domingo, 9 de maio de 2021

CHARGE ESCOLHIDA A DEDO (170)


TORCENDO SEMPRE PELOS NA RABEIRA DA TABELA
Neste momento mais do que aflitivo do país, sei ser um disparate eu ficar aqui versando sobre futebol, mas gosto deste esporte. Torço muito pelo time aqui de minha aldeia, o glorioso e centenário Noroeste e depois pelo Corinthians. Vejo quando posso e jogos me atraem para diante da TV. Vasculho de tudo e acabo me interessando mais por jogos de campeonatos ditos como inferiores, o das divisões de baixo e tenho presenciado bons jogos. Hoje, domingo, dia consagrado desde muito tempo para prática do futebol, escolhi um jogo para acompanhar e ele é dos mais periclitantes. O também glorioso Santos Futebol Clube está em vias de ser rebaixado da divisão principal do futebol paulista e seu jogo decisivo é hoje, domingo, 09/05, 16h. Com um empate ele escapa e pelo que li é a pior campanha do clube em quase cem anos de existência. O Santos nunca foi rebaixado no campeonato paulista e creio, tem boas chances de escapar. Fez seu último jogo, também de vida ou morte pela libertadores e massacrou o adversário, um time boliviano por 5 x 0. Hoje, mesmo com toda pressão, ele deve se safar e o chato disso tudo é que seu adversário, o São Bento, da cidade de Sorocaba, time do coração de meu amigo Paulo Betti, também na corda bamba e com maiores chances de ser degolado. Queria tanto ver o Santos escapar e o São Bento também, mas creio que, com um empate ele não sobreviverá. Na verdade, ambos os times fizeram pífia campanha e agora, na última rodada para eles, ambos sujeitos à degola por culpa deles mesmos. Não fizeram o dever de casa e penam feio. Esse é o único jogo de futebol que estarei predisposto a assistir hoje, nada mais de futebol. Sempre que posso estarei torcendo e muito por estes, os da rabeira. Por jogos assim, como hoje, esqueço dos demais e nem sei com quem o Corinthians joga no dia. No mais passo o dia lendo e tentando me inteirar de outros assuntos mais candentes. Abracitos para os, como eu, ainda amantes do futebol. Hoje queria mesmo estar envolvido num ato revolucionário, mas pelo visto, me resta sentar na poltrona e roer as unhas por uma partida de futebol.
https://terceirotempo.uol.com.br/.../vejo-o-que-o-santos...
OBS.: O Santos ganhou o jogo por 2 x 0, escapou da degola, o São Bento caiu...

ATÉ NO FUTEBOL, OU MELHOR, INCLUSIVE NO FUTEBOL
Outro dia estava assistindo um jogo justamente do Santos, estava numa melhor fase da de hoje, quando quase foi para a segundona do Paulista. Falávamos da jovem revelação, um menino de 16 anos, fazendo gols maravilhosos e foi quando surgiu na conversa o que se passa nos vestiários antes e depois do jogo. "Tá ficando tudo dominado, é oração pra tudo quanto é lado, meninos mal começando e já dominados e um clima pesado para os que não professam nenhuma religião, ou seja, os religiosos pressionam e deixam apartados os que não estão na mesma deles", me disse o amigo. "Preste atenção nesse garoto aí mesmo, os sinais que ele faz e as falas depois dos jogos, nas entrevistas, aquela ladainha de doer os ouvidos", concluiu.

Fui conferir e constatei que o domínio hoje é esse mesmo. Outro dia num jogo do Palmeiras fiquei prestando a atenção no goleiro deles e antes e depois do jogo, não é só os gestos que a gente estava acostumado a ver antes. Existe um exagero hoje, algo perigoso. Fui ouvir sua fala pra uma TV e quase cai de quatro, o cara usou a maior parte do tempo para louvar, louvar e louvar. Não é pra menos que, num jogo de Copa do mundo, um técnico de um país europeu disse que o jogador brasileiro está perdendo espaço no mundo, não por suas qualidades, mas pelo excesso de religiosidade, que os tornam desligados de certas atividades e só pensando naquilo, "muito bitolados", foi o que disse.

