quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

FRASES (253)


COMO FOI DE FATO OS PRIMÓRDIOS DE BAURU – A DIZIMAÇÃO INDÍGENA, CONQUISTA DE TERRAS, FERROVIA E CORONÉIS

Meu quarto livro lido no mês: “SONÂMBULOS DOTADOS DE VISÃO”, LUIS PAULO DOMINGUES (Editora Pessotto SP, 2019, 1ª edição, 180 páginas)
Este foi um dos livros mais impactantes que li nestes últimos tempos. Escrito por um jovem memorialista bauruense, uma revelação no campo da escrita, direto e reto, contando a história como de fato se deu e quando não diante de toda documentação para fazê-lo, faz uso da imaginação e de algo pelo qual todos temos a mais absoluta certeza, porém, faltando documentos comprobatórios. Daí, ele intitula seu livro como romance ou ficção, eu preferindo denomina-lo como realismo fantástico. Pois bem, Luis descreve como foi de fato a “epopeia de sangue e morte” da ocupação do território onde hoje vivemos, Bauru e região, lá pelos idos do século XIX, quando ainda habitada somente pelos índios e depois, de toda devastação, dita e vista como progresso. O certo é que, todos sabem, vivemos hoje num local onde ocorreu uma carnificina sem precedentes, tudo descrito nos mínimo detalhes neste livro, algo que, considero está pronto para ser transformando num imenso projeto cinematográfico. Os detalhes de como foi essa ocupação assustam e para os que fingem nada ter acontecido, eis um tapa na cara, tudo escancarado neste vibrante e envolvente texto. Confesso. A fácil escrita de Luis me pegou de jeito e quando comecei não queria mais parar. Se querem saber de fato como se deu o passado nada gratificante e enobrecedor dos primórdios de Bauru e de todas nossas cidades no entorno, enfim, como se deu o massacre dos índios que, bravamente resistiram ao avanço dos tais “sonâmbulos”, gente que, para fazer o serviço sujo – este o lado mais dignificante da escrita – não conseguindo fazê-lo sem estar em transe, o fazem de cabeça feita e muitos passam a viver desta forma – alguns até hoje. Por tudo isso e muito mais, não só recomendo, como indico para ser devastado em todas nossas escolas. Para mim, o melhor livro de história que li até hoje sobre este período, com pouca documentação, daí se fazendo necessário uma escrevinhação mesclando o real e o imaginário sobre estes “sonâmbulos conquistadores, aqueles demônios terríveis que vão tomar todo o sertão do oeste paulista”. Belezura sem precedentes.

Seleciono frases que muito dizem deste sonambulismo e dos detalhes dessa ocupação:
- “Os pioneiros alucinados estavam a serviço de uma tarefa demoníaca que envolvia muito dinheiro e poder. Para eles e para quem pagava por todos aqueles capetas rumos ao oeste, havia uma meta a cumprir. (...) Mas a Santa Igreja Católica era uma base que justificava até o mal e até mesmo o pacto com o diabo, feito em razão do motivo financeiro daquela busca pelo oeste. (...) A partir de 1850, Deus, o diabo, a Igreja e o Capitalismo avançariam pelas florestas do oeste, comendo pedaços do sertão inexplorado de São Paulo”.

