terça-feira, 18 de maio de 2021

COMENDO PELAS BEIRADAS (102)


AINDA A "CULTURA MUNICIPAL" OU A FALTA DE...
"Resumindo, foram roubados um milhão e quatrocentos mil da pasta da cultura de Bauru!", frase de Luiz Manaia, o Ralinho, baterista como poucos e consciente artista destas plagas. Sua frase entre aspas resume o que se passa com a Cultura Municipal, direção da novíssima (sic) prefeita Suéllen Rosim e sob a batuta de alguém só coordenando o desastre e anúncios desconectados, a secretária Tatiana Sá. Ontem ouvi algo de gente muito próxima dela em algo mais ou menos corroborando a conclusão do amigo Manaia: "Ela me disse que, a prefeita lhe disse que neste ano não vai ter um só centavo pra Cultura. Tudo contingenciado. A Tatiana está aí para administrar isso, contornar com a classe. Vai ser só pagar salários e nem um centavo pra nada. Não adianta insistir". Daí, quando leio a frase precisa, reta e direta do já cansado baterista, minha conclusão é a mesma: é pura balela isso de que o dinheiro que não foi gasto esse ano com eventos culturais cancelados será usado para favorecer a classe artística. Isso não vai acontecer. Quem ainda tem esperança de que algo ocorra, que seus eventos recebam patrocínio, devem colocar as barbas de molho e parar de permaneceram calados, aguardando algum benefício, pois será um horror quando perceberem que não terão patrocínio e só a partir daí passarem a criticar. Tem quem acredite que algo ainda ocorrerá algo para si, mas não pensam no todo. E o todo está numa penúria de dar gosto. Com Suéllen e Tatiana Sá, fundo do poço será pouco. A classe artística está sendo levada na conversa.

DONA HILDA DE SOUZA, SÍMBOLO DA LUTA DOS RECICLADORES – UMA VIDA INTEIRA NAS RUAS E LUTAS, FAZENDO DE TUDO E MAIS UM POUCO PELOS SEUS
Gosto muito mais de escrever dos vivos e produzindo algo de salutar pela aí, mas nestes últimos tempos, mais aqui dentro de casa, escrevo neste momento mais dos que se vão e após tomar conhecimento da partida. E para piorar nem sempre tomo conhecimento do falecimento de pessoas queridas assim muito rapidamente. Uma lástima. Por estes dias quando nem comparecer aos enterros é mais possível, eu escrevo dos que partem e me deixam um vazio há mais dentro do peito. HILDA DE SOUZA é dessas pelas quais guardarei lembranças inenarráveis pelo resto da vida. A descobri atuando com reciclados pelas ruas de Bauru, creio que lá pelos idos de 2005/2008, quando ainda atuava nas hostes da Cultura municipal. Desde quando bati os olhos naquela senhora, curvada sobre seu carrinho, sempre cheio de papelões e por todos os cantos do centro da cidade, fui logo me aproximando e não podia vê-la que logo partia para conversar. Fui em sua casa algumas vezes, tirei sempre muitas fotos e ela me proporcionou o meu primeiro trabalho acadêmico, quando contei algo de se sua saga, “Hilda, a catadora de papel – Acompanhamento de uma ação pelas ruas de Bauru”, 2015, junt ode minha orientadora de mestrado, profa doutora Maria Cristina Gobbi. Tanto eu, como a Gobbi nos apaixonamos por ele, sua resistência, persistência e aquele seu jeito sempre sorridente nos arrebatou. A mim para sempre. Ela tinha a mais linda dentição desse planeta, alvos como a neve e quando sorria – e o fazia sempre, mesmo nas adversidades -, encantava. Fui arrebatado e hoje, ao tomar conhecimento de seu falecimento – junto da perda do meu cão -, estou num estado que nem imaginam. Tristeza é pouco.

Ainda ontem estava matutando sobre ela e pensando em como poderia homenageá-la e conto dos motivos. Assisti parte da sessão da Câmara dos Vereadores de Bauru e lá um vereador insiste em quase toda sessão apresentar Moção de Aplausos para seus amigos pastores e as obras dos evangélicos neopentecostais. Ouvi aquilo tudo e engoli em seco. Enfim, não consegui deglutir, quando mais digerir. Pensei logo de cara no troco e em como podia apresentar para algum vereador – só temos um, no caso uma, a do PT, Estela Almagro, que poderia tocar a ideia lá dentro adiante -, a ideia de começar a apresentar Moções para Tipo Populares de Bauru, todos, no meu entender de muito maior significado que esse monte de pastores hoje já homenageados. Talvez o sejam por absoluta falta de quem apresente algo diferente. Estava proposto e fui rever o que já escrevi de dona Hilda, a catadora de reciclados bauruense. Eis aqui para quem quiser se inteirar o que já escrevi. São muitos textos desde 2008: https://mafuadohpa.blogspot.com/search?q=hilda+de+souza. Li algo ontem à noite e a ideia mais do que fiza não me saiu da cabeça no meio da noite: “vou saber por onde anda dona Hilda, pois faz tempo que não a vejo pelas ruas de Bauru”.

