quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

CENA BAURUENSE (19)

DUAS CASAS, DUAS HISTÓRIAS PARECIDAS: A ROSA, NO RJ E A DA ENI, AQUI
Foi lançado em novembro do ano passado o documentário “Pretérito Perfeito” revendo toda uma época ao contar a história de um dos mais famosos bordéis da cidade do Rio de Janeiro, a Casa Rosa (por ser toda pintada nessa cor). No filme, dirigido por Gustavo Pizzi, muita gente conhecida dá seu depoimento dos momentos ali vividos, como Lobão sobre como foi perder a virgindade com as “meninas” do lugar e do cartunista Lan. O filme, mais do que outras coisas, é uma retrospectiva da vida pública e privada brasileira, pois aproveita para fazer um amplo registro da sexualidade e do prazer (pago ou não). Filmes como esse têm lá sua aura de safadeza, embora o tema mesmo seja bem outro, e numa cidade como o Rio deve ter feito muito sucesso até por conta do que a “Casa Rosa” representou para a vida do carioca. Eu mesmo acabei conhecendo-a nos anos 80.

Os bastidores de tudo o que aconteceu no interior daquele "estabelecimento comercial" possui uma relação quase idêntica ao da nossa famosa casa de tolerância, a da Eni, tão famosa quanto. “Ah, se as paredes cor-de-rosa falassem!”, diriam os cariocas. O mesmo poderia ser dito pelos bauruenses em relação a nossa similar. O fato é que a casa carioca virou filme bem antes da nossa, ambas possuidoras de histórias mil de muita traquinagem e diversão. Aqui por Bauru vigora ainda certa lei do silêncio, com muita gente não querendo tocar no assunto. Pura besteira, pois o que passou passou e faz parte de uma época áurea, tanto da cidade, como desse ramo de negócio. Reviver as histórias e seus personagens faria um bem danado para a cidade.

Tema tabu, tanto que o CODEPAC discutiu durante meses a possibilidade de tombamento de sua edificação. Não vingou, por não ter apoio dos proprietários e muito menos de um segmento representativo da cidade. Até um provável filme é visto com certo desdém por alguns, que consideram o tema impróprio e pervertido. Chegam a dizer: “Isso traria uma repercussão negativa para a cidade”. Na época da discussão sobre o tombamento ouvi de uma pessoa ligada a um vereador: “O que deveria ser feito era tombar isso tudo, derrubar tudo, e logo”. Com cabeças assim, nada avança progressivamente. Foi garantido que a área das piscinas permaneceria intacta, já o restante, ficou liberado para demolição. E olha que com a pressão exercida, foi conquistado até muito. Para verem como a Eni continua sendo lembrada, o Faustão, na TV, dia desses ao se deparar com uma cortina roxa, pregueada disse: “Parece coisa lá da Casa da Eni”. Isso é demérito? Não vejo nenhum.

Não consegui assistir o filme (só o trailler), mas estou tentando junto a produtora Isabelle Cabral, da Distribuidora Criativa, que o tragam para Bauru, talvez numa exibição em parceria com o Cine Clube Aldire Pereira Guedes. Será uma oportunidade muito boa para voltar a discutirmos a importância do que foram casas como essa, num período que vai dos anos 50 até os 80, quando a maioria definhou de vez. Comenta-se muito sobre uma provável filmagem do livro sobre a Eni, do jornalista Lucius de Mello. Torço muito por isso e agora, ao terminar de assistir a mini-série Maysa, tenho plena certeza de que um sobre a Casa da Eni seria um estouro nacional. Bauru precisa discutir isso com a relevância que o tema possui. E o momento sempre se mostra oportuno. Pois que venha o filme Pretérito Perfeito, depois o nosso, talvez com um nome parecido a “Um trevo de muitos encantos”.
Torcendo muito e colocando alguns gravetos na fervura, deixo uma sugestão: Assistam o trailler do filme, que encontrei no Youtube e confiram o quanto seria interessante algo similar sobre a nossa Casa da Eni - http://www.youtube.com/watch?v=xNVtJemj-n4
Obs.: As fotos que ilustram o texto foram tiradas pela conselheira Ludmila Tidei, quando de uma visita técnica do CODEPAC - Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Bauru, feita no local, em 2007 e constam do arquivo do órgão.

5 comentários:

Anônimo disse...

muito , muito legal! o filme aparecendo por aqui gostaria de ver! com certeza um sobre a "nossa" Casa Rosa seria demais! pra que tanta polêmica, tanta hipocrisia, não é? ainda acredito que deveríamos te espaços assim, algo mais organizado, seguro. melhor que as "meninas" e "meninos" ficarem pelas ruas. valeu! marisa

Anônimo disse...

Vc é um craque mesmo. Adorei o que vc escreveu.
Como você já falou, da última vez que o Lucius de Mello esteve no Bauru Chic, ele comentou que havia vendido os direitos do livro para uma empresa que quer fazer um filme sobre a nossa Eny. Tomara que vingue. O Walter Negrão também já andou por aqui recolhendo informações para uma possível minissérie na Globo. Conversou com algumas pessoas e tudo mais. Falou inclusive com a Lucia Ferraz.
Tomara que aconteça as duas coisas: o filme e a minissérie.
Abs.
Egberto, do Bauru Chic

Anônimo disse...

HENRIQUE,
gostei...
Gostaria de lembrar duas coisas:
a) "O grande bordel" já está vendido para a cinematográfica Casablanca e vai ser filmado - informação do próprio Lucius...Direção: talvez de Daniel Filho... Eni, talvez Vera Holtz...
b) Em Bauru havia a "Casa Rosada" de propriedade da Antonia, lá pelos lados do Ferradura...
Continue pesquisando.
Abraços.
MURICY

Anônimo disse...

Henrique
Quando o filme vier, me convide que quero estar por lá. Pelo triller deu para perceber as semelhanças. Essas histórias não podem ser esquecidas.
Paulo Lima

Anônimo disse...

HENRIQUE
Li seu artigo no Bom Dia e pode escrever, vão cair de pau em cima de você por lembrar tão "perigosa" casa. Eu, como antigo frequentador, gostei muito e torço pelo filme.
Leandro