- “...onde já existe uma freguesia de humanos ditos civilizados – os mesmo que estão, na prática, roubando aquelas terras dos índios aldeados e os fazendo escravos. Ou os tornando mendigos e bêbados. (...) ...o que eles querem é terra e as terras vazias para tomar de graça estão todas ao oeste”.
- “...garantem que Kaigangue não serve para trabalhar e que para isso nós temos os Guaranis e os Otis. (...) E que se é assim, que os Kaingangues não aceitam trabalhar, então vão morrer todos. Mas o Guaranis, vamos poupar. (...) Kaigangue tem que encontrar e matar, porque do contrário eles voltam para matar a nossa gente. (...) Não se leva Kaigangue aprisionado”.
- “...foi aconselhada a manter-se o máximo de tempo dentro do estado de sonambolismo, pois entrariam em uma área terrível por onde ninguém jamais passara. (...) Teria mais energias para vencer os índios se estivesse alucinado pela promessa da fortuna”.
- “...um Kaigangue que se preza não fica em um lugar apenas. Ele anda. Ele é um nômade que percorre e conhece profundamente o seu ambiente”.
- “...e Bauru vai ficar cheio de gente branca e civilizada, não tendo os índios outra saída senão retirarem-se para longe daqui. (...) ...mais homens brancos chegam e empurram a linha de fronteira para o oeste, obrigando os índios a estar perpetuamente em fuga das entradas promovidas pelos arautos da civilização no seio da selva paulista. (...) Era preciso tocar o terror no sertão. (...) Precisavam de mais crueldade e do mal em estado puro, antes de fincar efetiva e definitivamente a cruz de Nosso Senhor Jesus cristo no seio da mata inculta da província”.
- “A partir da metade do século é que os paulistas foram tomando o gosto pelo poder titânico do capitalismo e, então, aderindo ao sonambulismo satânico como forma de enriquecer. (...) O tilintar do metal em moedas ia soando nas cabeças paulistas quanto mais avançavam as décadas do século XIX. (...) É um sem mundo de terrar vazias. É dar cabo dos índios e tomar tudo. (...) Quem não é sonambulo fica com pena facilmente de tudo e de todos. (...) Urge agirmos da forma mais discreta e rápida possível. A hora é agora. (...) Nós não podemos mais ficar reféns das regras cheia de dedos dos governantes”.
- “A verdade e a necessidade é que temos que matar todos eles o quanto antes, para liberar espaço para futuras lavouras de café. (...) O indígena aparecida como um obstáculo ao progresso. (...) mais o final do século se aproximava, mais ficava patente que as fronteiras paulistas seriam alargadas – e os índios, derrotados. (...) precisamos levar a ferrovia até lá e resolver de uma vez por todas a questão dos selvagens”.
- “O patrimônio de Bauru é a paragem preferida de muitos aventureiros. (...) ...e decidiram, no tapetão, mudar a sede do município para a Vila de Bauru. (...) Com as ferrovias, veio uma nova modalidade de sonâmbulos para o oeste: os sonâmbulos ferroviários. (...) O entorno das duas ferrovias se tornou um grande acampamento de gente da pior espécie. (...) A Noroeste não podia prosseguir muitos quilômetros depois do povoado de Bauru, pois os engenheiros não tinham a menor ideia do que havia além dele”.
- “Conforme a ferrovia avançava na mata fechada, os surtos de malária, os ataques das onças pintadas e o terror diante da ameaça dos Coroados aumentavam. (...) Os funcionários de baixo escalão, uma imensa massa de coitados iletrados e imigrantes desnorteados, recebiam uma parca comida e parco salário. Morriam aos magotes, como se dizia na época, e o pátio da Noroeste em frente à Praça Machado de Mello virou um verdadeiro depósito de cadáveres. (...) Não havia dinheiro para pagar todo mundo e o resultado desse liberalismo foi trágico. (...) Alheios a tudo estavam os numerosos coronéis, autoridades máximas naquele velho Bauru em transformação”.
- “Bauru tinha muitos coronéis, muitos deles inimigos entre si. (...) Cada jornal era de uma corrente de poder e elas se enfrentavam, às vezes à bala e em plena Rua Batista de Carvalho. Capangas e coronéis atirando no centro da cidade e se engalfinhando no areal terrível que havia na rua principal. (...) Durante alguns bons anos, foi um perigo fazer uma viagem de trem de Bauru até a ponta da linha. (...) Os governantes estão loucos para passar por cima de tudo com as ferrovias e com o café. (...) Toda noite havia briga e bebedeiras no centro de Bauru. Ali era o caos”.
- “Os Kaigangues remanescentes do Estado de São Paulo foram aldeados em terras que circundam mais ou menos o lugar onde teve praça a pacificação. Viveram doentes e largados pelo governo e os restos dos seus dias; e os seus poucos descendentes acabaram por deixar os aldeamentos e foram tentar a sorte no meio da dita civilização moderna, figurando sempre e invariavelmente nos extratos mais baixos das pirâmides sociais”.

como se dá o sonambolismo nos tempos atuais
CONTINUO LULA E CONTRA GOLPISTAS
Por Rogério Marques: "Lula entre dois fogos
O governo do presidente Lula está vivendo um momento difícil, que se agrava a cada dia. De um lado, é alvo de uma extrema direita feroz, golpista, que por pouco não venceu as últimas eleições e agora quer levar no "tapetão", na mentira, nas fake news, como temos visto.
De outro lado, Lula é fustigado por setores de uma esquerda estúpida, obtusa, que lhe cobram mais e mais reformas, para ontem, mesmo vendo as dificuldades enfrentadas pelo presidente, com um Congresso dominado em grande parte pela direita e a extrema direita.
Se o desemprego cai, é porrada no Lula. Se o PIB aumenta, porrada no Lula. Se a proposta é isentar do Imposto de Renda quem ganha até cinco salários mínimos, porrada no Lula. Taxar os supersalários, porrada no Lula.
Em tempo: não se trata de ser "lulista" ou não ser "lulista", ou de ser "petista" ou não ser "petista". Trata-se de não ser estúpido.
Na quarta-feira (22), o título do editorial do Estadão era "Lula já não governa. É governado". Lembrei daqueles dois famosos editoriais do "Correio da Manhã" nos últimos dias do governo do presidente João Goulart -- "Basta" e "Fora".
Depois do golpe, o "Correio" se arrependeu e passou para a oposição aos militares, mas já era tarde. Sufocado pela ditadura, o jornal, meu primeiro emprego na imprensa do Rio, fechou as portas exatamente 10 anos depois, em 1974."
(Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil)

Nenhum comentário: