Em diferentes medidas, Bolsonaro e Modi, ambos populistas de direita, minimizaram a crise. E a Bauru da novíssima (sic) prefeita Suéllen Rosim, pelo que se vê, na mesma pegada. Sendo ela bolsonarista convicta, olhos fechados para tudo o mais, ações similares e batendo nas mesmas teclas.
Mentiras, teorias conspiratórias e supostas curas milagrosas inundam mídias sociais indianas e ajudam a impulsionar devastadora segunda onda de covid-19 no país, que registra mais de 300 mil casos por dia. Autoridades propagam desinformação. Observadores e ativistas dizem que as autoridades não tomaram medidas suficientes para deter a desinformação. Na verdade, algumas figuras públicas e altos funcionários do governo foram responsáveis diretos pela disseminação. Em meados de abril, por exemplo, quando o número de casos de covid-19 começou a disparar, V. K. Paul, um alto funcionário do governo diretamente envolvido na resposta ao coronavírus, recomendou que as pessoas buscassem terapia alternativa caso tivessem infecções leves ou assintomáticas. Ele também aconselhou as pessoas a consumirem "chyawanprash" (um suplemento dietético) e "kadha" (uma poção de ervas e especiarias) para melhorar sua imunidade.
Essa prescrição de coisas inservíveis e diante de uma massa mais perdida que cego em tiroteio, disseminar informações desencontradas e medicamentos como salvadores da pátria é mais que um crime, pois aceleram o genocídio. E os prefeitos que entraram nessa onda e além de divulgarem, compram coisas sem utilidade comprovada e a distribuem para população, incentivando e até forçando o seu uso dentro do corpo clínico e dos locais sob seu domínio é algo realmente repugnante. Ao ler a matéria sobre a comparação entre Brasil é Índia, inevitável não juntar à coisa Bauru. Aqui na aldeia bauruense, reduto hoje do conservadorismo tacanho bolsonarista, estamos nos transformando também em balcão de experimentos e todos, não só de péssima avaliação, como perigosos.
Uma vergonha já reconhecida pela Ciência e preocupando todos os estudiosos brasileiros, com questionamentos do tipo: "Mas, me digam, o que se passa com Bauru? Como chegaram a algo deste tipo? O que acontece por aí, nos digam?". Bauru e o Brasil precisam reagir e combater o negativismo hoje predominante na terra dita e vista como "sem limites".
Chamorro não tem a mesma sorte e se vê obrigado, como a maioria da população a estar presente no campo dos acontecimentos, nas ruas diariamente, pois do contrário tudo fenecerá. Tomando todas as medidas de segurança possíveis, ele continua com sua bancar aberta ali na rua Treze de Maio, pouco depois da esquina com a rua Primeiro de Agosto, junto ao paredão da Droga Raia. Deste local privilegiado, de dentro de sua banca, observa e registra tudo à sua volta, ao seu modo e jeito. Muitas vezes fotografa e me dá a dica, “desça e faça o restante”. O recado é para destrinchar a história, esmiuçá-la por inteiro. Fiz muito, parceria mais que saborosa. Hoje, na retaguarda, ele me posta fotos, conta parcialmente o ocorrido e quando possível conta também parcialmente o que assimilei. Adio o textão final com uma dor interna, a de quem gosta demais da conta de vivenciar as coisas nas e pelas ruas.
Hoje pela manhã sou agraciado com várias fotos de personagem gravitando no entorno da banca e com aquele algo a mais chamando a atenção. Trata-se do MÁRCIO, mais um artista de rua e nas ruas. Ele circula pela região central já há alguns meses e chama a atenção por tentar ganhar a vida com sua arte, desenhando. Bom de traço, se oferece para desenhar situações, pessoas e o faz nas condições onde se torna possível. Hoje mesmo acaba de desenhar um Cristo num isopor de tampa de marmitex. O improviso é a característica de muitos dos personagens da rua, pois vivem assim, dispondo do que encontram pela frente. Chamorro acaba de encomendar uma imagem para ele e diz que, o que faz não se resume a imagens religiosas. Essas no momento são as mais solicitadas e ele percebendo o filão, as produz e oferece. Senta na sarjeta e desenha com o material disponível. Tem lápis e caneta azul no bolso e só. O resto, se pintar, como pincéis e tintas, daí a produção se dará mais apurada.
