sábado, 21 de agosto de 2021

REGISTROS LADO B (59)


NO 59º LADO B A PRESENÇA DE UM CATEDRÁTICO DA MÚSICA, CINEMA, O SINGELO E FRATERNO PH, PAULO HENRIQUE LEITE PEREIRA
Nesta semana me contam algo mais da história deste rico personagem das entranhas desta terra varonil denominada também de Sem Limites e vou correndo me certificar de sua situação. Eu conheci o PH há muito tempo atrás e nutro por ele um carinho mais do que especial, exatamente por ele ser dessas pessoas que não mudam um milímetro com o passar do tempo. As coisas mudam, tudo se altera, se transforma, mas o PH continua lá com seu batidão de vida do mesmo jeito que sempre fez, parece até que um tanto apartado dessa vida tão desconjuntada que a maioria vive. Talvez resida aí esse gostar que todos que o conhecem nutrem e demonstram a cada reencontro. Ele é uma das pessoas mais autênticas que conheço e olha que conheço muita gente. Daí, faz muito sentido em ir atrás dele e buscar um depoimento dele, neste bate papo semanal, desta feita o 59º para este projeto de ir contando em drops, uma por semana, algo da vida pessoal de pessoas que marcaram a vida desta cidade, numa forma de deixar registrado o muito feito. PH encarna como poucos isso de LADO B – A IMPORTÂNCIA DOS DESIMPORTANTES e conversar com ele é não só um prazer, como um deleite.

O tempo chega para todos e chegou, evidente, também para este cidadão do mundo, o PH, solteirão convicto, vivendo para suas pequenas e ricas preciosidades, seus discos, livros e histórias, um modo só seu de vida. Aos 69 teve que abrir mão de morar sozinho, pois não estava mais dando conta de tantos detalhes, como se lembrar de um mero horário de tomar seu remédios. Isso pode ter uma importância muito grande na vida de todos, mas com tanta coisa na cabeça, tanta coisa para tocar a vida, alguns detalhes assim passam desapercebidos e no frigir dos ovos são vitais. Quando juntou isso tudo na balança, decidiu ir viver num lar coletivo, onde não se preocupa mais com o alimento, pois ele chegará no horário e tem quem esteja lhe lembrando dos horários dos remédios. No mais, ele continua o mesmo, envolto em suas histórias, discos e tudo o mais tocando sua vida. E ontem, ao procura-lo para o convite deste bate papo, percebi algo grandioso, sua memória continua ótima, como ele mesmo fez questão de dizer quando o perguntei se estava tudo bem. Ele topou na hora sentar e rememorar numa conversa informal, algo de sua trajetória. Tenho a mais absoluta certeza, ele tem muita coisa para contar, deixar registrado, enfim, ele é um ótimo contador de histórias.

Nos últimos tempos era ótimo vê-lo monitorando as visitas lá no Museu Ferroviário de Bauru. Até pouco antes da pandemia nos obrigar a dar um breque em tudo, PH era como uma marca registrada ali na entrada do Museu, sempre pronto para adentrar com quem quer que fosse e contar, nos mínimos detalhes tudo o que ali existe de preciosidade. Um detalhista na acepção da palavra. Ele, tempos atrás esteve cuidando do acervo do nunca inaugurado MIS – Museu da Imagem e do Som de Bauru, catalogando a parte musical. Isso ele fez uma vida inteira com seu acervo pessoal e deve ter sido algo onde reuniu o seu conhecimento ao prazer de ver a música sendo valorizada dentro do espaço público. Depois foi para o Ferroviário e ali se destacou. Uma “peça rara”, dessas sem nenhuma possibilidade de reposição. Igual ou perto do PH, só mesmo o PH. O problema é que costumo fazer meus bate papos, na maioria das vezes via virtual, um do lado de lá e eu aqui de casa, mas com ele isso não é possível. Ciente disso, passei onde ele se encontra e definimos que irei lá gravar ao vivo a conversa. E assim ficou tudo acertado.

Aqui relembro algo escrito por mim e publicado no meu blog pessoal, o Mafuá do HPA, ao longo de mais de uma década de textos diários:

- Publiquei em 01/03/2008: “PH é essa figura boníssima aí das fotos. Ninguém, ou quase ninguém, o conhece pelo nome de batismo, Paulo Henrique. Já, PH é demais conhecido por todas as galeras e thurmas da cidade. Circula em todas e se faz ver e ouvir. Quando o assunto é cinema, lá está o vibrante e entusiasta PH (sócio fundador e primeiro presidente da refundação do Cine Clube de Bauru), quando o tema é gibis, catedrático no assunto, marca presença (trabalha hoje na Gibiteca, junto a Biblioteca Pública Municipal), quando o tema da rodinha é música, ele dá seus pitacos certeiros e decisivos. Não existe outro igual, um grilo falante do bem, daquele tipo que todos gostam de ter como amigo, pois sinceridade é como ele mesmo. Outra coisa, não tentem alterar o ritmo do Ph, ele tem o seu e não adianta vir com pressa, agitos, desespero. O melhor mesmo é acabar se enquadrando no dele. Se querem saber a idade do gajo, nem eu não sei, mas sei que ele continua com essa carinha desde que conheço por gente”.

