EIS O 60º LADO B, HOJE COM UM PROFESSOR DE LUTA, O MARANHENSE RUI DOM QUIXOTE, DE PEDERNEIRAS, SEM MEDO DO ENFRENTAMENTO COM A PERVERSIDADE DESTES TEMPOSÉ indescritível para este colecionador de boas conversas quando diante de alguém verdadeiramente de luta e ouvi-lo, algo de sua resistência e poder passar isso adiante. É o que faço neste momento, quando chego no 60º registro deste inusitado projeto, o LADO B – A IMPORTÂNCIA DOS DESIMPORTANTES e trago à baila a história de vida e resistência de mais uma valoroso cidadão, esgrimando contra as injustiças destes tempos. RUIDEGLAN PAIXÃO DE ARAÚJO SILVA, 44 anos, o nosso RUI DOM QUIXOTE, professor de História na vizinha Pederneiras, na rede pública e particular, corajoso como poucos, desses que não se intimida com nada e está aí para provar que o mundo precisa cada vez mais de gente assim, corajosa, destemida e arrojada. Rui é além de tudo maranhense e com muito orgulho, destes que para declarar o amor pela sua terra, tatuou em sua perna o mapa do Maranhão e quando inquerido, declara aos quatro ventos dos motivos desse amor, numa relação indissolúvel. A sua história eu tento desvendar em mais uma boa conversa, dessas que travo aqui a cada semana e com o intuito de ir registrando isso mesmo, algo mais que a gente não encontra facilmente pela aí, mas que precisam ser conhecidas, passadas adiante.
“Em a República, Platão lança sobre a sociedade ateniense um olhar, que, mesmo passados 2,3 mil anos desde sua formação, pode nos instigar a pensar algumas questões sociais. Para o filósofo, aquela sociedade estava focada nos ricos. (...) Platão buscava então salientar que realmente importa saber quem admiramos, porque as celebridades celebradas em uma sociedade influenciam nossas perspectivas, ideias e condutas. Portanto, o problema dos heróis ruins seria o fato de eles glamorizarem as falhas de caráter. Platão sugere que Atenas adote novas celebridades, substituindo as antigas por pessoas idealmente sábias e bondosas, que ele chamaria de GUARDIÕES. Essas pessoas serviriam de modelo para o bom desenvolvimento daquela sociedade. A elegibilidade dessas pessoas seria decidida a partir de seus históricos de serviço público, sua modéstia e hábitos simples, sua aversão aos holofotes e sua ampla e profunda experiência. Elas seriam as pessoas mais honradas e admiradas naquela sociedade. (...) Espero que possamos seguir na resistência , rumo à emancipação de nossas consciências, e na luta política por uma história e uma memória da qual possamos nos orgulhar”, assim escreve Rita Von Hunty, no texto “A luta pelo bom senso”, Carta Capital, 11/08/2021 e aqui compartilhado por este o ideal dos que aqui comparecem a cada semana, ressaltado e em muito no ideal de vida de Rui Dom Quixote.
Rui sabe muito bem, não é nada fácil ser Dom Quixote nos tempos atuais. “Eles” fazem de tudo e mais um pouco para aliciar as pessoas do ideal escolhido, querem a todos conduzidos como gados, rezando numa detestável e deplorável cartilha de “bons costumes” e para aqueles que insistem em seguir um ideal por eles não recomendado, a penalidade é o desmedido padecimento. Todos os insistentes padecem desse sofrimento imposto pelo regime onde estamos inseridos. Este Rui é do time dos que não se vergam e isso o engrandece, o torna inquebrantável, diria mesmo, dos tantos ainda imprescindíveis deste mundo. Ser imprescindível neste mundo é isso, é resistir, enfrentar, não ter medo, lutar sempre e demonstrar isso, conseguir passar essa mensagem e assim, ir tocando o barco, ajudando a construir esse novo mundo, mais do que possível quando mais pessoas assim estiverem dispostas a lutar e não se entregar. O escolhido para este bate papo semanal é do time dos que não se vergam de jeito nenhum e tem muita história para contar. Registar isso é imprescindível.
