quarta-feira, 17 de setembro de 2025

UM LUGAR POR AÍ (200)


ESTIVE NA MÓOCA, MAS O QUE MUITO ME EMOCIONOU FORAM AS COISAS JUVENTINAS
A intenção ao acordar na quarta, 17/09 era bem clara. Enquanto Ana Bia participava do Congresso Acadêmico eu iria bater pernas. Dentre ficar ali pelos lados da 25 de Março ou mesmo o Brás, como não sou comerciante, não iria comprar nada, optei por ir rever o jeitão malemolente de outro bairro ali nas imediações, a Mooca. Eu, como o Perazzi me denuncia, tenho decendência italiana, portanto, circular por ali sempre me dá enorme prazer e contentamento. Peguei o metrô, que já não pago pela idade, descendo na estação com o nome do bairro e a partir dali, circulando por tudo quanto minhas pernas aguentaram.

Vi e revi muita coisa, mas o que me traz aqui é um registro dos mais alvissareiros. Ali nas imediações da rua Javari, algo sempre me chamou muito a atenção, a presença do centenário Juventus, mais que um simples clube e time ligado aso futebol paulista. O "Moleque Travesso", como é conhecido sempre despertou muito minha atenção. O pequeno estádio não é maior do que o de alguns estádios de futebol varzeano localizados no interior paulista. Porém, possui algo mais. Como fundador da FPF - Federação PAulista de Futebol possui privilegios e os seus jogos seguyem sendo ali mandados. É arrebatador assistir a uma partida de futebol por ali. Já tive este prazer realizado por algumas vezes.

Hoje o estádio está fechado e me fixo em registrar com fotos o que me remete ao Juventus pelas imediações. As fotos dizem muito, mas quando converso com algumas pessoas, tudo se amplia e justifica não só meu interesse, como a importância do Juventus estar encravado ali, exatamente no coração de algo que transborda com emoção. Sinto isso se infiltrar em mim, pois a cada passo, observo o interesse de alguns em se aproximar e querer me dizer algo mais sobre essa paixão, envolvendo o time do bairro e o mesmo. Tudo me envolve e não fosse o horário ali continuaria coletando mais fotos e é claro, depoimentos. Num dos locais fotografados, numa perquena oficina, uma camisa do Juventus está emoldurada. Peço permissão para a foto e a conversa acontece naturalmente. "Essa aí ganhei quando você era muito jovem e o melhor jeito que tive para relembrar sempre foi deixá-la exposta. Reações como a sua acontecem com frequência", me diz.

Nos postes e paredes das imediações, o Juventus está mais que imortalizado. Existe hoje pairando no ar, algo dessa devoação para as coisas referentes ao bairro. Numa praça ao lado do estádio Conde Rodolfo Crespi, o nome dela é mais que sugestivo, "Amo a Mooca". Pelo visto, depois dessa, nã ose faz necessário dizer mais nada. É o que faço, observo, registro e tento entender. Tudo aquilo ali observado é uma espécie de condado, de uma ilha diferenciada dentro do oceano denominado Grande São Paulo. Dentro de Sampa, felizmente, existem lugares assim e todos me encantam. Pudesse, iria nesta curta viagem rever muitos deles. Não consigo nem 10% do que imaginava poder fazer. De tudo, uma certeza, preciso voltar e continuar a saga de rever tudo, enquanto ainda me sobra tempo. Agora, já sem pagar passagem nais idas e vindas para Sampa - desde que consiga ser uma das duas vagas liberadas por lei -, preciso tirar o atraso e como sei, o tempo urge.

Revi junto das coisas juventinas, muitas das edificação de indústrias de antanho, muitas delas em estado de deterioração e outras recuperadas e com empresas as utilizando. O bairro não é tão grande, mas minhas pernas não são mais ligeiras como dantes. Preciso ir devagar para aguentar o batente. Faço tudo com prazer, como se estivesse visitando um museu a céu aberto. Lugares assim me atraem e me consomem, podendo passar por ali dias inteiros. As residências de antanho, muito simples, resistindo ao tempo dizem muito mais do que as palavras ditas por alguns, pelos quais me vendo fotografando se aproximam e puxam conversa. Não devo ser o único interessado nessas coisas sobre isso da Mooca permanecer sendo este reduto, espécie de elo de ligação do passado com o presente. Deixo o bairro como cheguei, via metrô e ao descer noutra do xentro da cidade, outra realidade e preocupações. Não que nã oexista violência lá pelos lados da Mooca, mas a coisa flui mais moderadas por lá. Fora do condado tudo é mais agitado, sei disso, talvez exatamente por causa disso, gosto muito de lá, inclusive do Juventus.

