terça-feira, 30 de dezembro de 2014

MÚSICA (117)


“RIO, RUAS E RISOS”, LP DO ALDIR E MAURÍCIO TAPAJÓS, UM QUE SE FOI NOS APERTOS DA VIDA – DA SÉRIE DESABAFOS DE FINAL DE ANO
A história triste eu revivo aqui e sem maiores problemas. Coleciono MPB, desde os LPS aos CDs (as fitas cassetes abri mão). Já tive um acervo muito maior que o atual. Descuidei um pouco, estão empoeirados, os ouço pouco, sempre com promessa de instalar mais e mais aparelhos de som pelo mafuá e ir reverberando o som juntado, espalhar isso tudo pelas paredes do meu local de trabalho, casa do meus pais. Dia desses fui à busca de um velho LP, do maior compositor vivo, o imortal ALDIR BLANC e não o encontrei. Era o de uma das certeiras parcerias dele, com o MAURÍCIO TAPAJÓS, o “RIO, RUAS E RISOS” (Saci/Independente, 1984), uma belezura dos anos 80. Primeiro algo do Maurício, um barbudo bom de letra, com coisas lindas rodando pela aí e, infelizmente falecendo tão novo, na flor da verve criativa. Imagino as belezuras que não estariam sendo feitas até hoje com a sua pena. Na junção com o Aldir, preciosidades inimagináveis e inigualáveis. As juntadas nesse LP um bocadinho delas.

Pois bem, o LP desapareceu do meu acervo. Vou ao youtube e reencontro uma possibilidade de ouvi-lo inteiro, todas as faixas, 31 minutos e todas as músicas. Simples isso, daí me perco revivendo as canções todas. Compartilho isso com os que me lêem. Clicando a seguir essa possibilidade: https://www.youtube.com/watch?v=FFeMUjQevqU. Sintam a beleza dos títulos das canções e ao ouvi-las um maravilhamento sem fim, perdição para ouvidos moucos: Querelas do Brasil, Antonieta na gafieira, O Sandoval tá mudado, Santo Amaro, O bonde, Perder um amigo, Valquíri, Entre o torresmo e a moela, Valsa do Maracanã e Colcha de retalhos. Confesso, eu babo na fronha por todas elas.

A história triste é do LP não estar mais por aqui. Sei o que aconteceu e conto agora. Coisa de uns dez anos atrás estava duro, sem muita grana nos bolsos e daí não me lembro quem me indicou um senhor paulistano, dono de uma loja de discos raros, desses que sai em busca de peças raras, compra na bacia das almas e as revende. Ligo para ele e ao contar o que possuo, o interesse é imediato. Não demorou nem dois dias o cara veio de Sampa para Bauru só para ver o que tinha. Fuçou tudo. Fizemos um acordo bestial. Ele escolheria cinqüenta, nem olharia os títulos para não sofrer muito e por um preço estabelecido levaria o lote. Isso feito, contei os tais cinqüenta, sem tentar reparar no que estava sendo levado, peguei a grana e a gastei mais rápido do que possam imaginar. Vapt vupt e eu sem meus discos. De vez em quando vou em busca de um antigo e não o reencontrando sei o destino. O desse deve ter tido esse destino. Outro que sei foi na mesma leva foi o Clara Crocodilo, do Arrigo Barnabé.

O tempo passou, não tenho mais o contato do tal comprador. Devo ter jogado fora e também o que faria com o cartão depois de dez anos.? Não acharia mais nada lá com ele ou se achasse talvez o preço que vendi tudo pagaria no máximo uns cinco ou seis. Sei que o cara andou me ligando aqui umas duas vezes querendo levar mais alguns, mas segurei as barras. Assim como eu andei fazendo isso, sei de outro meu amigo, um que se apertou de vez e vendeu tudo o que tinha, ficando só com as peças mais raras. Imagino por mim a dor sentida. O ir juntando todas essas peças e depois ter que se desfazer. Os motivos de se abrir mão são muitos, um deles, a falta de espaço nas casas, outro a indisposição da cara metade com aquelas velharias (o que não ocorre comigo), mas o mais dolorido deles deve ser o que fiz, vender para pagar contas em atraso.