- Em 02/04/2014 publiquei: “O MUSEU E O PH – UM GUIA, UMA EXPOSIÇÃO E UM ESPECIALISTA - Quero escrever sobre essa nova cara do MUSEU FERROVIÁRIO REGIONAL DE BAURU, com exposição recém-aberta, mas antes quero citar algo lido e estabeleço uma relação das mais oportunas com pessoa dentro do nosso museu. Na última edição da Revista de HISTÓRIA da Biblioteca Nacional (www.revistadehistoria.com.br), a de março 2014, nº 102, na sua última página, a da coluna “A História do Historiador”, o artigo “UM GUIA E UMA ESTÁTUA”, do professor Luiz Estevam de Oliveira Fernandes, da Universidade Federal de Ouro Preto. Eis o link para leitura do mesmo: http://www.revistadehistoria.com.br/.../luiz-estevam-de.... É sobre o mergulho feito por historiadores em bibliotecas e arquivos para realizar seus doutorados. Nas idas e vindas, o autor reconhece dever muito a esses arquivos e aos professores. Vai além disso e aí faço a comparação com alguém do museu bauruense. (...) PH é o cara e a cara do museu. Quando li o texto na revista, a primeira lembrança, tida ainda durante a leitura é a dessa grandiosa figura humana. Ele é didático, sem ser pedante, elucidativo, sem arrogância, claro e objetivo, sem ser chato. Fala muito, envolve o visitante e acaba estabelecendo uma relação afetiva com o visitante, pois o quer absorver, saber do real motivo de sua visita e daí poder informar em detalhes algo mais sobre esse tema. Poucos fazem isso com tamanha abnegação. Ele não faz nada forçado, por imposição, faz porque acredita naquilo que faz. Simples demais da conta, mas indispensável. Hoje quando da visita que fiz ao museu, estava ocupado com uma visita de um grupo de estudantes e fiquei a observá-lo e daí a constatação de tudo o que escrevi. Fui lá por causa dele e do que havia lido na revista e sai fortalecido de que, primeiro, a exposição está bonita e para ser bem entendida necessita de alguém como o PH por lá, o cara certo no lugar certo. Daí para daqui a pouco surgirem muitos espalhando mundo afora que quem os ajudou de fato nas pesquisas foi o PH é um pulo. Ele é tudo isso e nem sabe e por isso estou espalhando e fazendo isso tudo chegar até suas mãos. Ele merece. É O NOSSO SEÑOR HERNANDEZ, COM TODA CERTEZA”.

- Publiquei em 29/08/2019: “LEMBRANCINHAS DO MUSEU FERROVIÁRIO NOS SEUS TRINTA ANOS - Eu também faço parte dessa história, mesmo que, pífia, ínfima, pequena participação, mas a única vez na vida quando estive atuando num órgão público, foi no governo de Tuga Angerami, 2005/2008 e na função exercida por mim, tinha direto acesso ao Museu Ferroviário e Regional de Bauru e tudo o mais à sua volta. (...) Esse museu é a cara desta cidade, pois como até as pedras do reino mineral sabem, o progresso desta aldeia, mesmo muito renegando as evidências, é proveniente dos seus trilhos. (...) São tantas coisas e neste momento, quando perpasso as homenagens todas ocorridas, me sinto contemplado e feliz pelo seu momento atual, uma flor se abrindo para a cidade, pronta para frutificar. Esse museu mora no coração desta cidade, no meu, com certeza. Duas inesquecíveis recordações, seu quadro de funcionários e ao aqui homenagear o amigo Paulo Henrique PH (não existe monitor como este e se fosse citar outra pessoa do local, o faria por Orlando Alves, irretocável no que sempre fez por ali e em toda SMC), o faço a todos e tudo o que já escrevi ao longo deste anos através do Mafuá do HPA, podendo ser recordado clicando no link a seguir: https://mafuadohpa.blogspot.com/search...”.

Algo mais dele hoje na conversa semanal e tendo PH do lado de lá, papo arrebatador.
Vamos juntos?

