Finalizamos com show no Be Bop, o com Sexteto Sep7eto 40 Graus, todos argentinos e cantando a supra supro da MPB, algo até pouco conhecido por quem, como eu, ouço MPB o dia inteiro. A cronner esteve conversando no nosso grupo e nos conta, não saber ao certo quando começou a sinteressa por música brasileira. Sabe que começou a ouvir, não parou mais. Pegou gosto e o grupo foi montado, dentre todos os que gostam de ouvir e de tocar música brasileira por aqui.
No retorno para o Airbnb, um motorista de UBER com uma história de vida das mais instigantes. Podia muito bem ser personagem de uma longa história, dessas que gosto de fazer por aqui. Puxamos conversa e ele logo deixa claro: "Podem falar em português, pois fui casado com uma brasileira. Por três anos morei em Pereira Barreto, uma cidadezinha pequena pra lá de São José do Rio Preto, onde só eu era o único que tocava tango. Por lá muita música sertaneja, tipo Chitãozinho e nada de MPB. Lugar muito quente e coonservador. Falo bem o português daí, mas não culpem a brasileira por ter ficado tão pouco tempo. Pois, logo depois casei de novo, com mulher argentina e também não passou de três anos. Enfim, voltei e da antiga relação, o filho em comum não quis morar com a mãe e hoje o tenho comigo. Já passou dos 35 anos".
O uberista, cujo nome não perguntamos é dos mais simpáticos. Quando lhe pergunto sobre o governo do Javier Milei, ele tentou deixar algo bem claro e estabelecido: "Falo de tudo, menos de polítca". Perguntei porque e ele: "Já omiti milha opinião aqui para outros e não me dei bem. Não falo de política, nem para argentino e nem para brasileiro.". Lentamente o fiz ir se abrindo, confiando que estávamos no mesmo barco: "Sabe de uma coisa, esse presidente que vocês tiveram é muito ruim. Nada pode ser pior do que Bolsonaro. Se um preto, um gay, um imigrante, uma mulher acreditar num cara deste é porque são bestas e não estão entendendo nada, pois ele só fala mal de gente como eles. O de vocês é muito ruim, mas conseguimos eleger uma ainda pior e mais demente, Javier Milei".Daí a conversa desandou e ele, até então ressabiado e desconfiado do grupo, abre sua caixa de ferramentas e até o final da viagem falamos de tudo um pouco. Disse não ser um cristianista, alguém que aqui defende Cristina Kircnher com unhas e dentes. Vê algo errado em sua administração, mas não pelo motivo que encontraram para prendê-la. Foram longe demais e o povo está reagindo. Em frente a casa dela sempre tem muita gente. Aqui fizeram diferente do que com Lula. Lá o prenderam numa delegacia e aqui ela, ao menos, teve direito a prisão dominiciar. A Suprema Corte daqui é também muito pior que a de vocês. Aqui os juízes jogam bola com um dos lados da questão. Nunca irão beneficar os peronistas. Já imaginaram um presidente que tem quatro cachorros, clonou um morto, o que mais gostava e hoje, diz ter cinco e ainda fala com o morto, pois ele está presente em sua casa. Esse é o louco que nos governa. Viaja a todo intante, gastos exorbitantes e não traz nada de novo para o país, só faz discurso pelo mundo, falando do lugar onde se encontra no fascismo. Demite muita gente, trata mal os aposentados e acaba com nossas instituições. Vai terminar preso, tenho isso bem evidente, pois não conseguirão sustentar tamanha loucura por muito tempo. Ele não é o primeiro e pelo visto, aqui na Argentina, vez ou outra damos espaço para um maluco nos governar".
Queria anotar a placa, ou seja, pedir seu telefone para continuar a conversa, mas não o fiz, pois se ele não queria nem falar do assunto, quanto mais passar telefone e dizer seu nome e sobrenome. Fico com sua imagem e boa prosa do encontro, muito bem aproveitado. Foram uns vinte minutos, onde faço o que mais gosto, intercambeio relações humanas de aproximação, tipo "contatos imediatos do terceiro grau". Era o tipo de gente que queria encontrar pelas ruas e pegar a opinião sobre a Argentina de hoje, suas idas e vindas. Não podemos cobrar eles de nada, nós conseguimos eleger alguém como Jair Bolsonaro e eles, na mesma vibe, não se sabe como, conseguiram eleger um Javier Milei.
Outra coisa: Não resisto e quando passo diante da Casa Rosada, um pixe na parede contra Milei e, evidentemente, tiro a foto tendo a casa Rosada ao fundo e eu diante do "Fuera Milei e o FMI".
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