sexta-feira, 10 de março de 2023

FRASE DE LIVRO LIDO (187)


ENFIM, UM JORNAL PARA LER, SEMANÁRIO EXPRESSO, DE PORTUGAL
Andei por aqui em várias bancas e em todas ele ali, exposto, tentando ainda se manter forte e rijo. Expresso, chegando aos 50 anos, semanário no estilo do bom jornalismo, o da verdade factual dos fatos. Eu já coNhecia sua fama, li algumas coisas pela internet e agora, compro edição impressa desta semana, saindo hoje nas bancas e numa quase ao lado do hotel onde estamos hospedados, eu e Ana Bia Andrade. O jornaleiro tem a cara e o jeito de trabalhar do seu Orlando, o último dos moicanos de Bauru, resistindo até quando deu na rua Primeiro de Agosto.

Seu Orlando fechou e o português dono da banca do Porto, junto da praça Batalha e da Livraria Latina conta entristecido do quanto vendia no passado de jornais e revistas e o quanto vende hoje. Digo a ele ter perguntado no hotel sobre um jornal português, para verdadeiramente ler o interlocutor nem pensa muito: "Pode ser um semanário? Compre o Expresso". Foi o que fiz. O jornaleiro confirma ao me entregar a edição semanal, dentro de uma sacolinha específica. Linda embalagem, inigualável cheiro e agora, nada melhor do que a sua leitura para me certificar de seu cobteúdo. Duas revistas encartadas e muitos artigos assinados, como preza em qualquer semanário.

Ao lado da banca, que neste caso específico, vende no máximo umas lembranças da cidade do Porto. Ou seja, ele tenta bravamente ir levando o barco adiante. Enquanto converso com ele, percebo ao fundo uma senhora, que se aproxima e lhe traz café, ou seja, eles moram no fundo da banca, com a entrada da casa, a mesma da banca. Respiram o pequeno negócio nas 24h do dia. Ele me diz abrir 7h e fechar 19h, todo dia. No meio das revistas e jornais expostos um lembrete a definir os procedimentos para quem costuma pegar a revista e ficar a ler ali no local e depois a abandona, sem a levá-la consigo: "A leitura de jornais e revistas implica na sua compra". Conversamos também sobre o momento atual, onde os jovens não mais se interessam por leitura do papel, fazendo tudo através dos meios virtuais, ou seja, quem mantém as bancas ainda abertas são os mais velhos, os que ainda não abdicaram da leitura do formato papel.

Volto para o hotel com meu cacatau, um pesando algo bem próximo de 1k e imagino como farei para levar tudo para o Brasil, pois com cada mala pesando no máximo 23k e Ana comprando presentes para todos de Bauru, talvez meu Expresso tenha que ser deixado no aeroporto. Espero tê-lo lido até lá. Para tanto tenho mais uma semana pela frente e se bobear, o que gostaria mesmo de fazer é levar a edição dessa semana e também a da próxima, exato dia de meu embarque para o Brasil e ir lendo ela fresquinha no avião. Por enquanto, tentando encontrar um tempinho, nem que seja na madrugada para ao menos folher a contento a edição que tenho em mãos.

DOS BRASILEIROS EM PORTUGAL*
Meu 100° artigo semanal para DEBATE, de Santa Cruz do Rio Pardo:

Estou essa semana em Portugal, Porto e adjacências. Adentro Lisboa no meio da semana que vem e o que mais tenho visto por essas bandas portuguesas são brasileiros. Praticamente não existe restaurante por aqui sem atendentes, tentando ser garçons, em plena atuação. Porto hoje é uma espécie de cidade quase brasileira. Trombo com brasileiro por todos os lugares. Nos restaurantes, a profissão mais escolhida, depois outras, limpadores de vidro, atendentes em lojas, entregadores e tantas outras. Na imensa maioria das vezes, o brasileiro está aportando por aqui para adentrar com mais facilidade a Europa.

Existe várias formas de aqui estar. A turística era até pouco tempo a mais habitual, hoje não mais. A horda por aqui está a trabalhar, ralando pesado e numa invasão, que segundo uma portuguesa é compreensível. “Nós portugueses já fizemos isso mundo afora em outros tempos, hoje os brasileiros estão por aqui, amanhã outro ciclo. Nada deve nos chatear, temos que ser compreensivos uns com os outros”, me diz. O fato é que, desde que aqui cheguei, não presenciei um só turista brasileiro e sim, todos a trabalhar e mais que isso, todos em atividades sem qualificação. Ou seja, os que estão mais aparentes em Portugal, estão por aqui em busca de emprego e adentrar a Europa com a situação regularizada.

Perguntei para um garçom brasileiro num restaurante o que achava de morar em Portugal e na cidade do Porto. Sua resposta: “Maravilhoso”. E de trabalhar aqui: “Péssimo”. Este em especial, já havia rodado alguns países da Europa e quando a coisa apertou, ele sem sua situação estar legalizada, opta por recomeçar tudo e o faz pelo país mais maleável para com brasileiros, Portugal. Parcela significativa dos brasileiros por aqui estão só afim dessa regularização de sua situação e depois, quando sair a regularização, baterão asas e irão para outros lugares. Este o lado ruim dessa leva, muitos fazem pouco caso de Portugal, que os abriga.
Como turista, nada a reclamar. Os portugueses são amáveis e cordiais. Converso com eles pra dedéu, sempre pronto a me dar informações valiosas para passeios e visitas culturais. E com todos os brasileiros trabalhando por aqui ouvi a mesma coisa: vieram para cá em busca da regularização de suas situações. Nada contra, aliás uma constatação que pode levar a discussão de horas. Quando me perguntam dos motivos do cubano querer tanto sair de Cuba, hoje me deparo com os brasileiros praticamente ocupando Portugal e me ponho a matutar se não seriam os mesmos motivos. Para mim, poucas diferenças e assunto para uma conversa mais do que longa.

O fato é que essa leva de brasileiros representa uma desesperança com a situação no Brasil. O sem qualificação profissional no Brasil se vê num mato sem cachorro e vindo pra cá, sabe que fará o mesmo que lá, mas conta com uma remuneração diferente. Mesmo ciente que o custo de vida é outro, até hoje tem valido a pena e a roda continua a girar deste jeito. Como turista, o que mais tenho ouvido são histórias de vida. Cada qual com uma em particular e em busca, não só de dias melhores, mais de conseguir conquistar algo sólido e duradouro. A Europa ainda parece ser o nirvana para eles todos. Enquanto a fonte não secar, os vejo com olhos brilhando nessa busca.
Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e professor de História (www.mafuadohpa.blogspot.com).

OBS final: Admiro mais ainda Portugal, pela compreensão para com os brasileiros, mesmo muito destes não tendo a mesma reciprocidade. Preferi ilustrar essa publicação com uma frase encontrada num toldo de bar nas ruas, com duas da Estação São Bento de trens e outra minha a demonstrar a sentida alegria por aqui estar vivenciando estes momentos. 

Nenhum comentário: