sábado, 31 de janeiro de 2009

COLUNA DO JORNAL BOM DIA (05 e 06)

A CASA ROSA E A DA ENI - publicado dia 24/01/2009
Lançado em novembro o documentário "Pretérito Perfeito" (trailler no Youtube), revê toda uma época ao contar a história de um dos mais famosos bordéis cariocas, a Casa Rosa. Dirigido por Gustavo Pizzi, o filme é uma retrospectiva da vida pública e privada brasileira, pois aproveita para fazer um amplo registro da sexualidade e do prazer (pago ou não).

Os bastidores de tudo o que aconteceu por lá possui uma relação idêntica ao da nossa Casa da Eni, tão famosa quanto. "Ah, se as paredes cor-de-rosa falassem!", diriam os cariocas. O mesmo poderia ser dito pelos bauruenses. O fato é que a casa carioca virou filme bem antes da nossa, ambas com histórias mil.

Aqui por Bauru vigora ainda certa lei do silêncio, com muita gente não querendo tocar no assunto. Pura besteira. Reviver as histórias e seus personagens faria um bem danado para a cidade. Até um provável filme é visto com certo desdém por alguns, que consideram o tema impróprio e pervertido. Chegam a dizer: "Isso traria uma repercussão negativa para a cidade". Faustão, na TV, dia desses, ao se deparar com umas cortinas roxas, pregueadas disse: "Parece coisa lá da Casa da Eni". Isso é demérito? Não vejo nenhum. Comenta-se muito sobre a provável filmagem do livro sobre a Eni, do jornalista Lucius de Mello. Torço muito por isso e agora, ao terminar de assistir a mini-série Maysa, tenho plena certeza de que um sobre a Casa da Eni seria um estouro nacional.

PRECONCEITO? TÔ FORA! - publicado dia 31/01/2009
Um e-mail está sendo repassado para milhares de bauruenses nesse começo de ano com uma mensagem intitulada "Sete Maravilhas de Bauru", com fotos de sete pessoas, todas pobres e algumas com problemas mentais, junto a um texto, com o intuito de fazer rir. Recebi de mais de dez pessoas diferentes, quer dizer, o negócio corre a cidade toda. Junto alguns comentários: "Muito bom... Morri de rir".

Após ler com a devida atenção, não vi motivo nenhum para risos e sim, escárnio. Encontrei junto às fotos um texto de pura discriminação contra algumas pessoas à margem da sociedade. Brincadeira de péssimo gosto. Algo deprimente, de alguém que, mesmo sem a intenção, fez algo a ser repudiado. No que foi exposto, todos receberam tratamento com chacotas, ironias e maledicências. Acho isso muito perigoso, demonstrando irresponsabilidade e completa falta de tato para as questões sociais.

Espalhar algo assim é antes de qualquer coisa perigoso, pois pelos termos utilizados, pode gerar até processo judicial. Não me chamem de retrógrado, conservador, ultrapassado, pois não me considero nada disso. Dou muita risada da vida, afinal, rir continua sendo um grande negócio. A questão é estar sempre atento no que está sendo repassado como pano de fundo. O que foi espalhado do "Andarilho Top, Bola Trombose, Pastor Juvenal, Japonês da Luva, João da Bike, Thueguéder e Cumpadi Washington" não é para rir. Foi uma tremenda pisada na bola.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

UM COMENTÁRIO QUALQUER (32)

TRÊS HISTORINHAS DE VIAGEM
Fui com a família semana passada paras Poços de Caldas MG e deixo aqui três historinhas, relatos de viagem, para registro desses tempos chuvosos:

1. Na ida, paramos num posto de combustível em Descalvado. Caminho novo para nós, feito para desviar dos pedágios, meio perdidos peço ajuda a um simpático senhor. Diz ter conhecido Bauru junto com a esposa, cantora, que havia participado de um show ao lado de nada menos que Roberto Menescal. Nos detalhes, fico sabendo que jantou junto do amigo Wellington Leite, da Veritas FM, numa residência no Paineiras, de um casal simpático, mas que nem sabia direito quem era Menescal (vexames da estrada musical brasileira). Por fim, ele, Carlos Aluísio é marido da revelação MÁRCIA TAUIL. Prometo empenho para trazê-la para Bauru (quem sabe no Templo) e quando digo querer comprar um CD dela, sua resposta foi essa: “Está esgotado. Peça para nosso amigo em comum, o da rádio, para gravar um e lhe presentear”. É o que fiz. Já encomendei, mas como Wellington está folgando nessa semana, por motivos de enforcamento (casamento no sábado), a entrega deve acontecer somente em fevereiro.

2. Comprei jornais mineiros para todos lerem à noite. Num deles meu pai, do alto dos seus 80 anos me chama num canto, mostra uma foto de Fidel Castro ao lado da presidente argentina Cristina Kirchner, quando essa o visitou em Cuba e me lê a manchete: “Fidel diz que não viverá até o final do mandato de Obama”. Depois faz um comentário que faço questão de registrar: “Fidel está com charme, olhe só como está com bom aspecto, um velhinho cheio de saúde e de vitalidade. Vai é ver Obama ainda deixando o Governo”. Bati na madeira, tanto para Fidel, como para meu pai.

3. Terminei a leitura do livro “Manual de sobrevivência nos butiquins mais vagabundos”, do Moacyr Luz (ótima leitura para esses dias chuvosos). Nas rodas noturnas reli algumas passagens e uma das que fez mais sucesso foi essa. O cara tomou todas num bar e lá pelas três da manhã, chamando “urubu de meu louro” pára um táxi e após dizer o itinerário diz: “Ô meu irmão, o camarão e a cerveja eu ponho aonde? – Bota no banco de trás, foi a resposta do taxista. Foi ele puxar a lingüeta da poltrona para meu compadre vomitar todo o estofado do utilitário. Acredite, foi um deus-nos-acuda”. Acreditamos, e rimos muito.

Hoje, quinta volto para Minas e deixo de postar no blog amanhã. No sábado estou de volta, meio mofado. Efeito dessa intermitente chuva que não quer nos deixar.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

CENA BAURUENSE (20)

AS SETE MARAVILHAS DE BAURU - PRECONCEITO, TÔ FORA!
Está sendo repassado para emails de milhares de bauruenses uma mensagem intitulada "As Sete Maravilhas de Bauru", com fotos de sete pessoas, todas pobres e algumas com problemas mentais, junto a um texto, com o intuito de fazer rir. Recebi de mais de dez pessoas diferentes, quer dizer, o negócio correu a cidade toda. Junto algumas pessoas fizeram questão de ainda acrescentar um: "Muito bom... Morri de dar risada".

Li com a devida atenção cada um e não vi motivo nenhum para risos, e sim, escárnio. Encontrei nos textos pura discriminação contra algumas pessoas à margem da sociedade. Brincadeira de péssimo gosto. O que vi ali foi algo deprimente, de alguém que, mesmo sem a intenção, fez algo a ser repudiado. Faço aqui no blog um registro de Memória Oral, contando histórias de pessoas e outro com um registro fotográfico, o Retratos de Bauru. Em ambos nunca irão encontrar algo depreciativo envolvendo as pessoas mais simples, os menos favorecidos de nossa sociedade. Pelo contrário, faço questão de ressaltar as qualidades, virtudes e analtecer a luta de cada um. Vários dos sete retratados poderiam estar nos meus registros, recebendo tratamento completamente diferente, sem chacotas, ironias e maledicências. No que está sendo espalhado, vi o oposto e acho isso perigoso, demonstrando irresponsabilidade e completa falta de tato para as questões sociais.