EIS O 59º LADO B, HOJE COM O PH, NOSSO MENESTREL EM QUESTÕES DE CINEMA E MÚSICA, 69 ANOS E ALGO DE SUA INTENSA TRAJETÓRIA DE VIDA
Contatar com o PH, nosso Paulo Henrique Leite Pereira é muito fácil, ele adorará receber sua ligação. Liguem para 14.99147.6409.
Conversando a gente se entende. Aqui em 1h15, bocadinho dessa rica história, intercalando algo com a do Cine Clube até as imortais monitorias no Museu Ferroviário. PAIAGÁ continua imbatível, imperdível e inquestionável. Gente melhor impossível. Desconheço alguém com mais pureza do que este nobre cidadão. Bater papo com ele é travar conhecimento com alguém diferenciado e conseguindo viver intensamente neste mundo enquadrado dentro de moldes não muito nobres. Eis um que vive sem se ater as convenções...

O LINK PARA ASSISTIR BATE PAPO DE 1H15: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/612932156358403


A ENGRENAGEM ESTÁ TODA DOENTE, MAS...*
* Eis meu 27º artigo para edição semanal do DEBATE, de Santa Cruz do Rio Pardo:

Dizem que a fila de espera para se conseguir uma vaga hospitalar hoje na rede pública de Saúde de Bauru é de aproximadamente 60 pessoas. Este número eu consegui conversando com funcionários do setor, muitos dentro dos hospitais locais. Existem neste exato momento muitas pessoas com enfermidades graves e aguardando vagas em situação nada confortável, dentro das UPAs – Unidades de Pronto Atendimento e mesmo no Pronto Socorro Central. Se a situação é essa, uma só certeza, Bauru carece de um atendimento conseguindo suprir a demanda. Temos dois hospitais atendendo todo o público da cidade, somando-se a estes a população da região que para aqui é encaminhada. O Hospital Estadual e o Hospital de Base, as duas unidades e outro, num eterno chove não molha, num sempre futuro Hospital das Clínicas, esse junto da FOB – Faculdade de Odontologia de Bauru.

Nessa semana o Governo do Estado de SP abriu mais 30 leitos de Covid na cidade. Isso é uma coisa, hoje praticamente normalizado esse atendimento, pois muitas vagas para essa finalidade estão sendo até desativadas. Por outro lado as vagas para outras especialidades e enfermidades continua um verdadeiro “deus no acuda”. Enquanto a cidade aguarda, sem saber se existirá demanda, diante da nova cepa do vírus começando a circular na região, leitos estão vagando e muitos vazios nesse quesito, mas noutros a lotação é mais de 100% e uma loucura para se conseguir vagas.

O leigo, e me coloco nessa situação, costuma misturar uma coisa com outra. Ele não entende como vagas existem para uma coisa e não podem ser utilizadas para outra finalidade. Enquanto isso, basta uma rápida circulada pelos tantos postos de atendimento emergencial espalhados pela cidade para sentir a fragilidade do sistema e também sua deficiência. Vivencio o drama nestes dias de filho de um conhecido, já há alguns dias numa cama improvisada num destes locais, sendo ali tratado e sem conseguir vaga. Sua situação é grave, muito debilitado, mas nem isso é suficiente para garantir internação.

Diante da gravidade, ocorre sempre aquele serviço feito nos bastidores, onde uma espécie de corrente é feita. Não se trata somente a de oração, mas a de estabelecer e fazer contato com quem quer que possa ajudar. Um liga para o outro, todo tipo de ajuda é bem-vinda, tudo para tirar o parente da situação precária. Todo e qualquer que conheça alguém dentro do sistema é acionado. No caso onde acompanhei, mais de dez contatos, desde um político, alguém da área médica, outro pistolão, um conhecido dentro da estrutura e de tanto insistir, a vaga acaba saindo e o paciente é finalmente transferido para um hospital de fato e de direito.

A família não sabe como agradecer. Dentro deste clima, ouço membro dessa família, feliz da vida, mas se dizendo mais do que entristecido, pois como me disse, “a vaga para meu parente foi conseguida, mas sei, se ela ocorreu, diante da fila de sessenta pessoas, 59 foram passados para trás”. A situação atual é bem essa, sem tirar nem por. Como agir? Sem a vaga, talvez uma vida poderia ter se perdido, porém, quem nos diz que, diante da fila interrompida e salvando uma, outras não tenham se perdido. De tudo, a certeza, o sistema está doente, tanto quanto a população precisando dele.

Aqui, interior de São Paulo muita coisa ainda sendo resolvida, diferente de outros centros urbanos. Existe hoje mais do que um elo quebrado, funcionando fora do controle, mas a máquina não pode parar e se o fizer, daí sim o caos estará instalado. Todos sabemos, tem algo de muito errado em andamento, mas como estancar tudo dentro de uma conjuntura toda construída aos trancos e barrancos? Estamos todos doentes, temos ciência, mas diante dos fatos, sabe-se ao menos mais uma vida pode ter sido salva neste momento. Isso é alento, desesperança ou a certeza de que o caos será inexorável?
Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e professor de História (www.mafuadohpa.blogspot.com).

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