ADENTRANDO A ESTAÇÃO DA LUZ, PASSA MAIS QUE UM FILME NA MINHA CABEÇA, EM RECORDAÇÕES DE MINHA JUVENTUDE, IDAS E VINDAS DE TREM NO TRECHO BAURU/SÃO PAULO
Meu pai trabalhou a vida inteira dentro das hostes ferroviárias a já não mais existente Cia Paulista de Estradas de Ferro, conhecida também como FEPASA. Ele na Fepasa e meu avô, por parte de mãe na NOB, ou Rede Ferroviária Federal. Meu pai, Heleno Cardoso de Aquino, como Chefe de Estação em várias cidades, encerrando suas atividades na famosa estação da praça Machado de Mello. Meu, avô, José Perazzi, foi marceneiro dentro das Oficinas da NOB, uma que um dia chegou a ter no todo aproximadamente milhares de funcionários. Vivi minha infância e adolescência envolvido em histórias e tendo contato imediado de primeiro grau com a ferrovia. Tenho, portanto, o amor advindo desta atividade, a do ser ferroviário, encruado dentro de mim, algo pelo qual não perderei jamais.

Vez ou outra, meu pai pegava a família toda, ele, minha mãe Eni Perazzi de Aquino, meus irmãos, Helena, Erci e Edson e embarcávamos para visitar parentes em São Paulo, na maioria das vezes se hospedando na casa de uma tia, num sítio em Franco da Rocha, num tempo em que não era perigoso perambular pelos lados ainda sendo ocupados na zona rural daquela cidade. Hoje tudo está devidamente ocupado e há mais de 40 anos não vou para aqueles lados. Em muitos casos parávamos em Jundiaí e seguíamos com um trem urbano até Franco da Rocha, noutras vezes, a maioria, íamos até a Estação da Luz e de lá, com um trem pinga pinga chegávamos ao destino.

Inesquecível a Estação da Luz daqueles tempos. Quando atingi a maioridade, fui trabalhar na FEB e depois na Bradescor, viajava sózinho, daí já pagando a passagem, me hospedando em pequenos hotéis lá perto da Luz, tudo nas primeiras aventuras paulistanas. Muitas boas recordações destes tempos, quando adorava não só vir de trem, como perambular pela zona boêmia, lá pelos lados da Major Sertório, hoje locais pelos quais não andaria mais desacompanhado à noite. Durante o dia, sem problemas, mas à noite, como adorava fazer, nem pensar. Todas essas andanças eu fazia de trem e chegando ou saindo via Estação da Luz. Algumas vezes também viajei de ônibus, pelo terminal rodoviário antigo, aquele com as telhas coloridas em acrílico. Uma tia morava ali perto na rua Conselheiro Nébias. O trem sempre esteve permeando minhas andanças paulistanas.

Agora, passados uns 45 anos disso tudo, olho para o teto da Estação da Luz e como, nisso nada mudou, as recordações brotam na minha mente. Viajei de trem até quase o final, quando FHC privatizou todo nosso parque ferroviário. Foi um desastre, fonte de muita tristeza para meu pai - meu avê faleceu antes - e, consequentemente, para mim. Lá no interior pouca coisa mudou e do lado de fora, algumas edificações ainda estão de pé, porém a maioria com as portas lacradas. Ainda resiste um hotel de alta rotatividade diante de sua porta principal e mulheres circulam com saias justas e curtas. Nos meus tempos de juventude algumas delas ferviam meu sangue, hoje é como um filme velho, querendo ser revivido, com as lembranças brotando conforme ando de um lado para outro da estação.

O movimento lá embaixo, junto da plataforma de embarque é o mesmo. As dos meio nos levavam para as cidades próximas, mais precisamente FRanco da Rocha e a plataforma da lateral era onde chegavam os trens que iam até Bauru, depois seguiam até Panorama. Eu e meus irmãos percorríamos o trecho toda da viagem numa brincadeira inesquecível, a ir decorando os nomes das estações, uma por uma. Por um bom tempo as tinha todas de memória, mas com a passagem deste mesmo tempo e com o chips já um tanto cansado e cheio, não consigo mais me lembrar de todas. Porém, me lembro muito bem dos trens. Tivemos ótimos trens, mantidos com o devido esmero, só descuidado ao final, quando tudo já estava mais que consumado. O PSDB, para mim, seguirá por todo o tempo com essa marca mais que negativa em seu currículo. Tivemos uma malha ferroviária de muita envergadura, hoje praticamente destruída, necessitando ser toda reconstruída. Eu sei, o trem de passagereiros um dia voltará a circular por estes trilhos, pois com o passar dos anos será inevitável o término da chegada até a capital via rodovias. Hoje já está complicado, imagino daqui há mais algumas dezenas de anos. Creio eu, tudo voltará um dia, essa ligação São Paulo/Interior, tendo como ponto de partida e chegada a Estação da Luz.