Eu tenho a mais absoluta certeza de que tudo o que é feito em excesso é mais do que ruim e, infelizmente, hoje mais do que perceptível, infelizmente o fanatismo está se dissimulando de forma a ocupar muito espaço. Sei isso não ocorrer somente no futebol. Semana passada na Câmara de Vereadores de Bauru, quando deram a palavra para um vereador pastor começar sua fala de dez minutos, ele pelo menos fez uso de uns três minutos para louvar, agradecer, enaltecer, propagar e só depois usou seu tempo para dizer de fato do motivo de fazer uso da tribuna. Quando meu amigo me disse do que acontece nos vestiários, penso na reunião antes e depois dos jogos, algo como se ali fosse um templo e não local para a prática do esporte. Na TV, quando das entrevistas de muitos atletas, percebo jornalistas tentando não dar atenção, mas antes mesmo deles começarem a falar, a ladainha é sempre a mesma. Acredito que um mundo dominado por isso, tudo nos costados da religião, gente mais do que dominada por isso, todos perdemos coletivamente. Enfim, fanatismo é uma nhaca e este país, quer queiram ou não, está no fundo do poço já muito por causa dessa desmedida veneração.

A MODERNA ESCRAVIDÃO HUMANA
Eu ando estudando com mais afinco e dedicação o que se passa em algumas cidades pequenas no entorno de Bauru e numa delas, uma relação empregatícia explícita de “nova escravidão”. De nova não tem nada, o que ocorre hoje é bem simples, com Bolsonaro as relações trabalhistas se deterioraram e o empregador virou um rei, o dono do pedaço, manda prender e soltar. Sendo o único que dá emprego, coitado dos empregados, pois sem fiscalização, o patrão faz o que quer e como a maioria destes só pensa em acumular, se enriquecer mais e mais, pagam o que querem, como querem e até mesmo quando querem. Tem algo velado de perversidade, pura malvadeza, verniz de algo legal, dentro da lei, porém sem que nada ocorra a quem a pratique. Punição zero.

Eu não quero citar o nome da cidade onde ando fazendo a maioria de minhas observações e estudos, até para não prejudicar ainda mais o pobre do trabalhador, pois um dos patrões já declarou em alto e bom som que “se for inquerido, cobrado e me colocarem na Justiça, paro tudo e vou fazer outra coisa, deixando todos vocês sem emprego e sem quem arrume algum lugar para trabalhar”. A perversidade chega neste nível. O que eu vejo pelas pequenas cidades e mesmo na nossa são trabalhadores ludibriados por contratos de boca, pois o registro tornou-se algo facultativo. Faz quem quer e como a maioria quer lucrar mais, o pobre hoje já ganhando bem menos do que o mínimo, nunca irá se aposentar.

O que vejo sendo revelado diante dos meus olhos é a complexidade da escravidão moderna. A própria empregada doméstica, que antes conseguiu o direito de ser registrada, hoje já não mais. Virou diarista, com valor cada vez menor, pois com a demanda cada vez maior, o que antes era garantia, hoje virou pesadelo. Tem muitas trabalhando por comida, se oferecendo por migalhas e para não passar fome. A condição humana está a cada dia se deteriorando mais e mais no Brasil. Eu vou juntando as muitas histórias em cadernos, algo para arrepiar e nos dias atuais não existe mais nada seguro, ou seja, um porto seguro onde você possa encaminhar denúncias e ter a garantia de que serão analisadas, apuradas e finalmente o fora da lei ser punido. Foi-se o tempo.

A escravidão contemporânea está ao nosso lado, bem ao nosso redor e só não a enxerga quem não quer mesmo ver. Basta girar o pescoço e olhar para tantos trabalhando de forma precária, sem nenhuma garantia de benefícios ou garantia de manutenção do que fazem. A humilhação é constante e a maioria dos trabalhadores num beco sem saída. Nem todos conseguem se virar e inventar algo novo para garantir ao menos o sustento. A maioria das pessoas fingem não enxergar a condição atual do trabalho. Muitas não querem ver. É o tal do negacionismo. Incomoda você ter que tomar uma atitude, daí é melhor passar batido, fingir não ver nada. Sei que isso é um problema do mundo inteiro e não só do Brasil, mas eu vivo aqui e isso me dói, pois até bem pouco tempo, em governos anteriores, coisa de no mínimo cinco anos atrás, as condições ainda eram bem outras.

A escravidão humana é uma das consequências da desigualdade. O Brasil de hoje é mais do que campeão neste quesito. O problema maior reside na má distribuição de renda e nisso somos campeões e isso não é de hoje. A concentração de riqueza está cada vez mais exacerbada e no caso brasileiro, já coloca a frágil democracia que temos em risco. Os patrões de hoje são na sua maioria bolsonaristas, o defendem com unhas e dentes, conspiram contra as leis vigentes e dizem que a modernidade está com eles, ou seja, o legal mesmo é oprimir, judiar, maltratar, espoliar e descumprir as leis, tudo em benefício próprio. E eles possuem a cara de pau de dizer na cara dura pro pobre empregado: “É isso que você tem e dê graças a deus por eu existir, pois estaria numa miséria sem volta sem mim”. Estes dominam o mercado de trabalho atual. Atuam sem dó e piedade. Todos muito fdp.

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