sábado, 22 de maio de 2021

REGISTROS LADO B (46) e DIÁRI ODE CUBA (212)


NO 46º LADO B, AS HISTÓRIAS MUSICAIS DE MONTINEGRO MONTI, JUNTAS DAS DE SEU ENVOLVIMENTO COM AS QUESTÕES SOCIAIS E O CLAMOR POR UM PAÍS MAIS JUSTO - ATIVISMO E SABEDORIA
A cada semana uma abordagem diferenciada envolvendo pessoas conhecidas dentro do projeto pessoal deste mafuento HPA, o LADO B – A IMPORTÂNCIA DOS DESIMPORTANTES. Nesta semana, ao escrever sobre a visita do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, o quase preso e denunciado pelos EUA como traficante de madeira, vi a mídia massiva bauruense pegar leve e alguns até louvarem tão nefasta pessoa. Nos posts que a indefectível rádio Jovem Pan, ops, digo, Velha Klan e seu mentor, o produtor de péssimo jornalismo, Alexandre Pittolli produz, só elogios e alguém a combater de peito aberto na página da rádio a insanidade ali perpetrada. Sabem quem era: Justamente esse entrevistado, MONTINEGRO MONTI. Ele, pelo que sei, não tem vinculação partidária, não possui filiação partidária, mas luta desbragadamente por dias melhores e por um país bem diferente do que temos hoje. Eu já o conheço de longa data e por tudo o que representa, seu passado cantante, vindo de uma família toda musical, eis mais do que um belo motivo para ouvir mais dele, o algo mais. Quem o conhece sabe do que falo, pois Montinegro não é desses que se aquieta fácil. Tem o sangue quente para certas questões e noutras muito sensível. Quero juntar tudo isso e muito mais e em uma hora, tentar traduzir um bocadinho dessa pulsante pessoa.

Eu esbarro com Montinegro sempre que saio para as ruas de Bauru e isso demonstra onde está enfronhado. De suas atividades profissionais, hoje quase totalmente dentro do mundo da informática, ele se tornou um técnico, não só de som, como de aparelho eletrônicos e para tentar dar uma nova guinada em sua vida, deixou de lado temporariamente uma carreira de décadas dentro do campo musical. Advindo de uma família toda musical, ele não poderia deixar de seguir algo que estava no próprio sangue. Sua família é toda do segmento sertanejo e assim começou, mas dentro do cenário bauruense e regional, diversificou, conheceu outros personagens e ampliou seu leque de opções. Cantou por tudo quanto é lugar e com parcerias das mais inusitadas, daqui e do quadro nacional. Ousou, foi à luta, viu de perto tudo o que estava ocorrendo e assim tocou sua vida, embalando o sonho de muitos de nós. Essas histórias são mais que saborosas, pois revela algo mais de como também se deu esse seu sentimento popular, esse olhar transformador para um país injusto. A partir daí, além do trabalho, todo um sentimento e ação também voltados para uma luta que, ele bem sabe, não termina nunca. No atual momento, mesmo em desvantagem, não abandona o campo de luta e enfrenta tudo e todos os a defender a insanidade vivida por Bauru e o país.

Estar ao lado de uma pessoa assim é gratificante, pois enquanto muitos se aquietam, talvez por receio de perseguições, admoestações e amizades encerradas, até contratos não firmados, ele não consegue se manter calado vendo as injustiças acontecerem. Isso, por si, só demonstra seu valor enquanto pessoa humana. Ele é dessas pessoas instigantes e incessantes, pois constantemente está a me provocar com algo do tipo: “Henrique, não temos como ficar quietos diante disso” ou “Vamos responder a esse ataque?”. Na maioria das vezes, vou junto, ainda muito pelo meio virtual, pois a pandemia não terminou, mas indo. Ele mais nas ruas, trabalhando em suas atividades, angariando clientes, fazendo seus negócios e com os olhos mais do que atentos, vigilantes. A conversa de hoje vai retratar essa figura humana e esses envolvimentos de uma vida toda. Em outros momentos, ele me envia mensagens só para dizer ter cruzado com tal pessoa e dela deveria escrever. Diz o que sabe dela e indica o local onde possa encontra-lo, para dar prosseguimento a algo dos mais necessários, não deixar que elas caiam no esquecimento. Como não ter olhos também para ele próprio? É o que faço nesse momento tento passar para quem estiver nos vendo, quem de fato é esse Montinegro, cidadão dessas plagas, desses que se verga, mas não quebra, tropica, mas não cai.

