e, ainda, da natureza dos objetivos de produção que as engajou e reuniu”.
- “...os brasileiros se sabem, se sentem e se comportam como uma só gente, pertencente a uma mesma etnia”.
- “...o Brasil é uma etnia nacional, um povo-nação, assentado num território próprio e enquadrado dentro de um mesmo Estado para nele viver seu destino”.
- “Subjacente à uniformidade cultural brasileira, esconde-se uma profunda distância social, gerada pelo tipo de estratificação que o próprio processo de formação nacional produziu. O antagonismo classista que corresponde a toda estratificação social a que se exacerba, para opor uma estreitíssima camada privilegiada ao grosso da população, fazendo as distâncias sociais mais intransponíveis que as diferenças raciais”.
- “Surge da concentração de uma força de trabalho escrava, recrutada para servir a propósitos mercantis alheios a ela, através de processos tão violentos de ordenação e repressão que constituíram, de fato, um continuado genocídio e um etnocídio implacável”.
- “...as elites dirigentes, primeiro lusitanas, depois luso-brasileiras e, afinal, brasileiras, viveram sempre e vivem ainda sob o pavor pânico do alçamento das classes oprimidas. Boa expressão desse pavor pânico é a brutalidade repressiva contra qualquer insurgência e a predisposição autoritária do poder central,que não admite qualquer alteração da ordem vigente”.
- “A estratificação social separa e opõe, assim, os brasileiros ricos e remediados dos pobres, e todos eles dos miseráveis, mais do que corresponde habitualmente a esses antagonismos”.
- “O espantoso é que os brasileiros, orgulhosos de sua tão proclamada, como falsa, ‘democracia racial’, raramente percebem os profundos abismos que aqui separam os estratos sociais”.
- “O povo-massa, sofrido e perplexo, vê a ordem social como um sistema sagrado eu privilegia uma minoria contemplada por Deus, à qual tudo é consentido e concedido. Inclusive o dom de serem, às vezes, dadivosos, mas sempre frios e perversos e, invariavelmente, imprevisíveis”.
- “Esse risco sempre presente é que explica a preocupação obsessiva que tiveram as classes dominantes pela manutenção da ordem. Sintoma peremptório deque elas sabem muito bem que isso pode suceder, caso se abram as válvulas de contenção”.
- “O povo brasileiro pagou, historicamente, um preço terrivelmente alto em lutas das mais cruentas de que se tem registro na história, sem conseguir sair, através delas, da situação de dependência e opressão em que se vive e peleja”.
- “O povo inteiro, de vastas regiões, às centenas de ilhares, foi também sangrado em contrarrevoluções sem conseguir jamais, senão episodicamente, conquistar o comando de seu destino, para reorientar o curso da história”.
- “...nunca faltou aqui, até excedeu, o apelo à violência pela classe dominante como arma fundamental da construção da história. O que faltou, sempre, foi espaço para movimentos sociais capazes de promover sua reversão”.
- “Cada vez que um político nacionalista ou populista se encaminha para a revisão da institucionalidade, as classes dominantes apelam para a repressão e a força”.
- “...só temos o testemunho de um dos protagonistas, o invasor. Ele é quem nos fala de suas façanhas. É ele, também, quem relata o que sucedeu aos índios e aos negros, raramente lhes dando a palavra de registro de suas próprias falas. O que a documentação copiosíssima nos conta é a versão do dominador. Lendo-a criticamente, é que me esforçarei para alcançar a necessária compreensão dessa desventurada aventura”.
- “Nosso destino é nos unificarmos com todos os latino-americanos por nossa oposição comum ao mesmo antagonista, que é a América anglo-saxônica, para fundarmos, tal como ocorre na comunidade europeia, a Nação Latino-Americana sonhada por Bolívar. Hoje, somos 500 milhões, amanhã seremos 1 bilhão. Vale dizer, um contingente humano com magnitude suficiente para encarnar a latinidade em face dos blocos chineses, eslavos, árabes e neobritânicos da humanidade futura”.

Queria poder passar o que me resta de vida lendo DARCY RIBEIRO. Ah, se conseguisse escrever e entender coisas para mim tão difíceis e tão fáceis para ele. Estudar é preciso, mais e mais, mas como ele mesmo certa vez disse: "Não fiquem lendo muito. Vivam, namorem. A natureza nos deu órgãos maravilhosos para comer, cheirar, amar. É gostoso".

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