HISTÓRIAS PESSOAIS JUNTADAS ENTRE JANEIRO E FEVEREIRO
HENRIQUE OLIVEIRA vive da música. Primeiro por tocar um instrumento onde Bauru está muito bem servida: é baterista. Circula cidade afora (e adentro também) com as baquetas na mão, tocando nos mais diferentes lugares. Uma pessoa engajada no que faz, enfronhado em diversos agrupamentos musicais. Escrevi que vive da música, pois é evidente receber pelo que faz, mas tem uma algo mais, trabalha também nas hostes do Instituto Guitarrisma. O gajo é de uma nova safra, pois ainda está com apenas 28 anos. O vejo sempre de bem com a vida, ao lado de uma fotógrafa, a Priscila Medeiros, sua companheira de todas as horas. Que maravilhamento deve ser a vida de um baterista e de uma fotógrafa. Ainda mais quando ambos são ecléticos pra dedéu e vão inserindo em suas vidas sempre um algo novo, uma pitada do benfazejo de saber ir construindo o inusitado. A música abre mentes, irradia gente de bem e esse meninão é tudo de bom, um belo de um profissional, sempre buscando mais, uma formação sendo acalentada com essas novas parcerias, o conhecimento ampliado da música. E tem o lado estradeiro da vida de todo músico. Isso deve ser fantástico, mas no caso do Henrique, o mais sofrido, pois carregar uma bateria não deve ser a mesma coisa que carregar na mala uma flauta. Ele se vira e pelo que sei, não reclama.
2.) PAULA REGINA, A POLIVALENTE ARTESÃ AO ESTILO FRIDA KHALO
Ontem travei um ríspido diálogo com adoradores do deputado Jair Bolsonaro pelas redes sociais e hoje, ao conhecer uma pessoa, na entrada de sua casa, o primeiro diálogo veio com algo assim: “Estava agora lendo sobre os que resistem a esse estreitamento de ideias tipo bolsonaristas. Só num mundo sem instrução, falta de conhecimento e cultura algo assim pode proliferar”. Já gostei logo de cara e quando a conversa se alongou, eu e Ana Bia percebemos estar diante de alguém a viver bem longe do estilo manada, o meio mais usual de viver dos tempos atuais. Conto algo do vislumbrado dessa conversa.
PAULA REGINA APARECIDA DOS SANTOS é casada com um arteiro, Luiz Henrique Carneiro e ambos, unidos após se conhecerem num bate papo internético, se descobrem e na revelação eis que, navegam pela vida com os mesmos interesses e propósitos. Ele, um artista, ela idem e de uma espécie rara. Artesã, criou uma marca, a Manfarita, feito à mão em esperanto. Do lar, encravado lá no alto do Bela Vista, ao lado do Clube da Vovó, boca de entrada da Pinheiro Machado, quarteirão quase todo dedicado aos Carneiros, moram junto de dois filhos e é o local onde tudo acontece. O artesanato é só o começo, pois com ele vem o bordado e até as aulas de dança do ventre. “Faço de tudo, menos o mal, tudo o que dá para fazer”, diz sobre suas atividades. Paula é dessas magnetizantes pessoas, que te ganham na primeira conversa. Polivalente está sempre envolvida em várias frentes, todas ao mesmo tempo. Uma agitada e espevitada pessoa e vivendo ao estilo de nada menos que Simone de Beauvoir, Leila Diniz e uma com várias lembranças pela casa, Frida Kahlo. Trabalha no que gosta, de forma alegre, envolvimento total e absoluto, assim como o estilo de vida do casal, irreverentes e ousados. Nas paredes da casa, stencils pintados pelas paredes e rabiscos dos filhos ornando tudo, de forma a preencher todos os espaços. Enfim, pessoas diferenciadas e vivendo num lúdico lugar, eis como seguir em frente sem ser manada. Admiráveis pessoas, dessas que pintam e bordam vida afora..