Ao receber as fotos logo pela manhã com o pedido de sempre, “venha aqui para conhece-lo” e diante de minha negativa, fico me remoendo, pois o que publico não se resume somente nessa postagem. Sempre se é buscado um algo a mais, aquele possibilidade transformadora, onde além da história, o fazer algo pelo semelhante. Nesta semana, encerrei ontem a publicação pelo facebook, por sete dias seguidos, fotos e algo escrito de tipos populares das ruas bauruenses e hoje, ele já me envia algo mais, me instigando a não parar. Algo assim, inevitável lembrança de quando, mais de uma década atrás, quando me deparei com Juscelino, um gaúcho perambulando pelas ruas bauruenses, deu um click de que precisava de ajuda. Descobri sua cidade gaúcha, postei lá algo sobre ele e recebo como resposta a informação de que, havia saído pelo mundo após a perda da mãe e no final, a Prefeitura disponibilizou um funcionário para vir busca-lo. Foi gratificante demais. Tento manter contato com ele até hoje. E tantos outros, que se foram ao longo destes anos.
A história do Márcio, pouco o Chamorro conseguiu filtrar. Veio vindo, chegando, cidade em cidade, é de Ponta Grossa PR, sempre em busca de lugar mais aprazível, receptivo e onde possa permanecer por mais tempo. Comunicativo, tenta sobreviver como pode. Já descobriu onde conseguir alimentação, frequentando diariamente, almoço e jantar, no Bom Prato e assim por diante, escolhe também os locais de sua permanência noturna, os onde possa ter menos problemas. Não consegue levar consigo mais do que uns poucos papéis e aos que, param e aceitam seu trabalho, senta na sarjeta e ali produz em minutos sua obra de arte. A história de vida, de sobrevivência e resistência deste Márcio é parecida com a de tantos outros. A praça Rui Barbosa mesmo está lotada de público renovado, que ali não estava antes da pandemia e se juntando aos que sobraram, pois muitos desapareceram, sem deixar vestígios, pegadas ou mesmo registros. Se tudo der certo, em breve volto à ativa, mas por enquanto, o que me move ainda é tentar continuar vivo, esperando mais um bocadinho. Daí, as histórias saem fragmentadas, aos pedaços, faltando o principal. Mas saem, pois elas continuam acontecendo como dantes, eu, um dos escrevinhadores é que me encontro numa outra situação. Mas, reafirmo, continuo tentando. Os muitos Márcios pela frente valem muito a pena a escrita e a dedicação por suas histórias.
UFA!Chegou a vez do véio mafuento HPA, agora no processo degenerativo de transformação em jacaré. Feliz da vida, reverenciando o SUS, não esquecendo de culpabilizar a demora na conta do capiroto e torcendo pra que a mesma belezura alcance o braço de tudo, todas e todos. E por fim, com camiseta em homenagem para os colombianos, hoje nas ruas, resistindo bravamente contra os dragões da maldade, estes como os daqui, dispostos a cravar estaca nos costados do povo. Resistir é preciso, se preciso for nas ruas e lutas, como nos dizia Roque Ferreira. O momento é de tomada de consciência coletiva, pois sem sangue, suor e lágrimas nada será reconstruído de positivo neste país. Mesmo alquebrado pelo tempo, alguma lenha ainda tenho para queimar e disposição para tanto.
AS HISTÓRIAS CONTADAS PELA METADE, FRUTO DESTES TEMPOS FORA DO PADRÃOTenho muitos amigos no centro velho de Bauru e dentre estes Adilson Chamorro, ele com a banca mais movimentada no local, ponto de encontro de toda boa conversação proveniente de suas fervilhantes ruas. Ele ali sobrevive com seu pequeno negócio há várias décadas e aprendeu a conviver com tudo, todas e todos. Um ótimo e arguto observador das entranhas destas plagas. Vez ou outra, tira fotos e me envia com o intuito de que, na sequência eu possa construir e contar uma bela história dela proveniente. Na maioria das vezes assim procedo, mas nestes tempos sombrios, quando ainda me encontro no resguardo, tudo acaba saindo meia boca. Eu, do alto dos meus sessenta anos, beirando o 61, prefiro continuar no isolamento social e por se tratar de grupo de risco e assim ainda o conseguir, recebo as postagens de outros e construo daqui de meu bunker, o que antes produzia das ruas.
