QUATRO CAPÍTULOS DA MESMA HISTÓRIA
1.) ENCONTRO COM UM DOIS CÓRGO NO CAMINHO DA ESTAÇÃO SÃO BENTOChove no Porto. Ana não me deixa dirigir o carro alugado. A intenção é caminhar até a estacão São Bento de trens. Viagem de trinta, quarenta minutos. Na esquina paro para me informar do rumo certo. O moço a limpar vidros na loja fica indeciso na informação correta. Noto não ter sotaque. Pergunto se é brasileiro e de onde é. Diz que sim e pergunta se conheço São Carlos. Digo ser de Bauru, quando abre sorriso ainda maior, pergunta se conheço Dois Córregos, na verdade, sua aldeia.Ele interrompe seus afazares e ficamos a rever lugares dois córgueanos. Por fim, esgotado o assunto, digo se sabe pra que lado fica a Estação São Bento. Pede para ir em frente, diz serem somentre sete meses em Portugal. Eu e Ana vamos debaixo de persistente garoa. Fina, porém chata. Fomos e voltamos, foi quando lhe disse ele não saber nada do Porto. O caminho certo era o oposto do indicado por ele. Rimos, trocamos mais algumas palavras e fico sabendo, trabalhava com rodeio no Brasil e em Portugal seu emprego é limpeza de fachadas. Ana olha bem pra nós dois e afirma sermos, os dois, a mais exata expressão da caipirice interiorana paulista.
Chegamos na estação. Linda, muitos azulejos e ao fundo o guichê de venda de passagens. O simpático português nos informa, "hoje não tem trem para Guimarães, pois os maquinistas estão em greve". De ônibus, recomenda, "nem pensar, demora demais". Compro dele pins com motivos férreos. Um euro cada, trago cinco. E agora, garoa continua, trens parados, ida para Guimarães cancelada e um mundão pela frente, logo ali na curva da esquina. Queria poder convidar o Dois Córgo pra passear conosco.
2.) TRENS EM GREVE, QUASE LEVAMOS O BILHETEIRO A PASSEAR CONOSCOOs trens estão parados no Porto, motivados por greve. O atendendente na bilheteria é muito simpático, conversador, me vende os pins e ficamos a conversar sobre as opções em dia de chuva. Diz que, a troca mais acertada é ir caminhar na beira do rio Douro, atravessar a ponte e conhecer as vinículas de vinho do Porto. Aponta com o dedo o caminho a ser seguido e me orienta: "Compre ligo um guarda-cuva ou capa dos indiano, não pague mais que 5 euros e divirta-se muito".
Ele saiu do seu guichê, veio até a beirada da calçada e ficou na garoa nos indicando os descaminhos para aquecer a alma neste dia. O convido para ir conosco, espécie de guia. Declina educadamente, diz amar o Brasil, tanto ter casado com nordestina, de Campina Grande, lugar que ele diz gostar muito, a!Paraíba. Ele volta para!se guichê e compro a capa de chuva numa das lojas dos indianos. Rua colorida de lindos mercadoseu e Ana demoramos uma imensidão para atravessar a distância de um mero quarteirão. Tudo nos distrai, tudo nos atrai, desde a livraria, como as pequenas lojas, cada qual embutida de ricas histórias de vida. Queria ir parando e ouvindo todas, mas nosso destino é a beirada do rio. Acredito, conseguiremos chegar lá até o final do dia.
3.) DA PRAÇA INFANTE D. HENRIQUE ATÉ A PONTE A NOS LEVAR DO PORTO PARA VILA NOVA DE GAIAReencontro por aqui com o Infante D. HENRIQUE, que por anos me acompanhou e eu a ele, pois como somos homônimos, curioso, o acompanho desde a Escola de Sagres, o grande pensador das navegações que vieram dar no Brasil e séculos depois, outro reencontro, quando lhe deram nome para bairro bauruense, onde Ana Bia morou por alguns anos em Bauru. São as tais coincidênciss da vida. As rememoro neste momento, quando cruzo com a praça com seu nome.
Cruzamos a praça e seguimos decididos rumo as margens do rio Douro. Em cada trombada, piscar de olhos, algo novo e a merecer nossa parada, registro e conversa. Como tem brasileiro por aqui. Creio temos visto mais bradileiros do que os próprios portugueses, estes sempre muito amáveis. Uma ladeira até uma das pontes metálicas, atravessadas pra, no outro lado, ir em busca da fonte do famoso Vinho do Porto. Resistimos bem e assim continuaremos.
4.) VINÍCULAS DO PORTO, ANDANÇAS VARIADAS E MOVIMENTADA CASA ONDE REINA BRASILEIRAS NUM BAR DOS MAIS MOVIMENTADOS
O deslumbre do outro lado do rio e as visitas, uma a uma, conhecendo cada vinícula do famoso Vinho do Porto. Nem imagino quais os planos de Ana Bia Andrade para driblar o excesso de peso de nossas malas. Ah, as malas extraviadas e hoje devolvidas, intactas e pesadas, gerando comentário de um funcionário do hotel: "Estão a carregar alguns defuntos?". Em cada lugar, conversas alvissareiras e dá-lhe vinho.Não almoçamos. O café da manhã foi por demais farto. Demos um pit stop num Mercadão, defronte um quiosque, o mais movimentado, onde três brasileiras trabalham cantando música brasileira o tempo todo. Quando me vejo diante delas e o vozeirão do Emilio Santiago ecoando no ar, lhe pergunto se é de alguma rádio. Ela me conta como faz, tudo seleção sua e tirada do youtube. Mas o sucesso de suas batidas e comidinhas, todas tem o toque brasileiro como a mola mestra. Esse o diferencial. Sento defronte, Ana pede algo especial e muita saída, vinho do Porto branco com água tônica, hortelã, rodela de limão e gelo.
Andar, andar, andar e ir vendo com seus próprios olhos as transformações ocorridas nestes lugares. Alguém me diz que, apenas dez anos atrás, muita coisa ainda encontrava-se degradada, estado de abandono e hoje, tudo revitalizado e preservado. O cuidado também reside nas placas, quando fixadas com um aviso informando que as obras ocorrerão o mais rápido possível, para não atrapalhar tanto o contato humano. Isso onde vivo, comparando com placas públicas no Brasil, meros objetos decorativos, pois as obras posssuem começo, não sei se meio, quase nunca um fim. Portugal é lindo, e olha que só vi o Porto e suas redondezas até o presente momento.
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