Abaixo cito algo que já escrevi dele no meu blog pessoal, o Mafuá do HPA (www.mafuadohpa.blogspot.com), onde mantenho textos diários, publicados de 2007:
- Em 25/05/2012 publiquei: “O NOME DA FILHA DO RUI É UMA LINDA HOMENAGEM AO INSTIGANTE “LENINE” - Ruideglan Paixão de Araújo Silva é maranhense, 35 anos e mora em Pederneiras desde a saída do Nordeste. Ano passado concluiu o curso de História e dá aulas para alunos do ensino fundamental na cidade que escolheu viver. Militante da esquerda gosta das cores do PSOL, mas milita no PT, pois em Pederneiras esse o único partido com características próximas de sua linha de pensamento e ação. Alessandra Coutinho Silva, 31 anos é a esposa, ambos jovens e cheios de planos. Ano passado nasceu a segunda filha do casal, novíssima joia rara na vida de ambos, MONICA LENINE COUTINHO SILVA. Mas o que esse nome tem de tão diferente? Quarta, 23/05, Bauru assiste a um dos melhores shows ocorridos na cidade, “Chão”, o novo do cantor e compositor LENINE. O SESC explode de gente de todas as idades, sucesso total e a comprovação de ser ele um dos grandes nomes firmados na constelação dos astros brasileiros. No final do show uma legião de conhecidos, fãs e gente atrás de uma foto ou um autógrafo do astro. Dentre eles, Rui, Alessandra e a pequena MONICA. Lenine é super-simpático e atende a todos que o esperavam numa fila do lado de fora do camarim. Ali naquele momento fica sabendo que o Rui havia colocado o seu nome no de sua filha e isso por gostar demais do seu trabalho. Trouxe até a Certidão de Nascimento original para o caso de não acreditarem no que dizia. Abraços, fotos, uma dedicatória e pouca coisa além disso. Muita gente na fila do gargarejo.
Conheço Rui dos tempos em que fui dar uma palestra sobre Patrimônio Histórico para os alunos da Márcia Nava lá na USC e nos tornamos amigos desde então. Empatia de propósitos e proposituras. Cabra arretado, posicionamentos firmes e desses que não fazem homenagens simplesmente por fazer. O motivo tem que ser consistente. E é. “Gosto do Lenine desde que o vi cantando há uns dez anos atrás, acho que na TV Cultura. Ele faz parte de uma seleta safra composta por Pedro Luís, Chico Cesar e Zeca Baleiro. Passei a observá-lo melhor e fui gostando cada vez mais. O legal desse pessoal é que atingem tanto a molecada, como o pessoal mais velho. Fagner fez algo parecido bem lá atrás, mas enveredou- se por outros caminhos. Zé Ramalho canta muito, mas perdeu fôlego junto aos mais jovens. O Zeca vai mais para o lado do pop e o Lenine não decepciona, tá cada dia melhor, letras bem construídas e envolventes. Batem com a minha forma de pensar e agir. Entre todos é muito pé no chão. Trabalha melhor a poesia, sem ser superficial. Ele me conquistou e não me arrependo do que fiz”, conta. O que fez foi o seguinte. A filha nasceu e já tinha amadurecido a vontade de homenagear Lenine. A esposa não estava totalmente convencida, mas com fez cesariana, não pode ir comigo no cartório. Tasquei duas homenagens de uma só vez no nome da filha, MONICA (“sem acento, mais universal”, diz) por causa da música do Legião Urbana e LENINE pelo motivo mais do que exposto agora. Logo depois Alessandra aceita bem o nome e tudo continua seguindo em frente. Até saberem do show em Bauru. Eu na fila ouço a história, tiro fotos e a Cristina, jornalista do Bom Dia interessa-se pelo tema. Hoje esse texto saindo aqui, uma matéria no BD ali e contatos sendo feitos para que tudo chegue ao conhecimento da esposa do Lenine, Anna Barroso e consequentemente a ele próprio”.
