sábado, 20 de fevereiro de 2016

BEIRA DE ESTRADA (59)


A PLACA QUE NINGUÉM QUERIA TIRAR DO LUGAR
Ela foi colocada bem no pé de um poste no cruzamento das ruas Aparecida com Antonio Alves e sinalizava algo ali na sequêcia da rua, virando a Gustavo Maciel, um buraco no meio da rua, desses tantos procriando como mato pela cidade. Nem se sabe se esse foi cria da chuva, de vazamento, de percalço outro, o fato é que ele acabou sendo reparado, a enchente se foi, deixando rastros ainda perceptíveis por lá, mas a placa foi ficando, por semanas, mais de um mês ali no mesmissimo lugar. E a dita cuja foi feita com um resto de peça de guarda roupa que não sobreviveu à chuvarada de janeiro. Ninguém queria botar a mão nela, tipo aquelas macumbas na esquina que todos passam e ninguém se atreve a provar da pinga ali praticamente oferecida. Assim como a placa veio ela acabou se indo. Nem sua autoria foi devidamente identificada. Foi obra de um anônimo, como tantos criando placas variadas em buracos cidade afora. Na ironia, na base da chacota vai sendo alertado, chamado a atenção, grita geral contra desmandos variados e múltiplos. Placas dizem muito mais do que mil palavras ao vento, pois elas ficam ali diante de nossos olhos e a cada reolhada para elas, tudo volta à mente. Que elas se proliferem em cada novo buraco e problema.

PLACAS
Sou um adorador de placas, não as normais de sinalização, mas as escritas das mais variadas formas e jeitos para sinalizar situações outras. Essas por exemplo, colocadas em buracos e improvisadas de tudo quanto é jeito e maneira. Postes variados e múltiplos são utilizados como mola mestras, ou seja, o local seguro e de boa visibilidade onde um alerta pode ser fixado e muitos verão. Um muroi e uma inscrição, como o da Maria Inês Faneco, no ssa mais popular pipoqueira e escrevinhadora de paredes. Isso tudo, são mensagens cifradas, decodificadas e com endereço mais do que certo. Inscrições em muros, recados deixados ao lado de alguma obra, algum problema existente, tudo é uma forma de diálogo entre aqueles que possuem dificuldade de comunicação com o restante do mundo. A placa não deixa de ser um grito para que outrem o ouça e daí ocorra a amplificação ou o atendimento do clamor, da necessidade.

Tento estudar esse fenônomeno e estou ainda nos cuieros do entendimento disso tudo. São tantas formas, cada uma mais instigante que a outra e uma mais revolucionária que a outra. Passei a colecionar essas imagens e estou com alguns escritos acadêmicos engatilhados sobre esse tema. Eles me provocam. Uma placa junto a um buraco e um xingamento para o alcaide da ocasião, o mesmo para qualquer outra ocorrência, problemas variados, tudo pode gerar uma reação e é nessa reação que nasce a criatividade, a espontaneidade da resposta na lata, direta e reta. Quando eivada de ironia, melhor ainda, mais certeira, pois além de gerar o alerta, quando provoca risos, parece gerar mais constrangimento naquele que é o alvo da desdita.

Me delicio com elas e como começo o dia com uma escrita sobre isso, aproveito e também termino. Junto tudo, desde frases de parachoques de caminhões, grafittes em paredes. bilhetinhos colocados em chamamentos de alerta, ou seja, tudo o que ocorra como resposta, reverberão imediata de algo visto e pelo qual não ocorre concordância. Essas reações também podem ser de agradecimento, como vejo faixas espalhadas em locais diversos e abordando de tudo um pouco. Emplacando o mundo contra as malversações todas a que estamos sujeitos estamos reagindo e não aceitando pacificamente esse mundo como ele é nos apresentado. E como sou adepto de que "um outro mundo é possível", isso tudo me faz parar e ficar tentando escrevinhações.

HPA, após umas cevadas pela aí.

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