O que acham de uma pessoa que lendo meus escritos posta lá algo assim: "Se Moro quer combater a violência porque não começa pelos Milicianos que continuam agindo no Rio de Janeiro e espalhando se pelo Brasil"? Ou assim, quando postei uma foto de um senhor todo engravatado assistindo jogo do Palmeiras lendo livro de Marx: “Sendo de ESQUERDA proativo, competente e campeão... será muito bem-vindo principalmente porque tenho certeza sendo de esquerda não vai cumprimentar e permitir Bolsonaro pisando no Gramado”. Num outro momento postei algo sobre os boçais que escrevem sobre esquerdistas que viajam e passeiam: “Bem assim meu amigo, não podemos deixar de se sentir indignados”. Essa indignação é latente, pulsante e se mostra sempre presente. Em 26/02/2019 a PM agrediu jovens festando o Carnaval no parque Vitória Régia e dentre tantos comentários o dele: “"Tem uma rádio na cidade de Bauru a "JOVEM PAN 97.5" que através do seu locutor e diretor ALEXANDRE PITOLLI coordena uma campanha chamada "BAURU SEM DONO" que na verdade tem o sentido contrário. Seu principal locutor amparado por seus "comentaristas" utilizam-se dos microfones para criticarem tudo na cidade de Bauru... apontam supostos problemas mas nunca apontam a solução, emitem opinião singular, divergem e questionam a legitimidade de um evento previamente organizado sem conhecerem as normas e os propósitos dos organizadores, incitando a população invadir a área restrita do evento feito no VITÓRIA RÉGIA sem responsabilidade com a segurança dos frequentadores quando incitam uma reação agressiva por parte da polícia simplesmente por não concordarem com o evento naquele local querendo assim proibir o direito daqueles que estão apenas se divertindo, com alvará devidamente aprovado pelos órgãos públicos".

Em 02/07/2020 a Câmara dos Vereadores se mostrava favorável a abertura escancarada do comércio em plena pandemia e Montinegro assim se posicionou num dos meus posts: “A CÂMARA MUNICIPAL e nossos vereadores aprovaram sem nenhuma responsabilidade esse "GENOCÍDIO ANUNCIADO" porém é bom que a população saiba que as VEREADORAS TELMA GOBBY e CHIARA que transferiram seus gabinetes para o prédio da JOVEM PAN Empenharam se para defender os interesses dos COMERCIANTES com a convivência do SEGALA que agora pronuncia seu voto nos microfones da rádio do "BAURU SEM DONO". Milhares de pessoas vindo de SP capital chegando 3m Bauru e cidades da região chegando e infectando os os IRRESPONSÁVEIS, que vão infectar seus FAMILIARES... Sabendo que não temos estrutura no sistema de saúde e Bauru ainda atende as cidades da região muitos desses irão para um SACO PRETO, SEM VELÓRIO, JOGADOS NUMA VALA COMUM E SERÃO APENAS MAIS UM NÚMERO NESTA TRISTE ESTATÍSTICA DA COVIDE 19". Ele é assim, e com esses registros mostro a verdadeira face de um batalhador, alguém que muitos, principalmente os mais jovens conhecem de ver seu posicionamento, mas pouco sabem de sua trajetória e envolvimentos. É disso que se trata essa conversa aqui proposta. Ou seja, falar disso tudo, junto e misturado, contar algo de alguém verdadeiramente de luta.
COMENTÁRIO FINAL:
A história de Montinegro é a de quem sai de um pequeno lugarejo, Quintana, perto de Pompéia e aos sete anos chega em Bauru com a família. Os seus, por parte de pai e mãe, todos com forte envolvimento musical, zona rural, música sertaneja de raiz. Ele começa aprendendo com os seus a dedilhar o violão e a cantar, algo que nunca mais parou. Em Bauru, teve que se adaptar, cantou em quase todos os bares da cidade, adentrou um mundo com outro repertório, o da MPB. Junto disso, trabalhou em vários lugares. Conta em detalhes de vários bares onde se tocava música ao vivo. Faz um apanhado de todos os músicos que teve o prazer de cantar e tocar juntos. Muitas histórias. Paralelo a isso começa o seu envolvimento social e a percepção das grandes diferenças sociais, daí o seu posicionamento ao lado dos oprimidos, culminando com hoje, mesmo perdendo clientes, não deixando de se posicionar contra os desmandos e esses perversos no comando de Bauru e do Brasil. Damos um salto dos governos petistas e falamos muito sobre o momento atual. A perversidade de uma mídia massiva toda comprometida com os donos do poder e a mentira acima de todas as coisas. Desembocamos na revolta de Montinegro com essa rádio, a Jovem Pan e o jornalismo no desvio, compromissado com Bolsonaro, daí fabricantes de fake-news, mentiras e falácias divulgadas de forma criminosa. Poderíamos falar mais, mas a bateria do celular dele acaba e a gravação é interrompida. Voltamos em  outro vídeo, este com mais oito minutos, para encerrar a conversa e desancar de vez esses perversos com o microfone nas mãos. Por fim, fala de ideia em montar uma rádio web, com programação de confronto, mostrando o contraponto de tudo o que se vê, lê e ouve na cidade. Ele quer incentivar um algo mais pelos meios da mídia alternativa, onde a possibilidade de mostrar a verdade dos fatos, hoje não mais sendo propagada pelos meios convencionais. A conversa com Montinegro foi mais do que relevante. 