Espalhar algo assim é até perigoso, pois por alguns termos utilizados, pode-se gerar até processo judicial. Reproduzo aqui três, talvez os menos depreciativos, pois os demais são de uma baixaria muito grande. Não me chamem de retrógrado, conservador e ultrapassado, pois não me considero nada disso. Dou muita risada da vida, afinal, rir continua sendo um grande negócio, mas devemos estar atentos no que está sendo passado como pano de fundo. Quando li o que foi escrito do "Andarilho Top, Bola Trombose, Pastor Juvenal, Japonês da Luva, João da Bike, Thuguéder Cirque su Soleil e Cumpadi Washington" não consegui rir, mas senti um asco danado de quem criou peça tão discriminatória. Foi uma tremenda pisada na bola.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

RETRATOS DE BAURU (49)
ZANELLO, O FOTÓGRAFO FREE-LANCER

Conheço Zanello há décadas e sempre esteve munido de sua potente máquina fotográfica registrando eventos pela cidade de Bauru. Percorre a cidade de um extremo a outro, em busca de pequenos contratos onde possa tirar o seu ganha pão. Pessoa de fibra, com uma disposição de causar inveja, não esmorece diante das adversidades e continua diuturnamente indo à luta, trabalhando do jeito que pode e para quem continua a lhe pagar pelo espoucar de seu flash num acontecimento qualquer. Com sua jaqueta nas costas (aquela que todo fotógrafo adora usar), ele é daqueles que dá gosto de parar para conversar. Não vive só de fotos, pois sempre esteve também envolvido com música sertaneja. Participou de algumas conhecidas duplas na cidade e fez muito sucesso em bailões pela periferia. Hoje, de amor novo, parece revigorado e sem esmorecer, continua acreditando que conseguirá atingir seus objetivos. Perdeu até o lugar onde morar, vivendo hoje nos fundos de uma modesta casinha num bairro escondido do mundo, mas isso não é motivo para desistir. Luta, propeça, levanta, segue em frente, demonstrando que a vida foi feita para ser enfrentada de peito aberto, com coragem e despreendimento, como ele sabe fazer. Torço muito por gente como Zanello, gente simples, sofrida e guerreira.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

MEMÓRIA ORAL (58)

O LP CONTINUA NAS PARADAS
Na famosa Feira do Rolo tem de tudo, mas tudo mesmo. Algo que chama muito a atenção são alguns barraqueiros continuarem vendendo os LPs, os antigos discos. Isso mesmo, os também denominados "bolachões" continuam ocupando espaço na prateleira de muitas pessoas. Para aqueles que estão acostumados a levarem para casa o produto Música, o que mais perdurou foram os LPs. São os que menos foram pirateados, tal a dificuldade, pelo tamanho e forma de fabricação. Já tivemos as fitas cassetes, depois os CDs, hoje tudo está relacionado a MP3, pen-drive e outras modernidades, todas de curta duração, tal a renovação tecnológica e a substituição de um por outro mais avançado. Quando o LP começou a definhar, há uns vinte anos atrás, uma imensa legião de aficcionados não assimilou muito bem aquele premeditado fim. E essa paixão perdura até hoje.

Isso pode ser comprovado dando uma rápida caminhada pelo largo que abriga a famosa feira dominical. Em vários pontos podem ser encontrados os LPs. Alguns o revendem de forma desleixada, expondo-os aos efeitos do sol e da chuva. Uma barbaridade. Outros, mais cuidadosos, cuidam bem do produto e o que se percebe é um amontoado de pessoas interessadas em continuar comprando música dessa forma. Francisco Carlos Jaloto, o Carioca, 46 anos, traz tudo em caixas e expõe diretamente no chão, fornecendo uns banquinhos para os interessados procurarem com mais conforto aquilo que lhes interessam. Seu ponto já é tradicional, ficando bem defronte a Associação dos Aposentados, num dos locais de maior freqüência de pessoas. "O produto LP, do qual sou colecionador, continua interessando e muito. Olha ali, aquele cliente volta sempre e hoje, está separando mais de 15 para comprar", me diz.