PAULA REGINA APARECIDA DOS SANTOS é casada com um arteiro, Luiz Henrique Carneiro e ambos, unidos após se conhecerem num bate papo internético, se descobrem e na revelação eis que, navegam pela vida com os mesmos interesses e propósitos. Ele, um artista, ela idem e de uma espécie rara. Artesã, criou uma marca, a Manfarita, feito à mão em esperanto. Do lar, encravado lá no alto do Bela Vista, ao lado do Clube da Vovó, boca de entrada da Pinheiro Machado, quarteirão quase todo dedicado aos Carneiros, moram junto de dois filhos e é o local onde tudo acontece. O artesanato é só o começo, pois com ele vem o bordado e até as aulas de dança do ventre. “Faço de tudo, menos o mal, tudo o que dá para fazer”, diz sobre suas atividades. Paula é dessas magnetizantes pessoas, que te ganham na primeira conversa. Polivalente está sempre envolvida em várias frentes, todas ao mesmo tempo. Uma agitada e espevitada pessoa e vivendo ao estilo de nada menos que Simone de Beauvoir, Leila Diniz e uma com várias lembranças pela casa, Frida Kahlo. Trabalha no que gosta, de forma alegre, envolvimento total e absoluto, assim como o estilo de vida do casal, irreverentes e ousados. Nas paredes da casa, stencils pintados pelas paredes e rabiscos dos filhos ornando tudo, de forma a preencher todos os espaços. Enfim, pessoas diferenciadas e vivendo num lúdico lugar, eis como seguir em frente sem ser manada. Admiráveis pessoas, dessas que pintam e bordam vida afora..
3.) DULCE PIRES, A AVÓ ENTENDIDA EM PNEUS
Uma mulher à frente de uma borracharia não é coisa muito usual. Merece toda a atenção e isso todos que passam diante de uma famosa borracharia na cidade destacam o feito e quando a conhecem, passam logo do espanto inicial para a admiração. Conto aqui uma experiência bem sucedida de alguém cuja profissão alterou totalmente sua vida, de assumida dona de casa para cuidar de pneus. São casos como esse, onde o inusitado, o nunca pensado para si, mas ocorrendo mesmo assim e promovendo a guinada, a mudança em 180 graus, da água para o vinho na vida das pessoas. Conheçam um bocadinho dessa pneumática história.
DULCE DE OLIVEIRA PIRES, 68 anos é sócia-proprietária de uma famosa borracharia na cidade, a Pires, localizada na avenida Nações Unidas, quadra 6, ali pertinho da rua Marcondes Salgado. O sócio é seu marido, Augusto Pires, 78 anos, caminhoneiro. Ele comprou em 1984 o ponto comercial para o filho homem tomar conta, mas esse veio a falecer anos depois e, como nunca pensou em abandonar a boléia de um caminhão, quem acabou cuidando do negócio foi mesmo dona Dulce. Vê-la ali na borracharia, de segunda a segunda, horário comercial, sendo que aos sábados abre das 7h30 às 16h e aos domingos das 8h às 15h é a certeza de que o cliente terá o devido acompanhamento quando necessitar dos serviços da firma. Avó, passa alguns dias paparicando o neto numa sala aos fundos, com algum conforto, mas com um olho no atendimento lá na frente e outro na criança. Entende muito de pneus e sempre está dando conselhos, pitacos e orientações para, não só seus clientes, como funcionários, afinal são mais de trinta anos ali gerenciando tudo. Quando lhe pergunto sobre estar na frente de uma borracharia, ela ri e diz: “Aqui não tem disso não, sou eu mesmo quem mandar ver sobre pneus. Só não troco porque minhas forças não mais permitem”. E isso é comprovado no dia a dia do movimentado estabelecimento e ela circulando de um lado a outro, com seus 1 metro e oitenta, cabelos embranquecidos, gestos rápidos, lépida e fagueira no bem servir. Uma característica é de manter funcionários por longo tempo, como um deles, permanecido 16 anos ali trabalhando e só saindo por problemas de saúde. E assim segue a vida, marido com um possante e ela só trocando pneus.