Saio hoje na cata do meu desaparecido cão e de cara vou na rua Alves Seabra, na padaria do Antonio Luiz Ferreira, o Toninho, a Soberana, especializada em vender pães para carrinhos de lanche. Certa feita ele leu meus textos e disse a mim: “Ela é minha cliente, passa sempre aqui e forneço pães para ela e os seus”. Eu sei como ele fazia, dela ele não cobrava ou se cobrava era sempre o mínimo. Assim como a mim, dona Hilda havia arrebatado também a ele. Passei por lá hoje pela manhã, ele não estava e o funcionário que me atendeu, ao ver a foto que lhe mostrei pelo celular, me deu um tiro no baixo ventre: “Ele morreu e Subo até onde sei ela mora, no Fortunato Rocha Lima e lá, não preciso muito para me lembrar da casa dela. Sabia mais ou menos, mas ao perguntar numa pracinha, estava bem próximo, na outra quadra. Chego no quarteirão, vejo uma moça com seu celular no portão e pergunto. Ela me olha meio de soslaio, desconfiada e me diz: "Essa dona Hilda que está procurando é minha avó. Eu e minha mãe moramos aqui e a casa dela é duas para a frente”. Na minha mente, me voltou tudo de quando ali estive, com a Maria Luiza Carvalho, quando Hilda nos abriu sua casa e coração. Hoje, algo novamente acontece. Gabrieli Sthefani Brito do Nascimento, 20 anos, chama pela mãe, dona Cida, Aparecida de Fátima Fernandes Brito, 49 anos e conversamos em três. Digo a que vim. Primeiro digo não ser político e gostar muito de dona Hilda, conta algumas histórias e das vezes que a encontrava pela rua, o sorriso, o jeito envolvente. Vi lágrimas escorrendo dos olhos de Cida ao lhe contar que estou imbuído de produzir uma justa homenagem para sua mãe. Não havia conseguido, infelizmente com ela em vida, mas tentaria agora, talvez numa rua do bairro, praça ou mesmo um centro de reciclagem. As duas me contam ter ela falecido em 12/10/2019, aos 74 anos, portanto antes da pandemia, num Dia das Crianças e de câncer no pâncreas. Ouço elas dizendo que, Hilda trabalhou até não mais poder, mesmo com dores, descia quase todos os dias, incentivando os seus a ganhar a vida com o que sabia fazer, catando reciclados. Todos por ali continuam vivendo disso. Seu Edenil, o último companheiro, 50 anos, estava naquele momento nas ruas, percorrendo os mesmos trechos então trilhados pela família. Cida, com problemas de visão permanece em casa, mas diz querer também voltar a ajudar no sustento coletivo da família.

Fico com o número do celular de Cida e ela me passa a última foto da mãe, quando no hospital, já abatida, porém nunca vencida. Hilda é do time dos fortes, dos que não se deixam levar. Assim tocou sua vida e foi o que de melhor ensinou aos seus. Escrevi muito dela e com muito carinho. Hoje, firmei compromisso ali naquele portão de, fazer o possível e o impossível para que algo ocorra em homenagem a tão importante pessoa, das mais dignas que conheci nesta terra varonil. Vou levar o tema para a vereadora e ver o que pode ser feito para ontem, pois para hoje já será tarde. Além de tudo o que já escrevi, poderia fazê-lo muito mais. Assim de memória tenho muita coisa ainda guardado dentro da memória, das vezes em que, a via na rua, parava tudo e a observava. São tantos nas mesmas condições, buscando seu sustento com o desprezado por outro tanto, enfim, o reciclado é o disponibilizado nas calçadas. Hilda foi uma fortaleza e assim a entendo, um símbolo dentro de tudo o mais que vejo acontecendo dentro do que faz. Continuo a saga em busca de meu cão e hoje, mais debilitado, pois o baque pela notícia de nunca poder esbarrar com dona Hilda pelas ruas de Bauru foi algo para fazer baixar mais do que desânimo. Busco forças, reúno energias e sei, irei conseguir que algum reconhecimento ela consiga, pois seu nome, já eternizado para mim, também precisa o ser dentro dessa cidade “sem limites”. Para mim, algo precisa ser feito, uma espécie de pontapé inicial para valorização efetiva dos tipos populares de Bauru. Algo já foi feito pelo vereador Roque Ferreira e daqui por diante, ou fazemos algo, ou esses nunca terá seus nomes imortalizados em alguma placa. Viva dona HILDA!

NA CAPTURA
O cão Charles sumiu na noite de sábado e desde então pernoita fora de seus aposentos no Mafuá do HPA. Continuo na captura.

Acordei cedo, escrevi e publiquei algumas coisas muito rápidas, deixei pronto e em andamento alguma ajuda pra Ana nos afazeres domésticos e volto pra rua, no intuito de localizar essa preciosidade perdida. 

Ontem, alguma dicas. Estive em todas as que me indicaram poderia ter vestígios, rastros do meu cão. Fui no entorno do Cartolão, altos do PVA, depois imediações da Porteira do Rio Grande, perto da desprezível Havan, depois percorri tudo no entorno do Prevê Objetivo, centro da cidade. Percorri o Calçadão da Batista, olhei todo o percurso do rio Bauru e dei voltas em lugares não imagináveis. Colei cartazes em postes espalhados cidade afora - e adentro também. 

Estou vendo Bauru com outros olhos, depois de quase ano e meio de pandemia. Poderia escrever várias crônicas sobre as trombadas que vou tendo nas andanças, mas neste momento, estou mesmo é preocupado em achar o danado do fujão e ver com ele se está disposto a voltar pra casa. 

Espero convencê-lo...

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