Seus preços são tabelados e os mais populares possíveis. Carioca padronizou o preço do LP a R$ 1 real, mesmo tendo ao seu lado, um outro vendendo alguns mais raros, de R$ 3 até R$ 10 reais. "O sol nasceu para todos. Ele tem menor quantidade, traz pouca coisa. Eu trago mais e vendo mais barato. Aqui todo mundo sai contente e eu até ajudo a embalar o que ele vende", conta sobre o assunto. Ainda sobre o comprador de quantidade grande, não resisto e pergunto sobre desconto em cima de preço tão baixo. "Fazer o que, o cara é cliente, volta sempre, todo mundo chora bastante e não perco negócios. Deixo todo mundo contente. Cada caso é um caso, vejo o que posso fazer e faço", explica.

"Com preços tão baixos, como consegue os LPs. Compra ou ganha?", não resisto em lhe perguntar. "A grande maioria é comprada, em lotes e acabo sempre fazendo bons negócios. Fui buscar uma quantidade que uma senhora me doou, chegando lá peguei uns 50, mas vi a situação de suas crianças. Não pensei duas vezes, passei no mercado, comprei umas bolachas, doces e levei para ela", me diz. Nas caixas tudo segue certa organização por temas, como MPB, Clássicos Internacionais, Populares, Sertanejos, Clássica e assim por diante. Os fregueses mais habituais já conhecem a distribuição e nem perguntam mais, vão direto para a caixa que lhes interessa.

Nesse domingo quem está por ali é Dema, um freqüentador assíduo da banca. "Meu negócio são os de selo internacional, os de novelas e de cantores famosos. Em casa todos gostam. Trago uns para trocar e levo outros. O carioca tem me feito dois por um, mas sempre estou mais comprando que trocando", conta. Carioca aproveita e explica como são essas coisas: "Vivo disso, então preciso fazer um bom negócio. Nem sempre dá para fazer dois por um, mas para os clientes assíduos faço. Estudo bem o que me trazem, mas são raros os que ficam sem fazer negócio comigo. Em casa negocio as raridades. Outro dia vendi um raro do Rollings Stones, um que tem um zíper abrindo na capa. Conhece? Pois é, me pagaram R$ 80 reais nesse".

Carioca não é bauruense e o nome já diz tudo. Veio do Rio de Janeiro há uns dezoito anos atrás, atraído por um trabalho de guardar imóvel para uma família que iria viajar. Ficou pouco tempo nisso, indo depois trabalhar com o empresário Cláudio Amantini nos famosos bingos. Nisso ganhou muito e ficou até o negócio se esgotar. Fez outras coisas, conheceu a esposa, com quem está há oito anos e gostou da cidade e das pessoas daqui. "Ganhei muito dinheiro com os bingos. Num domingo daqueles movimentadíssimos cheguei a ganhar uns R$ 500 reais. O gosto pelos discos eu sempre tive e aqui fui ampliando. Trago até hoje muita coisa do Rio, das feiras de lá, de uns lugares que só eu conheço, em Campo Grande, na Baixada. Muita coisa trago para mim. Tenho uma coleção que não vendo, não troco e não dou", faz questão de ir contando.

Os clientes não param de chegar por lá. O senta-levanta nos banquinhos é constante e perdura até o arroz secar, ou seja, por volta das 12h30, quando a feira começa a definhar de movimento. Carioca fica até o fim, com seu inseparável chapéu de abas largas, para proteção do sol. Não lhe pergunto quanto ganha aos domingos e no restante dos dias, mas se continua insistindo nesse ramo de comércio, ele não deve ser lá dos piores. Melhor que tudo isso, Carioca faz o que gosta, pois demonstra isso em relação à música, com suas preferências em relação ao gênero. Papo dos mais agradáveis nas manhãs dominicais da maior e mais famosa feira de Bauru, ajudando a manter viva a tradição dos admiradores de LPs.

domingo, 25 de janeiro de 2009

PRECONCEITO AO SAPO BARBUDO (11)

JORNALISMO, JORNAIS E O PENSAMENTO ÚNICO
Discutir o tema jornalismo é sempre muito bom. Sou um professor de História meio que frustrado. Deveria ter feito Jornalismo, pois meu campo de interesse tem uma ligação umbilical com os meios de comunicação. Devoro de tudo um pouco. Principalmente os da imprensa escrita, de minha predileção. Gasto bastante comprando montanhas de papéis e nem tempo tenho para ler tudo. Mas não deixo de continuar comprando. Um dia lerei, com a calma e a presteza necessária. Permanecem guardados, até quando as traças o permitirem e continuar sobrando algum espaço em minha casa. Coleciono jornais, revistas, livros e textos que vou recortando de publicações variadas. Daí o nome Mafuá, que dei ao local onde reúno isso tudo, tal o amontoado de recortes variados.