- Em 10/02/2021 publiquei: “RUI, ARRETADO MARANHENSE, PROFESSOR EM PEDERNEIRAS, TOMATEIRO NAS HORAS VAGAS - Rui é esse arretado cidadão, maranhense nato, nascido e criado em São Luís, a capital e, como muitos dos seus, acaba dando com os costados aqui nesse lado do país, antigamente denominado como "Sul Maravilha". Veio, assuntou, cheirou, provou e ficou, acertou a passada e se instalou em Pederneiras, onde ingressou na escola pública e dela faz sua vida. Um professor na acepção da palavra, dedicação exclusiva e total entrega para uma Educação voltada para transformar as pessoas. Pessoa marcante, significativa no seu entorno, faz e acontece e dessa forma ajuda substancialmente esse mundo a ser melhor, com mais sustância. Inquieto e revolucionário, enfrenta todos os moinhos e dragões da maldade com a cara e a coragem, tanto ter incluído um "Quixote" ao seu nome pelas redes sociais. Só para se ter uma ideia de como se dá sua vida e luta, certo dia ao nascer sua filha, a ela foi dado o nome de Lenine, homenagem ao líder revolucionário e ao cantor nordestino. Belas escolhas. Rui é dessas pessoas que a gente escreve laudas, só com elogios, pois o cara é centrado, focado, não se desvia da linha de conduta e ação por nada nesse mundo. Agora mesmo, nordestino de uma cepa inquebrantável, vestiu a camiseta do bloco Bauru Sem Tomate é MiXto logo de cara, vem com a família de sua cidade pra cá só para se juntar a outros iguais, os com a mesma disposição e mostra algo mais, uma tatuagem ainda fresquinha, feita em etapas em sua perna, pois pela dor não conseguiu deixar ser concluída assim de uma só vez. Tatuou o traçado de seu estado, o Maranhão, com suas cores, misturadas com a do reggae e assim, demarca pro resto de sua vida, amor incondicional de suas origens. É uma delícia ser amigo de gente como o Rui, sempre cheio de boas histórias para contar e com outra qualidade, bom ouvinte, escutador atento, sempre pronto a aprender. Tiro certeiro, cabra marcado para resistir. Rui é gente que está com o Tomate desde sempre e nós, os tomateiros, com ele. Nos merecemos”.
- Em 05/03/2015 eu transcrevi algo dito por ele: “Confesso estar preocupado com uma onda de demência contagiante que está levando parte da população dita "esclarecida", defender um impeachment de uma presidente eleita democraticamente, e sonharem com militares no poder. O pior é ver profissionais da educação contaminados por essa demência. Assim, me resta parafrasear o maluco beleza Raul: "Parem o mundo que eu quero descer...".
- Em 11/07/2018 publiquei: “Rui O Doutrinador é uma piada pronta do professor de História, residente em Pederneiras e tendo como filha alguém que deu o lindo nome de Lenine, em homenagem ao trabalho do cantor pernambucano. Nessa foto, de férias e em passeio pelo Nordeste, ao se deparar com um grafite montado na rua foi lá e confirmou o que todos já sabíamos, é mais do que favorável ao LULA LIVRE e ao retorno do país à sua normalidade com Lula podendo concorrer na próxima eleição e darmos um fim no golpe neoliberal que danou o país de verde e amarelo. De doutrinador tem pouco, mas de perseverante pelas lutas democráticas tem muito e dela está na lida faz muito tempo. E dela não quer sair enquanto o povo não for vitorioso”.
Hoje vai ter muito mais e numa reveladora conversa. Imperdível, como tudo o que Rui produz em sua vida. Vamos juntos?