Chamorro não tem a mesma sorte e se vê obrigado, como a maioria da população a estar presente no campo dos acontecimentos, nas ruas diariamente, pois do contrário tudo fenecerá. Tomando todas as medidas de segurança possíveis, ele continua com sua bancar aberta ali na rua Treze de Maio, pouco depois da esquina com a rua Primeiro de Agosto, junto ao paredão da Droga Raia. Deste local privilegiado, de dentro de sua banca, observa e registra tudo à sua volta, ao seu modo e jeito. Muitas vezes fotografa e me dá a dica, “desça e faça o restante”. O recado é para destrinchar a história, esmiuçá-la por inteiro. Fiz muito, parceria mais que saborosa. Hoje, na retaguarda, ele me posta fotos, conta parcialmente o ocorrido e quando possível conta também parcialmente o que assimilei. Adio o textão final com uma dor interna, a de quem gosta demais da conta de vivenciar as coisas nas e pelas ruas.
Hoje pela manhã sou agraciado com várias fotos de personagem gravitando no entorno da banca e com aquele algo a mais chamando a atenção. Trata-se do MÁRCIO, mais um artista de rua e nas ruas. Ele circula pela região central já há alguns meses e chama a atenção por tentar ganhar a vida com sua arte, desenhando. Bom de traço, se oferece para desenhar situações, pessoas e o faz nas condições onde se torna possível. Hoje mesmo acaba de desenhar um Cristo num isopor de tampa de marmitex. O improviso é a característica de muitos dos personagens da rua, pois vivem assim, dispondo do que encontram pela frente. Chamorro acaba de encomendar uma imagem para ele e diz que, o que faz não se resume a imagens religiosas. Essas no momento são as mais solicitadas e ele percebendo o filão, as produz e oferece. Senta na sarjeta e desenha com o material disponível. Tem lápis e caneta azul no bolso e só. O resto, se pintar, como pincéis e tintas, daí a produção se dará mais apurada.
Ao receber as fotos logo pela manhã com o pedido de sempre, “venha aqui para conhece-lo” e diante de minha negativa, fico me remoendo, pois o que publico não se resume somente nessa postagem. Sempre se é buscado um algo a mais, aquele possibilidade transformadora, onde além da história, o fazer algo pelo semelhante. Nesta semana, encerrei ontem a publicação pelo facebook, por sete dias seguidos, fotos e algo escrito de tipos populares das ruas bauruenses e hoje, ele já me envia algo mais, me instigando a não parar. Algo assim, inevitável lembrança de quando, mais de uma década atrás, quando me deparei com Juscelino, um gaúcho perambulando pelas ruas bauruenses, deu um click de que precisava de ajuda. Descobri sua cidade gaúcha, postei lá algo sobre ele e recebo como resposta a informação de que, havia saído pelo mundo após a perda da mãe e no final, a Prefeitura disponibilizou um funcionário para vir busca-lo. Foi gratificante demais. Tento manter contato com ele até hoje. E tantos outros, que se foram ao longo destes anos.
A história do Márcio, pouco o Chamorro conseguiu filtrar. Veio vindo, chegando, cidade em cidade, é de Ponta Grossa PR, sempre em busca de lugar mais aprazível, receptivo e onde possa permanecer por mais tempo. Comunicativo, tenta sobreviver como pode. Já descobriu onde conseguir alimentação, frequentando diariamente, almoço e jantar, no Bom Prato e assim por diante, escolhe também os locais de sua permanência noturna, os onde possa ter menos problemas. Não consegue levar consigo mais do que uns poucos papéis e aos que, param e aceitam seu trabalho, senta na sarjeta e ali produz em minutos sua obra de arte. A história de vida, de sobrevivência e resistência deste Márcio é parecida com a de tantos outros. A praça Rui Barbosa mesmo está lotada de público renovado, que ali não estava antes da pandemia e se juntando aos que sobraram, pois muitos desapareceram, sem deixar vestígios, pegadas ou mesmo registros. Se tudo der certo, em breve volto à ativa, mas por enquanto, o que me move ainda é tentar continuar vivo, esperando mais um bocadinho. Daí, as histórias saem fragmentadas, aos pedaços, faltando o principal. Mas saem, pois elas continuam acontecendo como dantes, eu, um dos escrevinhadores é que me encontro numa outra situação. Mas, reafirmo, continuo tentando. Os muitos Márcios pela frente valem muito a pena a escrita e a dedicação por suas histórias.
No final de tudo, Márcio conclui o solicitado pelo Chamorro e recebe sua paga. Eu cá distante, fico instigado e já lhe pediria para fazer uma bela imagem do Che Guevara para levar lá pro Mafuá. Ou até mesmo um registro de como enxerga as ruas da cidade, o agitado cruzamento onde se encontra. Tomara não falte a oportunidade. Essa história, como a maioria das que aqui publico, estão inconclusas, pela metade, como a vida de todos nós. Estamos todos em busca de resoluções, algo positivo para fechar nossas histórias. Juntá-las e traçar outras possibilidades com cada uma delas é algo envolvente. Toquemos o barco e que este e tantos outros Márcios possam a partir de um algo novo, ir em busca de algo novo e transformador para suas vidas.
SETE DIAS, SETE PERSONAGENS DAS RUAS BAURUENSES, TIPOS MAIS QUE POPULARES
01. Publicado dia 29/04/2021: Numa foto de minha lavra de janeiro deste ano, um dos tantos que não saíram das ruas. Este um dos tipos populares das artérias centrais desta aldeia, praticamente morador de nossas marquises, se safando do contágio não se sabe como, pois vive exposto a todos os tais riscos de uma vida à margem de tudo. Personifica muito bem a categoria dos resistentes destas plagas e que estarei registrando aqui por sete dias seguidos, sete viventes muito conhecidos de todos. Moisés é seu nome, mais do que anônimo, alguém pelo qual todos só o conhecem pelo primeiro nome, nada mais. O que se sabe dele além de ter presença constante por variados e múltiplos lugares, bonachão, calado e resignado? Chega, ouve muito, senta ao lado e quando dá na telha levante e sai, sempre da mesma forma como chegou.
02. Publicado dia 30/04/2021: No segundo dia - de sete seguidos - da postagem dos tipos populares pelas ruas de Bauru, hoje o popular, ex-jogador de futebol amador Neisinho, morando hoje na rua Célio Daiben, proximidades da linha da Sorocabana e ora caminhando, ora pegando circular, para vir ao centro em busca de alimentação no Bom Prato, como neste dia, num sábado pela manhã. Um dos craques do Futebol Amador bauruense, pouco mais de metro e meio de altura, com um ginga que enfeitiçou muitos de cintura dura destas plagas, hoje após conseguir sua aposentadoria, continua vivendo livremente, ao seu modo e jeito. Trabalhei com ele nos tempos de Bradesco, ele contador, ficava com as chaves do cofre do banco e hoje, depois de sair da instituição bancária, montou bar, bebeu ele todo e morou em vários hotéis da cidade. Conseguiram o aposentar e desde então, vive ora em hotéis, pensões e edículas de fund ode quintal, sempre altaneiro. Quando penso num ponta direito audaz, a primeira pessoa que me vem à mente é justamente Neizinho, meu craque no Arca, time amador que existia junto da fábrica da Antarctica, na Marcondes Salgado.
03. Publicado dia 01/05/2021: Na terceira postagem dos tipos populares de Bauru, hoje um personagem que continua circulando pelas ruas e foi dos mais significativos na minha infância de morador defronte um terreno onde chegavam constantemente parques e circos. Ele, Luiz Carlos Lockmann, ou simplesmente Barba, o locutor da Mulher Monga, que povoou meu medo infantil e seu vozeirão nunca mais me saiu da cabeça. Tempos depois o revi na Feira do Rolo revendendo aparelhos de som antigo e hoje, não mais, mas ainda batendo muito perna pela aí. Certa vez o vendo trabalhar vendendo apetrechos na Feira do Rolo e pedi delicadamente se ele se lembrava da fala que era a abertura do espetáculo da Mulher Monga. Ele, estava num dia bom e disse, "nunca me esquecerei, ligue sua maquininha e gravamos agora". Gravei ou melhor, achei que tinha gravado e ao sair dali, decepção, ao descobrir que havia apertado o botão errado. Por várias vezes o abordo para regravar e ele, sempre me empurra para frente. Continuo tentando e tentando. Hoje, sei que sua esposa, evangélica, renega o trabalho feito nos parques, mas ele será sempre lembrado por esse inestimável momento em sua vida, quando viajou país afora junto do brilhantismo a envolver aquela apresentação.
04. Publicado dia 02/05/2021: A artista do traço, Greifo é o quatro registro - dentre sete propostos - dos tipos populares das ruas de Bauru, numa foto de fevereiro de 2020, quando ainda atuava também nas ruas da cidade oferecendo caricaturas das pessoas e hoje, mais de um ano de pandemia, ele se foi temporariamente. Mora junto de irmão, distante de Bauru e sonhando com o retorno em outras condições, ao menos com a intensidade de antanho. Greifo além de ter atuado nas hostes do JC por longo período, fez a arte de uma das mais bonitas camisetas do bloco Bauru Sem Tomate é MiXto. Separado, vivia de pequenos trabalhos e biscates, sempre altaneiro, sem querer causar transtornos para ninguém, muitas vezes dormiu ao relento, mas hoje está junto de irmão, em Peruíbe, esperando tudo se acalmar e sob as asas protetoras de quem lhe quer bem. Nos falamos constantemente e ele sempre me pedindo: "Quero trabalhar, quero desenhar, veja o que posso lhe fazer, passe algo para mim".
05. Publicado dia 03/05/2021: Na quinta apresentação de tipos populares - por uma semana inteira, sete dias seguidos -, frequentadores das ruas bauruenses, eis duas personagens da praça Rui Barbosa, centro da cidade, quando as conheci e delas escrevi uma longa história. No começo de 2020 postei algo sobre uma linda moça na praça Rui Barbosa, negra, alta, quase dois metros de altura e afirmei, "a miss Bauru está na praça Rui Barbosa". Seu nome, como todos a chamavam, Morena e junto com Sabrina, a travesti, que herdou sua residência de antigo amor e abrigou a amiga e outras, principalmente quando a pandemia começava a dar sinais do que viria a ser. Hoje, mais de um ano depois, volto à praça frequentemente para ir ao banco, no qual tenho conta, olho de soslaio onde as conheci, mesmo ciente de que o momento ainda não é propício para conversações mafuentas e nunca mais as vi e daí, a pergunta: como estariam ambas e todos os demais que comigo conversavam e tínhamos planos de sentar, conversar e contar suas histórias pelos meus escritos. Vejo uma quantidade enorme de novos habitantes e frequentadores, local sempre muito povoado, bancos ocupados. De minha parte, tudo abortado, vontade louca de escrevinhar disso tudo e muito mais, mas sem nenhuma perspectivas de reiniciar. Contido, hoje escrevo só do passado. No meio da pandemia, quando no banco, olhando para a praça, vi a Sabrina no meio da muvuca dos frequentadores e fiquei contente, pois ao menos estava bem viva e saltitante, como sempre se apresentou. Permaneci por longo tempo a olhando de longe, sem se aproximar. Queria saber mais de suas histórias e da Morena, que desde então, o começo do ano passado, nunca vai tive notícia. Tomara nada de ruim tenha lhe acontecido.