Sendo leitor devoto, conheço um pouco da história da imprensa brasileira, seus personagens e algumas de suas passagens mais interessantes. Continuo achando que o melhor é ler diversas publicações para a formação de uma opinião própria. Esse negócio de mão única não dá certo nunca. Porém, no Brasil nossas publicações todas se parecem. Se não no formato, no conteúdo. A mídia brasileira é a do pensamento único. Pode reparar, dificilmente uma difere da outra. A história é antiga, mas merece ser rememorada. O Golpe de 64 contou com apoio em peso da mídia nativa. O "caçador de marajás", Collor de Mello teve apoio de todos contra um barbudo perigoso. FHC, logo a seguir, a mesma coisa, o barbudo continuava na espreita. Em 2006 não houve jeito, o barbudo ganhou, mas a grande mídia nunca esteve ao seu lado, como da última vez, quando apoiou Alckmin. A mídia, mesmo poderosa, perde em algumas circunstâncias.

Perceberam onde quero chegar. O perigo, para ela, a mídia, nessas últimas décadas é o metalúrgico presidente. A linha editorial mestra segue na perseguição desse suposto "algoz". Evidente, que hora ou outra, são permitidos opiniões contrárias de colunistas e articulistas, favoráveis à Lula. Raras exceções. Lula não provoca a mídia, faz até muitos favores a ela, com benefícios mil, mas não há meios de conquistar o carinho dessa. Toleram-se, sendo que a situação já esteve pior, mais agressiva. Proximidade de eleição presidencial tudo se agrava. Querem apostar quanto comigo, que nenhum barão das comunicações estará ao lado do candidato de Lula na sua sucessão em 2010? É disso que falo, o tal do pensamento único. Um por todos e todos por um contra o "inimigo" comum.

E olha que, os candidatos que já foram apoiados pela mídia, todos sem nenhuma exceção, são infinitamente piores do que o dos dois governos do "sapo barbudo". O problema é que ele fala muito em social, defende posicionamentos nacionalistas, de independência ao capital internacional, contra o neoliberalismo, possui amizades perigosas com esquerdistas históricos, favorável aos pobres e isso perturba alguns engravatados de plantão. Para uma elite retrógrada, que só pensa olhando para o próprio umbigo, isso é demais. E dá-lhe pau. Eu leio de tudo exatamente para ficar observando como se parecem, como defendem a mesmíssima coisa, discurso idêntico e familiar um ao outro. Não enveredam muito pelo caminho de um Brasil diferente, ousado, independente e soberano. Pode-se até não concordar com isso tudo lido aqui, mas discordar é impossível. São constatações, de procedimentos e práticas, todas expostas a qualquer um que as queira enxergar. E por fim, nunca trataram de forma tão depreciativa um outro presidente em exercício: se isso não é preconceito, não sei mais nada. Confiram nessas quatro ilustrações postadas junto ao texto.

sábado, 24 de janeiro de 2009

DIÁRIO DE CUBA (21)

MANHÃ NA IMENSA PRAÇA DO MONUMENTO AO CHE
Chegamos ao sétimo dia em Cuba, 14/03/2008, sexta-feira, dia claro, céu limpo. Amanhecemos em Santa Clara, a primeira cidade a conhecermos após seis dias em Havana. Da janela do hotel (pagamos duas diárias - 70 pesos) olhávamos frestas da cidade. Grande expectativa para o café da manhã, feito no 10º andar, com ampla vista panorâmica da cidade toda, por todos os seus ângulos. Não tenho certeza, mas acho ser esse o único prédio da cidade. Certeza eu tenho de ser o mais alto. Comemos como lordes, mesmo sendo socialistas. Variedade mais abundante que o de Vedado. Omelete feito na hora, muitas frituras, com destaque para um feito com salsicha, bem crocante.

