Na manhã de terça tinha agenda marcada na Auditoria Pública, ali na parte detrás da Praça da Paz. Seu horário, 8h e pede se podia a acompanhar no horário agendado. O lugar ferve de gente, logo cedo, em busca de alguma reparação ou atendimento diferenciado. Chegamos e me espanta a quantidade de pessoas. Somos atendidos e aguardamos a chamada. Sentamos e fico observando as pessoas ao meu lado. Bem atrás, uma jovem com o celular nos ouvidos, ouve algo e chora copiosamente. Cada qual está ali em busca de algo. Problemas iguais ao de Valquíria, ou até piores. Me espanta a quantidade de balcões e neles, muitos jovens a atender a demanda. Me dizem serem, em sua maioria, estudantes cursando algo como Direito e ali estagiando, mas já enfronhados com os procedimentos do lugar.
O atendimento é rápido. O caso de Valquíria já é conhecido, ela precisa de um atendimento diferenciado para seu filho e corre contra o tempo, pois se bobear, todo o avanço já obtido cai por terra e ele regride. A moça que a atende, leva o caso diretamente para o procurador e ele, circulando entre os vários balcões, vai tomando conhecuimento de cada um, encaminhando a melhor solução. No caso dela, Florisvaldo o procurador, ele vem até nós, explica em detalhes os procedimentos que, acredita serem os mais recomendáveis, para ela conseguir seu intento. Valquíria sai de lá altiva, ciente de estarem tentando resolver de fato seu problema. Não vi ninguém por lá esbravejando, mas algo realmente salutar acontacendo.
Enfim, Defensorias Públicas são exatamente para isso, um lugar onde as pessoas recorrem em busca de uma última saída para seus problermas e vejo que, além do bom atendimento, encontram essa guarida. Todos nós, na verdade, necessitamos de um ombro amigo. Ninguém gosta de se sentir desamparado, abandonado na beira da estarda e sem ter para onde recorrer diante de adversidades ou mesmo necessidades. A existência de um lugar assim para mim é salutar. É tão gostoso observar, como o fiz, a chegada de tantos com aquele semblante preocupado, ser chamado e se sentir ao menos aliviado, conformado e atendido.
No caso específico da Valquíria, ela me autorizou a escrever e citá-la neste texto, não com o intuito de exposição gratuita de seu nome esituação, mas de querendo que fosse junto dela no atendimento, talvez por saber que, iria observar com meus olhos aquilo tudo e, fizesse exatamente o que faço, escrevesse, passasse adiante o meu sentimento pessoal sobre o que estava vendo. Ela já havia sido atendida em outras situações pela Defensoria e agora, neste retorno, algo mais específico, preferiu não ir só. Ela se sentiu mais segura não estando ali naquele momento só e eu, imensamente agradecido por poder ajudá-la.
Depois de tudo, fomos tomar um café em casa juntos. Como é bom termos um lugar assim como a Defensoria, para tentar buscar a melhor solução para alguns de nossos problemas. O próprio nome diz tudo, eles ali estão para defender o usuário, o cidadão comum, o que mais necessita e se sente desamparado, até por desconhecer os caminhos possíveis. Naquele lugar flui algo pelo qual, perceptível a busca da felicidade. Tudo na verdade, deveria fluir naturalmente, sem até mesmo a necessidade de um setor público para isso, porém, como nem tudo são flores, a criação deste, onde a contribuição para aquilo onde algo esteja saindo dos trilhos, volte ao seu caminho natural. Que essa minha primeira impressão não tenha sido em vão, pois de nada adiantaria existir algo assim e ele ser somente de fachada. Me encanta ver a solicionática sendo colovcada em prática. Valquíria e tantos outros ali presentes e se renovando a cada novo dia agradecem. Quando estes cumprem a missão a eles atribuida, nem precisariam de elogios, mas o faço, até para reforçar, termos conquistado tanta coisa boa e com este afago, um gesto a mais de incentivo para continuarem, pois fazem parte deste Brasilzão que funciona e segue altaneiro, driblando as tantas pedras encontradas pelo caminho. Gente como o procurador Florisvaldo merecem um afago extra. Acho que a carinha de satisfação com que vi muitos sainda dali já compensa tudo.
Poderia discorrer longamente sobre como foi isso de ter chegado até aqui. Isso é longo demais da conta, daí cá estou, não para reclamar, nem para contestar nada, mas relatar algo que, sei ocorre com todos na minha situação. A aposentadoria saiu e como o INSS já a reconheceu, algo interno, que deveria ser só do conhecimento meu e da instituição, mas por algum desvio interno lá deles, passa também a ser do domínio de muitos. E daí, meu celular por estes dias tem recebido, de 5 a 10 ligações diárias de instituições financeiras me oferecendo crédito consignado. Virei a bola da vez, alvo de propostas de tudo quanto é jeito. Ligam me abrindo as pernas, ou seja, disponibilizando créditos inimagináveis.
Lisonjeado fico. Um deles disse estar liberado, de forma imediata, em meu nome, crédito de R$ 45 mil, já podendo usar da melhor forma que encontrar. Cada um chega com um discurso de oferecimento, algo preparado com o devido cuidado, esmero e cheio de convidadtivos detalhes, tudo para atrair este pobre coitado. No começo só ouvia e delicadamente declinava, mas agora, diante da insistência, tenho conversado com alguns. "Meu senhor, sei que deves estar recebendo propostas de muitos. Tome cuidado, saiba diferenciar o joio do trigo. Minha instituição é séria e está apta a lhe oferecer o melhor, desde que abra seu coração para nós, conte o que precisa no momento. Resolveremos tudo num piscar de olhos, sem burocracia e empecilhos, tudo para lhe satisfazer", me disse um deles.
Estou comovido e agora, depois da insistência, ainda não tendo me decidido que rumo tomar na nova vida, preparei um discurso e nos últimos o tenho colocado em prática. "Minha intenção é começar indo pra Cuba. Preciso mesmo me desvencilhar das coisas daqui e isso tudo me vem bem a calhar. Uns trinta dias na ilha cubana, desfrutando de chinelos nos pés e uma folgada bermuda, das benesses proporcionadas por tantos anos de labuta e contribuições. Reuni uma economias, agradeço seu interesse para comigo. Guarde seu ímpeto para os dispostos a perder os proventos logo na tiro da partida. Tentarei me segurar nas calças e depois que voltar de Cuba - se é que o ferei -, veremos como vai se dar a sequência de minha vida. Preciso respirar antes de me decidir qual caminho tomar e em com qual dos senhores, devo deixar parte do meus proventos. Deixe seu contato, retornarei em breve", tenho dito. Um deles, muito educado, me desejou boa viagem.
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