06. Publicado dia 04/05/2021: No sexto dia - de sete personagens propostos - revendo gente querida que conheci nas ruas, eu aqui confesso, muita saudade da Feira do Rolo e das imediações, lugares onde sei circula dona Nancy e seu carrinho de sorvete. Num dia quente como hoje, se nada de ruim lhe aconteceu, com certeza ela vai estar pela aí, circulando do mesmo jeito de sempre, enfrentando o touro à unha. Guerreira, mirrada cidadã, franzina, curtida pelo sol (“eu não sou tão escura, sou fruto do sol que tomo o dia todo”, me disse certa vez), cabelos em desalinho, mas altiva, ela e seu carrinho, buzinando pelos corredores e sempre me trazendo o meu preferido, o da fruta amazônica, a cupuaçu. Mora no Colina Verde e abastece o seu carrinho numa sorveteria na rua Boa Esperança, Bela Vista, caminhadas feitas à pé, ida e volta, além do trajeto diário, cada dia já esquematizado para circular num determinado percurso. Uma andarilha por necessidade, pois mesmo não tendo a idade que aparenta, pena para ganhar a vida, mas não entrega os pontos e mesmo com essa pandemia nos calcanhares, de início, como todos, permaneceu em casa, mas depois não deu mais, voltou para as ruas, máscara no rosto, cara e coragem, buscando obter o suado dinheirinho de cada dia, percentual do valor de cada picolé, R$ 1,20 real. Junta com outra pequena renda, ajuda dos filhos e segue sua vida, toca seu barco e nada a detém, pois segundo me diz, “não posso nem pensar em permanecer em casa”. Essa uma das muitas joias raras, dilapidadas nos embates da vida, dessas que tenho vontade louca de abraçar a cada reencontro. Não vejo a hora de reencontrá-la e poder rever suas histórias. Ela merece muito mais do que um auxílio emergencial mequetréfico e de suar tanto a camisa pela sobrevivência. Toda vez que a vejo, não resisto, corro os riscos, buzino, paro o carro e compro sorvete. Ela puxa conversa e me conta as novidades das andanças. Uma fortaleza.
07. Publicado dia 05/05/2021: Na sétima e última foto proposta - uma semana com os tipos populares de Bauru -, eis Luizão, o mais famoso goleiro do glorioso Esporte Clube Noroeste, em foto recente, no quintal de sua residência, juntos aos trilhos férreos, vila São Manuel, em plena campanha de populares levantando recursos possibilitando nova casa. Figura das mais simpáticas, era visto regularmente na esquina de sua casa, junto a posto combustível, sentado, sempre propenso a uma boa conversa. Que dizer mais deste símbolo do meu gosto pelo futebol, grande ídolo dentre os tantos que vi jogar nesta aldeia. Ele certa vez foi convocado para jogar pela Seleção Brasileira de Novos, fez alguns jogos no Oriente Médio e num dia de conversa me lembrava de um jogo na Arábia Saudita. Dizia ter ficado encantado com o que viu lá, mas nem os olhos das mulheres, todas debaixo de véu. Tinha por volta de seus dezoito anos e isso, com o passar do tempo, também vai se dissipando em sua memória, pois as agruras dos tempos atuais, a necessidade de continuar lutando pela sobrevivência é mais urgente. Como posso querer ir lá em sua casa e ficar falando de bola, das glórias do passado, se sua cabeça está toda envolvida hoje com essa tentativa de ser ajudado por amigos e conseguir novamente ter uma casa pra chamar de sua?
Conto a minha historinha deste auspicioso dia. Levei sulfite e uma caneta pilot, porém só percebi que estava sem tinta quando fui escrever o VIVA O SUS no improvisado cartaz. Enquanto tudo era preparado, vi uma caneta no balcão e dela fiz uso, escrevinhando ali na hora a frase redentora deste país, o da salvação da lavoura de todos nós. Quando a funcionária de conta - ou melhor, nem perceberam, tudo já estava novamente no seu lugar e eu com o cartaz pronto. E as fotos saíram para a posteridade. Volto pra casa e retorno para meu isolamento, pois pelas últimas informações, continuamos num alto patamar de mortos diários - aproximadamente dez dia - e vagas hospitalares no limite. Não existe maneiras de afrouxar nada. O bicho continua pegando e feio. Não existe nenhum motivo para voltarmos pras ruas neste momento, a não ser algo contundente para colocar pra correr o capiroto. Do contrário, permaneço quietinho aguardando dias melhores. Fora Bolsonaro!
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