Eu tenho comigo que toda perda pode ser precedida de uma conquista. Perde-se algo ali, mas logo na curva da próxima esquina a possibilidade de algo maior acontecer. Conheço a Cidinha Caleda lá da escola de samba Azulão do parque Jaraguá não é de hoje. Ela conheceu minha mãe e suas peripécias artesanais, isso já me aproxima dela pro resto da vida. Anos atrás ouvia seu lamento por ter perdido alguém bem próximo, uma espécie de seu esteio dentro da escola, com preparação até para a sua sucessão nos destinos do samba lá onde ele acontece de forma forte e incisiva. Perdeu a pessoa para uma igreja evangélica e se lamentava pelo fato. Não só essa pessoa havia batido as asas, mas muitas baianas, uma ala cada vez mais difícil de compor hoje em dia. Pois bem, hoje conto sobre alguém que chegou e faz a felicidade lá do povo do Jaraguá.
RICARDO BLANCO KALEDA é um jovem, menos de trinta anos, recém formado em Direito e já começando a atuar como advogado na cidade. Cria do Jaraguá e com o sobrenome do samba gravado na pele, pois Caleda por lá é sinônimo de Carnaval e também de trabalho social. Casado, um filho ainda muito novo, aprendendo a andar, esse digno representante dos Caleda caiu no samba e de dois anos para cá se revelou um mestre sala a altura das necessidades da escola. Foi chegando assim como quem não quer nada, ocupou um espaço que estava vago e se mostrava um problema. Veio, olhou, assuntou, pediu permissão e mostrou samba no pé, pegou na mão da porta bandeira e a arrastou para uma demonstração lá nos fundos do quintal da Cida, também o barracão da escola. Gostaram, foi preparado, besuntado no óleo do samba e hoje já é uma realidade. Ricardo faz tudo sempre sorrindo, com o bom humor estampado no rosto e lá nas estruturas da escola galgou algo mais. Por um lado, Cristiane Ludgero é a responsável pelas fantasias e ele, o carnavalesco dando conta dos carros alegóricos. Com tudo muito bem dividido, num belo exemplo de ação coletiva, a Azulão segue altaneira na preparação para descer no Sambódromo e mais uma vez expor como, ano após ano vai sendo formatado mais um sambista, degrau por degrau, com humildade, sabedoria e muito suor no que faz. E é claro, samba no pé.
Quando começo a circular entre as escolas de samba de Bauru e me deparo com as tantas pessoas mais do que abnegadas, aquelas que se doam totalmente por puro amor, o envolvimento total com a comunidade onde estão inseridas, bate em mim que o Carnaval se renova exatamente por causa disso. São tantas as histórias e algumas delas possuem pitadas até surreais para aqueles distantes de tudo isso, aqueles que ainda não conseguiram enxergar nessa festa uma verdadeira manifestação cultural. Apresento aqui com esse texto uma pequena amostra de um envolvimento mais do que especial. Eu me emociono constatando histórias como essa.
MICHELE OLIVEIRA, 36 anos, trabalha o ano todo na área de limpeza, dá um duro danado para tocar sua vida e na época do Carnaval faz algo movida totalmente pelo coração, a devoção à escola de samba Coroa Imperial, do bairro Geisel, onde mora. Com duas filhas, a Karen e a Sthepany, acreditem, ela já é avó. Com o passar dos anos acabou se transformando , pela dedicação total e exclusiva, uma peça chave para a Escola, onde circula com um caderno e nele vai anotando tudo, desde os nomes dos integrantes de cada ala, número dos seus sapatos, medidas para as fantasias e ali está a alma da escola, sua vida interior, intestina. Ouvi por lá nesses dias ser ela a “alma da escola”, também o braço direito e esquerdo do carnavalesco Cláudio Goya, a retaguarda para tudo acontecer e girar a contento, escora, viga sustentadora, dessas que se dói quando algo de ruim acontece. Sempre sorrindo, atenta a todos os detalhes, interessada em ajudar, contribuir, dar além do seu quinhão, não existe reconhecimento maior do que ouvir da boca do Goya algo dessa lavra: “Não existe ninguém na comunidade que ama tanto a escola como ela”. Vive nesse período intensamente e tão somente para isso, o que não a impede de extrapolar em outro lugar. Sairá, além de destaque em sua escola, como Porta Bandeira no bloco do Consulado do Samba. Uma dessas pessoas cheias de luz e com um futuro mais do que brilhante dentro de tudo o que possa acontecer com a Coroa no futuro. Ou melhor, esse futuro passa necessariamente e muito pelas suas mãos, alguém imprescindível nos próximos passos.