Eis o link do Bate Papo de 1h15: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/286331379963795
* Eis meu 28º texto, saindo edição impressa hoje nas bancas, do semanário DEBATE de Santa Cruz do Rio Pardo:
Ter coragem é uma coisa e praticá-la é outra. Não é nada fácil o exercício diário de bater de frente com os “donos do poder” de um lugar. Certa feita fui fazer uma matéria em Borebi, três mil habitantes, onde o prefeito dominava a cidade e ninguém quis me dizer nada de denúncias que fui lá averiguar. Um comerciante me disse textualmente: “Você tá louco, tenho meu pequeno negócio, vendo pra Prefeitura e se falar algo, ele deixa de comprar comigo e faz campanha contra. Irei falir. E se publicar algo e citar meu nome, te caço e vai se arrepender”.
Não só o medo domina em situações semelhantes, mas um certo receio. Semana passada aqui em Bauru, seguranças do supermercado Confiança agrediram um morador de rua e na imprensa massiva só algo pela TV Tem, nada mais, nem rádios, nem jornal. Essa rede é uma das maiores anunciantes da cidade. Isso é rotina. Todos sabem existirem algo que sai e algo que não pode sair publicado. Esses limites impostos pela força do capital são a regra limite entre uma informação que pode ou não ser veiculada. Não pensem que algo assim é restrito a imprensa interiorana. Ledo engano. Coragem é para poucos.
Daniel Dantas, o banqueiro baiano que um dia quase derrubou a República, certa feita intimidou Mino Carta e sua revista Carta Capital fazendo um gigantesco anúncio, tudo para que ele se calasse diante de denúncias graves contra seus procedimentos. Na edição seguinte a revista soltou a matéria e o anúncio foi cancelado. Quantos possuem essa coragem, ainda mais em tempos de vacas magras? A maioria se deixa levar e faz como uma rádio daqui que, descia o pau num prefeito, algo fora do normal, até o momento em que começaram a circular no ar anúncios da Prefeitura. A mudança foi da água para o vinho, pois de uma hora pra outra, de críticas só se ouviam elogios. Uma vergonha.
Agora mesmo por aqui até bem pouco tempo a Jovem Pan, que chamo merecidamente de Velha Klan estava numa linha crítica com a novíssima (sic) prefeita de Bauru, Suéllen Rosim, mas algo mudou e não foram anúncios. A administração continua cada vez mais claudicante, porém, estão agora tentando mostrar que tudo mudou, porém, tudo continua como dantes. São as ocorrências mais do que inexplicáveis de uma imprensa que, agindo assim, cai cada vez mais em descrédito. Aqui por exemplo, nas três mais expressivas emissoras de rádio, com programas jornalísticos, todas indistintamente pegam muito leve com o desGoverno Federal. Parecem até serem “chapa branca” e assim agem, sem sacar da existência de parcela significativa de bauruenses que já abandonaram o barco bolsonarista. Tivessem ao menos um meio de imprensa nesse segmento, abocanhariam fatia considerável de audiência. Preferem todos continuar endeusando o capiroto, mesmo com toda comprovação de sua inapetência.
Espezinhar a esquerda é com eles mesmos, já do milicianismo em curso, preferem se omitir, não se sabe se por receio ou por pensarem exatamente da mesma forma e jeito. Silvio Santos, o capo do SBT, ao menos é mais honesto e quando inquerido sobre o assunto foi direito: “O presidente é meu patrão, sou dono de uma concessão e quando muda o governo eu mudo junto. Nunca vou falar mal de quem manda no meu negócio”. Imaginem como é o jornalismo de uma TV dentro dessa concepção? Enfim, essa pasteurização está mais do que dissimulada, espalhada como praga. Fugir disso hoje, só mesmo pelas redes sociais ou um ou outro corajoso além do convencional, o que está cada vez mais difícil.
Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e professor de História (www.mafuadohpa.blogspot.com).
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