Ouvindo as canções desse disco aqui e agora pela via internética, não sei se dou risadas ou se choro. As letras me calam muito fundo, o ano se encerra, tantos planos pela frente. Queria muito poder escutar isso tudo que tenho aqui guardado, arrumar melhor esse meu cantinho, ler mais. Minha mana Helena publicou ontem no seu facebook a capa de mais um livro lido e respondi assim para ela: “Tenho por ti a boa inveja. Queria poder estar lendo como ti. Saudades tenho dos meus 5 a 7 livros lidos por mês, hoje quando um, muito. Planos para 2015? Sim, um deles é ler mais, livros e mais livros”. Minhas antigas agendas tinham um espaço para ir marcando os títulos dos livros lidos no mês e possuo até hoje um caderno aonde ia registrando as frases recolhidas dos livros lidos. Livros, ouvir mais música, se informar melhor das coisas, muitas fontes de informação e possuir um amplo, arejado espaço para agasalhar tudo isso. Meus preciosos papéis sendo guardados até um dia poder ser repassados para o filho. Dele uma incontida alegria. Quanta coisa já não me levou de livros, revistas, coleções feitas para que um dia ele se interessasse. E se interessou, levou para seu canto e isso sim me dá um contentamento sem fim. Quando vou até ele e revejo alguns dos meus livros bem guardados por ele, sei que parte de minha missão está se consolidando. E a Ana Bia, ela também possuidora do seu mafuá particular e quando juntarmos tudo, vamos precisar de um barracão amplo e espaçoso. Do contrário, nem sei do futuro disso tudo.

Não me penitencio por nada já feito. Talvez até tenha que fazer novamente o que fiz um dia. Sem neura de nenhuma espécie. O que fiz aqui é um mero registro. Claro que gostaria de ter ainda todo meu acervo completo, mas quando isso não é mais possível, toco meu barco. Continuo comprando muito, consumindo muito música. Hoje compro pouca coisa nova, isso por causa do preço. Frequento muito sebos e em cada lugar por onde passo, vou descobrindo lugares e cato novidades e antiguidades. Descobri lugares no Rio onde compro CDs por R$ 2 cada e me esbaldo a cada retorno. Me perco nesses lugares e se não leio muito, como dantes, pelo menos consumo muito mais música. Não tem ida à banca do Carioca na Feira do Rolo que não volte com dois ou três CDs e por um preço mais do que convidativo. E quem me diz que qualquer dia desses não reencontre o perdido “RIO, RUAS E RISOS”, talvez o meu próprio. Esse mundo dá muitas voltas e esse será somente uma delas. Perdido aqui na imensidão de possibilidades mafuentas dos meus guardados desejo a tudo e todos BOAS ENTRADAS E BOAS SAÍDAS PARA 2015...

3 comentários:

Anônimo disse...

Os discos contém as histórias não só de uma época, dos artistas, mas tb a vida de quem os adquire e sempre estão a escutar os ecos de uma época que infelizmente muitos fizeram com que ela se perdesse no rio dos falsos ideais.

Eu vendi para por um momento apenas poder fazer compras no mercado, dói se desfazer de algo que é parte do que somos, sei que isso foi um dos fatores que fizeram com que a saúde tivesse uma turbulência esse ano, junto a outros fatores claro, mas percebo que assim como os discos que não tocam mais hoje os ecos de grandes tempos, as amizades, os idealistas, tb se fizeram por vender num insano mercado do capital.

Eu continuo aqui, idealista como sempre, sem nenhum desses ecos, mas apenas resistindo como um ser existente para entoar minha crítica voz, para quem sabe um dia, possam ecoar como música pelo mundo.

Camarada Insurgente Marcos

Mafuá do HPA disse...

Amigo Marcão

Só vc sabia que o o amigo citado no texto eras tu. Sofremos muito com isso amealhado ao longo dos anos e depois sendo vendido para pagar contar, para comprar alimento. Pior que tudo, não temos mais as tais preciosidades e as contas e a fome continuam batendo na nossa porta.

na esperança de dias melhores. Será que eles virão???

Henrique - direto do mafuá

Anônimo disse...

Esses dias não virão neste país, pois os dias precisam de pessoas que os melhorem, e assim como se vai no mafuá procurar discos clássicos e não os encontramos mais, mais duro ainda é quando vamos ao mafuá procurar amigos clássicos idealistas e nos damos conta que estes também estão vendidos.

Uma pena!!

Camarada Insurgente Marcos