E FOMOS PASSAR A TARDE DENTRO DA PINACOTECA, AO LADO DO PARQUE E DA ESTAÇÃO DA LUZ
Além de circular pelas ruas, tentando revirá-la do avesso, volto sempre que posso a lugares conhecidos, mas me enchendo de prazer e contentamento. Um destes é a Pinacoteca do Estado, este reduto resistindo dentro da grande cidade, ainda bancado pelos atuais desGovernos insistindo em não fazer muita coisa pela Cultura. É perceptível que, a ultra direita abomina a Cultura, daí sabe-se dos receios e riscos de ver aquilo tudo ali contido no prédio ao lado da estação e parque da Luz perdido. Em cada revisita, mais que um olhar, talvez buscando um registro eterno, destes indestrutíveis. O acervo da Pinocoteca não deve nada a muitas instituições mais abonadas do exterior. Tem tanta obra bem brasileira por ali e expostas com o devido valor e importância. Circular entre elas é mais que um dever. As reverencio com respeito e consideração. Temos ótimos artistas, muita gente de valor tem obra ali exposta e isso, precisa ser devidamente divulgado. venjdo escolas por ali, algum alento. O Brasil não deve nada a ninguém possui uma história e ela deve ser reverenciada, respeitada e divulgada. Nosso museus possuem acervos de grande valor, este um destes. Passo por eles sempre que posso e em cada cidade visitada, procuro ir conhecer o museu local. Sempre nestes locais objetos da maior importância.

A HISTÓRIA DO TRIO DE CEGOS, ATUANDO NA MASSOTERAPIA
Eu e Ana Bia fomos convidados a visitar um antigo orientando dela, Alessandro Pelegrini, o Alê, morando na vila Clementino. Estivemos lá hoje à tarde e fomos presenteados com algo inusitado. Além da recepção com acepipes e guloseimas, um trio nos aguardava por lá. Três massoterapistas estavam à nossa espera, pois numa clínica junto da casa, comandada pela mãe dele, inauguravam ali naquele momento, sessões semanais onde estarão daqui por diante, toda quarta atendendo clientes no local. Tudo seria normal não fosse os profissionais três cegos.

Sheila Cardoso do Amaral, 49 anos, seu esposo Joel Soares de Lima, 50 anos e Dário Neves, 43 anos, todos cegos, participando de atividades ligadas a igreja católica ali nas imediações, foram convidados pela mãe do Alê para iniciarem atividades semanais em sua clínica. Ouvimos atentamente a história de todos eles, cada qual com uma vivência e anos sem enxergar. Estavam à nossa espera e recebemos a massagem terapêutica. Todos nos confidenciaram de terem se iniciado nos trâmites do aprendizado da massagem por um belo motivo, enxergando nela um ofício onde a falta de visão não seria impedimento.

Ao final, Sheila conta de como se dá a vida de todos, das dificuldades, ao apoio coletivo e também de como recebm ajuda diária, advinda de todos os lados. O que mais me impressionou foi saber que todos moram bem longe dali e fazem um viagem diária muito longa. Ela e o marido saem de Carapicuiba e caem na cidade grande. No retorno de hoje, contam que não pagam passagem de metrô e nem de ônibus urbano, tendo duas viagens, fazendo uma baldeação para outro trecho, chegando num terminal, pegando um trem, chegando em Carapicuíba, depois mais um ônibus urbano e no ponto onde descem, mas dez minutos a pé até suas casas. Quatro viagens e mais uma caminhada a pé. Fiquei impressionado.

Sheila diz, essas dificuldades todas não a fazem desistir de sair de casa todos os dias para trabalhar, atuando na massoterapia numa empresa de telemarketing, mais de mil funcionários. Os demais, atuam muito, se doando em eventos comunitários e finalizado o aprendizado. Os acompanhei até perto da estação do metrô e até lá, chegaram sem necessitar de ajuda. Contam que, em todas as estações recebem ajuda dos seguranças, os levando até o primeiro vagão, com a estação onde descerão avisadas para receberem por lá o mesmo tratamento. Depois da ida deles, sentamos mais um tempo com Alê e sua esposa Carol, colocando a conversa em dia. A história dos três permeou tudo o mais.

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