No meio das agruras de dias turbulentos por causa da força da água invadindo casas, nota-se a presença de alguns labutando não pela xepa da feira, mas pelas sobras e rejeitos colocados nas calçadas, algo ainda com serventia para dar-lhes o sustento no dia a dia. Eles recebem o pomposo nome de recicladores e conseguem encontrar algo rentável no descarte que muitos são obrigados a rejeitar, disponibilizar em suas calçadas. Ver e entender como se dá o trabalho desses é uma boa tarefa no saber desvendar meandros ainda desconhecidos de uma cidade. Relato aqui um personagem dentro deste prisma.
ANDRÉ LUIZ GONÇALVES, 45 anos, mora numa pequena casa na confluência das ruas São Paulo e Bela Vista, na baixada do bairro Bela Vista, próximo à avenida Nuno de Assis e, consequentemente, ao rio Bauru. Seu trabalho consiste em recolher e dele conseguir extrair algo de reciclados, os inservíveis disponibilizados pelos munícipes. O carro chefe é o papel e no caso dos recolhidos nessa semana de muita chuva, não se importa que venham molhados, pois afirma que para a reciclagem eles são mesmo molhados e daí, carrega tudo dessa forma mesmo, mesmo com barro e lama proveniente do rio. Complementa tudo com um trabalho de manutenção em geladeiras, fogões e máquinas de lavar. Vive rodando a cidade dirigindo uma velha e resistente perua Kombi, ano 94, sempre abarrotada de coisas recolhidas cidade afora. Disso tudo faz seu ganha pão. Tem um outro lado, muito sensível: “Quando vejo uma pessoa em situação de risco procuro ajudar”. É o que fez essa semana com os atingidos pela enchente nas imediações da Nuno de Assis, levando bombonas de água para atendimento de suas básicas necessidades. Dessa forma, além de ganhar algum com o que recolhe, faz amizades por onde circule e assim toca sua vida.
DULCE DE OLIVEIRA PIRES, 68 anos é sócia-proprietária de uma famosa borracharia na cidade, a Pires, localizada na avenida Nações Unidas, quadra 6, ali pertinho da rua Marcondes Salgado. O sócio é seu marido, Augusto Pires, 78 anos, caminhoneiro. Ele comprou em 1984 o ponto comercial para o filho homem tomar conta, mas esse veio a falecer anos depois e, como nunca pensou em abandonar a boléia de um caminhão, quem acabou cuidando do negócio foi mesmo dona Dulce. Vê-la ali na borracharia, de segunda a segunda, horário comercial, sendo que aos sábados abre das 7h30 às 16h e aos domingos das 8h às 15h é a certeza de que o cliente terá o devido acompanhamento quando necessitar dos serviços da firma. Avó, passa alguns dias paparicando o neto numa sala aos fundos, com algum conforto, mas com um olho no atendimento lá na frente e outro na criança. Entende muito de pneus e sempre está dando conselhos, pitacos e orientações para, não só seus clientes, como funcionários, afinal são mais de trinta anos ali gerenciando tudo. Quando lhe pergunto sobre estar na frente de uma borracharia, ela ri e diz: “Aqui não tem disso não, sou eu mesmo quem mandar ver sobre pneus. Só não troco porque minhas forças não mais permitem”. E isso é comprovado no dia a dia do movimentado estabelecimento e ela circulando de um lado a outro, com seus 1 metro e oitenta, cabelos embranquecidos, gestos rápidos, lépida e fagueira no bem servir. Uma característica é de manter funcionários por longo tempo, como um deles, permanecido 16 anos ali trabalhando e só saindo por problemas de saúde. E assim segue a vida, marido com um possante e ela só trocando pneus.
RICARDO BLANCO KALEDA é um jovem, menos de trinta anos, recém formado em Direito e já começando a atuar como advogado na cidade. Cria do Jaraguá e com o sobrenome do samba gravado na pele, pois Caleda por lá é sinônimo de Carnaval e também de trabalho social. Casado, um filho ainda muito novo, aprendendo a andar, esse digno representante dos Caleda caiu no samba e de dois anos para cá se revelou um mestre sala a altura das necessidades da escola. Foi chegando assim como quem não quer nada, ocupou um espaço que estava vago e se mostrava um problema. Veio, olhou, assuntou, pediu permissão e mostrou samba no pé, pegou na mão da porta bandeira e a arrastou para uma demonstração lá nos fundos do quintal da Cida, também o barracão da escola. Gostaram, foi preparado, besuntado no óleo do samba e hoje já é uma realidade. Ricardo faz tudo sempre sorrindo, com o bom humor estampado no rosto e lá nas estruturas da escola galgou algo mais. Por um lado, Cristiane Ludgero é a responsável pelas fantasias e ele, o carnavalesco dando conta dos carros alegóricos. Com tudo muito bem dividido, num belo exemplo de ação coletiva, a Azulão segue altaneira na preparação para descer no Sambódromo e mais uma vez expor como, ano após ano vai sendo formatado mais um sambista, degrau por degrau, com humildade, sabedoria e muito suor no que faz. E é claro, samba no pé.
MICHELE OLIVEIRA, 36 anos, trabalha o ano todo na área de limpeza, dá um duro danado para tocar sua vida e na época do Carnaval faz algo movida totalmente pelo coração, a devoção à escola de samba Coroa Imperial, do bairro Geisel, onde mora. Com duas filhas, a Karen e a Sthepany, acreditem, ela já é avó. Com o passar dos anos acabou se transformando , pela dedicação total e exclusiva, uma peça chave para a Escola, onde circula com um caderno e nele vai anotando tudo, desde os nomes dos integrantes de cada ala, número dos seus sapatos, medidas para as fantasias e ali está a alma da escola, sua vida interior, intestina. Ouvi por lá nesses dias ser ela a “alma da escola”, também o braço direito e esquerdo do carnavalesco Cláudio Goya, a retaguarda para tudo acontecer e girar a contento, escora, viga sustentadora, dessas que se dói quando algo de ruim acontece. Sempre sorrindo, atenta a todos os detalhes, interessada em ajudar, contribuir, dar além do seu quinhão, não existe reconhecimento maior do que ouvir da boca do Goya algo dessa lavra: “Não existe ninguém na comunidade que ama tanto a escola como ela”. Vive nesse período intensamente e tão somente para isso, o que não a impede de extrapolar em outro lugar. Sairá, além de destaque em sua escola, como Porta Bandeira no bloco do Consulado do Samba. Uma dessas pessoas cheias de luz e com um futuro mais do que brilhante dentro de tudo o que possa acontecer com a Coroa no futuro. Ou melhor, esse futuro passa necessariamente e muito pelas suas mãos, alguém imprescindível nos próximos passos.
Ver pessoas já aposentadas e necessitando de fazer algo para complementar suas rendas é algo aviltante. Dói demais. Isso não é de hoje, não é fato isolado e nem deve ser analisado no calor da descoberta. Cada caso é um caso, mas ao constatar que famílias conseguem sobreviver com o salário mínimo é entender de uma vez por todas como se passa o contorcionismo do brasileiro nas entranhas desse país. A cada nova descoberta, o mínimo que posso continuar fazendo é postar o relato, como faço com esse senhor e sua história que muito me impressionaram nessa semana.
OSWALDO FERRARI, com “W”, como faz questão de me corrigir é um distinto senhor de 80 anos (nasceu em 1935), morador do Geisel e aposentado após trabalhar uma vida quase inteira no clube Luso Brasileiro, na sua sede antiga, uma não mais existente, ali quase junto ao comecinho da avenida Getúlio Vargas. Iniciou por lá suas atividades em 1970 e fez de tudo um pouco, sendo os lugares onde mais recordações possui, a sauna, vestiário e aquecer as piscinas. Fez muita portaria e lembra-se de três shows de Roberto Carlos. “Das três vezes que ele cantou no salão do clube eu estava lá e era muito querido por todos os sócios. Cheguei até a deixar alguns deles entrar sem pagar, puro sentimento de não deixar ninguém de fora”. Hoje mora com a segunda esposa, bem ao lado de onde a Escola de Samba Coroa Imperial ensaia e isso para ele é motivo de grande contentamento, pois recolhe as latinhas de cervejas nas imediações. Passa a conta e como faz para vender tudo: “A cada 75 latinhas juntadas dá um quilo e me compram o quilo por R$ 3,30. Vendo no Luiz, ali na saída do bairro, ele compra desde papelão, latinha, ferro, tudo. É logo ali, perto da pararia”. Anda com dificuldade e mais dificuldade possui para abaixar e pegar as latas no chão, mas por ali todos o ajudam e acabam entregando suas latas suas mãos. Vive com o salário mínimo (cortaram da esposa e eles lutam pelo seu restabelecimento), com a ajuda dos filhos e com o que o bico descoberto lhe provem. É uma das figuras mais populares nos ensaios da escola do bairro onde mora.