Pança mais do que cheia, voltamos rapidamente para o 5º andar em busca de uns poucos pertences para irmos à rua. Não víamos a hora de conhecer dois locais turísticos da cidade, o famoso monumento ao Che e o museu ao ar livre, levantado no local onde o mesmo Che havia descarrilhado uma composição férrea do ditador Batista, durante a luta pela libertação da ilha. No interior, os funcionários são um pouco mais fechados do que os da capital, mas aos poucos vamos ganhando a confiança de todos. A chave para abrir portas é falar do Brasil. E isso fazemos muito bem.

“Conjunto Escultórico Ernesto Che Guevara”, localizado no máximo há umas dez quadras do hotel. Disseram-nos ser longe, que o melhor seria ir de táxi. No nosso caso, nem pensar. Queremos sempre caminhar, oportunidade ótima para contatar pessoas. E nada comparado ao que já havíamos andado em Havana. Casas mais simples, antigas, mas todas de ótimo aspecto. Povo simples, sem luxo nenhum, mas com o necessário. Ao chegar ao local, um amplo espaço, talvez com o mesmo tamanho do da Praça da Revolução, tendo no centro um imponente monumento com o Che vestido com o fardamento de batalha, com fuzil e tudo. Circulamos pelos quatro cantos, mesmo com o sol a pino. Entramos no Museu e depois no Memorial, tendo que, em ambos deixar a máquina fotográfica e filmadora num guarda-volumes, pois em sinal de respeito a Che não são permitidos no seu interior nem fotos, muito menos filmagens. Muitas peças históricas lá dentro, como roupas e armas usadas pelos revolucionários.

Parecíamos crianças brincando numa imensa praça. Não havia muita gente naquela manhã por lá. Somente ônibus de turistas, na sua maioria de europeus. Tiramos fotos de todos os ângulos e Marcos filma algo inusitado para nós. Uma pequena solenidade que acontece aos pés do monumento, com autoridades locais presentes. Em Santa Clara muitas conduções puxadas pela tração animal, tendo na sua parte traseira, uma carroceria coberta, onde devem caber de 10 a 15 pessoas. Passam a todo instante, quase sempre lotadas, levando os cubanos de um lugar para outro. Passamos a manhã toda no entorno da praça, curtindo aquele raro momento em nossas vidas. Marcos, mais do que ninguém, estava em estado de transe, extasiado e foi a coisa mais difícil tirá-lo de lá por volta do meio dia. Com fome, caminhamos até o hotel, conversando muito sobre como o cubano trata seus heróis e como nós, brasileiros tratamos os nossos. Qual papel possuem os heróis deles e os nossos para cada povo? Quais dos nossos possuem realmente uma identificação popular e não foram criados pela classe dominante. Conversa animada, quando notamos estávamos diante de um restaurante. Almoço feito, descanso de curta duração e nova saída, dessa vez para ver o Museu do Trem Brindado.

Essa emoção fica para o próximo relato.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

UMA CARTA (24)
Tenho que escrever rapidamente hoje. Viajei, juntei pais, filhos e a família de dois sobrinhos e caímos no mundo. Estou essa semana em Poços de Caldas, Caldas e Pocinhos do Rio Verde, todos em Minas Gerais. Quem tem casa por aqui é o escritor Rubem Alves. Toda vez que venho para cá sigo seus passos. Encontrando-o conto em breve. Aqui nesse lugar, escondidinho de tudo e de todos, entro na internet de forma precária e não me esforço para ser de outro jeito. Desde quarta fico alguns minutos plugado, depois saio e só volto no dia seguinte. Sigo essa rotina até domingo. Havia preparado uns textos com antecedência e irei publicando até lá. O de hoje é uma carta que enviei para a redação da Carta Capital sobre um assunto dos mais candentes no momento:

A RAZÃO AGREDIDA
O título de capa da primeira edição do ano de Carta Capital, "A razão agredida" é muito simples de ser entendido. São os mesmos motivos alegados por Bush Jr quando da invasão do Iraque. Irracionalidade e insanidade, acrescido de uma sucessão de mentiras. Daí entendo cada vez mais o alienígena do filme "O dia em que a Terra parou", que quando abordado por uma terráquea: "Você está querendo destruir a Terra, mas não veio para nos salvar?". Sua resposta cai como uma luva para os predadores da paz mundial, os patrocinadores de guerras atrozes e sem sentido: "Sim, viemos salvar o planeta dos humanos, pois é imcompreensível, um desperdício, uma espécie colocar fim dessa forma em tão harmoniosa conjunção". Bush Jr, Olmert e Tzipi contribuem decisivamente para a derrocada desse planeta. O que fazer com extremistas desse quilate? Eles nos ameaçam a todos.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

CHARGES ESCOLHIDAS À DEDO (12)

LATUFF, O CHARGISTA ATIVISTA
Carlos Latuff é talvez hoje o nosso mais conhecido cartunista, pois seu traço, sempre antenado com as grandes questões sociais, circula mundo afora. Sobre a questão do momento, a Guerra em Gaza, ele dá um show. Latuff é carioca, nascido no fatídico ano de 1968, começou como ilustrador e logo a seguir, trabalhando para vários sindicatos, não abandonou mais as charges com temática ativista. Tem trabalhos espalhados por lugares “nunca dantes navegados”. Citem um país aí, onde ocorra violência política e lá está presente seu traço, contundente e sempre marcante. Irã, Arábia, Chiapas mexicano, gueto de Gaza, a Venezuela de Chávez, os sindicatos coreanos, as lutas latinas, os pobres nos EUA e muito da injustiça que ocorre dentro desse imenso país chamado Brasil estão retratados em seu trabalho. Ele está em todas. Sua pena serve aos menos favorecidos. E a usa com audácia e perspicácia, não medindo as conseqüências. Se quer ver alguém tomando posição é com ele mesmo.

Passou por Bauru quando da realização do OLA – Observatório Latino Americano, em março de 2006 e perdemos uma grande oportunidade de conhecê-lo melhor. Baixou um pen-drive para nós com todo seu arquivo, pedindo que fosse usado da forma que achar conveniente, desde que para a defesa popular. Por onde passa assume o engajamento político como essência de sua arte. Uma pessoa impaciente com as injustiças do mundo atual, esbravejando contra os que dizem não ser mais necessário a contestação, pois vivemos numa democracia. “Ledo engano, porque hoje se vive num sistema autoritário, de pensamento único, em que a mídia dita para você o que é ou não verdade. (...) Nem tudo pode ser arte engajada, porque senão fica chato. E nem tudo pode ser entretenimento, porque fica vazio. É preciso ter a combinação das duas coisas”, faz questão de dizer.

A grande sacada de Latuff nesse momento é a multiplicação de sua arte e como ele encara isso. Simplesmente ele incentiva a reprodução, chegando a afirmar tratar-se “de um processo viral. Eu não tenho controle sobre isso. É domínio público. E é isso que me importa, pois minhas imagens apresentam uma visão diferente da grande imprensa burguesa e corporativa. São aquelas verdades inconvenientes que eles não querem que sejam vistas, mas a internet consegue quebrar esses bloqueios midiáticos”. O artista não está presente somente numa frente de batalha. Na internet pesquei DOIS blogs onde distribui sua arte: http://latuff.blogspot.com/ e http://tales-of-iraq-war.blogspot.com/

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

CENA BAURUENSE (19)