INVIABILIDADE DE UMA CIDADE - E PRA ONDE EU VOU?*
* 14º texto deste mafuento HPA, publicado hoje edição semanal do jornal DEBATE, de Santa Cruz do Rio Pardo.

Bauru anda pela hora da morte. Explico. Desde a última eleição, o que já era ruim, piorou e hoje um descalabro administrativo. Suéllen Rosin, a atual prefeita é do seguimento fundamentalista, ou seja, pior até mesmo que tudo o que já enfrentamos até aqui, com o neoliberalismo predatório e tudo o mais. Evangélica neopentecostal, defende o mito, bolsonarista até o último fio de cabelo. Como o mentor destrói o país a nível federal, ela faz a sua parte a nível municipal. Batem um bolão e tudo o que já se presenciou de descalabro, hoje eleve no seu grau de máxima potência.

Isso é o que lhes posso dizer do atual momento bauruense. Quando se pensa que nada pode ocorrer de pior, eis que um fato novo desponta no horizonte. Bauru arrasta como pode, aos trancos e barrancos e por seguidas administrações uma eterna dívida contraída com a COHAB – Companhia de Habitação Popular de Bauru, essa empresa que, mesmo sem construir há mais de uma décadas, possui infinitos processos por descumprimento de contratos rolando ao longo do tempo. Por ser acionista majoritária, a Prefeitura de Bauru, quem sempre deu as cartas por lá, arca agora, quando tudo se esvai em sangue, com o rescaldo de todas as malversações cometidas ao longo de toda sua existência.

Nesta semana ela perdeu na Justiça uma ação de uma construtora e o valor a ser ressarcido está sacramentado em R$ 1,3 bilhões de reais. Você, assim como eu, cidadão comum, consegue mensurar isso? Pois bem, se já é difícil, existem outras ações e o montante deve passar fácil de R$ 4 bilhões. Seus advogados tentaram recursos de todas as maneiras e jeitos, tudo infrutífero, improcedente e agora, beco quase sem saída, a última instância será recorrer ao STF – Supremo Tribunal Federal. Chances mínimas, pois os argumentos de defesa já se esgotaram. Ou seja, tudo cai no colo de Bauru.

Agora entro propriamente no que me traz aqui. Junto essa dívida impagável, incomensurável, inalienável e intratável com o que já ocorre nas hostes da Prefeitura Municipal. Juntemos o jeito e maneira como a novíssima (sic) prefeita administra a cidade e adicione mais essa pitada de contas a pagar. Veremos a ebulição no seu ápice. Para ela, como já se percebe, a intenção é vender o que ainda resta de sugestivo para a iniciativa privada. Na bacia das almas da vez, o DAE – Departamento de Água e Esgoto. Tudo mais o que houver e puder ser passado nos cobres, será. Enfim, Bolsonaro faz isso lá, ela cá. Mas mesmo que venda até a alma de Bauru será pouco para começar a pagar esse valor. Imaginem Bauru fazendo um acordo de ir quitando R$ 20 milhões de reais mês. Dentro do valor principal, isso levaria décadas para efetivar a quitação, mas para os cofres municipais já encalacrados, mais que um desastre. Ou seja, impagável.

A solução a ser encontrada nem passa pela minha cabeça. Com estes hoje no comando, temo por tudo, pois sei do que são capazes. Acuados, devem piorar e se tornar mais perigosos. Um amigo, hoje morando em Natal RN, tendo desistido daqui já há quase meia década, liga e me pergunta: “Vai aproveitar a deixa e picar a mula ou vai esperar tudo explodir como Chernobyl?”. Junto os pauzinhos, coloco tudo na balança e começo a traçar planos futuros. Nasci e vivi aqui até hoje, com pequenos interregnos fora. É minha cidade, mas hoje está dominada por uma turba inconversável. Diálogo cada vez mais impossível, daí a ideia do gajo é sugestiva. Mas ir para onde e em que condições? Ele me diz: “Tudo será melhor do que conviver com o que se avizinha? O tempo ruge. Amanhã será tarde”. Nem durmo mais. Será que a Pasárgada do poeta ainda existe? Será que Cuba conseguirá resistir ao avanço imperialista? Andarilhar por caminhos e trilhas como em Nomadland seria uma alternativa? O corpo já apresentando sinais de pouca resistência pede calmaria, mas diante de tudo o mais aqui já citado, creio que levantar barraco será algo mais do que necessário, pois a tormenta não será suave, muito menos breve. Nenhuma decisão ainda foi tomada, mas a menos sensata será presenciar a hecatombe.
Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e professor de História (www.mafuadohpa.blogspot.com).

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