CONVIVENDO COM FASCISTAS*
* Meu 99° artigo para DEBATE, de Santa Cruz do Rio Pardo.
O ocorrido no sul do país com algumas de nossas mais famosas vinícolas envolvidas em dantescas histórias de escravidão, nos fazem refletir sobre o quanto o fascismo e as degradação moral do ser humano convive tão próxima de nós, sem que nada façamos para impedir seu avanço. Quando temos informações de abusos e atos perigosos e nada fazemos, estamos no mínimo sendo coniventes. O Brasil inteiro conviveu até dias atrás com golpistas insuflando atos terroristas de direita, com aqueles ajuntamentos perigosos e fora da lei diante de quartéis. Na maioria das cidades, todos os que lá estavam, bancaram o diabólico festim, financiaram a esbórnia e hoje, continuam impunes, como se nada de errado tivesse ocorrido.
Por mais de dois meses, ou desde o resultado das eleições, algo foi montado nas entranhas deste país, de uma forma muito sórdida, bancada por muito dinheiro e garantida por gente conhecida de todos. Até dias atrás, gente graúda de nossa convivência fazia questão de mostrar apoio, levando inclusive alimentos para estes. Agiam criminosamente e sob holofotes. E só pararam por causa do ocorrido dia 8 de janeiro. Do contrário, estes continuariam agindo como foras da lei.
Passado este lamentável momento da historiografia brasileira, vieram outros. Os golpistas foram derrotados, mas não vencidos. Durante o desGoverno de Temer e Bolsonaro, toda uma legislação trabalhista foi desmontada e muitos empresários começaram a fazer de tudo, sem que nada os impedisse de agir descaradamente contra os direitos até então garantidos dos trabalhadores. Garantir a manutenção de regras básicas civilizatórias é um mínimo, pois do contrário, passamos a viver num mundo onde o mais poderoso oprime sem dó e piedade o semelhante em desvantagem.
O ocorrido com as vinícolas gaúchas demonstra bem isso tudo. A prática de regime de escravidão com trabalhadores, tudo para sem acompanhamento de legislação de defesa para estes, demonstra algo mais do fascismo já instalado e em ação no meio do mundo onde vivemos. Certa feita entrevistei um sindicalista de velha cepa, já falecido e ele me dizia do que observou numa viagem para Europa, quando presenciou empresários de lá satisfeitos com lucros de 10% a 20%. Isso faz parte do passado e hoje, pensa-se em lucros exorbitantes e para consegui-los se faz necessário oprimir cada vez mais, suprimir leis e impor o retorno de mentalidade escravagista. Foi o que fizeram e com consentimento federal. Eis porque muitos apoiam Bolsonaro. O empresário já desvirtuado de regramento, pode e quer tudo. Faz tudo.
Isso vale para tudo o mais. Com o ocorrido, nada melhor para exemplificar da necessidade de regramento, leis duras e implacáveis, pois vivemos tempos onde deixando a pessoa decidir por si, ela pende a oprimir e passar por cima do outro com um trator, sem nenhuma sensibilidade. O fascista se aproveita de brechas, momentos como os vividos nos últimos sete anos e com o enfraquecimento de regramento de conduta, age em benefício próprio. O momento exige imediato resgate de acompanhamento. Estávamos próximos de algo como, havendo reclamação pelas condições de trabalho, não só apanhavam como passaram a ser mantidos em cárcere e trabalho ininterrupto, sem remuneração, tudo insalubre.
Estes mesmos, praticando isso, continuam a frequentar seus templos, comem do bom e do melhor, ganham muito mais e não se satisfazem mais com porcentagens pequenas de lucro. Com o ocorrido em 8 de janeiro e agora na serra gaúcha, tudo o que se precisa para devolver ao país algo palatável de legislação coercitiva contra algo perigoso em curso. Perceba por detrás de todo discurso bolsonarista algo perverso e insano. Basta analisar caso por caso, esses estavam destruindo com o país e felizmente, pelo visto, agora podem ser contidos, punidos e voltarmos a ter convivência palatável. Fascistas não passarão!
Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e professor de História (www.mafuadohpa.blogspot.com).
Um comentário:
HPA, primeiramente gostaria de parabenizá-lo por realizar publicações constantes nesse blog desde 2007.
A maioria das pessoas não tem essa disciplina e perseverança.
Você demonstrou ser diferente.
Me identifiquei, gosto de ser diferente. Inclusive, fui o único que vim do Debate para cá. E se não faltar respeito de ambas as partes, quem sabe podemos ser amigos? Porque não? Da minha parte jamais faltará respeito.
Mesmo você não solicitando e talvez nem se importe, mas ainda sim vou expressar meu sentimento com relação a seu artigo. Amigos fazem isso. Além de que, você entendendo como o "lado oposto" (interlocutor?) pensa, ou se sente, talvez te ajude em suas próximas argumentações.
Vamos la...
"O ocorrido no sul do país com algumas de nossas mais famosas vinícolas envolvidas em dantescas histórias de escravidão, nos fazem refletir sobre o quanto o fascismo e as degradação moral do ser humano convive tão próxima de nós, sem que nada façamos para impedir seu avanço."
1- Mencionou a palavra Fascismo.
Assim que a palavra fascista é mencionada, a primeira coisa que vem na mente é: "ESSE CARA CHAMA BOLSONARO DE FASCISTA".
Minha sugestão:
Jamais mencione a palavra Fascista.
Substitua ela por uma frase, um significado.
Algumas palavras tem o incrível poder de bloquear o ouvido do interlocutor.
Toda vez que você mencionar a palavra fascista para um público conservador, de direita, que ama a Deus e sua pátria, esse público vai desprezar todo o resto que você disser, ainda que esteja 100% correto.
Dá-se a seguinte impressão: "Todos aqueles que odeio, eu chamo de Fascista"
2- Degradação Moral
Tenho certeza que a esquerda contribui, contribuiu e contribuirá com a degradação moral do ser humano.
Estou errado?
Discorda?
3- "sem que nada façamos para impedir seu avanço."
Como assim não fazemos nada, não entendi.
Dentro de minhas grandes limitações, dou meu melhor diariamente para conter seu avanço.
Essa frase soou tipo os "lacradores" da esquerda que cobram de jogadores de futebol um posicionamento sobre o caso do Daniel Alves.
Tipo, não se tem dados conclusivos sobre o caso do Daniel Alves e querem que tomem posição a respeito.
Se eu fosse jogador, o que eu diria: "Todo estuprador deve sofrer o rigor da lei. Não faço ideia se Daniel Alves fez algo. Ponto final."
"O Brasil inteiro conviveu até dias atrás com golpistas insuflando atos terroristas de direita"
Atos terroristas? Aonde? Quando?
Teve tentativa de homicídio?
Ato terrorista sem tentativa de homicídio? Isso não existe.
O que teve sim foi uma bagunça, arruaça que precisa ser investigada e punir todos os responsáveis.
Minha sugestão novamente vai no sentido de trocar a palavra.
Você deseja se comunicar apenas com pessoas que tem viés ideológico de esquerda?
Não altere nada.
Continue exatamente da forma como está.
Agora, se tem o desejo de se comunicar com um público maior, sugiro fortemente trocar a palavra "terrorista".
Eu ia continuar até o final do artigo, mas talvez você fica com raiva de mim, talvez não curte, não sei, me segurei.
Para finalizar, é óbvio que o caso das vinícolas foi horrível e DEVE SER PUNIDO.
Novamente parabéns pela sua disciplina e perseverança.
Me coloco à disposição para debatermos, "brigarmos" no bom sentido, inclusive via whats também, porque não, penso que áudios são muito mais tranquilos do que palavras. Palavras muitas vezes aparentam ser ásperas. São muitas vezes mal interpretadas.
Abraços! Fica com Deus!
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