quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

DOCUMENTOS DO FUNDO DO BAÚ (88)


A DAMA DO PEIXOTO - UM HISTÓRIA DAS RUAS NO CORAÇÃO DO RIO DE JANEIRO
Eu a Ana Bia estamos hospedados no apartamento de Dani Barbosa, nos altos do bairro Peixoto, rua Henrique Oswald, Copacabana e bem em frente uma praça, quase entrada do túnel Velho, perto da comunidade do Tabajara. Olho pela janela nessa manhã de quarta, pouco antes de começar minhas intermináveis escrevinhações e ao avistar uma senhora sentada num dos bancos da praça, bem vestida e depois a puxar um carrinho, desses de feira, com todos os seus pertences recebo a descrição de ser ela uma famosa personagem desse pedaço de canto carioca, A DAMA DO PEIXOTO. Sua história virou tema de um curta metragem, com o mesmo nome, direção de Allan Ribeiro e Douglas Soares, em 2011 e com um subtítulo dos mais instigantes: "Ela está aqui, ela está ali e os outros invisíveis são os outros". Cliquem a seguir e assistam o curta, com menos de dez minutos: https://www.youtube.com/watch?v=V5WNB4UruZU

Ela ali sentadinha num banco da praça, eu aqui na janela vendo o vídeo e a vendo brincando com os cães e em pouco tempo sacando da bolsa uma lixa e dando um trato nas unhas e mãos. Dani me diz não ser fácil a aproximação, pois na maioria dos momentos é temperamental, reage bruscamente e nem comida aceita sendo lhe entregue diretamente pelas mãos dos moradores. Pede que deixe num canto perto dela, que vai avaliar se tem a necessidade. Corre o folclore de ter sido modelo internacional, viajado boa parte do mundo e outros dizem ter sido aeromoça e também com muitas viagens na bagagem. Ninguém sabe elucidar dos motivos de ter ido parar nas ruas e também onde passa suas noites. O perceptível é sua bela aparência, sempre bem cuidada, tentando manter os cabelos num estado mais do que apresentável e por aí adiante. Vive nas ruas.

Eu me intrigo com histórias assim e com personagens como esse. Ainda ontem passei numa livraria e um dos títulos bem na minha frente, lá estava um E QUEM VAI CONTINUAR CONTANDO AS PEQUENAS HISTÓRIAS? Pois é, essa e tantas outras histórias me movem, instigam, provocam. Já queria descer, se aproximar, puxar conversa, mas o tempo urge. Serão somente três dias de Rio e enquanto termino um trabalho acadêmico, sentado aqui na janela de um primeiro andar, ela se move de um lado para outro, me faz escrever e vê-la ali logo na frente. Mais não escrevo, mas essas pequenas histórias de pessoas perdidas na imensidão desse mundo me movem muito mais do que uma ida à praia e tantas outras coisas mais. Misturo meus pensamentos e todo o barco. "É a vida, é bonita e é bonita...", já dizia Gonzaguinha, mesmo com tanta história não tão bela logo ali na frente, como as em cada banco da praça aqui do bairro Peixoto.

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