quarta-feira, 10 de setembro de 2025

FRASE DE LIVRO LIDO (222)


TRÊS LIVROS LIDOS E A TORTURA DE QUEM FICOU O DIA INTEIRO VENDO O MINISTRO FUX SÓ FALANDO ABOBRINHAS – SE FUX NÃO TERMINAR LOGO, LEIO OUTRO AINDA HOJE
Eu não me deixo torturar facilmente. Tenho uma tática para escapulir, ou sair pela tangente com estes, querendo transformar meu dia num “inferno de Dante”. A melhor fuga é a leitura. Vejam bem, hoje, dia 09, termino na madrugada a leitura de meu terceiro livro no mês. Escrevo deles ao longo do dia e nesta quarta, não se fala em outra coisa, a não ser o voto do terceiro ministro do STF, o tal do cabeleira postiça, o Fux. Como já era sabido e mais do que previsto, o cara vai absolver o inqualificável, o capiroto ex-presidente e sua nada bem afamada thurma de inflamados golpistas. Depois dos EUA de Trump ter deixado três ministros de fora da lista dos com visto cassado para adentrar a terra do Disney, sendo um destes, o Fux, o resto da pantomina já é por demais sabida. Roteiro previamente anunciado.

Ontem sim, fiz questão de ouvir, mesmo que de soslaio os depoimentos do Xandão e do Dino. Na verdade, confesso, a gente tem paciência para ouvir o que nos apetece, aquilo que concordamos, mas nenhuma para perder tempo, com abobrinhas reunidas para tentar livrar a cara do pérfido canastrão e bandidão já com reconhecida e extensa ficha criminal. Se ontem, me ative a trechos, hoje nem frases. Minha irmã, Helena Aquino está passando mal, pois me liga regularmente para dizer do que ouve, as aberrações. Eu lhe digo estar em outra vibe. Aproveito o dia, quando as atenções se voltam para o julgamento e me ponho a tentar colocar a leitura de alguns livros.

Neste período de dez dias, consegui devorar três. Vejam se acertei nas escolhas. O primeiro deles foi o “J. CARLOS EM REVISTA”, nascido da ideia de se preservar e difundir a nossa memória gráfica. O livrão não é somente para ser lido, mas também visto, pois trata-se de uma reunião da obra deste grande ilustrador brasileiro, fruto de uma época onde a crônica visual era toda desenhada a unha. A impressão é primorosa, feita pelo CCC – Centro Cultural dos Correios, edição de 2014, com 287 páginas. Uma viagem pelo traço de alguém, que foi considerado um dos maiorais no seu ofício, pois foi de tudo um pouco, cronista, caricaturista, publicitário e também designer gráfico. Olho para sua obra, seu traço peculiar e me transporto no tempo, para a capa das revistas e das charges sobre a 2ª Guerra. Li antes do depoimento do Fux, terminando dia 05/09, mas ficaria envolvido nela, sempre adquirindo conhecimentos, algo bem difícil de ser alcançado com o vetusto cidadão, infelizmente, também ministro.

Me lembram que, o Fux foi indicado por Dilma Rousseff. Ninguém é perfeito e como dizia Millôr Fernandes, “herrar é umano”. Tantos outros foram eleitos e decepcionaram, como acontece o contrário. Michel Temer colocou lá o Xandão e hoje, o melhor ministro. Vejam a maluquice do dia, quando leio que o longo discurso do Fux tem a mão do Temer, ou seja, o Brasil não é mesmo para amadores. Seguirei lendo e não perdendo tempo com este ministro. Digo do meu segundo livro no mês, o “MAYSA”, reverenciando a cantante que um dia, cansada deste mundo se suicidou. O livro não retrata isso, mas organizado por seu filho, Jayme Monjardim, traz frases, pensamentos e poesias dela, a maioria deixadas registradas em diário – algo que hoje também faço. O livro é da editora Globo SP, edição de 2008, com duzentas páginas e além da leitura, a quantidade de fotos dela são arrebatadoras. Infinitamente melhor mergulhar e procurar entender o mundo vivido pela Maysa, do que decifrar o que quer dizer de fato o Fux com sua interminável cantilena.

Reproduzo algumas frases, só para sentirem a grandiosidade da artista. “Quem és tu, oh voz misteriosa, que me chama e empurra ao caos da boêmia”, “Sinto em mim um vazio profundo, desamor pelo mundo, sinto falta de mim”, “Eu não quero ouvir opinião de quem não soube o que eu sei, de quem não viu o que eu vi. Por isso eu quero pouco papo e muito espaço para espalhar minhas tristezas” e, por fim, algo que cai como uma luva para quem perde tempo escutando Fux abobrinhar pela TV, “Hoje continuo educada, mas não mais paciente com as coisas e as pessoas que não me interessam”. Não sei se cabe a comparação, mas Maysa é infinitamente melhor que qualquer Fux.

E depois o terceiro livro nestes dez dias de setembro, terminado hoje de madrugada, bem antes de começar o falatório fuxionista. O “NÃO ME ENTREGO, NÃO!”, do escritor e dramaturgo Flávio Marinho versa sobre os 92 anos de vida e a carreira do ator Othon Bastos, que esteve se apresentando por aqui semanas atrás. São apenas 60 páginas, edição da Cabogó Editora, comprado na saída do espetáculo teatral, um dos melhores apresentados este ano em Bauru. Estão misturadas as falas criadas pelo Marinho e do Othon. Aqui relembro algumas para reviver o que havia visto no palco. “Criar é mais importante que ser feliz”, “E, ser ator de verdade, minha gente, é, acima de tudo, correr risco” e por fim, para lacrar a leitura, “O teatro é a poesia que levanta do livro e se torna humana. E ao tornar-se humana, ela fala, ela chora, se desespera e se ama”. Perdição ler isso em tempos tão áridos e doentios, onde nem mesmo se lê mais como dantes.

Termino este texto e Fux continua tentando explicar seu voto, algo construído nas sombras e nos escombros do que ainda resta de dignidade nas pessoas, que sabem dos melefícios bolsonaristas, mas o adulam, passam o pano, não enxergando que, lá na frente, ele estivesse no poder, talvez nem isso poderia mais estar escrevendo. Finalizo contando o que fiz durante a fala do Fux – depois me contam se teve algo de proveitoso. Li, consegui ler, pasmem, mais de cem páginas de outro livro, algo saboroso, o “ELES FORAM PARA PETRÓPOLIS – UMA CORRESPONDÊNCIA VIRTUAL NA VIRADA DO SÉCULO”, a divinal troca de correspondência entre Ivan Lessa e Mario Sergio Conti. Já li algo assim de outros, um escreve daqui, o outro responde dali e assim, nós, os do lado de cá, saboreamos algo com de tudo um pouco. Não sei até que horas, o cabeleira vai continuar com sua desnecessária e babosenta explanação, mas se continuar por mais tempo, creio eu, termino a leitura do quarto livro ainda hoje.

Obs.: foi um belo exercício de malabarismo conseguir juntar no mesmo texto, os três livros lidos, com o que as redes sociais hoje nos apresentam como campeão de audiência.

FUX ENFIM VOTOU E O FEZ COMO JÁ SE ESPERAVA
"PARA QUÊ? - O que leva um ministro de voto vencido a tomar tanto tempo e expor teses já pacificadas pela Corte?", jornalista Ricardo de Callis Pesce.
De tudo o que vi publicado hoje, essa charge é a que melhor expressa seu voto.
HPA, observando à distância, mas entendendo tudo.

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