OSWALDO FERRARI, com “W”, como faz questão de me corrigir é um distinto senhor de 80 anos (nasceu em 1935), morador do Geisel e aposentado após trabalhar uma vida quase inteira no clube Luso Brasileiro, na sua sede antiga, uma não mais existente, ali quase junto ao comecinho da avenida Getúlio Vargas. Iniciou por lá suas atividades em 1970 e fez de tudo um pouco, sendo os lugares onde mais recordações possui, a sauna, vestiário e aquecer as piscinas. Fez muita portaria e lembra-se de três shows de Roberto Carlos. “Das três vezes que ele cantou no salão do clube eu estava lá e era muito querido por todos os sócios. Cheguei até a deixar alguns deles entrar sem pagar, puro sentimento de não deixar ninguém de fora”. Hoje mora com a segunda esposa, bem ao lado de onde a Escola de Samba Coroa Imperial ensaia e isso para ele é motivo de grande contentamento, pois recolhe as latinhas de cervejas nas imediações. Passa a conta e como faz para vender tudo: “A cada 75 latinhas juntadas dá um quilo e me compram o quilo por R$ 3,30. Vendo no Luiz, ali na saída do bairro, ele compra desde papelão, latinha, ferro, tudo. É logo ali, perto da pararia”. Anda com dificuldade e mais dificuldade possui para abaixar e pegar as latas no chão, mas por ali todos o ajudam e acabam entregando suas latas suas mãos. Vive com o salário mínimo (cortaram da esposa e eles lutam pelo seu restabelecimento), com a ajuda dos filhos e com o que o bico descoberto lhe provem. É uma das figuras mais populares nos ensaios da escola do bairro onde mora.
7.) ANDRÉ VIVE RECICLANDO TUDO O QUE ENCONTRA PELA FRENTE
No meio das agruras de dias turbulentos por causa da força da água invadindo casas, nota-se a presença de alguns labutando não pela xepa da feira, mas pelas sobras e rejeitos colocados nas calçadas, algo ainda com serventia para dar-lhes o sustento no dia a dia. Eles recebem o pomposo nome de recicladores e conseguem encontrar algo rentável no descarte que muitos são obrigados a rejeitar, disponibilizar em suas calçadas. Ver e entender como se dá o trabalho desses é uma boa tarefa no saber desvendar meandros ainda desconhecidos de uma cidade. Relato aqui um personagem dentro deste prisma.
ANDRÉ LUIZ GONÇALVES, 45 anos, mora numa pequena casa na confluência das ruas São Paulo e Bela Vista, na baixada do bairro Bela Vista, próximo à avenida Nuno de Assis e, consequentemente, ao rio Bauru. Seu trabalho consiste em recolher e dele conseguir extrair algo de reciclados, os inservíveis disponibilizados pelos munícipes. O carro chefe é o papel e no caso dos recolhidos nessa semana de muita chuva, não se importa que venham molhados, pois afirma que para a reciclagem eles são mesmo molhados e daí, carrega tudo dessa forma mesmo, mesmo com barro e lama proveniente do rio. Complementa tudo com um trabalho de manutenção em geladeiras, fogões e máquinas de lavar. Vive rodando a cidade dirigindo uma velha e resistente perua Kombi, ano 94, sempre abarrotada de coisas recolhidas cidade afora. Disso tudo faz seu ganha pão. Tem um outro lado, muito sensível: “Quando vejo uma pessoa em situação de risco procuro ajudar”. É o que fez essa semana com os atingidos pela enchente nas imediações da Nuno de Assis, levando bombonas de água para atendimento de suas básicas necessidades. Dessa forma, além de ganhar algum com o que recolhe, faz amizades por onde circule e assim toca sua vida.
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