DUAS CASAS, DUAS HISTÓRIAS PARECIDAS: A ROSA, NO RJ E A DA ENI, AQUI
Foi lançado em novembro do ano passado o documentário “Pretérito Perfeito” revendo toda uma época ao contar a história de um dos mais famosos bordéis da cidade do Rio de Janeiro, a Casa Rosa (por ser toda pintada nessa cor). No filme, dirigido por Gustavo Pizzi, muita gente conhecida dá seu depoimento dos momentos ali vividos, como Lobão sobre como foi perder a virgindade com as “meninas” do lugar e do cartunista Lan. O filme, mais do que outras coisas, é uma retrospectiva da vida pública e privada brasileira, pois aproveita para fazer um amplo registro da sexualidade e do prazer (pago ou não). Filmes como esse têm lá sua aura de safadeza, embora o tema mesmo seja bem outro, e numa cidade como o Rio deve ter feito muito sucesso até por conta do que a “Casa Rosa” representou para a vida do carioca. Eu mesmo acabei conhecendo-a nos anos 80.

Os bastidores de tudo o que aconteceu no interior daquele "estabelecimento comercial" possui uma relação quase idêntica ao da nossa famosa casa de tolerância, a da Eni, tão famosa quanto. “Ah, se as paredes cor-de-rosa falassem!”, diriam os cariocas. O mesmo poderia ser dito pelos bauruenses em relação a nossa similar. O fato é que a casa carioca virou filme bem antes da nossa, ambas possuidoras de histórias mil de muita traquinagem e diversão. Aqui por Bauru vigora ainda certa lei do silêncio, com muita gente não querendo tocar no assunto. Pura besteira, pois o que passou passou e faz parte de uma época áurea, tanto da cidade, como desse ramo de negócio. Reviver as histórias e seus personagens faria um bem danado para a cidade.

Tema tabu, tanto que o CODEPAC discutiu durante meses a possibilidade de tombamento de sua edificação. Não vingou, por não ter apoio dos proprietários e muito menos de um segmento representativo da cidade. Até um provável filme é visto com certo desdém por alguns, que consideram o tema impróprio e pervertido. Chegam a dizer: “Isso traria uma repercussão negativa para a cidade”. Na época da discussão sobre o tombamento ouvi de uma pessoa ligada a um vereador: “O que deveria ser feito era tombar isso tudo, derrubar tudo, e logo”. Com cabeças assim, nada avança progressivamente. Foi garantido que a área das piscinas permaneceria intacta, já o restante, ficou liberado para demolição. E olha que com a pressão exercida, foi conquistado até muito. Para verem como a Eni continua sendo lembrada, o Faustão, na TV, dia desses ao se deparar com uma cortina roxa, pregueada disse: “Parece coisa lá da Casa da Eni”. Isso é demérito? Não vejo nenhum.

Não consegui assistir o filme (só o trailler), mas estou tentando junto a produtora Isabelle Cabral, da Distribuidora Criativa, que o tragam para Bauru, talvez numa exibição em parceria com o Cine Clube Aldire Pereira Guedes. Será uma oportunidade muito boa para voltar a discutirmos a importância do que foram casas como essa, num período que vai dos anos 50 até os 80, quando a maioria definhou de vez. Comenta-se muito sobre uma provável filmagem do livro sobre a Eni, do jornalista Lucius de Mello. Torço muito por isso e agora, ao terminar de assistir a mini-série Maysa, tenho plena certeza de que um sobre a Casa da Eni seria um estouro nacional. Bauru precisa discutir isso com a relevância que o tema possui. E o momento sempre se mostra oportuno. Pois que venha o filme Pretérito Perfeito, depois o nosso, talvez com um nome parecido a “Um trevo de muitos encantos”.
Torcendo muito e colocando alguns gravetos na fervura, deixo uma sugestão: Assistam o trailler do filme, que encontrei no Youtube e confiram o quanto seria interessante algo similar sobre a nossa Casa da Eni - http://www.youtube.com/watch?v=xNVtJemj-n4
Obs.: As fotos que ilustram o texto foram tiradas pela conselheira Ludmila Tidei, quando de uma visita técnica do CODEPAC - Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Bauru, feita no local, em 2007 e constam do arquivo do órgão.